segunda-feira, julho 31, 2006

EFECTIVAMENTE, NÃO HÁ PALAVRAS!

Traduzo o editorial de António Padellaro, director do jornal italiano, “l’Unità”.

Como aquilo que ele escreve – e vê-se que o escreveu de jacto – vem ao encontro do que penso, quero deixar aqui registada a tradução. Quaisquer outras frases que eu escrevesse, nunca as saberia expressar deste modo: comovente e equilibrado.

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“O PIOR INIMIGO”

“Hoje a dor é o pior inimigo de Israel. A dor pelas crianças mortas, a dor pelas crianças mortas que quase nos sufoca, pois que já não há mais palavras.

Não têm palavras os amigos de Israel, bem cientes do evidente cerco que ameaça este povo. Este povo profundamente consciente que, perante quem proclama o seu aniquilamento, como o presidente iraniano, nada mais pode fazer que defender-se. É a verdade: mas hoje torna-se muito mais difícil dizê-lo diante daquele pequeno corpo sem vida, olhando o desespero daquele pai.
São imagens que cobrem tudo o resto, que anulam o antes e o porquê; quem é o agressor e quem é o agredido. Em Jerusalém, compreende-o o ministro da defesa, Peretz, quando exprime profundo desgosto e promete um inquérito.

Também ele sabe que, hoje, serve a bem pouco denunciar o cinismo dos Hezbollah, mestres em usar os civis como escudo. Agachados, com os mortíferos mísseis, nos condomínios. Escondidos, politicamente, atrás do primeiro-ministro libanês que lhes agradece o “sacrifício”.

Tudo isto é verdade. Todavia, os únicos mísseis de que hoje tanto se fala são aqueles com a estrela de David. E as únicas crianças mortas são as de Qana.

É possível que Israel, por erro, tenha enveredado por uma estrada que não sabe aonde leva e da qual não sabe como tornar atrás. Um trágico desorientamento que leva o primeiro-ministro, Olmert, a dizer que as operações durarão ainda dez, doze dias.

Ninguém tem o direito de dar lições a ninguém, porém, onde estará Israel daqui a duas semanas de guerra, bombardeamentos e de famílias destruídas? Mas, sobretudo, onde estarão a solidariedade para com Israel e a intervenção da comunidade internacional para aquelas forças de interposição que Israel pede?
Para além da dor, Israel deve temer a sua solidão, pois é com isto que os inimigos de Israel contam.

E se, pelo contrário, acolhesse o cessar-fogo que os autênticos amigos (e a Itália é-o) imploram, não seria um verdadeiro acto de coragem?”

António Padellaro
Publicado em 31/07/2006

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O jornal L’Unità era o jornal do Partido Comunista Italiano. Hoje, embora um jornal de esquerda e ligado aos “Democratas de Esquerda”, é um jornal equilibrado, preparado por bons profissionais e enriquecido com excelentes editorialistas. Como nota curiosa, acrescento que já lá tenho lido alguns artigos do nosso Dr. Mário Soares.
Alda M. Maia

sábado, julho 29, 2006















ROBERTO BENIGNI
RECITA DANTE

Aperto de mão entre o Primeiro-Ministro, Romano Prodi, e Roberto Benigni, ontem, em Florença.
O artista toscano leu o terceiro Canto do Inferno de Dante Alighieri.

Além da lectura Dantis na Praça de Santa Croce, houve também um espaço para a comicidade.
Um exemplo: improvisando um diálogo surreal com a estátua de Dante, colocada atrás de Benigni, este fingiu não reconhecer Romano Prodi, sentado em primeira fila – “mas não, não é ele…, é um amigo do meu País…Prada” – provocando a hilaridade de toda a plateia, Prodi incluído” -
Corriere della Sera - 29/07/2006

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Conhecendo Benigni, olhem se ele não aproveitaria a ocasião para as suas habituais e esfusiantes improvisações!

Sempre que aquele homem irrompe no palco, já sei que será gargalhada contínua. Mas quando começa a recitar Dante, passa-se do riso à emoção.

Nunca esqueci a primeira vez que o ouvi recitar, há uns anos atrás, os primeiros versos da oração de São Bernardo a Maria, no XXXIII Canto do Paraíso.
Recitou as primeiras sete estrofes, de treze, nas quais São Bernardo canta os louvores a Maria, com uma pacatez e um transporte de emoção que quase fiquei com a respiração suspensa. Estupendo!

Vergine Madre, figlia del tuo figlio,
umile e alta più che creatura,
termine fisso d’etterno consiglio,
...........................
Nel ventre tuo si raccese l'amore,
per lo cui caldo ne l'etterna pace
cosí è germinato questo fiore
....................
Alda M. Maia

quinta-feira, julho 27, 2006

O TRÍPLICE LADRÃO

De um dos blogues mais lidos no mundo – está em décimo sexto lugar, se não erro - www.beppegrillo.it, traduzo este post de 25/07/2006

Quem evade o fisco é três vezes ladrão. A primeira vez, porque subtrai recursos à comunidade na qual vive. Recursos que não poderão ser destinados a escolas, hospitais, estradas.
A segunda, porque outros cidadãos devem pagar mais por culpa sua.
A terceira, porque, de qualquer maneira, o tríplice ladrão usa as estruturas do País de borla.
Evadir o fisco é como rapinar; melhor, é uma rapina sem riscos: no lugar de quem fica de atalaia estão os políticos”.

Classe mais caluniada do que a dos políticos, parece-me que não há!

Bem, que dizem poucas verdades, é difícil negá-lo; senhores das mil promessas, são imbatíveis; que têm cara de bronze, pois são insuperáveis a formular hoje um conceito e, amanhã, a defender o contrário, deixariam de ser políticos; que trovejam intenções sacrossantas de luta cerrada aos desonestos que não pagam impostos, não há campanha que se respeite onde não se escute esse trovejar; mas são trovoadas secas. Fora disto, não acho justo caluniá-los.

Uma observação e sem ironia: há políticos sérios e de boa vontade, mas, frequentemente, o mare magnum dos medíocres neutraliza-os.
Alda M. Maia

segunda-feira, julho 24, 2006

RADIOAMADORISMO? HÁ A INTERNET

Não poucas vezes ouvi citar a Internet também como uma espécie de sucedâneo da actividade de radioamador.
Pode ser que qualquer bem-intencionado, pensando-se grande conhecedor desta matéria, queira meter o radioamadorismo na caldeirada Internet. Mas que erro!

Conhecendo uma coisa e a outra, ser radioamador nada tem que ver com o universo Internet, embora esta possa permitir contactos com as mais diversas pessoas e recantos do planeta.

Não há nada comparável à emoção de mandar para o éter as nossas vozes através de um pequeno aparelho (actualmente, cada vez mais pequenos), “transceiver” (transmissor e receptor) e de uma antena que, no passado, não infrequentemente, correspondia a um fio atado a um pinheiro e a uma chaminé; lançar uma chamada geral, confiando numa boa propagação das ondas electromagnéticas, e receber uma resposta de outro radioamador (ou de vários contemporaneamente) dos mais diversos continentes!

Aludo a um “fio atado a um pinheiro e a uma chaminé”, pois foi esta a minha primeira antena: uma Hertz, meia onda para os oitenta metros – não havia dinheiro para melhor. O meu primeiro ordenado de “professora primária” tinha pernas curtas.

Já aqui uma vez me diverti a recordar a minha aflição, quando havia vento forte e este soprava na direcção do pinheiro: “lá se vai a minha rica antena!”
Às vezes, rebentava mesmo, porém, havia sempre um colega generoso do Porto que vinha em meu socorro.
Do Porto, sim, senhor, pois antes de ir para a Itália, era uma radioamadora portuguesa: CT1YG.
Na Itália, depois de um exame de electrotecnia e telegrafia, a meu pedido, concederam-me as mesmas letras YG. O meu marido era I1TU.
Quando escrevo “era” I1TU, na linguagem radioamadorística usa-se a expressão inglesa “silent key”: a chave do aparelho Morse ficou silenciosa; é fácil adivinhar o que isto significa.
Mas já me estou a comover. Viremos página.

Para terminar, recorramos à nota cómica e usemos, à laia de despedida, “o inglês de chapa” utilizado por radioamadores que não conheciam aquela língua e a quem, portanto, bastava o cliché habitual. Eis o que diziam:
Gude nai, gude afartanuna. Tank yu.
Alda M. Maia

domingo, julho 23, 2006

CONVERSANDO COM O COMPUTADOR

É exactamente o que faço, neste blogue, quando me sento à frente desta secretária e exprimo o que me passa pela cabeça.

Em Janeiro 2005, tive essa ideia. Há, diariamente, pensamentos vagabundos a saltitar de um lado para o outro dentro do nosso cérebro. Tudo serve para os movimentar. Apercebemo-nos, então, do impulso de falar ou comunicar, coordenando esses pensamentos, com o mundo exterior. E com qual interlocutor? Conheço muitos com quem é agradável conversar, todavia, nem sempre em consonância com as minhas curiosidades, os meus interesses. Resolvi o problema: converso com o computador.

Há milhares de blogues. Este é mais um. Logo, não pretendo escrever para ser lida. Se casualmente me lêem, certamente que o ego fica satisfeito, é inegável. Se me não lêem, talvez seja mais espontânea em escrever sobre o que muito bem me apetece, discorrer sobre o que mais absorve a minha atenção naqueles momentos e sem a preocupação de imaginar o que os outros possam pensar do que escrevo. Nem sempre estes pensamentos-vagabundos são interessantes para outrem; são-no para mim, e pelas razões acima aduzidas.

Paralelamente, este blogue é-me útil para ir expurgando alguns italianismos do meu português.
É curioso que, muitas vezes, passo de um jornal italiano a um português, ou vice-versa (La Repubblica / Público – os dois jornais que adquiro diariamente) e fico, por instantes, baralhada, pois não sei se, naquele momento, leio português ou italiano.

Iniciei este post para vagabundear sobre as sensações agradabilíssimas que experimentei hoje, em Serzedelo – aldeia (ou vila) do concelho de Guimarães – na quinta da família de velhos e queridos amigos – CT1WB, o marido, pai e avô feliz, inveterado e veterano radioamador. Porém, tenho a leitura dos meus jornais atrasada; tenho dois livros para acabar (a leitura; sim, porque leio três ou quatro livros de cada vez: mau ou bom hábito? Para mim é bom). Assim, acabo aqui, por hoje.
Domani, se ne avrò voglia, riprendo la chiacchierata. Traduzindo para os meus cinco leitores: amanhã, se tiver vontade, retornarei a esta conversa.
Alda M. Maia

sábado, julho 22, 2006

UM EXTREMISTA RACIOCINA COM INTELIGÊNCIA?

Tenho muitas dúvidas que assim aconteça.

As pessoas extremistas, portanto radicais nas próprias ideias, apenas vêem o que as suas simpatias querem que elas vejam. Por muito que se deseje raciocinar e levá-las a ponderar e analisar as situações ou factos nas várias facetas, é melhor desistir: a dialéctica, neste caso, é impossível, irritante, cansativa

Irritante e impossível, pois a razão está sempre do lado do extremista. Quaisquer outros argumentos são inadmissíveis. Os factos são como os extremistas querem que sejam: não há outras interpretações.
Cansativa, pelos mesmos motivos. Aliás, o extremista é um puro nos seus ideais: como se atrevem a discutir tão nobres tomadas de posição?!...

Ora, estas tomadas de posição descambam, normalmente, nas frases pré-fabricadas, nos conceitos a que chamo “de chapa”: ouve-se um, ouvem-se todos. Trocam ou torcem as realidades - com natural desfaçatez ou inconsciência - de modo a que os próprios argumentos sejam irrefutáveis.

Agora, pergunto: é-se inteligente quando se raciocina dentro destes parâmetros?
Por mim, reconfirmo o que escrevi no primeiro parágrafo: não creio que sejam pessoas inteligentes. Ou, se o são - o que acho mais provável - a facciosidade impõe-se com tal força que o cérebro sofre um parcial obscurecimento.

Penso que isto deva ter sucedido aos extremistas de esquerda, quando se pronunciam sobre o que se passa no Médio Oriente. A razão está só de um lado – e todos sabemos que a razão nunca está só de um lado!
Israel, para eles, é o grande criminoso; a milícia Hezbollah constitui a legítima resistência.

Só gostaria que certos intelectuais explicassem bem a que coisa o Hezbollah resistia dentro do Líbano, visto que este país não estava em guerra com Israel. Por que razão desencadeou ataques inesperados e raptou soldados, dentro do território israelita, bem conhecendo o modus faciendi de Israel quando se sente atacado. Bem sabendo, portanto, que iria sacrificar vidas de compatriotas.
Fazendo parte do governo do Líbano, que espécie de gente é esta que não hesita a expor o próprio país a represálias e sem que o governo de nada saiba (presume-se)? E tudo isto, em nome de que coisa? De um Estado Palestiniano? E é deste modo que ajudam a Palestina? Ou, pelo contrário, nada lhes importa dos desgraçados civis palestinianos, servindo-se deles para outros fins? E que fins são esses, senão repugnantes pela espiral de violência que desencadeiam?

A palavra resistência nasceu com um significado heróico e verdadeiramente nobre, na II Guerra Mundial, contra a ocupação e barbárie nazi. Aplicá-la, agora, ao Hezbollah só demonstra falta de discernimento, direi mesmo estupidez.

O Professor Vital Moreira, num artigo de 18/07/2006, comparou as reacções de Israel à “ocupação alemã de vários países na II Guerra Mundial”.
Comparação muito, mas muito infeliz; de péssimo gosto!
Para defender as suas análises, parcialíssimas, não necessitava de descer tão baixo.
Alda M. Maia

terça-feira, julho 18, 2006

"EU, ESCRITOR PACIFISTA: É UMA GUERRA JUSTA"
(Artigo de Amos Oz, no Corriere della Sera – 18/07/2006)


“Muitas vezes, no passado, o movimento pacifista israelita criticou as operações militares das suas forças armadas. Esta vez, não. Esta vez, a batalha nada tem que ver com a expansão e a colonização israelitas. Não há território libanês ocupado por Israel. Não há reivindicações territoriais de uma parte e da outra.
Quarta-feira, o Hezbollah desencadeou um violento ataque, sem precedentes, dentro do território israelita. Tratou-se também de um ataque à autoridade e à integridade do governo libanês eleito. Além de atacar Israel, o Hezbollah privou o governo libanês da prerrogativa de controlar o próprio território e de tomar decisões em factos de guerra e de paz.

O movimento pacifista israelita desaprova a ocupação e a colonização da Cisjordânia. Condenou a invasão do Líbano por parte de Israel em 1982, visto que aquela invasão destinava-se a desviar a atenção do mundo dos problemas palestinianos.
Desta vez, Israel não está a invadir o Líbano. Defende-se de um ataque e de um bombardeamento quotidiano de dezenas de cidades e aldeias, procurando aniquilar o Hezbollah, onde quer que ele se esconda.
O movimento pacifista israelita deveria suster a tentativa de pura e simples autodefesa da parte de Israel enquanto esta operação, sobretudo, tem como objectivo o Hezbollah e poupa, quanto possível, as vidas dos civis libaneses (missão não sempre fácil, visto que os lança-mísseis do Hezbollah usam, frequentemente, civis libaneses como sacos de areia humanos).

Os mísseis do Hezbollah são fornecidos pelo Irão e pela Síria, ambos inimigos declarados de todas as iniciativas de paz no Médio Oriente.
Não pode existir equivalência moral entre Hezbollah e Israel. O Hezbollah toma de mira os civis israelitas em qualquer parte que estes se encontrem; Israel tem como alvo, sobretudo, o Hezbollah.
As sombras escuras de Irão, Síria e Islão fanático pairam sobre cidades e aldeias em fumo, de uma parte e da outra das fronteiras israelo-libanesas. Estas sombras estão também a sufocar a sociedade civil do Líbano que, com heróica batalha, tinha-se libertado, recentemente, de uma colonização síria de longa duração.

A verdadeira batalha destes dias não se desencadeia, violenta, entre Beirute e Haifa, mas entre uma coligação de nações em busca da paz: Israel, Líbano, Egipto, Jordânia e Arábia Saudita de uma parte; Islão fanático, alimentado pelo Irão e Síria, da outra.
Se, como todos em Israel esperamos – "falcões" e "pombas" juntos – o Hezbollah será derrotado em breve, os vencedores serão Israel e o Líbano.
A somar a esse facto, a derrota de uma organização do terror islamista militante pode aumentar a esperança de paz na região.”
Amos Oz

PERCALÇOS

E falando de situações trágicas, salta fora o inesperado cómico... ou a trivialidade.

Vértice dos G8, em São Petersburgo, antes do almoço. O Sr. Bush que barra um pão com manteiga e conversa amenamente com Blair. Este tenta envolver o Presidente Americano no envio de forças internacionais e colocá-las entre as fronteiras do Líbano e Israel.

O diabo teceu-as. Imprevidentemente, um microfone ficou aberto. Na sala dos jornalistas ouviram grande parte do colóquio. Só não ouviram tudo, porque Blair deu um toque no microfone que estava à sua frente, interrompendo a gravação.

Bush: you see, the… thing is what they need to do is to get Syria, to get Hezbollah to stop doing this shit and it’s over.

Em conclusão, o que se deve fazer é levar a Síria a constranger o Hezbollah a acabar com esta porcaria e fica tudo arrumado.

Quanto para arrumar naquelas paragens! Quisesse a Europa empenhar-se seriamente!...
Alda M. Maia

sábado, julho 15, 2006

PROFESSOR VITAL MOREIRA

Leio, com todo o interesse e diariamente, o seu blogue.
Quando a tragédia infinita do Médio Oriente se torna matéria dos seus posts, sempre lhes notei uma tendência para a absoluta condenação das intervenções de Israel. Nunca mereceram qualquer atenuante.
Queira perdoar-me se esta minha opinião é exagerada, porém, os posts recentes – “Dois pesos, duas medidas”; “A política das palavras” – confirmam-na

Também eu condeno a reacção excessiva das forças armadas hebraicas nos os últimos acontecimentos de Gaza e me comovo com a perda de tantas vítimas civis.
Estabeleceu-se, desde sempre, uma espécie de círculo vicioso: uns recusam-se a aceitar a existência de Israel e põem em acto a execução dos piores métodos terroristas ou o lançamento de kassam ou katyusha ; Israel responde com a lei de talião ampliada. Ora é a população civil a sofrer todas as consequências. Populações que, em grande percentagem, desejam a paz e querem, efectivamente, a criação de dois estados; mas ninguém as ouve: de um lado e do outro!

Há algumas perguntas, no entanto, que me atrevo a pôr, e peço desculpa pela impertinência:

Já alguma vez se imaginou a viver em qualquer ponto de Israel? Já se imaginou como habitante de um país rodeado de inimigos, em todas as suas fronteiras, e que a devastação – em vidas humanas civis e onde menos se espera - dos kamikaze o aterroriza? Não acha que o contínuo estado de assédio muitas vezes conduz a reacções exageradas, pois se advém a derrota, isso significa o próprio aniquilamento?
Ou o Professor Vital Moreira entende que não há razões para a existência de um Estado Hebraico?

Quando concede toda a sua simpatia e compaixão aos palestinianos – e que acho seja justo – nunca se demorou a ponderar a acção dos Hezbollah, este partido libanês com uma exército de 30 000 homens bem armados pelo Irão e cujo presidente não perde oportunidade de proclamar o desaparecimento de Israel? Pensa que eram ameaças retóricas e as acções actuais dos Hezbollah sejam fortuitas? Eu não creio.
Aprova também a truculência e intransigência do Hamas? Aonde querem chegar? Querem mesmo a paz e um país independente palestiniano? É esta irracionalidade que eu não compreendo.

Contra uma certa parcialidade das esquerdas – frequentemente, cultivam uma visão com sentido único – deixa-me desconcertada a defesa acérrima de Israel do ex-partido fascista italiano, “Aliança Nacional”
Os herdeiros daqueles que ajudaram a conduzir tantos judeus para os campos de extermínio, hoje, são indefessos apoiantes de Israel! Até que ponto é sincera esta defesa, ponho grandes dúvidas. Não as tenho, porém, sobre o sentimento de repugnância que esta defesa me provoca.

As minhas desculpas pela extensão deste e-mail e o espaço que lhe roubo.

Os melhores cumprimentos
Alda M. Maia

terça-feira, julho 11, 2006

L’ESPLOSIONE DELLA GIOIA

A explosão da alegria: era esta a frase mais frequente, nos comentários dos vários apresentadores televisivos, descrevendo a grande manifestação de Roma aos Campeões.

Falam de um milhão de pessoas concentradas, ontem, no grande espaço do Circo Máximo, afora os milhares que se espalhavam nas ruas circundantes.

Há sempre tendência para o exagero, mas que a multidão foi enorme, é inegável; que a alegria explodia em contínuos gritos entusiastas e agitar frenético da bandeira tricolor, viu-se em todas as reportagens directas.

O que me chamou mais a atenção foram os cartazes que, de vez em quando, os operadores TV focavam. Divertidos, espirituosos:
“Restituí-nos a Gioconda” – ocasião aproveitada para ajuste de contas ; “Só pizza italiana” – cómico ; “Obrigado, mãe, por me teres feito italiano” - simpático, este cartaz; “Cannavaro santo imediatamente” – nada menos!... - “Nós, no Circo Máximo… Vós, ao máximo, no circo” – pouco desportivismo ; “Zambrotta, deixa a tua mulher e casa comigo” – qualquer rapariguinha exaltada - ; “09/07/006 Menu del giorno: Galleto al Forno” – maldade! Assem os frangos; os galos têm carne dura. E lembrem-se da trave!

Acabou a histeria, e era mais que tempo. Quando a última grande penalidade determinou quem seria campeão, o relator da RAI lançou o grito da vitória: “È finita, é finitaacabou, acabou; o céu, hoje, é todo azul – uma pequenina pausa – sobre Berlim!”.
Os berlinenses que agradeçam. Os azzurri limparam a provável poluição dos céus de Berlim.

E para acabar, toda a gente anda intrigada com o que disse Materazzi a Zidane. Há quem avente o clássico filho da …. ou que chamou em causa a irmã. Se é assim, Zidane necessita de um curso acelerado, nos campos de jogos, aqui, no norte de Portugal. Decididamente, ficaria vacinado contra os impulsos pró-cabeçada.
Alda M. Maia

segunda-feira, julho 10, 2006

CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL

Acabou, finalmente… e a Itália enlouqueceu! Creio que a noite será pequena para exteriorizar a enorme alegria de todos os italianos: dentro e fora do País.

Nestes torneios internacionais, o meu interesse pelo futebol desperta e a emoção domina-me. Assim, resolvo não ver os jogos – refiro-me aos jogos que envolvam o nosso País e a Itália.

Chegados às meias-finais, fiquei apreensiva perante um provável final Portugal-Itália. Não porque tivesse quaisquer dúvidas sobre a minha preferência: obviamente, Portugal, pois é o país onde nasci e onde afundam as minhas raízes. Simplesmente, gostaria que ganhassem os dois; uma espécie de ex aequo. Ora, nestes casos, é impossível.

A França meteu-se a estragar sonhos, os nossos. Devo reconhecer que fiquei menos pobre que os meus compatriotas portugueses: decepcionada, sim, pelo nosso quarto lugar, mas com um novo entusiasmo pela esperança de vitória da equipa azzurra. E esta ganhou! Abençoada barra!...
Grande penalidade falhada ou não falhada, a Itália é a melhor!

Vitória também muito oportuna. Não somente pela regozijo geral, como para mitigar as feridas causadas pelo terramoto que abalou o sistema futebolístico italiano.
Alda M. Maia

sábado, julho 08, 2006

A LÂMPADA DE ALADINO

Quando, dia a dia, vemos, ouvimos e lemos sobre o que se passa por esse mundo fora e que situações de tragédia infinita não encontram um fim, uma solução, acabamos por invocar o impossível. Desejaríamos a intervenção de um génio que pusesse cobro a tanta irracionalidade, desconfiança, intransigência. Mas a lâmpada tem uma camada tão densa de sujidade, que o génio não pode responder.

De há uns tempos a esta parte que renunciei ou, pelo menos, é com relutância que leio notícias sobre o Médio Oriente.
São anos que os acontecimentos, naquela desgraçada terra, não variam: se uma parte quer afirmar-se com a violência, a outra responde com “olho por olho, dente por dente” ampliado; se de um lado surgem aberturas à aplicação do bom senso, aparecem imediatamente os profissionais da violência a porem em prática as mais inesperadas técnicas de sabotagem.

Do lado de Israel, reacções desproporcionadas; na Palestina, só vejo irracionalidade e ódio. Porém - e esta circunstância deixa-me praticamente desorientada - existe uma grande percentagem de israelianos que deseja a paz, a criação de dois países, o respeito mútuo; no Território Palestino, verifica-se o mesmo e também com uma forte percentagem de pessoas a suspirar pela paz.
Esta parte dos dois povos não consegue, todavia, berrar mais forte que a linguagem das armas e o gosto doentio de quem só vê na violência terrorista a solução dos problemas. É um círculo vicioso trágico!
Alda M. Maia

segunda-feira, julho 03, 2006

O PODER DESLUMBRATIVO

Em vez de deslumbrativo, poderia usar o significado mais corrente: deslumbrante.
Porém, nesta última palavra, antepõe-se-me a ideia que o poder é deslumbrante em todas as circunstâncias, pois o sufixo ante designa acção, qualidade, estado. Em deslumbrativo, o sufixo (t)ivo denota acção, referência, modo de ser.

Não creio que o poder deslumbre todos os que o detêm. Há pessoas que o usam com sentido de responsabilidade, equilíbrio e bom senso. Nada lhes ofusca estas qualidades. Outras pessoas há, todavia, que de ceptro na mão - o poder deslumbrativo – perdem completamente, não somente o equilíbrio e bom senso, mas também o sentido do ridículo.

Todo este arrazoado vem a propósito do muito que se tem escrito sobre as pretensões do Sr. Presidente da Câmara do Porto em conceder subsídios, exclusivamente, a quem não critique o município.

Cá está o modo de ser do Sr. Presidente: deslumbrado pelo cargo que ocupa, não tolera críticas, observações, oposição às suas directivas. E como exerce o poder, usa-o sem quaisquer pruridos, sobretudo de bom senso e respeito pelos deveres democráticos. Foi eleito, respeite os cidadãos que o elegeram. Administrar não significa decidir arbitrariamente.

Subsidiar fundações, que são de interesse público, não deve depender dos caprichos de um senhor presidente de turno, mas de normas aplicáveis consoante os fundos disponíveis, nada mais.

A nota cómica deste caso é a reacção do Sr. Presidente a um artigo do Público sobre a “Lei da Rolha”: Direito de Resposta – sábado, 1 de Julho.
Não foram poupadas nenhumas citações legais: “ao abrigo do n.º1 e do n.º2 da Lei, etc., etc., etc.” Depois destes preâmbulos, vêm então as justificações: sem lógica, verborreicas, atabalhoadas.

Dentro de tudo isto, há um facto que me causou uma péssima impressão. O líder do PS, Francisco Assis – segundo li no Público – “concordou que a concessão dos subsídios é uma forma de censura (…). Mas votou a favor, por concordar com a atribuição de 15 mil euros à Fundação Eugénio de Andrade”.

Aceitar um protocolo daquele género, demonstra falta de dignidade e ausência de vigor em contestar o que é inaceitável. E quando é assim, não se concorda: exige-se uma atribuição justa de 15 mil euros, caso existam fundos, sem que se permita a introdução de um se ou de um mas.
Alda M. Maia

domingo, julho 02, 2006

ATÉ MESMO OS PUROS E AUSTEROS SENHORES COMUNISTAS DA CHINA!...

No meu último post, divaguei sobre o tema corrupção. No Corriere Della Sera de 01 / 07 / 2006, li um artigo com o seguinte título: “China, roubar ao Partido para pagar as amantes”.
“O alarme do presidente HU: o fenómeno é grave”
“Muitos dirigentes comunistas denunciados por corrupção, devassidão e burla”.

Não falta mesmo nada!

A técnica é sempre a mesma e que nós, ocidentais, conhecemos de sobejo: “luvas”, tráfico de influências e os demais vestidos com que se veste a corrupção e que não é preciso aqui enumerar.

O que muito me divertiu, neste artigo, foi a explicação da principal causa das prevaricações dos senhores burocratas do Governo e do Partido: o mantimento de várias amantes. Não se contentavam com uma; mantinham uma colecção de oito ou nove !

Normalmente, isto acontece quando se passa da penúria económica à abundância; neste caso, abunda-se em tudo, sobretudo no número de amantes.

Compreendo que, para comprazer este pequenino exército, não há dinheiro que chegue. Assim, pobre de quem necessitasse dos serviços ligados a estes funcionários super amadores!

Em 2005, apuraram-se 41 mil casos de corrupção, com um custo, para a colectividade, de 800 milhões de euros”.
Na imensa China, nem me parece muito. Porém, considerando que o boom económico chinês favorece, talvez, só uma bem pequena parte da população chinesa, 800 milhões de euros são já uma cifra abnorme.

O artigo do Corriere cita alguns exemplos. O último refere-se a um almirante, Wang Shouye, representante da Assembleia do Povo. Amantes? Somente cinco!
Julgava-se seguro, intocável, mas uma jovem amante, “ingenuamente cantou”, segundo a expressão do autor deste artigo, Fabio Cavalera.

Tinha recebido o equivalente de 16 milhões de euros por “honrados” serviços dedicados ao suborno. Na sua casa de Pequim, escondera, na máquina de lavar, dois milhões e meio de dólares. Não se vendia barato, o Sr. Almirante, ou ele não fosse uma alta personagem com uma brilhantíssima carreira!

E eu, candidamente, a supor que estes senhores do socialismo real - moralistas, severos - jamais se deixariam contaminar por estas depravações próprias dos farfalhudos capitalistas!...
Tutto il mondo è paese, dizem na Itália. Que o mesmo é dizer: cá como lá... Bem, no número de amásias, os nossos latin lovers parecem ser mais comedidos; pelo menos, uma só por cada época, que diacho!
Alda M. Maia