segunda-feira, março 28, 2011

“PORTUGAL UMA PROVÍNCIA DO BRASIL”


É tão pouca a estima que este país da “periferia da Europa” merece aos petulantes do Financial Times?


Poder-se-ia sugerir aos especialistas em assuntos económicos e financeiros do FT (a famosa secção Lex) que também não seria disparatado que a Inglaterra se tornasse no quinquagésimo primeiro estado americano, dado que a actual situação económica inglesa não se recomenda. Em Londres, como nesta futura província brasileira, cerca de 300 mil manifestantes protestaram violentamente contra a austeridade. Em que ficamos?


Seria uma boa solução e os dirigentes ingleses evitariam de, caninamente, ir atrás de algumas iniciativas da ex-colónia. Blair pode dizer algo sobre isto. Nestas espécies de subserviências, porém, à politiquice portuguesa também podemos assacar um curvar de espinha: a criação de um monstrozinho que se chama “acordo ortográfico90”, por exemplo.


Mas falemos seriamente. Pelos vistos, o Financial Times considera que Portugal é um empecilho para a União Europeia pelo seu péssimo hábito de “não aceitar austeridades e cultivar um crónico desempenho económico”.


Certamente que o artigo que publicou na sexta-feira passada – Portugal and Brazil: role reversal. A solution to Portugal’s problems may be annexation by Brazil – não passa de uma provocação. Assim o espero. De contrário, seria claramente ofensivo.

Por muito que queiramos sacudir impulsos patrioteiros, o que quer que seja que se aproxime da humilhação faz rumor e é difícil ignorá-lo. Paralelamente, cresce a indignação - se ainda é possível um maior grau - contra a nossa casta política e a sensação de nos sentirmos politicamente desamparados.


Considerando o que se passou na semana passada, avoluma-se a ideia que somos um país á deriva e tão-somente porque as pessoas que, nós eleitores, votámos sem reflexão e como carneiros obedientes, traíram o país.

Que esperávamos, quando temos um sistema eleitoral que não permite a escolha de quem deve sentar-se na Assembleia da República, delegando-a aos cabecilhas dos partidos? E que esperávamos de partidos que, em vez de nos representarem com empenho e consciência, se comutaram em meros aparelhos eleitorais?


Como compreender - precisamente no período em que Portugal está quase a sucumbir perante a rapacidade dos abutres da finança - comportamentos tão levianos de quem deveria unir-se e encontrar soluções para combater este assédio, levantar a nossa economia e dar dignidade ao país?


Houve quem lhes chamou loucos. Se houve loucura, foi muito lúcida e bem estribada, quer na arrogância e incapacidade de diálogo, quer na sofreguidão de ocupar o poder.

Um triste caso de trivialíssimas facções, as quais, da política, conhecem apenas o que esta pode proporcionar a interesses que nada tem que ver com a seriedade e o empenho no alcance de estabilidade e progresso do país que deveriam representar.

Não sei explicar de outro modo atitudes tanto insensatas quanto insanas.

No que concerne o Presidente da República, foi bem evidente a apatia, incompreensível, como seguiu as mútuas agressividades verbais dos dirigentes partidários que seriam vítimas, em seguida, dessa verborreia sem sentido, inoportuna, irreparável.

Era fácil intuir que estavam a criar situações completamente estranhas ao melhor modo de enfrentar os ataques financeiros que nos asfixiam. Porém, o Sr. Presidente limitou-se a ignorar aquele saco de gatos.

Conforme asseriu, Não lhe deram tempo.


E esta uma justificação aceitável? Refugiar-se na hipotética falta de tempo está de acordo com o papel de máximo timoneiro da nação? Dentro das suas prerrogativas, não lhe caberia envidar todos os esforças – todos – para, com firmeza, instar com o governo e oposição a acalmar as guerrilhas e diatribes, letais para a nossa credibilidade na Europa e mercados financeiros?

Em conclusão, todos falharam. Sinto-me tão indignada que não consigo encontrar, nem procuro, justificações para ninguém. De novo devemos ler, na imprensa estrangeira, os habituais clichés: Portugal um país pobre, atrasado, enfim um país periférico.

Repito o que acima escrevi. Por muito que afaguemos o espírito de amor à nossa terra, este não pode eximir-se ao conhecimento das nossas gentes convertidas ao despesismo, à ostentação, à frivolidade e a pretensões que o orçamento do Estado não pode suportar

Quando os telejornais das 13 horas - RTP, SIC, TVI - iniciam com a eleição do presidente do Sporting e por cinco minutos (ou mais) se alongam nesta “importantíssima” notícia para os destinos de Portugal, caem os braços em sinal de desconforto.

Vejo o nosso povo intoxicado de telenovelas e futebol, mas ninguém se preocupa de informá-lo e de lhe criar uma consciência civil e política lúcida. Ninguém desconhece que os bons programas podem divertir e, simultaneamente, formar e informar. Mas o populismo, neste caso, impõe-se. Então, viva o futebol como notícia de relevo e telenovelas nos horários nobres.

Se esclarecessem, detalhadamente e de uma forma acessível aos menos instruídos, o significado de dívida soberana, o défice, o peso das importações e outros factores que desequilibram o orçamento do Estado e as finanças privadas, criar-se-iam obstáculos à irresponsabilidade.


Temos de interiorizar que somos todos culpados: uns por superficialidade e indiferença; outros por voracidade no poder de que foram investidos; outros, ainda, por cálculos sórdidos de uma finança e um capitalismo áridos, desumanos.


Aguardo a desfaçatez como esta casta que ocupa a política exporá as suas promessas e programas de salvação nacional.

Também gostaria de saber se a mesma casta, quando engendrou planos par novas eleições, auscultou os eleitores e as várias empresas sobre a oportunidade de um passo tão grave.

PROBLEMAS - -- - - - Não sei o que se passa neste blogue. Escrevo o texto ou transfiro-o do Word, publico-o e sai uma autêntica salsada: não há períodos nem parágrafos e o texto é um amontoado compacto de palavras. - - Se em todos estes anos nunca nada acontecera, qual o problema? - - Procurarei resolvê-lo

segunda-feira, março 21, 2011

INTERVENÇÃO MILITAR NA LÍBIA:
OPORTUNA OU DISPENSÁVEL?

Em nome de tantos princípios, devemos ser favoráveis ou contrários às operações aéreas da coalizão internacional, a fim de pôr em acto a resolução n.º 1973 do Conselho de Segurança da ONU?

Certamente que as intervenções que pressupõem acções de guerra provocam perplexidades e inquietação. A maior inquietude insere-se na opinião corrente: sabe-se como se inicia uma guerra, mas nunca se sabe como acabará.

Todavia, como se pode ficar indiferente ante a revolta de uma população oprimida por um ditador da pior espécie e saber que, sem meios para se defender das milícias e mercenários de Kadhafi, será vítima de um esmagamento sanguinário e brutal? Conhecendo o modus operandi daquele bárbaro, este final, sim, é fácil de prever.

Não tenho qualquer hesitação em aprovar o cumprimento da resolução da ONU. Lamenta-se apenas que não tivesse sido tomada muito antes. Penso que se teriam evitado tantas perdas humanas e as destruições que as imagens documentam.

Há exageros militares na imposição da zona de exclusão aérea na Líbia?
Seria de grande interesse conhecer indicações claras sobre métodos suaves, persuasivos e não ofensivos, a fim de neutralizar as linhas de defesa antiaéreas líbias, os sistemas radar, enfim, todo o aparelho militar de Kadhafi que este indivíduo, sem escrúpulos, pôs em marcha contra o seu povo. São possíveis? Existem?

Acho, portanto, decididamente hipócritas e internacionalmente demagógicos os protestos da China, Rússia, Liga Árabe e União Africana, não esquecendo o inefável Hugo Chavez e outros da mesma laia.
Ponderando a quase ausência de democracia nestes países, é inevitável a ironia: mas de que púlpitos vêm estas prédicas de cautela e protesto!...

Que pretende a Liga Árabe? Por que não reagiu com tempestividade aos massacres dos correligionários líbios - ademais por um tirano mal visto pela generalidade dos líderes dos países dessa organização - que apenas desejavam, sem violência, o que foi possível no Egipto e Tunísia?

Aceitou a imposição do famigerado "no fly zone", mas a Liga como entende impô-lo e convencer Kadhafi a eliminar os bombardeamentos vingativos e indiscriminados? Insisto, conhece uma receita milagrosa para a salvaguarda dos civis? Por que não se põe em campo e a usa?

Que autoridade tem a União Africana para solicitar o fim imediato da intervenção militar da coalizão internacional, quando, desde o princípio, brilhou pela ausência e silêncio sobre o que se passava na Líbia?
É oportuno recordar que, mercê da generosidade de Kadhafi para com os ditadorzecos subsarianos, estes forneceram os mercenários – cerca de 10 mil e provenientes, sobretudo, do Níger, Chade, Argélia, Mauritânia, Gabão, Gana - que dispararam e continuam a disparar sobre a população civil daquele desgraçado país.

Quanto às ironias de Putin sobre a resolução da ONU, a qual lhe recordava “os apelos medievais para as Cruzadas”, seria útil também recordar-lhe, e não ironicamente, o que se passa e passou na Chechénia.

Em segundo lugar, quando se fazem recomendações à coalizão de pôr fim a “um uso não selectivo das forças”, pois foram atacados objectivos não militares que provocaram a morte de 48 civis e cerca de 150 feridos, o comunicado russo nada mais fez que repetir o estrondoso noticiário de Kadhafi - absolutamente incontrolável - e isso não é sério.
Ainda bem que o Presidente Medvedev criticou Putin pelo inapropriado termo “Cruzadas”. Paralelamente, declarou que estava perfeitamente de acordo com a resolução do Conselho de Segurança ONU. Viva o bom senso!

O emprego cínico e criminosos de civis como escudo humano já se está a verificar. De que outros meios bárbaros se servirá Kadhafi para defender o ceptro, além dos que já pôs em prática, logo de início, e dos quais pouco se fala?

Resta esperar que tudo acabe bem, que os opositores consigam, por si mesmos, reconstruir uma nova Líbia.
É também desejável que, da parte externa, haja toda a ajuda necessária para que se levantem, construam um verdadeiro Estado com as instituições adequadas e caminhem dentro dos ideais democráticos, sem renegar as identidades que os caracterizam.

E quando todas estas esperanças começarem a concretizar-se em todo o Norte de África, a União Europeia pode fazer muito para que estes povos ressurjam e sacudam definitivamente os totalitarismos.
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Numa entrevista, Romano Prodi propôs, entre várias coisas, tratados de associação dos países mediterrânicos do Norte de África à União Europeia. Não o ingresso, para o qual não existem as condições, mas associação, amizade institucionalizada em vários níveis, segundo as condições políticas, sociais e económicas daqueles países” – Eugénio Scalfari em La Repubblica de 20/03/2011.
Impossível não concordar.

Termino com uma citação, muito feliz, do Presidente da República italiana, Giorgio Napolitano.
Não fiquemos indiferentes. Não permitamos que sejam destruídas as esperanças de um Ressurgimento no mundo árabe”.
Precisamente: um Ressurgimento!
Alda M. Maia

segunda-feira, março 14, 2011

UMA SEMANA DENSA DE ACONTECIMENTOS

Oito de Março, dia mundial da mulher. Sobre este evento, dou relevo a um artigo publicado terça-feira passada, no jornal La Repubblica (“O desejo de sentir-se irmãs”) de Shirin Ebadi, advogada e pacifista iraniana.
Magistrado, mas forçada pelo regime a abandonar o cargo, Prémio Nobel da Paz 2003, lutadora pelos direitos humanos, vive actualmente em Londres.

Há trinta e dois anos, no dia oito de Março, dia internacional da mulher, a televisão iraniana anunciou a decisão oficial que privava as funcionárias públicas de um seu direito fundamental: a liberdade de escolher o próprio vestuário.
[…] Reputando-se mais dignos que as próprias mães, emanaram leis que atribuem à mulher metade do valor do homem… O «Dieh», a importância monetária das indemnizações por danos físicos ou homicídio culposo, é reduzido a metade, se as vítimas são mulheres…
Num tribunal, o testemunho de duas mulheres equivale ao testemunho de um homem.
Estes homens, crescidos numa cultura patriarcal, criaram leis com o fim de garantir o prazer masculino, consentindo a prática da poligamia e permitindo ao homem de ter quatro mulheres permanentes e dezenas de mulheres temporárias.
[…] As mulheres corajosas que falavam de uma paridade de direitos e reivindicavam a igualdade iam ao encontro dos bastões ou chicotes dos defensores do regime. Algumas foram encarceradas; outras, executadas.
[…] As mulheres iranianas não desejam o poder político nem o decaimento dos costumes. Simplesmente, estão saturadas de suportar crueldades e desprezo. Aspiram à justiça e à paridade. Dai-nos apoio, solidariedade e ajudai o movimento das mulheres no seu veemente desejo de igualdade”.

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Discurso do nosso Presidente da República, na cerimónia da tomada de posse e as críticas subsequentes.
Não tenho dificuldade em adoptar algumas, pois são incontestáveis, por muito que os colegas de partido se prodigalizem em interpretações positivas.

Um discurso banal e repleto de lugares-comuns ou conceitos já muito explorados no mercado das opiniões.
Nada que mereça interesse, excepto o azedume como alude ao que não corre bem no País e promessas de uma “magistratura activa”. Pergunta-se: no que lhe não compete?
Seja permitida uma outra pergunta: nas elites que o circundam, o Presidente da República não é capaz de encontrar uma cabeça inteligente, dotada de uma refinada cultura política e de capacidade oratória, que lhe escreva discursos dignos de um Presidente de todos os portugueses e capazes de empolgar os cidadãos?
É-lhe difícil encontrar quem saiba escrever com profundidade, expressando ideias originais, sem que deva recorrer a uma espécie de composição bem alinhavada, onde apenas se fazem notar ressentimentos e desafios inoportunos?

No Facebook, o Presidente insurge contra “interpretações abusivas e distorcidas” das suas palavras, sugerindo a “todos os cidadãos de boa-fé que façam uma leitura integral do seu discurso”.
As redacçõezinhas de quem se crê infalível não garantem diversidade de interpretações. Na sua banalidade, exprimem recados e nada mais.

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Um Apocalipse no Japão”: foi este o título que muitos jornais adoptaram e não é exagerado. Olhando sobretudo as imagens, parece que o horror daquela tragédia não tem limites e é com profunda tristeza que vemos a impossibilidade de evitar uma tão grande devastação, um desastre humano que provoca arrepios.
A ciência e a técnica, embora no mais alto grau de aplicação e desenvolvimento, como vemos, nada podem contra as arremetidas violentas do planeta Terra.

Não é possível evitar cataclismos deste género, mas está nas nossas mãos atenuá-los com uma outra grande força que só a humanidade possui: a solidariedade total e tempestiva para com um Japão prostrado que, neste momento, tanto necessita que o ajudemos a levantar-se. Penso que não faltará.
A somar tragédia a tragédia, surge a emergência das centrais nucleares. Oxalá consigam reparar o desastre anunciado.

E cada vez se reforça mais a minha opinião contra a energia nuclear. Leio artigos e mais artigos sobre o assunto, procuro esclarecer-me, os propugnadores desta energia põem toda a confiança nos reactores da 3.ª, 4.ª, 5.ª gerações, mas a minha impressão negativa resta e não muda

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Líbia. Encadeemos os factos. Se na América não tivesse sido eleito um presidente tão negativo como George Bush; se Tony Blair não tivesse contribuído para a loucura de invadir o Iraque, criando uma guerra infinita no Médio-Oriente com as consequências que sabemos. Se outros factores não tivessem concorrido para esse grande erro, hoje, a guerra feroz de Kadhafi contra os seus compatriotas já teria sido anulada e os rebeldes socorridos, justamente, com os meios adequados para varrer aquele déspota.
Mas há os precedentes, logo, as hesitações da América.

É decepcionante a tibieza da EU, mas de que nos surpreendemos se, mesmo perante os problemas mais graves que a afligem, se demonstra incapaz e desunida?
É escandalosa a ausência da União Africana. É deplorável o procedimento hesitante da Liga Árabe, embora tivesse aprovada a exclusão do espaço aéreo. Mas quando?
Entretanto, o tarado Kadhafi, coadjuvado por um filho imbecil digno de tal pai, avança na vingança sanguinária contra quem ousou contestar este autoproclamado“ Rei dos Reis de África”.
Alda M. Maia

segunda-feira, março 07, 2011

INDIGNAI-VOS:
O MANIFESTO DA RESISTÊNCIA CIVIL

Efectivamente, há sempre motivos para nos indignarmos, se temos o brio de nos não fecharmos na apatia de quem apenas sabe resmungar e jamais reagir a certos fenómenos negativos que, dia após dia, se avolumam e desvirtuam ou sufocam a harmonia dos direitos e deveres que uma verdadeira democracia distingue e põe em prática.
Impõe-se, portanto, uma “resistência civil, uma insurreição doce, pacífica”, enfim, um indignai-vos, sem violências, contra este estado de coisas.

É esta a essência do famoso panfleto “Indignez-vous”, de Stéphane Hessel, publicado, nos fins de Outubro do ano passado, por uma pequena editora de Montpellier – Indigène Editions.
Até hoje, acenam a 1 milhão e 400 mil exemplares vendidos na França.
Publicado em Itália em 15 de Fevereiro, em apenas dez dias venderam 25 mil.

Já foi traduzido em português, com prefácio de Mário Soares, e estará à venda no próximo 15 de Março. Certamente que serei um dos primeiros compradores.

O inserto P2 do jornal Público de sexta-feira passada, apresentou um artigo muito completo - de Sérgio C. Andrade - sobre Stéphane Hessel e o tema do opúsculo “Indignai-vos”.

Quem é Stéphane Hessel? Sucintamente: nasceu em Berlim em 1917, de uma família intelectual judaica; imigrado em França desde 1925 e naturalizado francês; frequentou a prestigiosa École Normale Supériore de Paris; conviveu com altas figuras do mundo intelectual e artístico de França; aderiu à Resistência, na última guerra; diplomata; por último e de grande importância, foi um dos 12 redactores da "Declaração dos Direitos do Homem", em 1948.

Os valores democráticos e sociais por que combateu contra os nazis e durante a sua existência de 93 anos, hoje são desclassificados em pró da “ditadura dos mercados financeiros” e dos enriquecimentos fáceis.
Os direitos do homem e as conquistas sociais são postergados em planos inferiores ou omissos. Em face deste liberalismo sem alma, decidiu lançar um repto aos jovens, incitando-os a indignar-se e insurgir-se, pacificamente, contra estas derivas do novo século.

Desde os primeiros dias de Janeiro que a imprensa italiana tem dado largo espaço a este caso editorial.
No dia 28 de Fevereiro, La Repubblica publicou uma entrevista a Stéphane Hessel.
À pergunta: Ficou admirado pelo entusiasmo que o seu apelo desencadeou?
Resposta: Não devemos manter ilusões. A maioria das pessoas, em qualquer época, prefere manter-se em silêncio, fechar-se na própria hortinha. Durante a guerra, os jovens que apoiavam a Resistência foram apenas 10% da população. Provavelmente, também hoje existe apenas uma minoria iluminada. A nossa experiência, porém, demonstra que pode ser suficiente para mudar o curso da História.

Pergunta: Indignar-se. E depois?
Resposta: Entretanto, significa pôr em foco o problema. É como nomear um objectivo, para depois centrá-lo. Só deste modo se pode ir em busca de soluções. No fim do livro, falo de algumas propostas. Juntamente com Michel Rocard, estou a trabalhar num texto sobre acções concretas, compartilhadas por cerca de cinquenta ex-chefes de estado e de intelectuais, como Edgar Morin, Amartya Sen, Joseph Stiglitz.

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Indignai-vos! Como gostaria que esta exortação estivesse sempre presente no espírito de quem sabe reagir - comedidamente, mas com firmeza - às deformações da realpolitik; aos abusos de poder; às distorções institucionais; à mediocridade, por vezes desonestidade, de quem administra a coisa pública; à apatia, indiferença e egoísmo da sociedade civil!

Esperar naquele 10% iluminado em que espera Stéphane Hessel?
Considerando os nossos jovens, observando a frivolidade como vivem e a trivialidade dos seus entusiasmos, poderemos esperar na existência, malgrado estas impressões negativas, de um promissor dez por cento de iluminados? Duvido.
Serei injusta, mas vejo muita ignorância, mesmo em jovens licenciados cujos conhecimentos são apenas o que os exames exigiram para obter o diploma.
Recordo a recomendação (que presenciei) de um destes licenciados a um amigo: “Ó pá, entra em política e verás como encontras bons empregos”. A realpolitik no seu máximo!

Certamente que não podemos nem devemos generalizar. Espero, portanto, que o panfleto de Stéphane Hessel seja, também em Portugal, um caso editorial de grande sucesso e que o “Indignai-vos” desperte a consciência civil de tantos jovens (os que sabem interpretar o que lêem), assim como daquele batalhão de adultos que apenas sabe recitar e adormentar-se no já tão estafado “são todos iguais”.
Alda M. Maia