domingo, novembro 30, 2008

CAOS, ANARQUIA OU INCOMPREENSÕES?

Esforço-me por entender esta guerra aberta entre professores e Ministério da Educação. Procurei informar-me, a fim de criar uma opinião equilibrada. Parto sempre do princípio que a razão, normalmente e em casos semelhantes, nunca está só de um lado.

Digo imediatamente que o modelo de “avaliação do desempenho do pessoal docente” não me agrada.
Procurei conhecer as normas, cláusulas, condições, itens, modificações, enfim, todo o percurso de curvas e contracurvas que os professores devem observar.

Percorrendo esse caminho, impôs-se-me uma imagem: os arquitectos do contestado modelo criaram, digamos abstractamente, um esquema de reformas. Ao dispor as normas nesse esquema, esqueceram que seriam destinadas a pessoas com sensibilidade e dignidade profissionais. Evidentemente que me refiro àqueles professores competentes e apaixonados pela sua profissão. Conheço muitos com tais qualidades, embora também conheço o oposto.

Nessa dignidade que foi esquecida, dou um exemplo, sendo este um dos pontos controversos: se eu estivesse no activo, certamente que não me agradaria ser avaliada por colegas cuja profissionalidade e experiência não fossem superiores às minhas. Aceitaria as directivas oficiais, mas humilhada.

Talvez me falhe informações (se é assim, peço desculpa), mas, em oposição ao modelo emanado pelo Ministério da Educação, porventura os insatisfeitos - e creio justamente - apresentaram um outro modelo, cuidadosamente preparado, que seguisse a mesma linha, respeitasse a finalidade da reforma, indicasse uma via de amplos horizontes e priva de motivações para atritos, que se revelasse facilmente exequível e sem lesar os tempos didácticos ou onerar a complexidade da actividade docente?
Os sindicatos, que tanto berram, apresentaram-no e defenderam-no com serenidade e convicção?
Ou entendem que basta protestar para ter sempre razão e quem não obedecer aos insistentes ultimatos deve demitir-se?
Por que não escolher o incansável, mas civilizado dialogar, dialogar e sempre dialogar, em vez de insultos, ordens peremptórias e tons concitados?

Se a contestação faz parte das regras democráticas, o diálogo é uma das melhores e das mais profícuas.
O que vemos, todavia, são barricadas e “barricadeurs”. Confesso que o espectáculo não me parece exemplar.
Acrescente-se ainda que há um pensamento que se sobrepõe aos demais: quem pensa nos alunos?

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OS JOVENS INGLESES MAIS ASNOS QUE NUNCA”
Subtítulo: “A Pior Geração; culpa das tecnologias” – artigo de Vittorio Sabadini, correspondente de Londres do jornal “La Stampa” de Turim.

È um artigo muito interessante e dá um retrato perfeito do que é a precariedade, ou o facilitismo, do ensino actual - uma calamidade, com as devidas excepções, obviamente.
Vamos ver se consigo resumir e transcrever o essencial.

A “Royal Society of Chemistry”, muito original nas suas actividades, fez entrar na “máquina do tempo” 1300 alunos, entre os mais brilhantes do Reino Unido e habituados a tirar as melhores notas. Transportou-os a uma escola de 1965.
Nos bancos onde se sentaram, estes jovens encontraram um exercício de matemática da época e que os coetâneos de 16 anos, nascidos em 1949-50, resolviam sem tribulações nem copianços.
Somente 15% desses 1300 alunos acertaram; os restantes apresentaram a folha em branco.
Na etapa sucessiva, a “máquina” recuou a 2005. Os exercícios já eram mais simples, mas somente 35% os conseguiu resolver.
Em conclusão, “grande parte dos 1300 pequenos génios, das escolas inglesas, revelou-se incapaz de acertar testes de matemática e álgebra que os respectivos pais resolviam facilmente

Embora se trate de uma experiência divertida, foi tomada em séria consideração por todos os que se ocupam do ensino.
Na Grã-Bretanha (e um pouco em todos os países), a qualidade do nível de ensino e de aprendizagem está a precipitar e, segundo os especialistas, se não se põe remédio imediato, as futuras gerações não conseguirão executar uma simples operação de divisão... imaginemos uma raiz quadrada!

(…) Se a prova da RSC fosse experimentada em qualquer outro país ocidental, daria, provavelmente, o mesmo resultado.
Hoje em dia, desde o 1.º ciclo, permite-se às crianças de usar a calculadora nas aulas, considerando que é inútil cansar-se a fazer operações que uma simples tecnologia executa. As crianças compreenderam perfeitamente esta lição e prosseguem, nos ciclos sucessivos, com a mentalidade de que não é necessário memorizar noções. O conhecimento necessário (por exemplo, uma data ou uma biografia) será sempre disponível, quando servirá, no telemóvel ligado à Internet.


Frank Field, respeitado e escutado membro laborista do Parlamento, proferindo um discurso na Universidade de Leicester, também atribuiu grande culpa aos pais. Estes já não aplicam qualquer rigor educativo, indispensável na formação das crianças.
Segundo Field, a época de ouro das famílias britânicas atingiu o auge nos anos Cinquenta do século passado: a última era na qual os pais estavam sempre ao lado dos professores e nunca dos próprios filhos. A família e a escola contribuíam, em igual medida, no crescimento cultural dos jovens
”.

Estas observações de Frank Field só me merecem aplausos!

Muito se exige, ou deveria exigir-se, no campo do ensino. No entanto, quem impõe, com intransigente severidade, responsabilidades e obrigações aos pais dos alunos?
Por que razão não é crime público as agressões insultuosas ou físicas aos professores, dentro dos estabelecimentos de ensino, por paizinhos “extremosos”, quando os meninos são admoestados ou contrariados?
Por que não exigir total responsabilidades aos pais pelas faltas injustificadas dos filhos?

É a escola a única responsável pelo abandono escolar? Terá influência, mas onde colocamos, neste caso, o papel essencial das famílias?
Alda M. Maia

domingo, novembro 23, 2008

UMA HISTÓRIA TRISTE, COMOVENTE

E a narradora é uma médica de um hospital de Treviso, secção de neonatologia, num congresso sobre “Ética e Medicina”, em Pádua.

Exponho o caso recente de um recém-nascido com uma deformação gravíssima.
Apenas com cinco dias de vida, foi operado, mas sem perspectivas de recuperação. A este ponto, todos nós da equipa médica olhámos uns para os outros e concordámos: não nos é possível fazer mais nada. É inútil prosseguir as terapias.
Chamámos os pais do bebé. Explicámos a situação; não fazia sentido o que estávamos a fazer. Os pais compreenderam.
Perguntámos-lhes se, antes de dizer-lhe adeus, a mãe queria aconchegar, nos seus braços, o menino que estava ligado a uma máquina.
Num primeiro instante, recusou, pois não se sentia com coragem. Mas no momento crucial, mudou de ideias. Sentou-se numa poltrona, abraçando o filhinho.
Nós, devagar, docemente, bloqueámos a subministração dos medicamentos e o menino morreu ao colo da mão, na tranquilidade do local”.

No caso específico, o recém-nascido, além da grave deformação, pesava menos de 1 kg. Segundo os médicos, não sobreviveria mais que poucas horas.

Esta mesma decisão, em iguais circunstâncias, tinha sido tomada em outros cinco ou seis casos desesperados, evitando uma obstinação terapêutica apenas técnica, mas longe de gerar esperanças. Logo, inútil e desumana.

Mais tarde, a mesma médica, numa conferência de imprensa, esclareceu melhor o seu pensamento.

O conceito de tratamento de uma criança moribunda significa preocupar-se de cada momento que lhe resta de vida e consentir-lhe de morrer nos braços dos pais, uma vez que, tal facto, inevitavelmente, consumar-se-ia numa cama, isolado e ligado a tubos e cabos. È, sem dúvida, a melhor escolha para todos”.

O Procurador da República de Treviso abriu um inquérito
Faz o seu dever.
Só espero que, no decurso e conclusão desse inquérito, predomine o bom senso.

Mas afugentemos o véu de tristeza. Quando se trata de tragédias que, sobretudo, envolvem crianças, advém uma angústia quase insuportável!
Recorramos, então, a um aligeiramento e dêmos outro rumo à conversa.

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EURODEPUTADOS BREJEIROS

A acusação foi lançada pela eurodeputada alemã, Silvana Koch-Mehrin, 38 anos, liberal, segundo narra um artigo do "Corriere della Sera".

Sem eufemismos, a senhora, numa entreviste ao semanário "Bunte", denunciou o que acontece entre Estrasburgo e Bruxelas: “um pulular de prostitutas” à volta dos senhores eurodeputados.

“Os deputados vão a Estrasburgo, para os quatro dias de trabalhos da sessão mensal, como se fosse para um acampamento de verão. Pensam eles: aqui ninguém me conhece, posso fazer o que muito bem me apetecer.
A casa, a família e os amigos estão longe, não somente para os deputados como para os que com eles estão relacionados, os lobistas e os jornalistas.
Depois das sessões, come-se e, em seguida, vai-se para o hotel. Ou então, festeja-se nos bares”.

As ruas que conduzem ao Parlamento estão pejadas de profissionais do amor - continua a senhora.
“Os deputados descuram os trabalhos para buscar a companhia das prostitutas”.

Reacção indignadíssima de um colega, Joseph Daul, presidente do grupo Popular, contra "afirmações inaceitáveis que só difamam e conspurcam a dignidade dos deputados".
Deu a conhecer o apoio unânime dos colegas à rejeição da calúnia, numa reunião efectuada à porta fechada – "colegas masculinos, presume-se"!
Seria enviada uma carta de protesto ao presidente do Parlamento Europeu, Hans-Gert Pöttering.

Todavia, parece que as asserções de Silvana Koch-Meherin não são tão gratuitas ou falsas como os doridos as querem apresentar!

O mesmo presidente, há algumas semanas, recebera uma outra carta de 37 deputados, todos escandinavos: pessoas sérias, ora bem!...
Solicitam que ”o Parlamento Europeu se sirva apenas de hotéis que garantam não estar envolvidos no comércio do sexo e cujo pessoal tenha instruções escritas sobre este argumento”.
Quando enviaram esta carta, sabiam bem do que falavam!...

Surgem perplexidades, legítimas ou não: querem lá ver que os brejeirotes (e só estes, obviamente) são capacíssimos de obter dos contribuintes mais esta benesse, isto é, um extra, não especificado, para aliviar a dureza do “exílio” e do trabalho!?
Se assim é, e custa pouco a acreditar, fechemos com uma moral da história, em duas palavras: duplamente porcalhões.

Ah! Apenas uma sugestão a Hans-Gert Pöttering.
Apurados os factos, dê-se andamento à criação de uma “polícia dos bons costumes”: rígida, abelhuda, exclusivamente financiada com detracções, ad hoc, aos emolumentos dos eurodeputados.

Inicialmente, pagaria o justo pelo pecador. Em breve tempo, porém, os virtuosos tornar-se-iam de tal maneira vigilantes e severos que a dita polícia deixaria de ter razão de existir.
Alda M. Maia

domingo, novembro 16, 2008

OS HOMENS DO VATICANO

Sempre considerei as Hierarquias do Vaticano como a parte política do catolicismo, a parte directiva e representativa do mundo católico, obviamente, mas jamais a súmula ou o corpo da Igreja Católica.
Esta, para mim, é um mundo bem diferente. Acima de tudo, são os milhões de fiéis e um clero anónimo que compartilha e, consequentemente, conhece as alegrias e ânsias quotidianas dos que nela crêem, caminhando par a par.

Os homens do Vaticano, instalados no palácio, perderam (se é que alguma vez a tiveram) a humildade, a piedade, aquele olhar manso, doce e compreensivo de quem observa as realidades amargas de tantas vidas: precisamente, porque vivem na corte.

Estabeleceram “valores não negociáveis”; devem cumprir-se.
É justo que defendam estes princípios. No entanto, para eles, não são concebíveis interpretações que se aproximem de uma qualquer situação que se afaste desses valores inflexíveis, embora humanamente trágicas.

Nestas atitudes, apenas vejo uma retórica fria, fundamentalista, muito longe do comportamento daquele Cristo que veneramos. E fico indignada!

A notícia chegou aos nossos noticiários acerca do Supremo Tribunal de Justiça italiano, o qual emitiu uma sentença difícil e, num certo sentido, dramática: a suspensão da alimentação artificial a uma senhora, Eluana Englaro, em coma irreversível há quase dezassete anos – “estado vegetativo permanente”.

Tinha 21, quando, em Janeiro de 1992, sofreu um acidente de automóvel. Passados seis anos e após o diagnóstico de irrecuperabilidade, o pai desta jovem, filha única, reconhecido tutor oficial, pediu que a deixassem morrer em paz, respeitando o que fora um desejo da filha.
Anteriormente, perante uma situação idêntica que sucedera a um amigo, Eluana tinha manifestado uma vontade bem clara de jamais submeter-se a prolongar a vida em tais condições.

A batalha do pai, a fim que reconhecessem o direito que todos temos de desejar morrer normalmente e com dignidade, durou até estes dias.

A imprensa acompanhou o caso, caso este que sublevou muitas discussões, como era inevitável. A atitude do Vaticano foi peremptória: não é admissível.

Chegou-se à fase final. O Supremo, considerando rigorosamente todas as circunstâncias que atestavam a irreversibilidade, a morte cerebral, portanto a vida vegetativa de Eluana, assim como a vontade que esta exprimira, lavrou uma sentença equilibrada e no pleno respeito da Constituição (o jornal La Repubblica publicou o texto integral).

Considerando a angústia que tem envolvido os familiares de Eluana, a tremenda amargura e o drama de viver estas decisões, gostaria de ver os homens do Vaticano – pelo menos esses! - manter um silêncio discreto. Se não por caridade e piedade, ao menos por elegância e respeito pelas decisões de uma alta instituição, qual é o Supremo Tribunal de Justiça.

Que a mediocridade dos que estão no Governo e os meios de comunicação que os apoiam partissem ao ataque dos magistrados e repetissem, como papagaios amestrados, o que o Vaticano quer que digam – um homicídio de Estado; os juízes não tutelam a vida; é um horror monstruoso que nos devorará, etc., etc. - é já espectáculo normal.
O que choca é imediata reacção das Hierarquias Católicas, exibida numa linguagem violenta: eutanásia sancionada por direito; uma sentença grave do ponto de vista ético e moral; é desumano e um assassínio; uma decisão tragicamente errada... e por aí adiante!

O mais encolerizado é o cardeal Javier Lozano Barragan, “ministro da saúde” do Vaticano: “Não matar. Não se pode infligir uma morte terrível por fome e por sede. (…) Tirar-lhe-ão a água e alimento – isto é, água mineral e uns cremezinhos, segundo dá a entender o Sr. Cardeal!... - será um fim tremendo e contra todas as leis naturais. (…) Hidratar e alimentar aquele corpo não é encarniçamento terapêutico. (…) Vegetativo é um termo que se aplica às plantas, não a um ser humano”.

Li e reli por inteiro as declarações do Cardeal Barragan.
Julguei obter uma justificação lógica da defesa intransigente dos valores que as altas hierarquias católicas apelidam “não negociáveis” – neste caso, a sacralidade da vida.
Fiquei de boca aberta, ante a pobreza e banalidade dos argumentos!

A tensão arterial ter-lhe-ia sido poupada e não teria dado a impressão de cardeal limitado no poder de argumentação, se apenas tivesse dito: "o Vaticano não aceita a sentença… porque sim!..." O efeito seria o mesmo.

Devo confessar que não me desagradou a declaração de Bento XVI, numa conferência pastoral sobre as crianças: “É necessário encontrar o justo equilíbrio entre a insistência e desistência nos tratamentos médicos” – inteiramente de acordo.

Mas sobre a sentença, vejamos a opinião de quem verdadeiramente tem experiência, sentido de humanidade e sabe o que diz:

Quem se refere a homicídio e eutanásia não sabe do que está a falar. A eutanásia é dar veneno para terminar a vida. No caso em questão, interrompem-se tratamentos, toma-se consciência de que a medicina já não pode fazer absolutamente nada, pois não há esperança de recuperação. Submeter-se uma pessoa a terapias, significa arriscar-se a idolatrias técnicas, à renúncia do humanismo e também da caridade cristã.
No seu estado, não há nenhuma sensação nem pode senti-la. Portanto, não sofrerá a fome nem a sede. Ir-se-á como morriam todos, antes da invenção da nutrição artificial
– Ignazio Marino.
O Dr. Marino é médico, trabalhou nos centros de transplante em Cambridge e Pittsburgh – Estados Unidos. Titular de um currículo médico de grande relevo.

Não é homicídio nem eutanásia. Desejaria que a Igreja se exprimisse com mais prudência – Vito Mancuso: Teólogo e professor universitário.

Fecho com a descrição de um desenho satírico de um humorista italiano, Vauro.
Duas crianças pretinhas, muito magras. Diz uma delas: Já soubeste?! A Igreja diz que a morte por fome é um assassínio. Reponde a outra: Não te excites. Não se trata da nossa fome.
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Alda M. Maia

domingo, novembro 09, 2008

O PRESIDENTE BRONZEADO

Quero pensar que estou a descrever um país provisoriamente imaginário. Chamemos-lhe “Tivilândia”, visto que a sua cultura cívica e política - pelo menos em metade dos habitantes – passou a ser absorvida, quase exclusivamente, através dos vários canais televisivos.

Embora haja opiniões contrárias, é mercê deste estado de coisas que nasceram personagens políticas inimagináveis em qualquer outro país do continente a que pertence, a Europa.
Mas aconteceu. Só a partir daí, então, e somente sob o ponto de vista político, quero chamar-lhe Tivilândia.
Repito: provisoriamente, pois espero que, no futuro, tudo mude e tudo se transforme com um autêntico e normal líder político: normal em dignidade, limpidez e competência.
Existem em abundância, felizmente: apenas lhes têm faltado os potentes meios de comunicação que o Berlusconi da Tivilândia possui.

Mas vamos ao caso do “presidente bronzeado”.

Em Moscovo, numa conferência de imprensa e na companhia do Chefe de Estado russo, a uma pergunta sobre o papel da Itália como ponte amiga para aproximar a América e a Rússia, o inefável Berlusconi respondeu: (…) Obama possui tudo para poder estar de acordo com ele (Medvedev): é jovem, é belo… - alarga os braços, sorri divertido – é também bronzeado.
Não resta dúvida que escolheu bem o palco para exibir a sua veia de artista cómico!...

Todavia, oh frase fatal! Este homenzinho, mais uma vez, levado pela ideia que representa apenas a sua augusta pessoa, esquecendo a dignidade do país que o elegeu, julgando-se muito espirituoso, foi autor da pior indelicadeza e grosseria que um verdadeiro político, mesmo medíocre, jamais cometeria.

As consequências explodiram de imediato. Ainda não tinha decorrido uma hora e já a gracinha de péssimo gosto corria em quase todas as agências noticiosas internacionais e nos principais sites Web.
O New York Times, no blogue político
www.thecaucus.blogs.nytimes.com., abriu uma discussão sobre este caso.
Receberam milhares de mensagens, grande parte (64 páginas, se não erro) provenientes da Itália, apresentando desculpas.
Achei graça a um senhor que pedia que mandassem o Obama para Itália e levassem o Berlusconi, suplicando: Please! Please!

A oposição insurgiu, verdadeiramente indignada, e exigiu-lhe que apresentasse desculpas imediatas aos Estados Unidos.

Berlusconi, normalmente, quando se vê nestes apuros, usa duas tácticas: ou nega descaradamente, mesmo perante documentos incontestáveis, ou ataca, afirmando que é intencionalmente mal interpretado. Desta vez, optou pela última.
Transcrevo a forma arrogante e insultuosa como reagiu.

Aludindo a bronzeado, quis ser gentil, dar-lhe um elogio. Se quem me critica é desprovido do sentido de humor, isso já não é da minha conta. Que vão…
Cada um que imagine para onde é que ele os mandou, publicamente. Não vou repetir aqui o turpilóquio, porque já temos palavrões que cheguem, na nossa língua.

Com o termo bronzeado pretendi, em absoluto, exprimir uma “carineria” (uma gentileza), um grande elogio. Se os imbecis descem a terreiro, estamos bem arranjados! Que Deus nos salve dos imbecis.
Pensávamos que houvesse muitos imbecis em circulação; o que não imaginávamos é que fossem assim tão imbecis de auto-identificar-se e autoproclamar-se publicamente.

Imbecis são todos os que se atreveram criticá-lo: oposição, jornalistas e pessoas responsáveis.
Mas ainda não satisfeito, acentuou: Pretendem a licenciatura de “coglione” – esta era directa, segundo dizem, a Walter Veltroni que o condenou sem atenuantes.

É muito afeiçoado ao vernáculo “coglione”. Tem-no usado em diversas ocasiões.
Assim, visto o bom conhecimento de causa, visto que se referiu a uma licenciatura nesse sector, será que, ele mesmo, já atingiu o grau de doutoramento em tal matéria?

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E depois da parte condenável, sobreveio a parte cómica: a ânsia pela chegada ou não chegada do telefonema de Barack Obama, dado que tantos outros Estados o recebera e ele não, embora disfarçada com a altanaria do parolo convencido.

Por fim, lá chegou: telefonema cordialíssimo, longo, amigo: assim reza o comunicado oficial.
Com uma certa perfidiazinha, os jornais sérios não se esqueceram de informar que Obama, além de já ter telefonado à França, Alemanha, Reino Unido e outros países, só depois da Espanha, Egipto, Polónia, República Checa, etc., cumpriu o ritual diplomático com a Itália.
A bofetada foi de luva branca! Paralelamente, quanta canseira para o embaixador italiano, em Washington!

Última curiosidade. O jornal L’Unità lançou a campanha do envio de um bilhete-postal – através deste quotidiano - à sede do Governo, com a seguinte mensagem: Io sono imbecille (Eu sou imbecil).
Alla c.a. del Presidente del Consiglio dei ministri; Palazzo Chigi; Largo Chigi; 00100 Roma.

Fico-me com a grande curiosidade de saber quantos milhares lá chegarão - espero mesmo que sejam milhares!
Alda M. Maia

sexta-feira, novembro 07, 2008

RECEEI... MAS VENCEU
.
Barack Obama - o homem das esperanças
.
E dada a minha grande simpatia por este quadragésimo quarto presidente dos Estados Unidos, não poderia deixar de incluir uma foto, neste blogue.

Como último comentário, transcrevo a definição de António di Bella (jornalista e director do TG3 - RAI):

Obama não é somente um afro-americano: é um mestiço que cresceu na Indonésia e Hawaii; o mais cosmopolita dos presidentes americanos; um homem que conhece as fadigas de quem é pobre, a segregação de quem é diverso; sabe que a cooperação e a arte de escutar são armas melhores que o isolamento identitário.

Una montagna di auguri, Sig. Presidente!
Com os tremendos problemas que terá de enfrentar e procurar resolver, necessita mesmo de uma alta montanha de votos sinceros de felicidades; também um complemento de
votos para que saiba rodear-se de excelentes colaboradores, o que não duvido.
Alda M. Maia

domingo, novembro 02, 2008

E SE PERDE AS ELEIÇÕES?

Evidentemente que me refiro às eleições americanas que, ao fim e ao cabo, interessam a todo o mundo, principalmente na esfera ocidental.

Devo dizer que este espectáculo sem fim já me estava a saturar; sobretudo, o sobe e desce das sondagens.
E quanto se tem escrito!! Aqui, a hipérbole “rios de tinta” talvez não seja muito exagerada.

A dois dias da recta final, e como era previsível, o crescendo dos sons dá origem a uma certa ansiedade.
E se o candidato, em quem depositamos tantas esperanças, perde as eleições?

Deveria haver uma lei ética universal que, a vinte dias do acto final electivo, inculcasse a ideia que seria de péssimo gosto, taxativamente reprovável efectuar ou publicar sondagens: o povo que aprenda a observar os candidatos com discernimento e, nos últimos dias, decida conscientemente a quem dar o voto.
Na América, então, tiveram mais que tempo de conhecer vida e milagres, grandezas e misérias, competências e carisma dos aspirantes à presidência.

De acordo com a grande maioria dos europeus, também espero e confio na vitória de Barack Obama. No entanto, há uma incógnita que me assusta e que não é improcedente: ao arrepio das sondagens favoráveis, impõe-se a um latente racismo, surge a reviravolta e proclamam-se vencedores o que considero (na minha opinião, obviamente) duas desgraças: John McCain e a pistoleira Sarah Palin.

A seguir, apresenta-se-me uma outra probabilidade. Suponhamos que estes dois são eleitos; McCain, por qualquer motivo, é impedido de concluir o mandato: eis uma caçadora de alces do Alasca - só por isto já me é extremamente antipática - um pouco primária e fundamentalista nos seus modos de fazer política, sem a mínima preparação ascende à presidência de um grande país.
A América não merece isto!

Quando a escolheram para vice-presidente, foi senilidade de John McCain ou estúpidos cálculos populistas, a fim de captar votos na parte eleitoral fundamentalista e retrógrada?
Eu diria que não somente foram estúpidos como anedóticos. Sempre que se apresenta às multidões, vejo aquela mulherzinha mais como uma figura de animação da campanha eleitoral que uma real personagem que concorre à vice-presidência da potente América - perante esta evidência, não creio exagerar se asseguro que fico estarrecida!

Na próxima terça-feira, que Deus lance um profundo e longo olhar à América e ilumine os milhões de indecisos.
Da minha parte, apenas desejo que estes anulem prováveis e indecentes sentimentos de racismo; avaliem sem condescendências a catastrófica administração Bush; ponderem o actual desprestígio da América no mundo e saibam pôr o bom senso acima de todos e quaisquer outros impulsos.

E sendo assim, que na quarta-feira corra a boa nova: Obama presidente dos Estados Unidos da América.
A grande e excepcional afluência às urnas é um bom sintoma.
Alda M. Maia