CAOS, ANARQUIA OU INCOMPREENSÕES?
Esforço-me por entender esta guerra aberta entre professores e Ministério da Educação. Procurei informar-me, a fim de criar uma opinião equilibrada. Parto sempre do princípio que a razão, normalmente e em casos semelhantes, nunca está só de um lado.
Digo imediatamente que o modelo de “avaliação do desempenho do pessoal docente” não me agrada.
Procurei conhecer as normas, cláusulas, condições, itens, modificações, enfim, todo o percurso de curvas e contracurvas que os professores devem observar.
Percorrendo esse caminho, impôs-se-me uma imagem: os arquitectos do contestado modelo criaram, digamos abstractamente, um esquema de reformas. Ao dispor as normas nesse esquema, esqueceram que seriam destinadas a pessoas com sensibilidade e dignidade profissionais. Evidentemente que me refiro àqueles professores competentes e apaixonados pela sua profissão. Conheço muitos com tais qualidades, embora também conheço o oposto.
Nessa dignidade que foi esquecida, dou um exemplo, sendo este um dos pontos controversos: se eu estivesse no activo, certamente que não me agradaria ser avaliada por colegas cuja profissionalidade e experiência não fossem superiores às minhas. Aceitaria as directivas oficiais, mas humilhada.
Talvez me falhe informações (se é assim, peço desculpa), mas, em oposição ao modelo emanado pelo Ministério da Educação, porventura os insatisfeitos - e creio justamente - apresentaram um outro modelo, cuidadosamente preparado, que seguisse a mesma linha, respeitasse a finalidade da reforma, indicasse uma via de amplos horizontes e priva de motivações para atritos, que se revelasse facilmente exequível e sem lesar os tempos didácticos ou onerar a complexidade da actividade docente?
Os sindicatos, que tanto berram, apresentaram-no e defenderam-no com serenidade e convicção?
Ou entendem que basta protestar para ter sempre razão e quem não obedecer aos insistentes ultimatos deve demitir-se?
Por que não escolher o incansável, mas civilizado dialogar, dialogar e sempre dialogar, em vez de insultos, ordens peremptórias e tons concitados?
Se a contestação faz parte das regras democráticas, o diálogo é uma das melhores e das mais profícuas.
O que vemos, todavia, são barricadas e “barricadeurs”. Confesso que o espectáculo não me parece exemplar.
Acrescente-se ainda que há um pensamento que se sobrepõe aos demais: quem pensa nos alunos?
****
“OS JOVENS INGLESES MAIS ASNOS QUE NUNCA”
Subtítulo: “A Pior Geração; culpa das tecnologias” – artigo de Vittorio Sabadini, correspondente de Londres do jornal “La Stampa” de Turim.
È um artigo muito interessante e dá um retrato perfeito do que é a precariedade, ou o facilitismo, do ensino actual - uma calamidade, com as devidas excepções, obviamente.
Vamos ver se consigo resumir e transcrever o essencial.
A “Royal Society of Chemistry”, muito original nas suas actividades, fez entrar na “máquina do tempo” 1300 alunos, entre os mais brilhantes do Reino Unido e habituados a tirar as melhores notas. Transportou-os a uma escola de 1965.
Nos bancos onde se sentaram, estes jovens encontraram um exercício de matemática da época e que os coetâneos de 16 anos, nascidos em 1949-50, resolviam sem tribulações nem copianços.
Somente 15% desses 1300 alunos acertaram; os restantes apresentaram a folha em branco.
Na etapa sucessiva, a “máquina” recuou a 2005. Os exercícios já eram mais simples, mas somente 35% os conseguiu resolver.
Em conclusão, “grande parte dos 1300 pequenos génios, das escolas inglesas, revelou-se incapaz de acertar testes de matemática e álgebra que os respectivos pais resolviam facilmente”
Embora se trate de uma experiência divertida, foi tomada em séria consideração por todos os que se ocupam do ensino.
Na Grã-Bretanha (e um pouco em todos os países), a qualidade do nível de ensino e de aprendizagem está a precipitar e, segundo os especialistas, se não se põe remédio imediato, as futuras gerações não conseguirão executar uma simples operação de divisão... imaginemos uma raiz quadrada!
(…) Se a prova da RSC fosse experimentada em qualquer outro país ocidental, daria, provavelmente, o mesmo resultado.
Hoje em dia, desde o 1.º ciclo, permite-se às crianças de usar a calculadora nas aulas, considerando que é inútil cansar-se a fazer operações que uma simples tecnologia executa. As crianças compreenderam perfeitamente esta lição e prosseguem, nos ciclos sucessivos, com a mentalidade de que não é necessário memorizar noções. O conhecimento necessário (por exemplo, uma data ou uma biografia) será sempre disponível, quando servirá, no telemóvel ligado à Internet.
Frank Field, respeitado e escutado membro laborista do Parlamento, proferindo um discurso na Universidade de Leicester, também atribuiu grande culpa aos pais. Estes já não aplicam qualquer rigor educativo, indispensável na formação das crianças.
Segundo Field, a época de ouro das famílias britânicas atingiu o auge nos anos Cinquenta do século passado: a última era na qual os pais estavam sempre ao lado dos professores e nunca dos próprios filhos. A família e a escola contribuíam, em igual medida, no crescimento cultural dos jovens”.
Estas observações de Frank Field só me merecem aplausos!
Muito se exige, ou deveria exigir-se, no campo do ensino. No entanto, quem impõe, com intransigente severidade, responsabilidades e obrigações aos pais dos alunos?
Por que razão não é crime público as agressões insultuosas ou físicas aos professores, dentro dos estabelecimentos de ensino, por paizinhos “extremosos”, quando os meninos são admoestados ou contrariados?
Por que não exigir total responsabilidades aos pais pelas faltas injustificadas dos filhos?
É a escola a única responsável pelo abandono escolar? Terá influência, mas onde colocamos, neste caso, o papel essencial das famílias?
Esforço-me por entender esta guerra aberta entre professores e Ministério da Educação. Procurei informar-me, a fim de criar uma opinião equilibrada. Parto sempre do princípio que a razão, normalmente e em casos semelhantes, nunca está só de um lado.
Digo imediatamente que o modelo de “avaliação do desempenho do pessoal docente” não me agrada.
Procurei conhecer as normas, cláusulas, condições, itens, modificações, enfim, todo o percurso de curvas e contracurvas que os professores devem observar.
Percorrendo esse caminho, impôs-se-me uma imagem: os arquitectos do contestado modelo criaram, digamos abstractamente, um esquema de reformas. Ao dispor as normas nesse esquema, esqueceram que seriam destinadas a pessoas com sensibilidade e dignidade profissionais. Evidentemente que me refiro àqueles professores competentes e apaixonados pela sua profissão. Conheço muitos com tais qualidades, embora também conheço o oposto.
Nessa dignidade que foi esquecida, dou um exemplo, sendo este um dos pontos controversos: se eu estivesse no activo, certamente que não me agradaria ser avaliada por colegas cuja profissionalidade e experiência não fossem superiores às minhas. Aceitaria as directivas oficiais, mas humilhada.
Talvez me falhe informações (se é assim, peço desculpa), mas, em oposição ao modelo emanado pelo Ministério da Educação, porventura os insatisfeitos - e creio justamente - apresentaram um outro modelo, cuidadosamente preparado, que seguisse a mesma linha, respeitasse a finalidade da reforma, indicasse uma via de amplos horizontes e priva de motivações para atritos, que se revelasse facilmente exequível e sem lesar os tempos didácticos ou onerar a complexidade da actividade docente?
Os sindicatos, que tanto berram, apresentaram-no e defenderam-no com serenidade e convicção?
Ou entendem que basta protestar para ter sempre razão e quem não obedecer aos insistentes ultimatos deve demitir-se?
Por que não escolher o incansável, mas civilizado dialogar, dialogar e sempre dialogar, em vez de insultos, ordens peremptórias e tons concitados?
Se a contestação faz parte das regras democráticas, o diálogo é uma das melhores e das mais profícuas.
O que vemos, todavia, são barricadas e “barricadeurs”. Confesso que o espectáculo não me parece exemplar.
Acrescente-se ainda que há um pensamento que se sobrepõe aos demais: quem pensa nos alunos?
****
“OS JOVENS INGLESES MAIS ASNOS QUE NUNCA”
Subtítulo: “A Pior Geração; culpa das tecnologias” – artigo de Vittorio Sabadini, correspondente de Londres do jornal “La Stampa” de Turim.
È um artigo muito interessante e dá um retrato perfeito do que é a precariedade, ou o facilitismo, do ensino actual - uma calamidade, com as devidas excepções, obviamente.
Vamos ver se consigo resumir e transcrever o essencial.
A “Royal Society of Chemistry”, muito original nas suas actividades, fez entrar na “máquina do tempo” 1300 alunos, entre os mais brilhantes do Reino Unido e habituados a tirar as melhores notas. Transportou-os a uma escola de 1965.
Nos bancos onde se sentaram, estes jovens encontraram um exercício de matemática da época e que os coetâneos de 16 anos, nascidos em 1949-50, resolviam sem tribulações nem copianços.
Somente 15% desses 1300 alunos acertaram; os restantes apresentaram a folha em branco.
Na etapa sucessiva, a “máquina” recuou a 2005. Os exercícios já eram mais simples, mas somente 35% os conseguiu resolver.
Em conclusão, “grande parte dos 1300 pequenos génios, das escolas inglesas, revelou-se incapaz de acertar testes de matemática e álgebra que os respectivos pais resolviam facilmente”
Embora se trate de uma experiência divertida, foi tomada em séria consideração por todos os que se ocupam do ensino.
Na Grã-Bretanha (e um pouco em todos os países), a qualidade do nível de ensino e de aprendizagem está a precipitar e, segundo os especialistas, se não se põe remédio imediato, as futuras gerações não conseguirão executar uma simples operação de divisão... imaginemos uma raiz quadrada!
(…) Se a prova da RSC fosse experimentada em qualquer outro país ocidental, daria, provavelmente, o mesmo resultado.
Hoje em dia, desde o 1.º ciclo, permite-se às crianças de usar a calculadora nas aulas, considerando que é inútil cansar-se a fazer operações que uma simples tecnologia executa. As crianças compreenderam perfeitamente esta lição e prosseguem, nos ciclos sucessivos, com a mentalidade de que não é necessário memorizar noções. O conhecimento necessário (por exemplo, uma data ou uma biografia) será sempre disponível, quando servirá, no telemóvel ligado à Internet.
Frank Field, respeitado e escutado membro laborista do Parlamento, proferindo um discurso na Universidade de Leicester, também atribuiu grande culpa aos pais. Estes já não aplicam qualquer rigor educativo, indispensável na formação das crianças.
Segundo Field, a época de ouro das famílias britânicas atingiu o auge nos anos Cinquenta do século passado: a última era na qual os pais estavam sempre ao lado dos professores e nunca dos próprios filhos. A família e a escola contribuíam, em igual medida, no crescimento cultural dos jovens”.
Estas observações de Frank Field só me merecem aplausos!
Muito se exige, ou deveria exigir-se, no campo do ensino. No entanto, quem impõe, com intransigente severidade, responsabilidades e obrigações aos pais dos alunos?
Por que razão não é crime público as agressões insultuosas ou físicas aos professores, dentro dos estabelecimentos de ensino, por paizinhos “extremosos”, quando os meninos são admoestados ou contrariados?
Por que não exigir total responsabilidades aos pais pelas faltas injustificadas dos filhos?
É a escola a única responsável pelo abandono escolar? Terá influência, mas onde colocamos, neste caso, o papel essencial das famílias?
Alda M. Maia