segunda-feira, outubro 28, 2013

 É DE MAIS!

Ouvem-se as notícias, lêem-se os jornais, procuramos compreender, sem acrimónias nem complacências, o que se passa neste país, mas o esforço demonstra-se baldado.

Ponhamos de lado, então, as acrimónias ou complacências e tentemos deixar em liberdade a irritação irrefreável que nos assalta diariamente, condensando-a num único conceito: dentro da nossa democracia, nunca se viu um governo tão desastroso e de tão ínfima qualidade como o que, actualmente, administra Portugal. Precisamente num período de crise gravíssima que o estrangula e onde seria imprescindível um staff de pessoas com as mais altas competências e qualificações que o governasse com dignidade e segurança!                 

Certamente que há excepções e alguns ministros dignos de respeito, mas são poucos.

Avulta, por indecência, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, um senhor que declarava, antes da tomada de posse, “ter deixado funções em 30 organismos, entre os quais três grupos bancários, sociedades, fundações, comissões o escritório de advocacia PLMJ. Que tinha integrado, em simultâneo, órgãos sociais não-executivos da CGD, do BCP e do BPI que acumulava com a presidência do conselho superior da SLN e a vice-presidência do conselho consultivo do BPP, além de ter presidido à FLAD entre 1988 e 2010”  - São José Almeida, Público – 12/10/2013

Este normalíssimo ser humano como encontrava tempo para tantos encargos? Qual excepcionalidade de competências o tornava tão procurado ou tão introduzido em lugares de relevância económica e financeira?

Excelso para todos estes cargos, pelos vistos; execrável como chefe da nossa diplomacia.
O improvisado diplomata Sr. Machete, com a sua inconcebível entrevista à Rádio Nacional de Angola, muito bem aproveitada pelo Governo angolano, provou-nos o que significa promover para cargos importantes, sobretudo governativos, as sólitas personagens sempre prontas para todo o serviço.
 O caso foi largamente analisado, comentado, criticado asperamente, mas sem consequências.

É de mais, portanto, vermos Rui Machete, imperturbável e sem um mínimo de vergonha, continuar a conduzir a nossa diplomacia, quando respiraríamos de alívio se tivesse apresentado a sua demissão ou o Primeiro-Ministro o tivesse levado a esse passo. As justificações destes dois senhores, a tal respeito, soam como ofensas à idoneidade do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Repito, é de mais termos de suportar todas estas incongruências e arrogâncias.

Orçamento do Estado 2014 – “Empobrece o presente; Hipoteca o futuro” (Grupo Economia e Sociedade).
 Li com atenção o que foi publicado sobre a ceifa nos diversos sectores.
Indignei-me quando cheguei ao sector Educação e verifiquei os critérios de uso da foice: “Menos 500 milhões no básico e secundário. Inferior de cerca 8% à fatia de 2013”.
Será também reduzida a verba destinada à educação pré-escolar. Em contrapartida, eleva-se de 2 milhões as transferências para o Ensino Particular e Cooperativo – de 238 milhões -2013 a 240 milhões -2014.

Financiar o Ensino Particular onde não exista oferta pública, é justíssimo e aconselhável. Porém, em quaisquer outros casos, quando se fazem cortes em todas as direcções, sobretudo na função pública, esse financiamento é inadmissível e lesivo da qualidade que o Estado, impreterivelmente, deve garantir ao Ensino Público.

Defendem o princípio, e lêem-se muitos artigos defensores dessa causa, que os pais têm o direito de escolher o tipo de escola, privada ou pública, que os filhos devem frequentar. Logo, o Estado deve respeitar esse direito, financiando-o.
Francamente, este país perdeu a noção ou nunca procurou saber o que significa, num Estado de direito democrático, a existência e predominância obrigatórias de uma excelente Escola Pública para todos os seus cidadãos. É a Escola Pública, e somente esta, que o Estado é obrigado a proteger, garantir e financiar.

Se os pais preferem uma Escola Privada onde já existe a alternativa da Escola Pública, quem lhes subtrai essa faculdade? Que paguem um serviço privado e não pretendam direitos ad hoc para as suas preferências.

Também aqui, é de mais o descaramento deste Governo que não esconde a protecção de interesses que nada têm que ver com a sua função de administrador e zelador da coisa pública. É caso para insistir na pergunta: o Governo está ao serviço de quem e de quais interesses?

As privatizações a esmo, sobretudo do que dá lucros ao Estado, como se justificam? Mas isto dá assunto para outra conversa.

O Ensino Superior e Ciência também serão afectados pelos cortes orçamentais de 4,1%. 
É de mais a suportação desta arbitrariedade e indiferença, perante um dos motores principais que introduzem o progresso num país, isto é, a Educação!

Até quando? 

segunda-feira, outubro 21, 2013

GOVERNANTES DA COISA PÚBLICA
OU PROTECTORES DE INTERESSES SOMBRA?

 A Senhora Merkel propõe modificações nos tratados da UE, a fim de meter na ordem os países financeiramente pouco virtuosos, estabelecendo regras comuns mais rigorosas nos orçamentos dos Estados-membros da zona euro.

Vejamos, então, o que sucede na virtuosíssima Alemanha e que um artigo de Matteo Alviti (La Stampa 17/10/2013) esclarece de um modo muito claro. Não trata das exigências de austeridade nas contas públicas, mas de influências que as condicionam.

“Berlim, é a ocasião dos lobbistas”
Certamente que há a união de CDU e CSU com Angela Merkel à cabeça; os sociais-democratas (SPD) em busca de um resgate e os Verdes que se afastaram ontem, mas ainda mantêm aberta uma frincha da porta das traseiras. Todavia, os protagonistas das negociações para a formação do novo Governo - hoje na Alemanha, amanhã em qualquer outra parte – não estão todos aqui citados. E nem todos se apresentam à luz do sol.

Para os lobbies, as semanas sucessivas às eleições constituem um período de ouro. Precisamente quando homens e programas estão em movimento e é necessário decidir em qual direcção se deve encaminhar o país.   

Sem passar pela legitimação popular, escolhidos e muito bem pagos por governos interessados, empresas, associações de categoria e ONG mais ou menos independentes, estes “homens e mulheres sombra” pesam na vida de todos mais de quanto seja comummente notório.
Com os seus conselhos fazem escrever leis, desviar capitais de um ponto para o outro das medidas do orçamento público. E levam milhões de investimentos privados para todas as partes do globo.

Há dias, o quotidiano “Die Welt”, num longo artigo, narrou o fenómeno e indicou os nomes de alguns “lobbistas”. Entre eles, o do ex-presidente da câmara de Hamburgo, Ole von Beust, hoje ocupado a promover a Turquia entre os investidores alemães, directamente por conta do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan. Como colegas na mesma tarefa, Rezzo Schlauch, ex-subsecretário do ministério da Economia, e Wolf-Ruthart Born, ex-secretário do ministério dos Negócios Estrangeiros. “Nenhum dos três fala turco – escreve “Die Welt” – mas os seus nomes abrem portas na política berlinense”.

Recentemente, o ministro Eckart von Klaeden anunciou que deixaria a política pela Daimler, os da Mercedes. Não faltam, por fim, os nomes ilustres: o ex-chanceler SPD, Gerhard Schröder, de há tempos empenhado na Gazprom russa.
O ex-adversário da Merkel na CDU, Roland Koch, passou do governo de Essen para a multinacional da construção Bilfinger.

Entre os “lobbistas” também há os rostos de economistas conhecidos, como o de Matthias Wissmann, presidente da associação dos produtores de automóveis; Küdiger Grube, presidente dos caminhos-de-ferro alemães; Michael Sommer, chefe da federação dos sindicatos.
Porém, os desconhecidos, os que procuram enganchar os políticos em saraus-evento, ou em jantares com aqueles que contam, são tantos! No total, cerca de cinco mil, segundo o cálculo referido pelo quotidiano conservador.

Embora um verdadeiro registo dos lobbies não exista em Berlim, o Bundestag, o parlamento federal, anotou oficialmente 2142 associações, entre agências de relações públicas, thinktank, agências de lobbying.

Os lobbies não são um problema, quando agem à luz do dia e trazem interesses, ideias e competências específicas às políticas, explica Michael Hartmann (partido social-democrata) ao jornal “Die Welt”. O problema existe quando as coisas não são transparentes. Ora em Berlim, nos últimos anos, não se vê tudo com clareza.

O governo Merkel, por exemplo, com a chanceler em primeira pessoa, empenhou-se afincadamente na Europa, a fim de diluir as novas normas sobre as emissões de CO2 da indústria automobilística, com todas as vantagens dos competidores nacionais.

Os 690 mil euros que três membros influentes da dinastia Quandt, proprietária da BMW, doaram à CDU, a duas semanas das eleições, não têm que ver, directamente, com lobbies. Todavia, alguma coisa indicam sobre as relações entre a política e a indústria, a finança e grupos de poder.

Hoje, “os lobbies são mais influentes do que antes – afirma Edda Müller da ONG Transparency International – porque a política não faz os seus deveres de casa e não regula suficientemente a economia”.
Serviriam lei e regras mais restritas que tornem transparentes as actividades dos lobbies. Devê-las-á escrever o novo governo; oxalá evitando ajudas.”  -  Matteo Alviti

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Se em Portugal encontrarmos muitos sósias das personagens citadas neste artigo, é pura casualidade. Se situações idênticas às alemãs existem no nosso país, que absurdo! Como se ousa pensar tal coisa? São muito piores.

Como gostaria que qualquer publicação portuguesa, de larga projecção, procurasse imitar “Die Welt”, mas indo muito além, denunciando os tais poderes sombra que condicionam a nossa política e os politiqueiros que dela se ocupam… e que nós elegemos!  

terça-feira, outubro 15, 2013

PERCALÇOS
OU ENGODO DE CERTOS PROGRAMAS?

De há três ou quatro dias tenho a minha página Word desprovida de corrector ortográfico. Sempre que escrevo, todas as palavras aparecem sublinhadas a vermelho, isto é, tudo errado.

Não por culpa do computador, mas do programa Priberam, FLIP 6, adquirido anos atrás e mais pela conveniência da correcção em italiano.
À parte a ortografia, bem sabemos que a escrita produzida através do teclado é propensa a frequentes lapsos involuntários, logo, as correcções são utilíssimas.

Quando comprei esse programa e o instalei no meu computador, fiquei convencida que era de minha propriedade. Não estando interessada em quaisquer actualizações ou melhoramentos, pois as características do FLIP 6 satisfazem-me plenamente, fico muito, mas muito perplexa com a interrupção ou mesmo a advertência que solicita “actualização”.

Como já não é a primeira vez, nos últimos tempos, que este percalço (?) ataca o computador, telefonei para a Priberam. Atenderam-me com muita gentileza, mas foram explicando que o modelo já foi ultrapassado pelo FLIP 9, que as técnicas mudam; que talvez tenha havido vírus a provocar esse impasse - o que não sucedeu, pois verifiquei que o PC está protegido – etc., etc..

Conclusão, a fim de melhor resolver o problema, deverei adquirir, através de download, a actualização do FLIP 9, desembolsando cerca de 48€.

Se o FLIP 6 me satisfaz, se nada mais pretendo do que aquilo que esta versão me proporciona; se o programa estava à venda, o comprei regularmente e o instalei no único PC que utilizo há anos, dentro dos requisitos exigidos por esse programa, é aceitável este modo pouco claro de garantir o produto?
Devo ser obrigada a actualizações que não requisitei nem delas necessito?
Legalmente, são legítimas?

Não exprimo opiniões, apenas formulo perguntas.

Com a escritura adornada por sublinhados vermelhos é cansativa, fico à espera que o meu técnico resolva este problema.

segunda-feira, outubro 07, 2013

A HECATOMBE DE LAMPEDUSA
LAMPEDUSA CANDIDATA A NOBEL DA PAZ

Segundo o testemunho de alguns sobreviventes, as pessoas a bordo do trágico navio que se incendiou e naufragou a poucos metros da ilha de Lampedusa seriam cerca de 518: podemos bem avaliar as péssimas condições de alojamento desta pobre gente em embarcações com péssima segurança.
Sobreviveram 155, entre as quais 45 crianças; as vítimas recuperadas até hoje são 213.

Simone D’Ippolito, um dos primeiros socorristas que mergulhou, a fim de ainda poder salvar alguém, com a voz embargada pela comoção descreve todos os esforços de tantos voluntários como ele e aquilo que viu, sobretudo a 50 metros de profundidade:
“Havia corpos por todo o lado: entalados dentro do navio, mas também por cima e à volta. Vi pelo menos cem corpos, mas o que mais me atingiu foram aqueles corpos abraçados, antes de exalar o último suspiro. Talvez porque nenhum de nós quer morrer sozinho. Ainda tenho esta cena diante dos olhos e não consigo pensar noutra coisa”.

A generalidade destas vítimas não tem nome. Fotografaram-se os corpos, verificou-se o ADN. Com estes dados e a descrição da pessoa, atribui-se um número a cada féretro. Eis um exemplo: “morto n.º 14, negro, presumivelmente 18 anos”.
E assim serão sepultados se, entretanto, não houver familiares ou conhecidos que lhes dêem uma identidade.

Todas as circunstâncias e pormenores inerentes a esta última tragédia no Mediterrâneo, talvez porque se lhes deu todo o relevo que merecem, arrepiam e revoltam.
Quem segue com atenção estes fenómenos migratórios intui facilmente que, sobretudo somalis, eritreus, sírios, afegãos, enfim, cidadãos que fogem de guerras e de regimes ditatoriais cruéis e inimigos dos direitos humanos, enfrentam o desconhecido - onde quase sempre encontram bandidos que os exploram e escravizam - para chegarem à Europa. A Itália, em muitos casos, é um país de passagem; Lampedusa, o primeiro ancoradouro para chegar ao nosso Continente.

Quando se fala da Eritreia, descreve-se este país como uma das ditaduras mais ferozes da actualidade. “Serviço militar obrigatório e entendido a tempo indeterminado; os recrutas têm sido empregados em trabalhos forçados; o uso da tortura e outros maus-tratos é um fenómeno difuso”.
A maior parte das vítimas de Lampedusa provinha da Eritreia. Mas a Somália, com a sua infindável anarquia e o predomínio dos terroristas de al-Shabad, não lhe fica atrás.

O semanário italiano “L’Espresso” (espresso.repubblica.it) lançou um apelo - em versão italiana, espanhola, francesa e inglesa - a fim de propor Lampedusa como Prémio Nobel da Paz - “Candidatemos Lampedusa ao Nobel para a Paz” - e por cinco justas e excelentes razões.
Haverá tempo até Fevereiro de 2014 e entendem recolher o maior número possível de assinaturas que conduzam a um bom resultado.

Transcrevo essas incontestáveis razões:

1 - Lampedusa é hoje a porta mais importante do ingresso na Europa. Da outra margem do Mediterrâneo, empurrados pela fome, pela dor, perseguições raciais tribais ou religiosas, partem centenas de homens, mulheres e crianças que, para tentarem conquistar o direito à vida, metem em conta até mesmo a possibilidade de morrer. Ali, naquela ilha, desenvolve-se cada dia uma nobilíssima batalha em nome e por conta do mundo inteiro.

2 – A combatê-la é uma pequena comunidade – 6300 habitantes – que põe de lado a sua vida privada, esquecendo os seus interesses ligados a uma estação turística que dura poucas semanas por ano, para empenhar-se numa extraordinária competição de solidariedade. Homens, mulheres e crianças que interrompem o decorrer da sua vida normal para ajudar e hospedar os sobreviventes de dramáticas viagens da esperança. Um povo que nunca deixou de ser humano.

3 – Premiar uma ilha e os seus habitantes com um reconhecimento internacional altamente significativo serviria também para despertar a Europa do seu torpor, de um silêncio por vezes feito de egoísmo e indiferença e levá-la a ocupar-se do drama de populações inteiras de migrantes que não pode ser entregue à generosidade e altruísmo de um único país ou, na verdade, a um pequeno escolho no meio do mar.

4 – Premiar Lampedusa seria como gritar “alt” ao escandaloso tráfico de carne humana sobre o qual lucram, na origem, intermediários, transportadores marítimos e até mesmo pequenos rás locais, o que constitui, para muitos governos do Mediterrâneo, o sistema mais simples para fingir de resolver, ou pelo menos alentar e adiar no tempo, dramáticos problemas de fome e miséria.

5 – Premiar Lampedusa, enfim, significaria oferecer uma pequena mas intensa luz de esperança a quem é constrangido a abandonar a sua terra e a procurar na casa de outros o que nunca terá na própria casa. Quereria dizer que alguém, no mundo, está a pensar neles, nos danados da terra, nos mortos no mar.

Por estas razões, pedimos a todos para combater connosco uma batalha de civilização. Pelo menos será um sincero testemunho de proximidade e solidariedade.
O director
 Bruno Manfellotto