MIGUEL SOUSA TAVARES
PASQUINADAS NA BLOGOSFERA
No Renascimento, os restos de uma estátua (um grupo marmóreo), colocada perto do palácio Braschi, em Roma, tornou-se famosa com o nome popular de Pasquino.
No dorso da estátua, nasceu o costume de aplicar cartazes com versos em latim e em italiano popular, geralmente de pessoas anónimas. Com o passar dos tempos, passou-se à prosa satírica, à denúncia da corrupção e de todos os males que afligiam a sociedade romana: pasquinadas - célebres as de Pietro Aretino.
Nessas sátiras, às vezes violentas e ofensivas, não se poupava ninguém: papas, cardeais, personagens políticas. Era o único meio de expressão “democrático”!
O género começou a declinar, até à extinção completa, com o desaparecimento do poder temporal dos papas.
As pasquinadas originais tinham uma razão de ser, dado que a democracia era palavra inaplicável aos regimes absolutos da época, embora também imperassem, nesses pasquins, as aleivosias privadas.
Viremo-nos para os nossos tempos.
Eleger-se a blogosfera como o moderno Pasquino, mas no pior sentido, ou se trata de pessoas doentes ou dotadas de um forte sentimento de velhacaria.
Explodiu o caso Miguel Sousa Tavares. O que mais me surpreendeu foi o poder do rastilho que activou a explosão!
Criam-se, por dia, talvez centenas de blogues em língua portuguesa; o tal blogue, ad hoc, surgiu na sexta-feira, dia 20 / 10 / 2006. Só pergunto: que tantã portentoso foi esse que ecoou imediatamente em todo o País, dando lugar a que, no dia seguinte, se falasse nos jornais, se conhecesse o blogue e ali convergisse uma chusma de comentadores, em grande maioria também anónimos? Como actuaram, e que ajudas encontraram os autores, ou autor, para a instantânea popularidade desse blogue? Um caso muito estranho!
Que género de espectáculo nos proporcionou? Dois géneros: o miserável e o mesquinho.
Miserável, porque lançaram uma acusa grave, usando o anonimato. Não existe atitude mais vil do que essa, sobretudo quando se enlameia a reputação de quem quer que seja.
Se entendiam que tinham razão, davam a cara, identificavam-se. Não o tendo feito, só merecem desprezo.
Ademais, na denúncia que propalaram, não se vislumbra qualquer aspecto de plágio que mereça crédito; menos ainda um tão barulhento sensacionalismo.
Pode haver tentações de plagiar frases ou trechos literariamente belos (sempre condenáveis, obviamente); ninguém se perde a copiar descrições banalíssimas, corriqueiras e ao alcance do mais modesto escrevinhador. Não penso, aliás, que Miguel Sousa Tavares tivesse disso necessidade.
Mesquinho, porque as centenas de comentadores que afluíram nesse blogue - salvo uma minoria que se atreveu a remar contra a maré e se exprimiu com equilíbrio - dão um real testemunho de quanto é penosa e rasteira a educação, a formação cultural da maioria dessas pessoas.
PASQUINADAS NA BLOGOSFERA
No Renascimento, os restos de uma estátua (um grupo marmóreo), colocada perto do palácio Braschi, em Roma, tornou-se famosa com o nome popular de Pasquino.
No dorso da estátua, nasceu o costume de aplicar cartazes com versos em latim e em italiano popular, geralmente de pessoas anónimas. Com o passar dos tempos, passou-se à prosa satírica, à denúncia da corrupção e de todos os males que afligiam a sociedade romana: pasquinadas - célebres as de Pietro Aretino.
Nessas sátiras, às vezes violentas e ofensivas, não se poupava ninguém: papas, cardeais, personagens políticas. Era o único meio de expressão “democrático”!
O género começou a declinar, até à extinção completa, com o desaparecimento do poder temporal dos papas.
As pasquinadas originais tinham uma razão de ser, dado que a democracia era palavra inaplicável aos regimes absolutos da época, embora também imperassem, nesses pasquins, as aleivosias privadas.
Viremo-nos para os nossos tempos.
Eleger-se a blogosfera como o moderno Pasquino, mas no pior sentido, ou se trata de pessoas doentes ou dotadas de um forte sentimento de velhacaria.
Explodiu o caso Miguel Sousa Tavares. O que mais me surpreendeu foi o poder do rastilho que activou a explosão!
Criam-se, por dia, talvez centenas de blogues em língua portuguesa; o tal blogue, ad hoc, surgiu na sexta-feira, dia 20 / 10 / 2006. Só pergunto: que tantã portentoso foi esse que ecoou imediatamente em todo o País, dando lugar a que, no dia seguinte, se falasse nos jornais, se conhecesse o blogue e ali convergisse uma chusma de comentadores, em grande maioria também anónimos? Como actuaram, e que ajudas encontraram os autores, ou autor, para a instantânea popularidade desse blogue? Um caso muito estranho!
Que género de espectáculo nos proporcionou? Dois géneros: o miserável e o mesquinho.
Miserável, porque lançaram uma acusa grave, usando o anonimato. Não existe atitude mais vil do que essa, sobretudo quando se enlameia a reputação de quem quer que seja.
Se entendiam que tinham razão, davam a cara, identificavam-se. Não o tendo feito, só merecem desprezo.
Ademais, na denúncia que propalaram, não se vislumbra qualquer aspecto de plágio que mereça crédito; menos ainda um tão barulhento sensacionalismo.
Pode haver tentações de plagiar frases ou trechos literariamente belos (sempre condenáveis, obviamente); ninguém se perde a copiar descrições banalíssimas, corriqueiras e ao alcance do mais modesto escrevinhador. Não penso, aliás, que Miguel Sousa Tavares tivesse disso necessidade.
Mesquinho, porque as centenas de comentadores que afluíram nesse blogue - salvo uma minoria que se atreveu a remar contra a maré e se exprimiu com equilíbrio - dão um real testemunho de quanto é penosa e rasteira a educação, a formação cultural da maioria dessas pessoas.
Alda M. Maia