segunda-feira, julho 03, 2006

O PODER DESLUMBRATIVO

Em vez de deslumbrativo, poderia usar o significado mais corrente: deslumbrante.
Porém, nesta última palavra, antepõe-se-me a ideia que o poder é deslumbrante em todas as circunstâncias, pois o sufixo ante designa acção, qualidade, estado. Em deslumbrativo, o sufixo (t)ivo denota acção, referência, modo de ser.

Não creio que o poder deslumbre todos os que o detêm. Há pessoas que o usam com sentido de responsabilidade, equilíbrio e bom senso. Nada lhes ofusca estas qualidades. Outras pessoas há, todavia, que de ceptro na mão - o poder deslumbrativo – perdem completamente, não somente o equilíbrio e bom senso, mas também o sentido do ridículo.

Todo este arrazoado vem a propósito do muito que se tem escrito sobre as pretensões do Sr. Presidente da Câmara do Porto em conceder subsídios, exclusivamente, a quem não critique o município.

Cá está o modo de ser do Sr. Presidente: deslumbrado pelo cargo que ocupa, não tolera críticas, observações, oposição às suas directivas. E como exerce o poder, usa-o sem quaisquer pruridos, sobretudo de bom senso e respeito pelos deveres democráticos. Foi eleito, respeite os cidadãos que o elegeram. Administrar não significa decidir arbitrariamente.

Subsidiar fundações, que são de interesse público, não deve depender dos caprichos de um senhor presidente de turno, mas de normas aplicáveis consoante os fundos disponíveis, nada mais.

A nota cómica deste caso é a reacção do Sr. Presidente a um artigo do Público sobre a “Lei da Rolha”: Direito de Resposta – sábado, 1 de Julho.
Não foram poupadas nenhumas citações legais: “ao abrigo do n.º1 e do n.º2 da Lei, etc., etc., etc.” Depois destes preâmbulos, vêm então as justificações: sem lógica, verborreicas, atabalhoadas.

Dentro de tudo isto, há um facto que me causou uma péssima impressão. O líder do PS, Francisco Assis – segundo li no Público – “concordou que a concessão dos subsídios é uma forma de censura (…). Mas votou a favor, por concordar com a atribuição de 15 mil euros à Fundação Eugénio de Andrade”.

Aceitar um protocolo daquele género, demonstra falta de dignidade e ausência de vigor em contestar o que é inaceitável. E quando é assim, não se concorda: exige-se uma atribuição justa de 15 mil euros, caso existam fundos, sem que se permita a introdução de um se ou de um mas.
Alda M. Maia