segunda-feira, dezembro 19, 2016

SEMANA DE NATAL 2016: ALEGRIA?
FAÇAMOS UMA TRÉGUA NA TRISTEZA


 Tristeza que para mim é grande e, neste período, intensifica-se. Só no final das comemorações festivas retorna aquela serenidade que procuro readquirir. E já é muito positivo. Todavia, malditas sejam as saudades dos que nos deixaram! E é precisamente nesta altura do ano que se tornam piores que feras enraivecidas, dentro de um profundo vazio.

Mas abandonemos queixumes contra o que não tem remédio. Reviremos os sentimentos e pensemos unicamente nos que nos rodeiam e, sobretudo, nos que tanto sofrem. Alepo, na Síria, pode e deve ser o nosso alvo de compaixão e forte desejo que Deus se amerceie daqueles povos. A eles dedico-lhes este cesto de rosas, qual augúrio para que o novo ano 2017 seja o ano de absoluta trégua e, se possível, final do imane sofrimento e destruição a que a barbárie os tem submetido, de há vários anos.

Boas Festas, mas verdadeiramente Boas e Alegras Festas, a todos os pouco leitores deste blogue.

segunda-feira, dezembro 12, 2016

REFERENDO ITALIANO: QUEM VENCEU?
A CONSTITUIÇÃO, OBVIAMENTE!

Paolo Gentiloni -  novo Primeiro-Ministro italiano

A febre especulativa sobre esta ocorrência política foi elevada. Acalmou, mas ainda perduram conclusões que se apresentam bastante distantes do que se verificava, desde o início, nas opiniões de um bom número de constitucionalistas e académicos de várias esferas, os quais eram e permaneceram contrários à reforma constitucional, na forma e estrutura como foi imposta. Errado afirmar que todos “os constitucionalistas e politólogos apoiavam o “Sim”.

Estou perfeitamente de acordo quando menorizam os gritos de vitória dos que se proclamam vencedores. Na percentagem do “Não”, contam-se milhares de votos de eleitores que nada têm que ver com o “Movimento Cinco Estrelas” e “Liga Norte”, os dois principais partidos do “Não” que mais vociferaram, em todo o País, contra tudo e contra todos.

Os quase 60% dos votos “Não” ou eram dirigidos contra o Governo de Renzi, por variadas razões políticas, sociais e económicas (o voto maciço dos jovens situou-se nestas duas últimas razões) ou porque não concordavam com uma reforma constitucional muito discutível.

Votei “Sim”, por um único motivo: como tudo indicava a vitória do “Não”, temi a instabilidade do país. Temi que recomeçassem os joguinhos políticos, logo, as inevitáveis consequências desastrosas na administração pública e a confirmação do que proclamavam os catastrofistas, sobretudo estrangeiros.   
Não estou arrependida. Até ao último momento, as perplexidades foram muitas. Vi um grande número de artigos constitucionais, incluídos nesta reforma, que assustava: pela quantidade e temas. Porém, mais premente do que a perplexidade impôs-se o temor de uma grave crise política. 
Bato palmas à intangibilidade da Constituição Italiana

“Humildade, zero; Arrogância, mil. Renzi irritou os italianos”: este é o título das múltiplas opiniões sobre o pós-referendo. Exagerado? Não muito!
Se querem reformar o regime de duas câmaras com as mesmas funções – Câmara dos Deputados e Senado – que estudem, ponderem e saibam escrever com absoluta clareza e idoneidade as alterações necessárias. De caminho, entretanto, não aproveitem esta causa para reformar outros artigos constitucionais.
Sempre ouvi dizer que a Constituição Italiana é uma das melhores do mundo. Alterá-la, promover um referendo ratificador e personalizá-lo, qual plebiscito, ameaçando demissão na eventualidade que o “Não” se impusesse, não soa estranho que o Primeiro-ministro, Matteo Renzi, tivesse irritado muitos, mas muitos italianos. Ouvi-lo, era efectivamente irritante!

Outro facto que desagradava era um determinismo que, dentro do partido do qual fazia parte, levava-o a não dialogar, negava-se à discussão dos problemas e, com esta desenvoltura do “eu cá sei o que faço” provocou muitas dissidências e fracturas no “Partido Democrático”. 
Não se deve ignorar, todavia, que foi um bom primeiro-ministro e mostrou qualidades.    

A crise de Governo está a ser bem encaminhada. O Presidente da República é homem de muito bom senso e nunca pus em dúvida que encontraria a melhor solução. Como verificamos, consegue manter a estabilidade.
Deu o encargo de formar novo governo a Paolo Gentiloni, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros.
 Licenciado em Ciências Políticas, “independente e leal, os amigos chamam-lhe O Prudente”.
“Gentiloni, no estilo e no carácter, está nos antípodas de Matteo Renzi. Se Gentiloni será presidente do Conselho, os italianos terão um chefe de governo com critério anti-retórico, pragmático, com um léxico seco e privo de cores, um vestuário clássico, uma idiossincrasia pelos transportes motorizados (antes de ser Ministro dos negócios Estrangeiros, deslocava-se na cidade sempre a pé) e um estilo de vida que o manteve sempre fora da vida mundana”. – Fabio Martini; La Stampa.

Um bom e tranquilizador retrato do personagem. Aguardemos, augurando que a equipa de governo caminhe com firmeza e eficácia. 

segunda-feira, dezembro 05, 2016

QUE DEUS TENHA PIEDADE
DOS VOLUNTÁRIOS DA IGNORÂNCIA

Antes de entrar no assunto, um rápido comentário sobre o referendo italiano de ontem. Venceu o NÃO. Nada de inesperado. Mas deixemos que a febre das conclusões se acalme e falemos de casos nossos. 

As crónicas do Advogado Francisco Teixeira da Mota (Escrever Direito), publicadas todas as sextas-feiras no jornal Público, nunca me passam inobservadas e leio-as sempre com muita atenção; praticamente, considero-as informativas e, no que concerne questões jurídicas, formativas.

Título do que escreveu sexta-feira, 02 de Dezembro: “Viva a tacanhez! Viva a carneirada!”
No primeiro parágrafo, transcreve as palavras do Secretário de Estado do Tesouro e Finanças, pronunciadas na Assembleia da República, sobre o entediante caso da CGD.
 O deputado do PSD, Leitão Amaro, sentiu-se muito ofendido quando se viu alvo da seguinte expressão: … “Com a sua intervenção revela uma de duas coisas: ou um profundo desconhecimento do funcionamento do Regime Geral das Instituições de Crédito, ou uma disfunção cognitiva temporária.

Todos nós tivemos conhecimento da revolta e tumulto dos deputados PSD contra o que imediatamente classificaram como um grande insulto: “uma disfunção cognitiva temporária”.
Interpretei a observação do Secretário de Estado como uma contestação ao presumível desconhecimento do tema em causa ou um “lapso temporário de memória” sobre o mesmo assunto.
Ouvindo ou lendo as notícias, com muita perplexidade, interrogava-me: Onde esta a gravidade da ofensa? Embora os vocábulos “disfunção” e “cognitivo” sejam termos eruditos, não deixam de ser normais num registo cuidado, o que, efectivamente, se deve esperar de um deputado. Certamente que não é uma asserção lisonjeira, mas não justifica a algazarra.  

O autor da crónica ajuntou pormenores que eu desconhecia, especificando-os. Baseia a sua repulsa, invocando, e muito oportunamente, a liberdade de expressão; de seguida, dá lugar à indignação perante uma iliteracia inaceitável.
Salientemos, então, a atitude de uma deputada que, em modo “peixeiral”, gritava: “Abaixo a disfunção”; “Cognitivo és tu; “Não aos temporários!
Isto tanto provoca uma gargalhada, como um sentimento de pena e irritação. Vá ser ignorante lá fora, isto é, fora da Assembleia da República!

Classificou estes e outros actos como fruto da “tacanhez e carneirada”. Indubitavelmente que não se afasta do ambiente que se respirou no Parlamento. A “carneirada” inspira sempre desânimo; porém, e no mesmo grau de intensidade, uma certa repulsa quando dizem respeito a deputados da Nação.

Notícia de fim-de-semana.
Artur Anselmo, presidente da Academia das Ciências de Lisboa, “decidiu apresentar, ainda este ano, um estudo para aperfeiçoar o Acordo Ortográfico 1990, sugerindo alterações e não o fim do acordo… Avisou que o Acordo é um problema científico, não político”.
O Acordo foi aprovado no Parlamento, mas, como vê, ali proliferam os voluntários da ignorância – sem generalizar, obviamente
                                            
Senhor Presidente, o problema foi e continua a ser estupidamente político, o que é inadmissível. É um património do qual todos somos proprietários. Se deseja proteger e nobilitar a nossa língua, arrume definitivamente com essa vergonha do Acordo Ortográfico 1990.
Não existe nenhuma razão que justifique a mutilação da riqueza de um idioma de séculos. Deixe-o caminhar com as suas pernas. A ciência linguística apenas intervenha para acompanhar as suas evoluções.

Esteja com a maioria dos portugueses que amam a própria língua e que, bem ou aproximadamente, conhecem os seus fundamentos. Soa-lhes muito ofensiva esta mania de acordos ortográficos sem justificações honestamente explicáveis.
Repito, ouça a maioria dos portugueses.