segunda-feira, agosto 29, 2011

HÁ MUITAS EVIDÊNCIAS
 
O artigo de opinião de Vasco Pulido Valente, no jornal “Público” de sábado, 27 de Agosto, ocupa-se de “A Evidência”: uma evidência que denuncia a frustração do “Estado social”.

Pulido Valente escreve: “E se tudo isto não for, no fundo, uma crise, mas for o colapso definitivo do que se chama o Estado Social ou, com mais pedantismo e menos propriedade, o «modelo social europeu», com que vivemos, ou tentámos viver, neste último meio século?"

Depois de referir-se às grandes despesas com o SNS e aos enormes gastos com os remédios, prossegue: “Quem os paga? E onde se arranja o dinheiro para os pagar? E quem paga o ensino e as pensões? Para não falar da infinidade de subsídios de vária espécie a que o cidadão normal se acha com direito…
[…] Não é o «capitalismo selvagem» que a persegue através de mercados malévolos. É a realidade. As sociedades da social-democracia, que um conjunto especial de circunstâncias por um momento permitiu, não voltam. Chegou a altura de perceber claramente esta evidência.”

Parece que o Senhor Pulido Valente, ao escrever este artigo, limitou muito os horizontes de observação, pois haveria tantas outras evidências que agigantaram e prolongaram no tempo esta desgraçada crise.

Primeiro, esqueceu certos precedentes que fizeram deflagrar “capitalismos selvagens” e os tais “mercados malévolos”.
Comecemos pelo principal: Reagan e a sua revolução de “Estado mínimo”, quando aviou um sistema financeiro sem regras, uma desregulamentação que se tornou num “verdadeiro artigo de fé, o ponto n.º 1 do capitalismo”. Menos impostos, maiores gastos com armamentos, menos gastos com despesas sociais, pois a segurança social “cria um espírito de assistidos que favorece a preguiça e irresponsabilidade”, uma grande dívida pública.

Este famoso reaganomics significou, nos anos oitenta, êxito, dinamismo e prosperidade? Certamente, mas que herança deixou? Um neoliberalismo sem freios que escavou um grande fosso entre os poucos ricos e os muitos pobres; uma subserviência da política aos interesses económicos, incapaz de reagir, hoje, às tempestades provocadas pelos mercados financeiros.

Segundo, esqueceu a mediocridade da política ocidental e dos péssimos líderes que as governam, insistentemente denunciada por vozes competentes, idóneas.

“A governar hoje as nossas existências não é a política, com a sua capacidade de domínio inteligente sobre os interesses. Não existe o soberano eleito com um mandato a prazo. Soberanos são poderes não eleitos, como os especuladores da bolsa e as agências de rating que contorcem as nossas vidas e são os novos tribunais da democracia.
Ou são poderes que poderiam representar-nos – a UE, o seu Banco Central – mas que não têm uma verdadeira autoridade, porque os velhos Estados-nação lha negam”. – Bárbara Spinelli ("Os Soberanos da Crise")

E nessa ordem de ideias, não é admissível que um título soberano (sempre a infeliz Grécia!) deva pagar cerca de 40% de taxas de juro. Fico indignada - aliás, horrorizada – quando leio estas informações e verifico a displicência como tudo isto é tido como transacções naturais.
Como pode um país entrar numa retoma de crescimento e, consequentemente, criar postos de trabalho, cujo PIB nem sequer consegue pagar os juros da sua dívida soberana?! Bárbaro e desumano.

Relativamente ao Estado social no nosso País – bem como ao de outros países europeus - não se pode negar que houve excessos de gratuitidade onde se poderia dispensar e pouca fiscalização no modo como a segurança social tem funcionado; que houve superabundância de subsídios, não raramente injustificados. Isto, sim, é uma evidência.

Todavia, alguma vez manifestámos interesse em saber como tudo se processa e quais entradas devem sustentar o serviço nacional de saúde? Alguma vez procurámos conhecer a multiplicidade de instituições, úteis e inúteis, cujas despesas devem ser saldadas pelas receitas do Estado? Alguém procurou informar-nos?

Não penso seja a crise a fazer colapsar o modelo social europeu em que vivemos ou este a origem da crise. É um modelo de grande civismo e humanidade. Basta saber aplicá-lo com acuidade, justiça e equilíbrio.

As evidências de tantas realidades negativas são várias. Só as não vê quem não procura a verdade. E cabe à política a pior culpa.
“Na crise que atravessamos, a linguagem da verdade é uma arma fundamental. Se a política está a falir, é porque, voluntariamente, ignorou esta arma durante anos”.

E nós, cidadãos, limitamo-nos a viver como se nada nos dissesse respeito e tudo nos devesse passar ao lado.



segunda-feira, agosto 22, 2011

RAZÕES POR QUE CRIAMOS UM BLOGUE


Partindo de uma troca de opiniões com o bom amigo, colega radioamador e autor do blogue “Dispersamente”, hoje quero escrever sobre a razão, ou razões, que nos entusiasma a criar um blogue e nele registarmos tudo aquilo de que desejamos falar, reflectindo ou espontaneamente.
E quase sempre, na reflexão que faz avolumar o que temos no pensamento, surgem aspectos que até aí se aninhavam no subconsciente e a que não dávamos grande centralidade. Escrevendo, realiza-se esse milagre.

Neste momento estou a recordar meu professor de Pedagogia e Psicologia, também director da “Escola do Magistério Primário” de Braga, o Dr. Olindo Casal Pelayo. A palavra subconsciente introduzia-a em quase todos as lições de psicologia que nos ministrava.
Pelos anos fora, quando esta palavra se me apresentava ou apresenta, imediatamente a associo ao Dr. Pelayo. E já lá vão tantos anos! Mas desviei-me do assunto. Continuemos.

Escrevendo no blogue, expandimo-nos sobre um determinado tema que mais captou o nosso interesse e atenção, sem o temor de sermos interrompidos. Não menos importante – mas talvez mais importante - frequentemente por falta de interlocutor que compartilhe das nossas curiosidades, opiniões ou, melhor ainda, que tenha o gosto da conversa, saiba ouvir, demonstre interesse e queira exprimir-se, mesmo que conteste abertamente o que afirmamos, o que dá mais sabor à conversa.

Tudo o que até aqui escrevi serviu para dizer, e como já confessei várias vezes, que uso o meu blogue para conversar… comigo mesma.

Há dias, reli o livro de Theodore Zeldin: “Elogio da Conversa”. É uma edição da Gradiva, 1.ª edição 2000, páginas 111. É interessantíssimo e lê-se num instante. Ademais, é enriquecido com ilustrações verdadeiramente originais.

Talvez a releitura deste livro e os comentários que troquei com o António (www.dispersamente.blogspot.com) me impelisse a escrever, hoje, sobre o prazer da conversa.

Tudo neste livro me agradou e nele encontrei eco ao que sempre pensei, embora subconscientemente. Theodore Zeldin (historiador e sociólogo inglês) abriu-me as portas e melhor soube compreender o quanto é agradável e utilmente significativa uma boa conversação.

Como tenho o “feio” vício de sublinhar a lápis, nos meus livros, todas as passagens que mais me agradam ou as que me merecem contestação, transcrevo alguns destes sublinhados, na página 92/94/95 de o “Elogio da Conversa”.

[…] A conversa sem pensamento é vazia. Se modificarmos a nossa maneira de pensar, estamos a meio caminho de modificar o mundo.

Encaro o pensamento como a reunião de ideias, as ideias a namorarem umas com as outras, a aprenderem a dançar e a abraçar-se. Aprecio isso como um prazer sensual. As ideias estão constantemente a navegar no cérebro, como os espermatozóides à procura do óvulo. O cérebro está cheio de ideias solitárias a suplicar-nos que as decifremos, que as consideremos interessantes. O cérebro preguiçoso arruma-as em velhos cacifos, como um burocrata que não quer ter maçadas. O espírito vivo extrai, selecciona e cria novas obras de arte a partir das ideias. […]

As ideias não precisam apenas de se encontrar, mas também de se abraçar […] Uma vez que a religião ainda continua a dominar a conversa em muitas partes do mundo, parece-me urgente e interessante pôr os crentes e os não crentes a conversar. […]

O último período do segundo parágrafo é reservado aos génios que, das ideias, criam obras de arte.
Aos banalíssimos mortais é-lhes oferecida a colheita de muitas sugestões com que possam vivificar os seus normalíssimos cérebros… se estes não são preguiçosos, obviamente.

segunda-feira, agosto 15, 2011

"FINANÇA CRIATIVA, FINANÇA CANALHA”

Não sei onde ouvi o anátema “finança criativa, finança canalha” contra mais este género de finança.
Embora não possa indicar a fonte, uso tal anátema, abusivamente, como título deste texto, pois vai ao encontro de tantas perplexidades a que não encontro respostas claras e convincentes.

Explicam esta locução (creative finance) como um esforço do intelecto humano para “encontrar soluções, inventando providências ou iniciativas fiscais e monetárias, a fim de resolver graves problemas financeiros”.

Paralelamente, também se pode interpretar como espertezas de dirigentes políticos que têm de enfrentar a crise que nos atenaza e cujo intelecto é pouco criativo, de vistas curtas ou sentem-se desnorteados.
E desgraçadamente, é a realidade actual que abrange toda a classe política do Ocidente, aqui e além Atlântico! 

Haveria ainda outra explicação: oportunidade de adoptar medidas politicamente incorrectas, anteriormente inoportunas e deploráveis; concretizar teorias neoliberais desumanas, pois tudo é sacrificado à soberania do mercado financeiro, obliterando a quase totalidade das conquistas sociais do século passado.
Esta infindável crise, portanto, é o instrumento que afunda tudo e tudo justifica.

É curioso que, nestas finanças criativas, as medidas que mais enfeitiçam os governos concentram-se nos sacrifícios que devem ser impostos ao grosso da população, isto é, as classes médias e baixas. Sobretudo, as pessoas de rendimento fixo e as que pagam, pontual e civilizadamente, os respectivos impostos. Em todas as latitudes, sempre e só estas as vítimas sacrificais!

Abater privilégios excessivos e injustificados ou mordomias sistémicas; perseguir ganhos ilícitos; taxar devidamente riquezas ostensivas: estas e outras medidas similares são dificílimas de penetrar nos cérebros que devem decidir. Verifica-se, nestes casos, um total bloqueamento de ideias.

Gostaria, por exemplo, de ver o anúncio de um programa severo de caça à evasão fiscal, muito difusa em todo o território; de ver uma busca sistemática dos frequentadores - mesmo quando o são através de um clique - dos paraísos fiscais; saber de tentativas, sérias e persistentes, de recuperação dos ingentes capitais ali escondidos e sonegados aos impostos e à economia do país.
Mas os órgãos de Governo, sobre estes temas, ou não os consideram ou mantêm-se perenes balbuciantes sem coragem de os enfrentar. Qual a razão?

Por último, gostaria de ver uma maior acuidade e rigor na observância do que se passa na Madeira; saber de intervenções das autoridades competentes, incisivas e drásticas, sobre um despesismo anómalo e, acima de tudo, quem tem beneficiado dos milhões irrorados naquela região autónoma: o povo madeirense em geral ou as clientelas, compadres e apadrinhados? A pergunta é lícita; a resposta deveria ser obrigatória.

Finança criativa, finança canalha. Sinceramente, a verdadeira finança canalha vejo-a nas ultimamente famosas “vendas a descoberto” (short selling).

Nunca pude compreender onde estaria a forma correcta e decente de mover-se nos mercados financeiros, usando títulos emprestados, vendendo-os ao desbarato, semeando confusão e apreensões, recomprá-los quando atingiram o fundo, restituí-los e metendo ao bolso os ganhos.

Tudo isto anima e dá movimento ao mercado? Nestas vendas a descoberto há a certeza que tudo procede de modo transparente, que são imunes dos tais rumores que dão um empurrão à queda dos títulos?
Tenham juízo e arranjem outras formas leais e construtivas de mercadejar nas Bolsas de Valores. Pelo menos que nós, profanos, possamos compreender a bondade dos métodos.

segunda-feira, agosto 08, 2011

O ESPECIALISTA

Especialista: indivíduo que possui habilidades ou conhecimentos especiais ou excepcionais em determinada prática, actividade, ramo do saber, ocupação, profissão, etc. – Dicionário Houaiss.
Como o vocábulo deriva de especial, podemos alargar o campo semântico e colocá-lo em variegados contextos.

O jornal Público de quarta-feira passada informou que o Governo nomeara 51 especialistas para os seus gabinetes, em 42 dias; faltava ainda comunicar as nomeações para os ministérios da Educação, Negócios Estrangeiros e Justiça.
Quantos serão estes seres excepcionais que por aplicação, estudo, experiência e sabedoria serão os guias, os conselheiros, enfim, os especialistas dos diversos gabinetes ministeriais?

Foram buscar estes peritos dentro da Administração Central, isto é, requisitaram os funcionários especializadas que melhor correspondessem às exigências consultivas dos neoministros ou as nomeações galardoaram "especialistas" externos de “confiança política”?

Penso que esta última alternativa seja a verdadeira. E sendo assim, as perplexidades são comuns à maior parte das pessoas que leram a notícia. Como é possível que dentro da Administração Central não haja funcionários competentes, especializados, capacíssimos de servir as actividades ministeriais?

Eu sei que a pergunta é apenas provocatória, pois bem sabemos o que significa o fatídico “spoils system” e o uso sistemático que dele faz cada governo, preterindo o “merit system”. Trocado em miúdos: obrigatório pensar nas clientelas, nos filiados, simpatizantes e amigos para cargos institucionais.
Agora se todos eles são verdadeiramente especialistas, no sentido acima referido e úteis, portanto, ao bom funcionamento dos ministérios ou em quaisquer outras instituições, isso é de secundária importância.

Parece que as múltiplas nomeações já superam as quatro centenas. Nas barbas da austeridade, mais outro género de especialistas; estes, de políticas partidárias que atribuem especialidades a qualquer licenciado ou diplomado que faz parte do clube.

Também me fez sorrir, após tantas proclamações de parcimónia e críticas a partidarismos, as nomeações de novos dirigentes da Caixa Geral de Depósitos. Eram mesmo necessárias? E se o eram, dentro daquele organismo não haveria funcionários competentes que pudessem ascender a cargos de maior responsabilidade?

O Conselho de Administração da CGD é mais numeroso do que o precedente, mas os salários são inferiores de 10%. E se o número continuasse igual e os salários diminuíssem 10%? Não seria este o verdadeiro sinal de maior seriedade?

Até aqui aludi aos específicos especialistas de casa nossa, mas há diversas categorias de especialistas em muitos campos.
Por exemplo, os especialistas em virar casacas. Quantos e quão refinados!
Penso também naquelas personagens de importância internacional relevante e que são especialistas em abrir boca e falar nos momentos menos oportunos ou falar de mais. Especialistas em produzir caos.

Hoje há uma guerra invisível, insidiosa, que se combate com as armas da finança” (Adriano Prosperi).
Pois bem, nesta guerra invisível e insidiosa, quantos desses especialistas, fazendo parte de governos europeus ou da Comunidade Europeia, se exprimem levianamente, quando deveriam estar calados ou pesar cada palavra, dizendo o mínimo indispensável, pois não ignoram que basta uma declaração incauta para semear caos e pânico nos mercados financeiros!

Por último, não quero esquecer o especialista das bacoradas, Sílvio Berlusconi. O termo bacorada não é elegante, eu sei. Todavia é o único adequado à personagem.
Não creio que a crise se agravará. A crise? Uma invenção dos jornais.
Não devemos assustar-nos pelo facto que o "spread" permaneça nos níveis actuais…
As bolsas de valores são relógios avariados, já o dizia o meu pai: dão a hora exacta somente duas vezes por dia, mas pelo resto não é a verdadeira...
A fiabilidade internacional de que goza a Itália deriva do facto de ter como chefe do governo um "tycoon" como eu….

E as bacoradas desta inefável personagem continuaram durante um discurso que assustou o BCE e os dois maiorais da UE, Merkel e Sarkozy.
Resultado? "Comissariamento" do Governo italiano através de uma carta com exigências bem explícitas de Jean-Claude Trichet.

Que Deus proteja a Itália, nesta tempestade financeira, com um governo dirigido por este indivíduo e compadres pouco melhores do que ele.
E é que não se vai embora!...

segunda-feira, agosto 01, 2011

ELEIÇÕES, QUANTA INDECÊNCIA EM TEU NOME!

As pessoas democraticamente conscientes vêem o acto electivo como um inalienável direito, importante e imprescindível, a fim de eleger ou renovar os gestores da coisa pública. Vota-se com a esperança de que o interesse geral dominará todas as preocupações dos novos governantes. Assim o exige quem os elege; assim o impõe a Constituição de cada país.
Esquecemos, todavia, que em cada legislatura e à luz do que se vai observando, o mandato desenvolve-se em dois tempos bem distintos.

No primeiro, procura-se pôr em prática os programas da coligação ou partido vencedor.
Parte-se com muito entusiasmo e grande movimento de acção. Frequentemente trai-se o que se prometeu, mas as realidades do que se encontra não são as esperadas (justificação clássica). Distribuem-se encargos a competentes e a quem deve ser premiado, e mãos à obra.

Entra-se no segundo tempo – não raramente, a meio do mandato - mas já com o pé na rampa do período de novas eleições. A orquestra muda de ritmo e de melodia.
Se antes se era determinado a pôr em prática ideias inovadoras, a reestruturar o que não funcionava, a eliminar o que é inútil e prejudicial para o equilíbrio do erário público, a financiar o que daria riqueza e lustro ao país, esses impulsos esvaem-se.

É forçoso ganhar as novas eleições, ter como certa a reeleição. Logo, preocupemo-nos em não desagradar ao nosso eleitorado natural e procuremos captar a simpatia do eleitorado adversário. Paralelamente, evitemos decisões que, embora benéficas para a coisa pública, podem desagradar a certos interesses sectoriais, a personagens que atraem votos.

Claro está que tudo isto é feito no meio de grandes ostentações de empenho governativo. Porém, decisões sérias, corajosas e profícuas para o bem do país ficam encalhadas. Interesses mais altos se levantaram: os interesses partidários.

Ainda estou para ver um governo corajoso que mande para as urtigas o desejo de ser reeleito e proceda com determinação no caminho de reformas urgentes e de prudência nos gastos, quando não suportáveis pela receita. Um governo, enfim, que pense única e simplesmente no alcance de uma superior administração. Alguma vez o verei?

Olhemos outro aspecto da questão. Há países cujos governos vivem em campanha eleitoral permanente.
Podemos citar dois: a Itália e os Estados Unidos. Deixemos o primeiro, pois de há vinte anos a esta parte, tal estado de coisas tornou-se endémico.
É o que se passa, hoje, nos Estados Unidos da América, que me deixa escandalizada.

O espectáculo indecente que o Congresso tem dado ao mundo é absolutamente injustificável: sob o ponto de vista financeiro, social e de respeito por quem investe nos títulos de Estado USA.
Pode-se dizer que é um retrato perfeito do que é a «não política» e ao que pode levar os extremismos de irresponsáveis.

Os republicanos moderados e sérios não se envergonham de ter como parceiros os primitivos que se instalaram no “Tea Party”, os principais instigadores de toda esta loucura?
Que sensibilidades sociais são estas que têm como ponto de honra defender o interesse dos opulentos e hostilizar as despesas sociais em favor da classe média e dos desprotegidos?
Tenho uma grande, enorme dificuldade a compreender estas mentalidades.

Os ultras da direita americana não suportam um presidente que não se enquadre no famoso WASP (White, Anglo-Saxon, and Protestant). O actual presidente trai a primeira condição. Que horror! Não é branco.
Deve ser contestado e, se possível, espezinhado em todos os modos. Efectivamente, nada lhe pouparam.

No Congresso, desde o início do mandato de Obama, os Republicanos e os inseparáveis borrachões de chá azedo têm mantido o tal clima de eleições permanentes. Pensar em questões úteis ao povo americano, são bagatelas que não merecem esforço nem empenho.
Segundo dizem os entendidos, neste último caso conseguiram criar um novo princípio: o poder de chantagear o presidente no que concerne a dívida pública.

“Recorde-se que a operação «Destruí Obama» estava no centro do assalto da extrema-direita dos fanáticos do «Tea Party», no terreno do défice  orçamental e da dívida pública”. – Vittorio Zucconi
Alguém duvidava?!!

As notícias de hoje informam que os dois partidos – Democrático e Republicano – chegaram a um acordo, embora ainda tenha de passar pelo Congresso.
Todos cantam vitória. Para já, evitou-se o papão default e o caos que daí adviria, mas quem pagou o maior tributo?
Aumentou-se o tecto das despesas, mas os intocáveis, os ricos, continuam isentos de novas contribuições. Os únicos derrotados, portanto, foram a equidade e o bom senso.