sábado, setembro 30, 2006

ESCOLA PRIMÁRIA

Há dias, passei por Terras de Bouro e percorri as aldeias, quase esquecidas, da margem esquerda, a montante, do rio Homem.
As várias localidades por onde passei ainda apresentavam as suas escolas como “Escola Primária”. Dir-se-ia que, por aquelas bandas serranas, nada tinha sido modificado.
Para os meus olhos, foi uma visão agradável esta denominação: Escola Primária!
Actualmente, o ensino básico abunda em ciclos; serei antiquada, mas fiquei afeiçoada às locuções “ensino primário, ensino elementar”, isto é, o estádio que diz respeito aos primeiros quatro anos de escolaridade.

É precisamente sobre estes quatro primeiros anos que, hoje, me agrada escrever.

Nos últimos tempos, tem-se falado e discutido largamente do ensino: reforma do ensino; estatuto da carreira dos professores; sindicatos dos professores, etc.
Saíram a terreiro insatisfações - em certos casos, justificadas. Espontaram atitudes denunciadoras de quem se vê, acima de tudo, vítima sacrifical e não uma parte dialogante, consciente, preparada. Houve lugar para reportagens de protestos que me pareceram – alguns deles - mais próprios de estudantes irreverentes que de professores mesurados.
No fim desta conflitualidade e manifestação de ideias controversas, oxalá que as reformas do nosso sistema de ensino, finalmente, sejam bem interpretadas e dêem bons frutos.

Quando se fala do desenvolvimento e progresso de um país, parte-se do axioma que o sistema de ensino é uma trave mestra desse progresso. Como corolário de um bom sistema educativo, obtém-se uma maior percentagem de alunos que concluem um curso superior. Todavia, um excelente e adequado ensino secundário seria já um grande passo em frente. Insisto: um sólido, amplo e bem preparado ensino secundário.
Analisando os nossos alunos de hoje, que nível de preparação cultural e educativa possuem, quando completam o décimo segundo ano? Bom? Fraco? Medíocre?

Nesta recente reforma do ensino, não sei se me passou despercebido ou entendi mal, mas fiquei com a sensação que se dedicou uma limitada importância ao primeiro ciclo, àquela primeira e importante fase de aprendizagem.
Sem receio de errar, penso que seria deste ponto que deveria partir um maior rigor, uma acurada atenção aos programas, uma vigilante exigência da acção e cumprimento dos agentes de ensino! Dando-lhes autoridade e preparação, mas exigindo uma correcta aplicação pedagógica, psicológica, didáctica.

Quando as crianças saem do quarto ano e entram no segundo ciclo, que elementos de aprendizagem absorveram de modo a que entrem e caminhem, com segurança, nos novos programas?
Daquelas cabecinhas, foram extraídas todas as potencialidades para a aquisição das bases que as farão assimilar, com mais agilidade, o encadeamento de outros conhecimentos?

Pelo que tenho visto, a minha impressão é péssima. Em muitos casos, noto um ensino superficial, pouco consciencioso, árido. Ensino ministrado sem paixão, à base de fichas alheias e o p-á-pá-santa-justa dos manuais, quando um mínimo de método Montessori seria tão oportuno! Mas a actividade de ensino, frequentemente, mais não é que um emprego como tantos outros.

Existem os três velhos esteios fundamentais do ensino primário: “ler, escrever e contar”, à volta dos quais se pode criar um mundo de fantasia, criatividade, educação, civismo, mas nunca perdendo de vista a construção rija desses esteios.
Frequentemente, fico com a ideia que se cura mais a rama que o tronco da árvore. Assim, noto que as crianças transitam para ciclos superiores sem uma plataforma harmoniosamente estruturada. É fácil o prognóstico: se o primeiro ciclo não leva bases sólidas, os alunos, nos anos seguintes, serão sempre claudicantes ou terão grandes dificuldades na aprendizagem de novas matérias. Certamente que, depois, não se pode exigir milagres aos professores do ciclo sucessivo!

Uma última palavra, e agora sobre os cursos superiores: é uma tristeza verificar as calinadas de português de tanto menino doutorado! Mais triste ainda, é que nem disso se envergonham.
Bom, mas falam inglês fluentemente, que importância tem este velho idioma português?!...
Alda M. Maia

quinta-feira, setembro 21, 2006

COMO AL JAZEERA VÊ BENTO XVI

No princípio desta semana, o Corriere della Sera mostrou os desenhos animados que Al Jazeera quis transmitir, na sequência e como consequência da célebre citação do Papa Ratzinger.
Gostava de saber se a liberdade de imprensa só existe, no mundo islâmico, quando se ironiza ou denigre este nosso Ocidente; quando se dá voz aos mais crueis, fanáticos e ameaçadores terroristas.
Também gostaria que alguém me explicasse, em relação aos fáceis melindres da religião islâmica, quais as condições em que a nossa liberdade de imprensa pode ou deve ser livre.
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Defendo que se deva respeitar a sensibilidade religiosa de quem quer que seja e se evite frases ou conceitos que a possam ferir. Já não aceito que este seja um princípio em sentido único.
É-me difícil compreender que uma estação televisiva popular e vista por milhôes de muçulmanos, qual é Al Jazeera, não se sirva desta sua posição para os esclarecer, extirpando tanto obscurantismo; que não queira tomar uma posição corajosa e feche os seus microfones às proclamações delirantes dos profissionais da violência.
Que belíssima missão! Não somente para benefício dos povos que quer servir, mas para todos os seres equilibrados e de boa vontade: de Oriente e Ocidente.
Alda M. Maia

segunda-feira, setembro 18, 2006

DIÁLOGO QUASE IMPOSSÍVEL

Tudo serve para inflamar os zelos religiosos do Islão. Por qualquer pretexto, começa o incêndio numa ponta do Globo e alastra imediatamente.
Se fossem apenas as autoridades religiosas, ou quem por elas, a insurgir contra o que é considerado ofensivo da própria fé, tudo se limitaria a protestos ordeiros, diplomáticos, chamadas de embaixadores. Presentemente, isso já se não toma em consideração.
As manifestações, de mistura com uma violência bárbara, vêm para a rua. Iniciam-se os assaltos e destruição de igrejas, assassínios – na Somália, no passado domingo, o assassínio de uma freira italiana e que se julga ser obra de fanáticos.
E tudo em nome de quê? Da pureza da própria religião. Em cada canto do mundo islâmico vemos, à porfia, quem demonstra o maior e mais rumoroso protesto. Manifestações espontâneas? Que ilusão!
Às vezes dou por mim a perguntar: se por tudo e por nada saltam para a rua a gritar, com armas e braços erguidos, quando é que trabalham?

No site do Vaticano - em italiano, inglês e alemão - pode-se ler todo o discurso de Bento XVI, do passado dia 12, na Universidade de Regensburg.
São oito páginas (impressas) e é na segunda página que o discurso se refere a argumentos delicadíssimos, no que concerne a relação com o Islão.

“Mostra-me, pois, o que Maomé trouxe de novo e aí encontrarás somente coisas más e desumanas, como a sua directiva de expandir, com a espada, a fé que ele pregava".
Deveria esta citação das palavras do diálogo de Manuel II Paleólogo (fins do séc. XIV) e o teólogo muçulmano persa ter sido incluída no discurso de Papa Ratzinger?

Quando li as várias notícias sobre as reacções muçulmanas e, depois, todo o discurso do Papa, fiquei perplexa: por que razão Sua Santidade citou uma frase que se anunciava explosiva? Por qual razão quis condenar a violência, como meio para a difusão da fé, citando aquela frase do imperador bizantino?! Por que a citou, precisamente nestes tempos de virulência terrorista, estribada em motivos religiosos, e dos kamikaze que se imolam em nome do martírio e ceifando, portanto, vidas inocentes, alheias a tais fanatismos?

Foi oportuno? Não, não foi, embora tivesse atenuado a citação com as expressões: “(…) ele, (Manuel II Paleólogo) com modo surpreendentemente brusco que nos espanta …”;O imperador, depois de se ter pronunciado num modo tão pesado …”

Em vez daquela citação, dentro do tema que desenvolveu, foi pena que não se tivesse ficado por uma outra, no final do discurso: “Não agir segundo a razão, não agir com o logos é contrário à natureza de Deus”, disse Manuel II, partindo da sua imagem cristã de Deus, ao interlocutor persa”.

Deve pedir desculpa aos muçulmanos? Não, não deve.
O que se lhe pede é que nunca se canse de dialogar e anteponha a missão de Sumo Pontífice ao teólogo, ao catedrático.
Bento XVI explicou que lamentava ter “ofendido a sensibilidade dos crentes muçulmanos e que a citação de um texto medieval não exprimia o seu pensamento”.
No título do jornal El País: “El Papa pide perdón de nuevo por sus críticas al Islam y espera que se calmen los ánimos”
Título errado: o Papa não pediu perdão nem pediu desculpas. Lamentou e explicou que não teve intenções de ofender – explicação que é um caso excepcional.
Ao contrário de João Paulo II, este Papa, firme na sua inveterada formação teológica, já deu a entender que passou o tempo de invocar perdões.

Não concordo com o recurso a um excerto de um texto medieval que iria chocar (e chocou) sensibilidades religiosas.
Paralelamente, não suporto a arrogância e pretensões daqueles crentes islâmicos que se distinguem pela intransigência. Se têm uma sensibilidade tão apurada nos seus sentimentos religiosos, que usem essa mesma sensibilidade no respeito e tolerância para com o cristianismo ou quaisquer outras religiões. Que aprendam, sobretudo, a dialogar – que é, afinal, o exemplo que se colhe do diálogo de Manuel II Paleólogo e o teólogo persa - que se predisponham a conhecer e conviver pacificamente com o mundo ocidental sem receio de serem contaminados - refiro-me sempre aos puros e duros do Islão, pois sei que existem milhões de muçulmanos moderados e bem distanciados do fanatismo.

E por último, que revejam o tratamento discriminatório que reservam aos cristãos que vivem em terras islâmicas. Os exemplos, de intolerâncias violentas, são abundantes. Não é preciso ir muito longe: basta conhecer as discriminações que vigoram na Turquia.
Não consta que o Papa lhes tenha exigido desculpas.
Alda M. Maia

segunda-feira, setembro 11, 2006

TELEJORNAIS
PARTIDOS POLÍTICOS
“RENTRÉES”


No blogue "O Canhoto", do passado dia 6, Paulo Pedroso demonstra estranheza sobre a pouca atenção que os noticiários dos nossos canais televisivos dedicam aos partidos políticos.
Darei um exemplo de como funcionam noutros países.

Os noticiários italianos, por via de regra, não duram mais que trinta minutos.
Um bom quarto de hora é dedicado à passerelle dos políticos: porta-vozes, secretários de pequenos partidos, cabecilhas das várias correntes de partido, enfim, o desfile é heterogéneo.
O director de cada telejornal, de cronómetro na mão, deve estar atento aos minutos concedidos a cada interveniente.
E assim, a propósito de qualquer facto político, acontecimento que constitua notícia, estes senhores, em fila, devem dizer ao país o que pensam, qual a sua opinião - como se todos estivessem ansiosos de conhecer essas opiniões!...

O director do TG1 (refiro-me à RAI), Clemente Mimun, durante o governo Berlusconi, inventou as intervenções a que chamaram"sanduíche” e que funcionam deste modo: primeiro, exprime-se a maioria; em seguida, a oposição ("ensanduichada!"); por último, e de novo, a coligação de governo. As razões destes, claro está, deveriam ficar bem impressas nos ouvidos dos telespectadores. Um telejornal de uma isenção exemplar!...
Presentemente, com o centro-esquerda a governar e os noticiários RAI sempre nas mãos de fieis «berluscones»… a sanduíche tem sempre o mesmo recheio!

Que apresentem declarações de um primeiro-ministro, de qualquer ministro sobre assuntos atinentes ao seu ministério, de qualquer político responsável e de peso - ou mesmo declarações de quaisquer outros altos servidores do Estado - é óbvio que o noticiário se torna mais vivo e de grande interesse.
Não o é, todavia, quando desfila a passerelle de elementos políticos, tantas vezes medíocres, com banalidades estúpidas, flechadas aos adversários ou exibicionismos oratórios. E de todo esta palha inútil, nada é poupado ao telespectador. Mas o ritual deve cumprir-se. Só me admira que pessoas de bom senso se prestem a tão deprimente espectáculo. Tanto mais que são intervenções anteriormente registadas e sem qualquer espécie de contraditório.

Actualmente, discute-se a remodelação da RAI: dirigentes, directores de telejornais, directores de serviços vários, etc. Romano Prodi, o Primeiro-Ministro, confessou que o problema RAI é pior que a missão no Líbano. Isto já diz tudo!

A RAI, em todas as legislaturas, tem sido politizada; melhor, as garras dos partidos – quer de direita, centro ou esquerda - sempre a condicionaram.
A situação, porém, atingiu o ápice da manipulação com o Governo Berlusconi. Não somente dominava os seus três canais (Itália1, Rete4, Canal5), como usou a RAI com a desenvoltura de verdadeiro patrão. Nos grandes serviços em que a sua real figura era protagonista, por exemplo, preferiu e serviu-se abundantemente de operadores privados, menosprezando os serviços técnicos da RAI.
Se algum colaborador da RAI o atacava, não tinha escrúpulos, com o zeloso auxílio dos dirigentes, de o excluir dos programas televisivos – e isto aconteceu.

Como formação política, considero-o um perfeito demagogo, um populista despudorado. Como homem de espectáculo, um mestre: soube (e sabe) usar as televisões magistralmente!

Voltemos ao princípio deste post.
Recordo a polémica, proveniente do jornal Público, sobre a intromissão do governo Sócrates nos noticiários relativos aos incêndios deste ano.
É uma polémica justa, mas bastante «à água de rosas». Talvez o hábito de seguir a RAI me tenha imunizado contra surpresas deste género.

Paulo Pedroso gostaria de ver, nos telejornais portugueses, os nossos políticos prestar-se a um papel como o que acima descrevi?
Não queira dar mais motivos para anátemas ou desprestígio para os partidos!

Mas se acha que deveriam constituir uma maior percentagem de “tempo noticioso”, eu daria um conselho: juntamente com um cargo ou uma actividade política, liguem-se a um clube prestigioso de futebol, patrocinem qualquer campeão do mesmo ramo. Neste caso, então, a presença de políticos, nos nossos noticiários, seria transbordante!

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A RENTRÉE

Todos os anos, por esta altura, começa o uso desenfreado do francesismo rentrée.
Em todos os jornais, é um minuete contínuo: a rentrée política, a rentrée judiciária, a rentrée de todas e quaisquer actividades pós-férias. Todavia, aplica-se com mais insistência à reabertura da actividade política.

Para esta palavra, o nosso dicionário apresenta vários e validíssimos significados: reabertura, regresso, reentrada, etc. Quem estudou francês, deve recordar a “rentrée des classes” – a reabertura das aulas.
Que se adoptem palavras que não têm tradução adequada no nosso vocabulário, é sempre um óptimo recurso para o enriquecimento da língua. Falamos línguas vivas, não mortas.
Que se use, a torto e a direito, estrangeirismos para os quais há vocábulos equivalentes, isso não passa de um abastardamento do português. Tão estúpido quão pedante e inútil.
Alda M. Maia

terça-feira, setembro 05, 2006

REPÚBLICA DOS PARECERES?

Falar apenas de pareceres é limitativo.

"Correio da Manhã" de hoje, dia 5 de Setembro:
“A despesa pública com a realização de estudos, pareceres e projectos de consultoria a entidades externas à Administração Pública (AP) deverá ascender, no final de 2006, a 77,7 milhões de euros”

O post que publiquei ontem, dia 4, se fosse publicado hoje, os meus cinco ou seis leitores diriam que fui buscar o argumento ao artigo do Correio da Manhã.
Mas antecipei-me.
Se eu fosse presunçosa ou não tivesse uma noção bem clara do que é um blogue como tantos, diria que foi o Correio da Manhã que fez eco ao meu post e me respondeu! Deixemo-nos de brincadeiras e vamos ao caso.

Quando o Dr. José Miguel Júdice propôs que o Estado deveria consultar os três maiores escritórios de advogados, um dos quais o dele, fiquei muito perplexa; melhor, fiquei escandalizada!
A Ordem dos Advogados processou-o, pois é-lhes proibida a publicidade.
Publicidade ou não, o que vi foi uma grande falta de estilo.
Mas, dado que no Orçamento do Estado entram tão generosos financiamentos, o Dr. Júdice apenas manifestou que o bolo também deveria ser repartido por certos escritórios de advogados; portanto, nada pretendeu de anormal!

Perguntas maliciosas (perguntar não ofende): por que razão só os escritórios de Lisboa?
Por que razão, desses grandes escritórios lisbonenses, há sempre elementos ligados à política, isto é, integrados na política? E quando já não estão na política activa, ingressam nesses grandes escritórios?

Ascender, tais despesas, a 77,7 milhões de euros é ainda pior do que eu imaginava!

Acabo com as palavras do Presidente do Sindicato dos Quadros técnicos do Estado (STE), Bettencourt Picanço, precisamente porque corroboram o que expressei no post de ontem:
“O que justifica este aumento da despesa pública é, na prática, a não utilização dos serviços da Administração Pública. O Governo utiliza outras entidades para fazer aquilo que cabia, e cabe, à Administração fazer. E, ao fazer isso, vai onerar cada vez mais o Orçamento do Estado”.
Alda M. Maia

segunda-feira, setembro 04, 2006

CONFLITO DE INTERESSES

Nestes últimos dias, na Itália, rebentou a enésima polémica entre oposição e forças governativas. O casus belli é uma proposta de lei que regulará, finalmente, o famigerado conflito de interesses que, naquele país, atingiu foros de indecência com a subida de Berlusconi a primeiro-ministro. E uso a palavra “indecência” sem a mínima hesitação.

A oposição, sobretudo “Força Itália”, o partido berlusconiano, lançou-se em críticas indignadas, pois afirma que se trata de uma lei intencionalmente punitiva. Ameaça obstrucionismo, batalha quase "barricadeira" - e foi esta gentinha eleita para um parlamento que deve decidir sobre os problemas económicos, financeiros, sociais e morais do país!...

Punitiva não é, certamente. Mas que Berlusconi seja o paradigma de uma anomalia inadmissível em qualquer país democraticamente sério, isso é inegável.
Ademais, ninguém o obriga a exercer uma actividade política, condicionando o interesse público aos seus interesses privados (conforme os amplos exemplos que deu, na passada legislatura) A resolução do problema é facílima. Que escolha: ou os seus poderosos e extensos interesses ou um cargo político.

“A lei italiana sobre o conflito de interesses, acima de tudo, diz respeito a Berlusconi, porque não se conhece ninguém que possua um partido, três redes televisivas, grandes jornais, grandes casas editoras e a 14.ª maior fortuna do mundo” (Fulvio Colombo, no jornal L’Unità).
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Para não falar de uma equipa de futebol (Milan), companhias de seguros e por aí adiante! Inclusivamente, até faz concorrência aos artistas de cabaret, pois não perde ocasião de se exibir na interpretação de cançonetas adocicadas e de contar anedotas – insulsas!

E agora pergunto: mas os defensores de Berlusconi, isto é, dos interesses de Berlusconi, não sentirão um mínimo de pudor quando se manifestam daquele modo, esquecendo o que significa a decência de um cargo público dentro de uma administração límpida?
Não, não sentem; nunca o sentiram.

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Há uma realidade, no nosso País, que não se pode chamar conflito de interesses, mas que, eticamente, anda por ali perto. Refiro-me aos “Pereceres”, as consultas a pessoas singulares ou a órgãos alheios à função pública.
Sempre me interroguei sobre esta prática já consuetudinária.
É legitimamente oportuna? Na pletora dos funcionários do Estado, não existem elementos altamente qualificados – em qualquer ou em todos os sectores – que possam, técnica e juridicamente, resolver problemas, desfazer dúvidas, sugerir caminhos? Eu penso que haverá, mas que não se lhes dá o valor nem a responsabilidade que os deveria distinguir.
Se não existem, não seria aconselhável, então, assumir ou preparar funcionários competentes, a fim que os pareceres externos se tornem excepção?
Ao erário público, quanto custam os PARECERES?
Alda M. Maia