domingo, junho 28, 2009

A ESCALADA DO PODER… MAS SEMPRE EM NOME DO BEM DO PAÍS!

Em nome de todas essas ambições que se crêem prestes a alcançar a meta - ou derrapar encosta abaixo - vejo um tal clima de agressividade, um tal cenário de caras de bronze que se me torna difícil olhar com serenidade os próximos actos eleitorais.

Sempre admirei o político contundente, demolidor, mas que jamais perde a elegância do falar, um elevado estilo de comportamento e um implícito respeito pelo adversário.
Porém, esta gentinha aguerrida que tudo demoniza; que lança culpas a esmo, justificadamente ou não; que agride mais as pessoas que não erros ou ausência de grandes rasgos políticos, sugere uma pergunta: esta espécie de políticos merece credibilidade?

Vejamos o caso da eleição do Provedor de Justiça.
O PS propôs o Dr. Jorge Miranda. Errou a não consultar previamente os demais partidos, na escolha de um constitucionalista, digno de tal cargo.
Em questões desta natureza, não há maiorias que impõem, mas a correcção e o bom senso de se escolher, de comum acordo, a pessoa mais idónea.

Todavia, justifica-se o não birrento da Dra. Manuela Ferreira Leite
a Jorge Miranda, encetando uma batalha tão estúpida quanto infantil, na defesa da prerrogativa de ser o PSD a propor nomes?
Era para o bem do País ou isso é apetrecho secundário na escalada do poder, por muito que apregoem o contrário?

O Dr. Jorge Miranda retirou-se e fez muito bem. Só demonstrou dignidade.
Escassez de senhorilidade e perfeita indelicadeza demonstrou Manuela Ferreira Leite, quando comentou esta retirada: Em democracia, quando não passamos numa votação, temos de aceitar o resultado. Uma pessoa rebelar-se quanto ao resultado de uma eleição não é próprio de uma democracia.
Será este o formato grosseiro que nos administrará?

Não me parece que o Dr. Jorge Miranda se tivesse rebelado; retirou-se e explicitou as razões.
Seria bem oportuno que a Sra. Dra. Ferreira Leite moderasse os seus modos próximos da rusticidade e suavizasse o que pensa sejam ataques políticos, pois de autêntica e nobre política não têm nada: manifestam apenas peculiaridades da acidez do seu carácter; o resto é o vazio.

Encontraram, agora, o ponto de encontro no nome de Alfredo José de Sousa, ex Presidente do Tribunal de Contas. Mais vale envergonhar-se tarde que nunca, e não absolvo ninguém.

****

Reitero que, amiudadamente, não posso deixar de fazer comparações entre os comportamentos das primeiras figuras de Estado italianas e portuguesas. Claro que não incluo Berlusconi, embora primeiro-ministro. Seria insultuoso comparar o homónimo de qualquer país democrático com este indivíduo.

Neste momento estou a pensar no Presidente da República, o primeiro órgão de soberania que, quando é eleito, deixa de expressar qualquer facção política e passa a representar todo, absolutamente todo o País.

Giorgio Napolitano, presidente da República Italiana, perante a demagogia e ataques às instituições do actual primeiro-ministro, usa sempre a sua autoridade, quando se trata de defender a Constituição e os valores das instituições. Noutras matérias, mantém uma reserva diplomática e atento a nunca desbordar das suas competências. É a figura política que tem merecido o maior respeito e consideração.

Voltemo-nos para a Terra Lusa. Não gostei, nestes últimos tempos, da falta de reserva do nosso Presidente da República, quebrando silêncios que sempre dignificam o cargo que ocupa.

Primeiro, opinando a favor da simultaneidade das eleições. Ainda não tinha ouvido os partidos, mas já exprimia o que julgava mais oportuno, baseando-se em certas sondagens… O PSD (o único partido) expressara-se largamente sobre a data única para as legislativas e autárquicas: muito preocupados com o absentismo e despesas!

Perante estas “preocupações” - nas quais não acredito - o Sr. Presidente da República deveria manter silêncio: decidiria, depois, como melhor entendesse.

Optou, oficialmente, por datas diferentes: 27 de Setembro, eleições legislativas; 14 de Outubro, eleições autárquicas. Predominou o bom senso. O contrário levaria a deduções pouco abonatórias da equidistância que se exige ao Presidente da República.

Segundo atentado a um silêncio que deveria ter sido absoluto: o caso das negociações da PT / TVI.
O Presidente abriu uma excepção e manifestou as suas perplexidades acerca da transparência desta operação entre empresas.
O que o incomodou? É aconselhável que um Presidente da República exprima pareceres em casos deste género? Quais as instituições afectadas que o Sr. Presidente deveria salvaguardar?

Não entro no cerne deste caso, pois acho-me impreparada para dizer o que quer que seja. O que não me passou despercebido foi a concentração das atenções nas prováveis ou improváveis viragens políticas da TVI.
Anseios de uns, a fim de não perder as boas graças da TVI, ou desejos de outrem, a fim de as captar? Seja como for, tudo se me apresenta com uma face bastante esquálida.

Se o PS cultivou interesses nesse sentido, esqueceu que os teria de cultivar em múltiplas direcções. Vejo a quase totalidade dos nossos órgãos de informação a padecer de uma crise agudíssima de tendenciosidade.

Critique-se o que deve ser criticado, mas não em sentido único. Respeite-se, pelo menos, a objectividade e seriedade de informações, se pretendem ser credíveis. Frequentemente, obtém-se o resultado oposto.
Alda M. Maia

sábado, junho 27, 2009

PRÉMIO LEMNISCATA
.

É um pouco árduo moderar a vaidade e satisfação de registar, neste blogue, o prémio que as autoras do blogue Sustentabilidade é Acção me concederam.

Fiquei surpreendida por me terem colocado na lista dos sete blogues que deveriam galardoar com o Lemniscata. Não é falsa modéstia, mas genuína surpresa por me terem dado essa importância.
Agradeço-vos com um abraço: abraço de grande estima, amizade e, obviamente, gratidão.

O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores”.

O significado de Lemniscata: curva geométrica com a forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante.

Lemniscato: ornado de fitas – do grego Lemniskos / latim Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores (Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora).

Acrescento que o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como o anel de Möbius, que se percorre infinitamente. (Texto da editora “Pérola da Cultura”)”

****

A regra impõe que, por minha vez, indique sete blogues merecedores do Lemniscata.

Conheço muitos a quem, espontaneamente, premiaria, mas aqui estão os meus sete (ao interesse da leitura desta lista, junto a simpatia).
Se me é permitido, incluo um blogue italiano.

Dispersamente

Ponto de Cruz
Menina Marota
Ambio
Da Literatura
Lusotopia
Reset Italia

domingo, junho 21, 2009

SER OU SENTIR-SE PORTUGUÊS

Quando se aborda um tema com este título, devemos esperar que as nossas lembranças nos transportem àquele patrioteirismo que nos intoxicou - a nós, geração do “Estado Novo” - durante décadas. Àquele patrioteirismo que nos inculcou concepções muito bem empacotadas na retórica da famigerada divisa: A bem da Nação; nada contra a Nação.

Hoje, o facto de ser ou sentir-se português nada tem que ver com essa retórica falsa e empeçonhada.

A rubrica “Cartas ao Director” – jornal Público de sexta-feira passada – publicou uma carta do Sr. Rui Marques: “O leite derramado dos brasileiros sobre Portugal”.
Refere-se ao recente livro de Chico Buarque de Holanda, Leite Derramado, criticando os conceitos que o autor expressou sobre a herança negativa da colonização dos portugueses no Brasil: “os eternos culpados do atraso económico do Brasil” e outras insinuações pouco lisonjeiras.

Deve ser pecha de família. O pai, o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, em “Roteiro de Café e Outros Ensaios” (1939), sustentava que “o português colonizador não se afeiçoava ao trabalho duro e lento das terras”.
Penso seja muito fácil e sugestivo defender teses deste género, no conforto de um gabinete alcatifado.

Não conheço o livro “Leite Derramado”: li apenas algumas críticas e um resumo da obra; não estou em condições, portanto, de formular uma opinião.

Não me custa aceitar, todavia - e até mesmo partilhar -, as apreciações que o Sr. Rui Marques, do Porto, escreveu na sua carta ao Director. Explico a razão.

Há alguns anos, num contacto com um radioamador brasileiro, este dirigiu-se-me em italiano (aproximativo), visto que eu transmitia da Itália. Exprimindo-me em português, sugeri-lhe que usássemos esta língua.

Acabei a minha mensagem, passei-lhe a palavra. A primeira coisa a que se referiu foi ao meu “forte sotaque” e que eu falava muito bem a língua brasileira: se calhar, tê-la-ia aprendido em Portugal!...
E a propósito de Portugal, achou por bem eleger como tema de conversa a lastimável colonização do Brasil pelos portugueses: seguiram-se vários considerandos nada lisonjeiros, roçando até o pejorativo.

Antes de entrar no assunto, perguntei-lhe qual era o seu apelido. Indicou-me um patronímico italianíssimo (neste momento, não o recordo)

O meu primeiro comentário: Foram os seus pais ou avós que criaram esse imenso e esplêndido território que é o Brasil, não é assim?
A partir deste começo, as minhas palavras e argumentos jorraram sem nada que as suavizasse, pois era-me difícil controlar inteiramente a indignação.
Pode-se gostar ou não do meu País, mas nunca suportei atrevimentos de quem demonstra ignorância facciosa.

Aconselhei-o a ler “O Mundo Que O Português Criou” de Gilberto Freyre, não omitindo o prefácio que António Sérgio escreveu para a edição brasileira.

Se por uma raríssima casualidade – nunca tive a pretensões de ser lida por muitas pessoas – alguém no Brasil ler o que escrevo, esclareço que de modo algum desejo ofender esse grande País. Admiro-o e respeito-o. Ademais, tenho família genuinamente brasileira.
Assim como por cá temos estúpidos e ignorantes que se exprimem sem que nada promane de um sério raciocínio, concordem que também no Brasil deva suceder o mesmo. É desses que falo, e somente desses.

Mas voltemos ao início deste artigo. Ser português ou sentir-se português não é julgar-se melhor ou superior a quem quer que seja. Simplesmente, gostar de o ser e jamais sentir-se inferior a outros povos, a outras etnias, porque o não somos.

Desgraçadamente, a auto-estima que fortaleceria a consciência de ser português não é cultivada, não é incentivada, nunca foi radicalizada nas nossas mentes com princípios estruturalmente bem motivados.

Se há argumentos que me irritam, são os que se estribam na pequenez do território e no número de habitantes. Acaso, e em piores circunstâncias, isso impediu que surgisse o tal “mundo que o português criou”?

Enquanto o criámos e administrámos, colonizando, acusam-nos de escravatura e violências afins.
Não o podemos negar nem justificar. Valha-nos, ao menos, Padre António Vieira!

Estabeleçamos, no entanto, o paralelo entre a acção dos portugueses e a de outros povos também colonizadores de origem europeia.
Fomos os piores? Não, absolutamente não. Não o fomos.
Sem cair no detestável patrioteirismo, deixámos testemunhos que perduraram nos séculos e dos quais nos podemos orgulhar. Logo, elevemos bem alto a auto-estima: sem sobrancerias, mas, insisto, sem quaisquer complexos de inferioridade.

Somos pequenos e estamos no fundo da lista dos países avançados económica e socialmente? A pequenez territorial é caso único na Europa?!
O que é que nos impede de arregaçarmos as mangas e arriscar ideias e iniciativas? Há já quem o faça, mas dá-se-lhes pouco relevo.

Falta-nos capacidade e inteligência? Nunca faltaram: estão frequentemente em letargo - para uma grande maioria, é o “Estado providência” que se deve ocupar dos nossos destinos.

Por que razão não insistimos numa acentuada e obrigatória educação cívica, política e de ética social da nossa gente, jovem e menos jovem?
Visto que somos grandes consumidores de telenovelas, aproveitemo-las como mais um meio, embora dissimulado, de ministrar essa educação.
Já que estamos em matéria, por que não protestamos contra a informação televisiva que é capacíssima de expender vinte minutos, a meio do telejornal ou no início, para nos falar, exclusivamente, de questões futebolísticas?
Quanto embirro com esta espécie de populismo na formatação e apresentação dos noticiários!

Por que não exigimos mais seriedade, preparação e coerência à nossa classe política? Por que não estamos atentos, quando temos o voto na mão, a votarmos com responsabilidade e sageza?

Por que razão toleramos que o nosso Parlamento, por vezes, se torne em teatro de verborreias exibicionistas e não aquele templo da democracia, onde se exprimem deputados com uma cultura técnica, social e jurídica sólidas e, quando pedem responsabilidades, vão direitos ao real cerne da questão?

Concluindo: não será que a única pequenez existente está na restrita forma de concebermos a nossa lusitanidade e na aceitação da mediocridade como coisa justa?
Alda M. Maia

domingo, junho 14, 2009

O LEÃO DO DESERTO

“O Leão do Deserto” (Lion of the Desert) é o título de um filme histórico, realizado em 1981 e narra os últimos anos da resistência anti-italiana, na Líbia.

Este filme – com excelentes intérpretes, desde Anthony Queen a Irene Papas, Rod Steiger e outros - nunca foi visto nas salas de cinema italianas; menos ainda através de qualquer canal televisivo.
Em 1982, a comissão de censura bloqueou o filme com a seguinte justificação: “Prejudica a imagem do exército italiano”.

Tinha uma ideia muito superficial sobre estes factos, assim como sobre o homem que, durante vinte anos, foi o líder dessa luta na Cirenaica: Omar al Mukhtar, o “Leão do Deserto”. Os historiadores apresentam-no como um lutador de grande dignidade.

****

Em 1930-31, o regime fascista entendeu que deveria esmagar, definitivamente, essa resistência.

Fechou em campos de concentração toda a população nómada e seminómada: marchas de cerca mil km, sem contemplações por velhos, mulheres e crianças. Eliminava-se os que ficavam para trás.
Cem mil internados em dois campos e um único médico. Em pouco tempo, a escassa alimentação, trabalhos forçados, tifo e outras doenças dizimaram mais de metade.
Bombardearam oásis; usaram granadas com pirite, armas já então proibidas
. – Giorgio Frasca Polara; libertaegiustizia.it

Nenhum tipo de ataque foi ignorado, além da destruição de cultivações e poços de água envenenados ou destruídos.
O general Rodolfo Graziani, por ordens superiores, pôs em acção todos e quaisquer meios violentos, a fim de atingir o ápice do horror.

Em 1931 capturaram Omar al Mukhtar, já com setenta anos. Processado sumariamente, condenaram-no à morte. Foi enforcado em Setembro desse ano. Motivação da sentença: “Tentou desligar esta Colónia da Pátria Mãe”.
****

Estes factos aconteceram nos anos trinta do século passado. Havia a ideologia totalitária fascista, onde era glorificada qualquer violência consolidante dessa ideologia.

Bloquear o filme “O Leão do Deserto”, em 1982, porque danificaria a imagem do exército italiano, é uma justificação não só inaceitável como pueril.
O exército hodierno, de um país democrático, não pode ser responsável pelas atrocidades cometidas pelos membros de um exército que agia dentro do execrável regime ditatorial e ideologicamente plasmado nesse sentido.

Não será um modo de fugir ao acertamento de contas sobre tudo o que se passou nesse período das camisas negras de Mussolini?

****

O coronel Muhammar Kadhafi (ou Gheddafi) efectuou uma visita oficial à Itália que durou três dias – de 11 a 13 de Junho: “Estou aqui porque a Itália pediu desculpa à Líbia”.

Como habitualmente, pretendeu um local para instalar a enorme tenda beduína, onde receber as visitas.
Foi montada no lindo parque de Villa Dora Pamphili… e choveram os protestos.
Pretendeu que, a esperá-lo no aeroporto, fosse o primeiro-ministro Berlusconi. Se este ali não estivesse, imediatamente regressaria a Tripoli.
Quando desceu do avião, vestido com uma farda carnavalesca, na lapela ostentava a fotografia emoldurada, em ponto pequeno, de Omar al Mukhtar, o grande herói nacional.
Asseriu que a foto de Al Mukhtar é como o crucifixo para os cristãos.

O Governo italiano quis proporcionar-lhe encontros variados e de alto nível, além de lhe conceder o privilégio de falar nas aulas do Senado da República e da Câmara dos Deputados – os dois ramos do Parlamento.

Qual Parlamento qual carapuça para um ditador de tal jaez!
A decência, na boca de numerosos opositores, bateu o pé e tiveram de encontrar outras salas que não as aulas parlamentares a servir de palco à grosseria e arrogância daquele homem.

Todas estas deferências a uma personagem discutibilíssima, mesmo na veste de actual presidente da União Africana, provocaram um mar de contestações.

Entendem-se as razões da oportunidade de estreitar amplos e recíprocos acordos económicos – aliás, num acordo assinado o ano passado, a Itália comprometeu-se a indemnizar a Líbia, pelo seu passado colonialista, com cinco mil milhões de dólares, no período de 20 anos – financiará obras de infra-estruturas.
Entende-se que a Itália queira procurar a colaboração líbia para a contenção das grandes ondas migratórias – uma colaboração indecente, dado o tipo de brutalidade que a Líbia pratica contra os desgraçados migrantes que passam pelo seu território.
Entende-se a necessidade italiana dos recursos energéticos fornecidos pela Líbia.

No entanto, dada a personagem, o bom gosto e dignidade de Estado deveriam sugerir tons mais discretos, embora sempre correctos para com o hóspede que representava um país vizinho.

As indelicadezas e atropelos ao protocolo foram a jacto contínuo.
Os discursos que proferiu tresandavam a insolência e provocação: “USA como Al Qaeda”; o terrorismo pode ter uma justificação; a pirataria dos somalis, idem; os partidos são um aborto da democracia…
Enumerar todas as bacoradas que emitiu, sem pejo nem respeito pelo lugar onde se encontrava, é tarefa pesada.

Tiveram de esperar longamente, antes que o ilustre hóspede aparecesse nas sedes institucionais onde era esperado.
Quando chegou a vez de ser recebido na Câmara dos Deputados, o Presidente da Câmara esperou uma, duas horas. Passado esse tempo, sem outras contemplações diplomáticas, decidiu anular o encontro, assumindo a responsabilidade de tal acto.
Bravíssimo Presidente! Era mais que tempo que alguém pusesse um freio ao comportamento daquele malcriado.
Alda M. Maia

domingo, junho 07, 2009

AO SANTO PROTECTOR DOS EUROPEUS

Lá pelas Alturas, mete as “cunhas” necessárias, a fim de que surja um Obama europeu. Necessita-se com uma certa urgência!

Nos tempos presentes, cá por estes lados do Atlântico e Mediterrâneo, o panorama político é desolador. Reina a mediocridade - salvo raríssimas excepções –, não falando já do artista de cabaret que diverte o mundo com um modo muito peculiar de interpretar a política e a coisa pública!...

Não sei o que sairá destas eleições europeias. Há grande alarme sobre o alargamento e aumento dos grupos de extrema-direita.
Onda negra sobre a Europa”: Neofascista, racistas, xenófobos e eurocépticos. As sondagens registam um vento de direita que sopra em todo o Continente e se abaterá nas urnas. – Alberto d’Argenzio, L’Espresso.

Sendo assim, reforcemos a invocação ao santo protector ou um santo qualquer que estime a nossa Europa e a proteja destas hordas de primários antidemocratas e xenófobos.

****

Li atentamente – e deliciada! - o discurso que Barack Obama pronunciou no Cairo. Não creio que tivesse desiludido nenhuma das muitas expectativas que pendiam deste discurso: perfeito equilíbrio; clareza admirável!
Com grande eficácia, expressou-se sobre todos os argumentos delicados que contrapõem o mundo ocidental e a esfera islâmica.

Na causa mais virulenta - insanável até hoje - e que tem servido de grande pretexto para o ódio dos fundamentalistas, Barack Obama foi equânime e bem claro. Vejamos.

Penso que esteja dentro das minhas responsabilidades de Presidente dos Estados Unidos lutar contra qualquer estereótipo negativo do Islão, em qualquer lugar onde isso se verifique. Mas este mesmo princípio deve aplicar-se à percepção da América da parte dos muçulmanos.
Isto não significa que deveremos ignorar os motivos de tensão. Significa exactamente o contrário. (…)

(…) A segunda e mais importante causa de tensão, da qual devemos discutir, é a situação entre israelianos, palestinos e o mundo árabe.
São bem conhecidas as sólidas relações que ligam Israel e Estados Unidos. Trata-se de um vínculo inquebrável que tem raízes e liames culturais antigos; no reconhecimento que a aspiração a uma pátria hebraica é legítimo, e também esse tem raízes numa história trágica, irrefutável.
No mundo, o povo hebraico foi perseguido durante séculos; na Europa, atingiu o auge com o Holocausto, um extermínio sem precedentes.
Contestar esta realidade é um acto injustificável, de grave ignorância e que apenas serve para alimentar ódios. Ameaçar Israel de destruição – ou repetir vis estereótipos sobre os judeus – é profundamente errado e serve apenas para trazer à mente dos israelitas a recordação mais dolorosa da sua história (…)


Paralelamente, é inegável que o povo palestiniano tem sofrido, ele também, nos seus esforços de possuir uma pátria. Há mais de sessenta anos que enfrenta tudo o que há de mais penoso na sua condição de desalojado.
Os palestinos têm suportado, dia após dia, as grandes e pequenas humilhações que sempre acompanham a ocupação de um território. Seja bem clara uma coisa: a situação do povo palestiniano é intolerável. A América não virará as costas à legítima aspiração dos palestinianos à dignidade, a iguais oportunidades, a um Estado próprio. (…)

Era mais que tempo - e um verdadeiro sentido de justiça assim o exigia - que um Presidente americano enunciasse estes princípios e se pronunciasse com esta determinação. Quer queiram, quer não queiram, é no interesse dos dois povos: israelitas e palestinos.
Um grande, grande aplauso por um discurso que pôs de lado retórica ornamental e foi direito ao coração de todos.

****

Li, com o mesmo agrado, um artigo de Abraham B. Yehoshua, no jornal La Stampa:
O Amigo que gostaria de ter ao meu lado

Como se reconhece um verdadeiro amigo? Do facto que quem assim se define crê e tem confiança em ti, preocupa-se com as tuas necessidades, mesmo a longo prazo, indica-te, honestamente, os teus erros e procura ajudar-te a corrigi-los. Este é o amigo que desejaria ao meu lado. Não quem aprova automaticamente o que quer que eu faça, declara o seu afecto por mim e me aceita assim como sou.
A partir da grande vitória militar de Israel em 1967 (…) Israel precipitou num vórtice ideológico e militar, fruto da conquista de vastos territórios, durante aquele conflito.

Deveria considerar, logo de princípio, aquelas regiões como elemento de troca e induzir o mundo árabe e os palestinianos a procurar a paz. Pelo contrário, Israel – quer por desconfiança em relação às verdadeiras intenções dos seus inimigos (…), quer pelo seu desejo de anexar aqueles territórios (sobretudo os de significado histórico e religioso) – iniciou uma política de colonatos, criando uma realidade difícil de subverter. (…)

Os colonatos israelitas acrescem, portanto, o ódio dos palestinianos contra Israel. Efectivamente, além de ocupar as suas terras, desfrutar os seus recursos hídricos e impor limites à sua liberdade de circulação, eles simbolizam a vontade do Estado Hebraico de permanecer e a relutância de conceder a independência ao povo palestino (…)
A maior parte dos israelitas já compreendeu tudo isto. Porém, como um toxicodependente escravo da droga, não é capaz de dizer: basta! Cometemos um erro e ocorre remediar antes que seja demasiado tarde. (…)

Com um apelo tão directo e claro ao Governo israeliano, o Presidente dos Estados Unidos não somente expressou o que grande parte dos israelitas tem no coração, como deu provas da sua profunda amizade pelo Estado hebraico.

Termino com o final de uma entrevista a outro grande escritor israeliano, David Grossman, comentando o discurso de Obama.

"Também o Hamas diz-se satisfeito das palavras do Presidente Obama".
Dá-me prazer ouvir isso. Os únicos que desaprovam Obama são Al Qaeda e os colonos israelitas. Devo admitir que me sinto muito embaraçado, perante este binómio. - entrevista de
Pietro del Re, jornal La Repubblica
Alda M. Maia