sexta-feira, julho 15, 2005

ISTO DE SE ESCREVER NOS BLOGUES…

É interessante vagabundear dentro da blogosfera. Captam-se quase todas as facetas das exteriorizações humanas: análises sérias (por vezes, excelentes) da actualidade; comentários políticos; críticas mais ou menos fundamentadas ao que se vai lendo e conhecendo da vida do País e do exterior; observações pouco benévolas sobre quem não afina pelo mesmo diapasão de quem faz as observações; pieguices e banalidades; exibicionismos; poetas que transvasam inspirações nos blogues; informações úteis e sempre actuais; transcrição de poemas; publicação de belíssimas fotografias; controvérsias; polémicas; trivialidades (sobretudo em alguns comentários) … em conclusão, di tutto, di più.

Agora, pergunto-me: que razão me leva a sentar-me diante do computador e escrever os variados textos num blogue? Para ser lida? Para comunicar? Exibicionismo?

Quando comecei, asseri que queria escrever para o infinito.
Muito pedante dizer que escrevo para o infinito!... Mas explico-me: como o mundo da Internet é, praticamente, sem limites, e como escrevo dentro desse mundo, aqui está a analogia.
Alguns amigos – poucos – conhecem a existência de “Pensamentos-vagabundos”. Quando me lêem, fico satisfeita que o façam. Todavia, gostaria mais ainda que conversassem comigo sobre o que escrevo. Mas reformulo a pergunta: quero ser lida? E no reverso da medalha: é importante que me leiam?

È agradável e lisonjeiro que o façam, porém, não é o mais importante para o impulso que me leva a escrever.
A minha mente interessa-se de tudo e por tudo sinto uma grande curiosidade. Gosto de me informar, gosto de saber; consequentemente, gosto de conversar. Ora, nem sempre há interlocutor com quem possamos trocar opiniões sobre o que nos ocupa o pensamento. E se os há, a maior parte das vezes, se não desejamos ver as nossas vozes atropeladas, porque bem poucos cultivam a arte de ouvir, não se conversa: assistimos a abalroamentos vocais.

Num blogue, falo do que me apetece, digo o que me apetece, quando me apetece. Em silêncio, converso; em silêncio, manifesto as minhas opiniões e perplexidades; em silêncio, clarifico melhor alguns pensamentos vadios ou confusos … enfim, divirto-me. Grande invenção a blogosfera, sem dúvida nenhuma!

Quanto a esforçar-me por dar a conhecer o meu blogue, sinceramente, prefiro este silêncio. É melhor falar para o infinito, onde a voz se perde, mas com a ilusão de que é ouvida por pessoas com interesses iguais aos meus.
Alda Maia





quarta-feira, julho 06, 2005

DO CÉLEBRE DISCURSO DE KENNEDY

“Não perguntem o que a América deve fazer pelos Americanos, mas o que estes devem fazer pela América” (mais ou menos, foi este o sentido das palavras de Kennedy).
Ficou nos anais das frases, digamos, imorredoiras e é citada a cada momento.

Nos últimos tempos, tenho-a recordado com frequência, sobretudo quando leio os vários editoriais de críticas à acção do actual governo: ora entendem que é pouco o que se faz, que não há coragem de se enfrentar os problemas graves do País; ora criticam e apontam as medidas tomadas como arrogantes, discriminatórias, pomposas, etc., etc.
Paralelamente, fico surpreendida com a veemência da reacção daqueles cidadãos que se crêem atingidos nos tais “direitos adquiridos” e não se cansam de chamar mentirosos aos que foram eleitos para governar –“não respeitaram as promessas”.

Num editorial de 29 de Junho passado, com o título “Sócrates”, Eduardo Dâmaso faz uma análise severa sobre os graves problemas que esperam o Primeiro-Ministro.
Além disso, esta análise não descura nenhum aspecto das consequências políticas para o PS, nas futuras eleições, derivadas das medidas impopulares do governo socialista.
No último parágrafo, escreveu:
“Portanto, o campo das opções é muito estreito e o que se vislumbra é mesmo uma interminável dor de cabeça para Sócrates. Um verdadeiro deserto de felicidade política”

Algumas objecções: se temos um “défice incomportável, um peso excessivo da despesa pública, um desemprego a caminho de ser galopante”, dar importância ao ser-se ou não ser-se reeleito – não importa em quais eleições – deve ter-se em linha de conta, na governação, essas consequências políticas? É essa a responsabilidade que esperamos dos políticos sérios? Mas que concepção temos do “bem-governar”?
Eduardo Dâmaso fez a sua análise, certamente. Ao debruçar-se sobre as dores de cabeça de Sócrates e termina asserindo que é “um verdadeiro deserto de felicidade política”, julga-se um observador externo ao País onde vive? Que a nossa situação não lhe diz respeito? Que tudo se resume a um problema de Sócrates?
Eu entendo que é um problema de todos – de todos, sem excepção.

Quanto àquele nosso povinho bem instalado na vida, o que mais se lamenta e tanto impreca contra os mentirosos da política, que limitações se impõe para a contribuição de um menor défice? Um pequeno exemplo: neste período de férias, abdicou das viagens programadas fora do País? Conhecendo a crise em que nos debatemos, é assim tão gravoso raciocinar com bom senso e equidade? Nunca se interrogou sobre o que cada um pode fazer pelo progresso deste País que também lhe pertence?

Ainda a propósito do nosso povo e já noutro contexto: a ética da convivência civil, a honestidade perante a coisa pública, onde param? Como é possível dar votos ás pessoas com processos nos tribunais e nada abonatórios da seriedade política dessas personagens? Visto que juridicamente não se encontra uma norma para os bloquear, é o povo que deveria emitir um juízo inapelável: desertar os comícios eleitorais e negar-lhes o voto.
Desgraçadamente, o panorama que a gentinha desses concelhos apresenta é desolador! Amarante, Felgueiras… que náusea perante tanta falta de consciência cívica! E que indignação perante as falhas jurídicas!
Alda Maia









terça-feira, julho 05, 2005

AINDA SOBRE PROFESSORES PRIMÁRIOS (PERDÃO, PROFESSORES DO 1.º CICLO)

Naquilo que lemos, há sempre qualquer frase ou parágrafo que chamam mais estridentemente a nossa atenção. Vem isto a propósito do que li no artigo de Miguel Sousa Tavares, de sexta-feira passada, sobre os direitos adquiridos. Eis o que sinceramente me divertiu:

Do Algarve, recebi uma carta dos professores de uma escola de ensino básico, muito indignados por eu não entender que se possam reformar ao fim de trinta anos de trabalho
(de facto, 29). Indignam-se, desde logo, por eu os tratar não pelo seu título de “Professores do 1.º ciclo”, mas sim como “professores primários”

Efectivamente, subiram de estatuto. Há a palavra “superior” que nos equivalentes estabelecimentos de ensino, doutras épocas, não existia.

A minha Mãe cursou a “Escola Normal” e ficou “professora do ensino primário oficial”. Eu já fiz o meu curso na “Escola do Magistério Primário” – também “professora primária”. No tempo do meu avô materno, que também era professor, não sei qual o nome atribuído ao estabelecimento de ensino que frequentou. Todavia, era mais conhecido como o “Senhor Mestre”

Hoje, frequenta-se a “Escola Superior de Educação”. É-se bacharel!
Aquele Superior empresta outra categoria a esta classe de professores, isto é, “Professores do 1.º ciclo”, ora bem!!...
Primários? Apenas nas reacções.

Quem disse que o ridículo não tinha limites? Verdade sacrossanta!!
Alda Maia