sexta-feira, dezembro 23, 2005

Dr. MÁRIO SOARES VERSUS “Mr. GARBO”

Já há bastantes dias que não vinha aqui conversar. O motivo é sempre o mesmo: leituras atrasadas.

Hoje subi até este recanto da minha casa com a intenção de, uma vez mais, escrever sobre Berlusconi.

Mudei de ideias. Em vez de Berlusconi, quero divagar sobre o debate de há dois dias.

Quando, no título, uso o termo “versus”, é inegável que Mário Soares, logo de início e até ao fim, não deu trégua a Cavaco Silva. Pode-se afirmar que partiu e prosseguiu num ataque cerrado sem eufemismos nem diplomacias.

Foi um modo correcto? Não creio. Poderia ter desenvolvido os mesmos argumentos com mais classe e sem cair nos remoques sarcásticos dirigidos à personalidade do adversário. Não foi elegante. Esses sarcasmos, pouco felizes, deveriam ter sido evitados.

Deixando agora voar a fantasia, suponhamos que Mr. Garbo - o Prof. Cavaco Silva - denunciava o Dr. Soares por calúnia?

Não o aconselharia: provar que Mário Soares disse mentiras, seria uma iniciativa infrutífera: só por corrupção (o que nunca seria o caso) ou milagre é que o Sr. Professor venceria a causa.
Alda M. Maia

sábado, dezembro 10, 2005

O EXERCÍCIO DA POLÍTICA E A BOA EDUCAÇÃO

Intitulei este post: “Exercício da Política e Boa Educação”. Na sequência desse título, pergunto: quais as características que distinguem um excelente e verdadeiro político de um que se instala na política e se convence que é personagem indispensável para o bom funcionamento da coisa pública?

Um excelente político não deve ser dotado somente das qualidades inerentes à arte e ciência de bem governar um estado. Exige-se-lhe muito mais: uma boa cultura e grande interesse por todos e quaisquer aspectos da vida nacional – não basta uma correcta administração; é obrigatório um profundo conhecimento do país.
Um bom político também nunca descuida a mais ampla informação sobre os eventos internacionais.
Um bom político nunca perde a calma nem aquele fair play imprescindível numa figura pública.
Um bom político nunca se apresenta com sobranceria perante um adversário; é a superioridade dos seus argumentos e ideias que o impõe.

Todo este aranzel, e que espero não seja mesmo enfadonho, vem a propósito do “debate-entrevista” de ontem: Cavaco Silva / Francisco Louçã, na TVI

Segui-o do início até ao fim e sempre observando o comportamento dos dois candidatos. O conteúdo deste debate não reservava surpresas, embora deva assinalar uma apreciável incisividade e riqueza de argumentos da parte dos dois jornalistas.

Francisco Louçã, dotado de uma oratória fluentíssima, agradável, bem informado, procurou criar um verdadeiro debate versus Cavaco Silva. Usou maneiras afáveis, correctas e frequentemente se referia ao seu “opositor”, “adversário” ou ao apelido e título académico desse adversário.

Durante todo o debate, pelo contrário, a atitude do Prof. Cavaco Silva deu-me a impressão do imperador já coroado e que somente por complacência para com o vulgo é que se concedeu a ouvir o deputado Francisco Louçã – aquele impertinente, irreverente e insignificante Francisco Louçã!...
Nomeou-o uma única vez, precisamente como “ o Deputado Francisco Louçã".
Respondeu aos quesitos apresentados pelos jornalistas, mas comportando-se como se fosse o único candidato presente. Não sei donde provém tanta superioridade!

Se é com tais modos que pensa ser presidente de todos nós, da minha parte, nunca daria o meu voto a quem se apresenta com tão alto conceito de si mesmo, eximindo-se do respeito e cordialidade que se deve ao adversário, seja ele quem for.

A boa educação, ao fim e ao cabo, tornou-se numa grande credora do Professor Cavaco Silva.

Existe um leit motiv nos discursos do Sr. Professor que, francamente, soa como uma troça à inteligência dos cidadãos portugueses: Cavaco Silva é apartidário! Não pertence a nenhum partido, não corre por nenhum partido, é absolutamente independente.
Se é independente, por que aceita todo o poder de organização do PSD, partido onde politicamente cresceu e medrou, e lá vai fazendo a sua campanha, em ambientes triunfais e bem concorridos, mercê dessa organização?
Até mesmo nesta veemência de, insistentemente, confirmar a sua autonomia, demonstra pouca elegância em relação aos partidos que o apoiam.
Alda M. Maia




quinta-feira, dezembro 08, 2005

OS CANDIDATOS PRESIDENCIAIS; DEBATES; COMENTÁRIO DE VASCO PULIDO VALENTE

Começou a série de debates. A fórmula usada, francamente, não tem pés nem cabeça. Ou, então, não a apresentem como um debate.

Debate é uma discussão, uma troca viva de ideias e argumentos: onde esteve a discussão? Os dois candidatos, Cavaco Silva e Manuel Alegre, foram muito correctos, respeitadores dos tempos estabelecidos; porém, mais ou menos repetiram o que já tinham expresso em várias outras entrevistas. Não lhes foi concedida outra forma de se manifestarem
Conclusão, todo aquele aparato, afinal, não passou de uma entrevista enroupada com o pomposo nome de debate.

Por que não organizar estes encontros como um debatimento directo, o que seria muito mais espontâneo e ilustrativo das verdadeiras personalidades dos contendentes? Ou no espectáculo é imprescindível a performance dos jornalistas? E se é assim, a maior parte dos jornalistas estará à altura de poder conduzir um debate onde a discussão atinja um clímax verdadeiramente entusiasmante?

COMENTÁRIOS DO DIA SEGUINTE: pelo menos, os que li no jornal Público, não desperdiçaram juízos enaltecedores. As apreciações de Vasco Pulido Valente, todavia, quase me fizeram dar um salto na cadeira! Divertidas, corrosivas, demolidoras: tudo isto já faz parte, aliás, das características de Pulido Valente. O que me deixou estarrecida, e não exagero, foi o primeiro parágrafo do seu comentário. Transcrevo-o: “Não acredito que um destes senhores pudesse ser eleito na «Europa». Mesmo Berlusconi, sendo um passarão, é um passarão de outro porte: com mais cultura, inteligência e manha. Com savoir-faire. Com educação, se quiserem” (…)

Sinceramente, escandalizadamente, eu só pergunto ao Sr. Vasco Pulido valente se se refere ao Primeiro-Ministro italiano ou a qualquer outro Berlusconi seu conhecido, mas que ninguém mais conhece, embora ele esteja convencido do contrário. Citá-lo nesses termos, é impossível que aluda ao primeiro-ministro! A não ser que… a não ser que, para mais achincalhar Cavaco e Alegre, genialmente inventou e aplicou a Berlusconi os dotes de “ mais cultura, inteligência, savoir-faire, educação”… Oh! Valha-nos Deus! É mesmo um forte achincalhamento!

Berlusconi com mais cultura que M. Alegre e Cavaco Silva?! Se é considerado um ignorante, e é-o, donde é que Pulido Valente lhe conhece essa “mais cultura”?

Dotado de “inteligência e manha”, sem dúvida nenhuma, mas para proteger os seus interesses e amontoar capitais, servindo-se da política. A inteligência só a tem sabido aplicar nesse campo.

Quanto a “savoir-faire e educação”, aqui Pulido Valente dá um valente trambolhão por incauto e ignorância do que se passa no mundo político internacional. Nunca ouviu falar das numerosas gaffes e calinadas de Berlusconi? Então é aconselhável que se informe, antes de ofender os nossos candidatos com tão desastrados paralelismos.
Alda M. Maia