segunda-feira, março 21, 2005

A DOCE MORTE

Morte sem sofrimento, morte serena, morte suave - eutanásia.
Eutanásia activa, antecipando a morte a doentes incuráveis, a fim de evitar-lhes um sofrimento atroz; eutanásia passiva, suspendendo os tratamentos médicos.
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Este é um tema, mais ou menos latente, de todos os tempos. Recentemente, porém, o Óscar atribuído a dois filmes que enfrentam o problema - "Million Dollar Baby" de Clint Eastwood; "Mar Adentro" de Alejandro Amenábar - fê-lo ruidosamente emergir, assim como o caso da senhora americana, em coma há quinze anos.
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Há uma forte corrente de opinião a favor da legalização da eutanásia. Quanto a mim, não quero ter opiniões. Faço perguntas.
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Legaliza-se a eutanásia: ficaremos certos da correcta aplicação da lei que a regulará?
"Fatta la legge, trovato l'inganno". Isto é, fez-se a lei, há sempre quem arranje um expediente para a eludir. Exagero? Não, não estou a exagerar. É somente o desencanto sobre a natureza humana.Há pessoas bem formadas, mal formadas e gente absolutamente sem escrúpulos. Senão, vejamos.
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O doente, desesperado, decide quando deve morrer. Este seria um item da lei, penso eu.
Quantas pessoas incómodas, numa família árida, insensível e cruel, seriam levadas a uma situação de desespero, vendo na morte o único refúgio? Quantas persuasões e quantas cumplicidades entre esses familiares e médicos aquiescentes?
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Nos hospitais, quem se preocuparia em tratar e prolongar a vida a pessoas idosas, sem doenças incuráveis, mas apenas porque já viveram o suficiente, há falta de camas e não se justificam as despesas sociais com tais doentes? A eutanásia passiva!...
Mas este viver o suficiente, a partir de qual idade? E quem o determina? Só estas perguntas já me provocam arrepios!
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Vem, a seguir, o óbvio: herdeiros ávidos, autênticos abutres, em cima de parentes que tardam a entregar-se ao Criador. Quantos casos, muito bem planeados, de doce morte legalizada!! Esgotamento nervoso; já não suportava a vida; ataque cardíaco, etc., etc., etc..
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Decididamente, não sou a favor da legalização da eutanásia.
Esta é uma minha firme convicção. Não me movem actos de fé, mas o cântico à vida que sempre ouvi dentro de mim.
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Há situações dramáticas, extremas. Se em tais circunstâncias, a eutanásia foi praticada, penso deva investigar-se, conscienciosamente, as causas - também extremas - de tal acto; paralelamente, uma piedosa compreensão para tais causas. Piedade e arquivamento, mas não a negação da lei.
Alda Maia

quarta-feira, março 16, 2005

RETIRADA DAS TROPAS ITALIANAS DO IRAQUE

E ainda há quem tome a sério o Sr. Berlusconi!
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Ontem, assisti ao programa Porta a Porta. Nos noticiários, antes que o programa começasse, os tambores da adulação televisiva tinham anunciado a presença do ilustre personagem - o Ungido do Senhor (assim se autodefiniu o cavaliere Berlusconi, no início da sua carreira política).
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Iniciou o show com a lista dos milagres. E tanto assim, que se vê constrangido a candidatar-se de novo nas próximas legislativas, visto o êxito do seu governo!
Que ninguém fique com dúvidas que aquele ungido transformara a Itália no país mais progredido, mais próspero, mais seguro da Europa. Alarmes de estagnação económica, alarmes do Governador do Banco de Itália, temores dos cidadãos italianos pelo futuro, isso são invenções.
Quaisquer outros governos, anteriores à era berlusconiana, nada fizeram que se assemelhasse à sua administração! Que se envergonhem os precedentes primeiros-ministros, acrescento eu; incompetentes e mandriões. E Andreotti, tantas vezes premiership, que enfie a cabeça num saco.
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Em Setembro, íníciar-se-á o retiro das tropas italianas do Iraque. O anúncio - no caso de corresponder à verdade - deveria ser proferido na sede adequada, o Parlamento.
Qual parlamento qual carapuça! "Sua Emitência" não perde tempo a dar importância a tais bagatelas. Foi eleito por grande maioria, consequentemente, l'état c'est moi. E depois, as grandes comunicações devem lançar-se através de "Porta a Porta" e Bruno Vespa, responsável e condutor do programa, evita que haja contraditórios. Berlusconi não os admite, portanto, só jornalistas condescendentes e mesureiros.
Pois bem, a tão estrondosa comunicação televisiva, sucederam-se os desmentidos, esclarecimentos de Blair, telefonemas de um Bush preocupado... mais uma tremenda gaffe do primeiro-ministro. E são já tantas!
A oposição classifica o anúncio como: "spot publicitário"; "irresponsabilidade e diletantismo"; "uma vergonha para o País"
A versão, agora, (depois que Bush o chamou à ordem) é que haverá retirada, mas somente quando o Iraque estiver preparado para defender-se em total autonomia.
Valha-nos Deus!
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Recebi, do Município da cidade de Turim, o postal de aviso para as próximas eleiçoes regionais - Elezioni Amministrative. Este postal-aviso dá-me o direito a descontos na viagem para ir votar. Nas legislativas, posso votar por correspondência.
Francamente, lamento não poder estar em Turim nos primeiros dias de Abril ... só pelo grande prazer de votar na candidata do centro-esquerda! Reservarei essa satisfação para 2006.
Alda Maia

segunda-feira, março 14, 2005

NOVO GOVERNO, VIDA NOVA

Vida nova é o que todos nós esperamos; e não pedimos muito. Todavia, o que mais receio é o muito que que dessa vida nova se pretende. Mas dêmos tempo ao tempo e saibamos ser comedidos no que se pode esperar de positivo desta nova legislatura. Os problemas do País são muitos e se não se resolverem todos, ao menos os mais graves.
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Divertiu-me a crítica, de Luís Filipe Menezes, ao discurso de Sócrates na tomada de posse do Governo: nesse discurso, o Eng. Sócrates deveria falar de tudo o que pensa fazer nos seus quatro anos de governação!
Deixe-o começar, Dr. Menezes. E comece também o Senhor a ponderar melhor as suas críticas, não as improvisando. A isso chama-se política de pequena, mísera cabotagem.
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Navegando pelos vários jornais portugueses de hoje, chamou-me a atenção um artigo de Pedro Correia, no Diário de Notícias: "Freitas já criticado no PS"
"Menos de 24 horas depois da tomada de posse do Governo, surge a primeira crítica socialista ao alegado radicalismo de Diogo Freitas do Amaral. Carlos Lage, membro do Secretariado Nacional Socialista, não teve dúvidas em demarcar-se do novo inquilino do Palácio das Necessidades..."
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Ainda estas observações sobre o que o Prof. Freitas do Amaral disse a propósito da guerra no Iraque e da política de Bush?!!... Não acham que este assunto já foi explorada até à saciedade?
E acham que tais críticas não foram merecidas?
Certamente que exagerou, mas não foi inoportuno.
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Para terminar, no editorial de Raul Vaz, encontro a palavra encanitante: ".... Dia Internacional - seja lá do que for, a designação é encanitante"
Procurei este vocábulo em vários dicionários. Só no Grande Dicionário de Morais da Silva é que encontrei o verbo encanitar: sofrer de nervos; irritar-se.
Mas encanitante, nem no majestoso Houaiss; onde é que o encanitado Raul Vaz descobriu este termo?
Alda Maia

sexta-feira, março 11, 2005

BLOGUEIROS E RADIOAMADORES

"Os blogueiros correspndem aos pioneiros da rádio que, nos EUA e em Portugal, por volta de 1922/23, exploravam a possibilidade de falar pela rádio através de emissões radioeléctricas de onda curta, mas que, com pequena potência, conseguiam chegar ao outro lado do mundo..." (Prof. Rogério Santos)
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O prazer de escrever, emitir opiniões, comentar o que vai sucedendo, criticar o que lhes parece errado, devanear sobre as próprias pessoas com um certo narcisismo, enfim, crear-se um blog corresponde verdadeiramente às emoções que experimentaram os pioneiros do radioamadorismo? Não creio.
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Esses pioneiros exploraram e criaram, com técnicas rudimentares, as citadas possibilidades de falar com a outra parte do mundo. A partir de tais experiências, quantas conquistas nas telecomunicações!
Quem desejar saber o que é e foi o radioamadorismo, consulte o site da Associação dos Radioamadores Portugueses: www.rep.pt.
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Quanto às emoções, não se pode comparar a edição de um post com a alegria que se provava quando os nossos emissores, home made, chegavam aos lugares mais remotos da Terra! A trepidação com que se lançava um CQ (chamada geral) para os quatro cantos do mundo, através de uma antena mísera, esperando que o ricochete das ondas, emitidas para o èter, saltasse para qualquer ilha perdida no Pacífico e alguém nos respondesse! Não, estas emoções nada tem que ver com o uso da Internet.
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Neste momento, estou a lembrar-me da minha primeira estação emissora: um emissor home made, obra de CT1OZ (radioamador já falecido), um receptor de terceira ou quarta mão, um antena dipolo (meia onda para os 80 metros). Esta antena estendia-se da chaminé a um pinheiro de um bosque perto da minha casa. Quando havia tempo ventoso e o maldito vento soprava na direcção do pinheiro, eu atava as mãos na cabeça: "lá se vai a antena!" E é que rebentava mesmo.
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Também me estou a recordar do meu primeiro DX (comunicação a longa distância ou comunicação com uma estação rara).
Era de manhã cedo, antes de ir para a escola. A uma minha chamada - CQ, CQ, CQ, here is CTIYG calling - responderam várias estações e que eu julguei provindas da Europa. Captei o indicativo que me pareceu mais claro, pensando fosse uma estação alemã. Disse o meu nome, localidade, condições de escuta, etc.e passei o microfone (a palavra) ao interlocutor. Que salto dei na cadeira quando escuto da banda de lá: "... my QTH (localidade) is Wellington, the capital of New Zealand"! A minha pobre antena, agarrada ao pinheiro, chegara á Nova Zelândia! Aleluia!!!
Alda Maia - I1YG

domingo, março 06, 2005

PNÍNSULA IBÉRICA - IBÉRICOS

Nos últimos tempos, fala-se muito de eutanásia. É um assunto que leva o pensamento a vadiar por tantas considerações e nasce a vontade de aclarar ideias sobre um tema tão delicado. Hoje, porém, não me apetece escrever sobre tal matéria. Fica para a próxima.
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No planeta Terra, existe uma única península que se chama Península Ibérica, que é a nossa; não há outra.
É também do conhecimento de todos (deveria ser do conhecimento de todos!) que nesta península existem dois países independentes, soberanos. Que dos dois, o país territorialmente mais pequeno é o mais velho.
Pois a este mais velho não lhe serve de muito a provecta idade.
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Quer na RAI quer na imprensa italiana - pelo menos nos jornais que leio regularmente (La Stampa, Corriere della Sera, La Repubblica) - é useiro e vezeiro referirem-se a Zapatero como o Primeiro-Ministro ibérico. Se devem citar qualquer ministro espanhol, é o ministro ibérico disto, o ministro ibérico daquilo, Etc.
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Na última cimeira dos Açorres, num artigo do Corriere della Sera, informava-se que José Maria Aznar recebia em casa própria os ilustres convidados - Bush e Blair.
A este ponto, perdi a paciência e saí da habitual passividade. Mandei um e-mail ao Corriere e esclareci - educadamente - que o Arquipélago dos Açores é território português. O anfitrião foi o Primeiro- Ministro Durão Barroso e o Sr. Aznar era um convidado como os outros.
O autor do artigo, Massimo Franco, respondeu-me imediatamente, pedindo desculpa. Um gentleman!
Passados dois ou três dias, eis outro artigo - sempre no mesmo jornal - da autoria de Sérgio Romano, cometendo o mesmo erro:Aznar recebeu os ilustres hóspedes...
Sérgio Romano é um ex-diplomata, historiador e colaborador do Corriere.
Partiu um outro e-mail - neste senhor, a gaffe apresentou-se-me quase imperdoável.
O Sr. Embaixador não respondeu. Tinha esquecido as boas maneiras diplomáticas.
A vingançazinha chegou-me, lendo a crónica diária de Michele Serra, no jornal La Repubblica. Com grande ironia, escreveu: "Quando leio Sérgio Romano, se estou sentado, levanto-me". Entretanto, apontava o deslize como inaceitável num ex-diplomata.
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Agora, pergunto: que faz o nosso Corpo Diplomático em Roma?
Estas minhas reacções não são pruridos patrioteiros nem coisa parecida. Simplesmente, gosto do meu País e não tolero que o amesquinhem - também tenho a nacionalidade italiana e provo a mesma reacção relativamente à Itália.
Se da nossa Embaixada, de vez em quando, partisse uma correcção, muito diplomática, sobre repetidas diminuições da Terra Lusa, não lhe ficaria nada mal.
É uma questão de brio e que tem como finalidade exigir respeito.
AldaMMaia