domingo, abril 27, 2008

O QUE ERA O MEU “ANALFABETISMO” POLÍTICO

Uso o termo “analfabeta” para descrever a minha situação, relativamente à política, quando parti de Portugal. As minhas noções sobre o que fosse uma democracia eram muito vagas, imperfeitas: elementares.

Nasci e cheguei à idade adulta em pleno período ditatorial; ninguém nos ensinava ou permitia saber algo sobre o funcionamento de uma democracia.

Do Brasil chegavam-me revistas com páginas completamente cobertas por uma espessa camada de tinta preta e com a infalível legenda: Visado pela comissão de censura.
Tudo o que pudesse contribuir para a formação de uma consciência cívica, onde os direitos e deveres fossem amplamente esclarecidos, era matéria absolutamente inconcebível.

Éramos considerados atrasados mentais, consequentemente, o saber ou o conhecimento do que quer que fosse chegava-nos, exclusivamente, através dos severos e doentios filtros salazaristas.

Nesses tempos, por exemplo, tive de ler “Quando os Lobos Uivam” clandestinamente - uma edição de contrabando, chegada do Brasil a uma minha amiga. E também clandestinamente, deliciei-me e diverti-me com a leitura do panfleto que Aquilino Ribeiro escrevera em resposta à proibição do livro: “Quando os Lobos Julgam, a Justiça Uiva”.

Nunca fui “do contra” (expressão muito em voga, nesse tempo), porque não tinha a mínima preparação política. Não era aqui, em V. N. de Famalicão, que encontraríamos ambiente propício para que nos chegassem esclarecimentos desse género. Além disso, o medo da Pide regelava-nos.
Tínhamos, todavia, dois paladinos do anti-salazarismo: O Dr. Armando Bacelar e o Dr. Lino Lima.
De vez em quando, desapareciam: a Pide levara-os para a prisão.

Gozavam de toda a minha simpatia, e pouco me importava que fossem pintados como "tenebrosos comunistas".
Paralela e paradoxalmente, na idade da razão, adquiri a noção nítida do que significava uma ditadura, e começou o meu descontentamento.

Sempre que nos arregimentavam para ir aplaudir e agitar bandeirinhas à visita de qualquer figura importante do regime, olhava para a cara dele ou deles, via-os mediocremente banais, o meu resmungo de jovem irreverente não variava: Gostava de saber por que estamos aqui em hosanas a este (ou estes) merdas.
Já como professora primária e os hosanas estavam sempre em programa, no meu íntimo, eles, dirigentes da Nação (não era do país: era da Nação!), continuavam a merecer-me uma estima totalmente negativa. Poderia tratar-se de pessoas com méritos, mas o meu juízo era implacável: Se fossem inteligentes não fariam parte de uma ditadura.

Fui para a Itália: que paraíso de publicações para um esfomeada de conhecimentos até então proibidos!
Da voracidade como me lancei a ler tudo o que valesse a pena ser lido, ficou-me uma espécie de intoxicação pela leitura de todas as publicações de carácter informativo. É uma intoxicação que ainda perdura; a intoxicação por outras leituras já me vem desde que aprendi a ler.

O motivo por que me estou a recordar de tudo isto foi o dia de sexta-feira passada, dia 25 de Abril.

Não estava cá e não pude viver essa grande embriaguez do sentir-se livres.

A notícia, através da rádio italiana, chegou-me às nove da manhã: Rivoluzione in Portogallo!
Estava a almoçar e foi tal a minha agitação que a chávena do almoço caiu por terra.
Recordo com nitidez o meu primeiro comentário: “Finalmente fazemos parte da Europa. Acabou-se a prisão”
Geograficamente, éramos europeus; politica e socialmente, vivíamos num país pouco ou nada considerado pelos demais países democráticos; vivíamos num gueto.

Imediatamente telefonei ao meu marido a dar a boa nova. Resposta muito italiana: “Era hora que o teu País acordasse! Parabéns”.
Mais vale tarde que nunca, vai passear – comentei eu. Estava tão satisfeita com a”Rivoluzione in Portogallo” que não aceitei aquela velada censura ao letargo em que vivemos por tantos anos.

Naquele dia, não dormi e vivi agarrada à rádio. Como radioamadores, tínhamos bons receptores, mas em onda média, as emissões de Portugal chegavam fracas. Só à noite pude captar as notícias em boas condições e ouvir uma belíssima canção, canção que nunca mais escutei: Não há machado que corte/ a raiz do pensamento … etc.
Quem era o intérprete? A voz era muito bonita.
Quem seria o autor?
Alda M. Maia

terça-feira, abril 22, 2008

ANIVERSÁRIO DE RITA LEVI-MONTALCINI


Rita Levi-Montalcini, Turim, 22 de Abril, 1909
*
É uma neurologista laureada com o prémio Nobel da Medicina, em 1986.
Nasceu em Turim em 22 de Abril, 1909. Assim, hoje completa noventa e nove anos.
Festejá-los-á no instituto que fundou e que estuda os segredos do cérebro”

Em 2001, Carlo Azeglio Ciampi, na altura Presidente da República, nomeou-a senadora vitalícia “por méritos científicos e sociais”.

È inútil continuar a descrever quem é Rita Levi-Montalcini, pois é muito fácil encontrar informações sobre esta grande Senhora.

Quando escrevo “grande Senhora”, não me refiro somente à sua condição de grande cientista, mas ao modo como tem dado sentido a uma vida riquíssima de generosidade.

O jornal "La Rapubblica" de domingo passado, dia 20 de Abril, dedicou-lhe uma reportagem de três páginas com o título: "Os Meus magníficos 99 Anos".

Achei muito interessante a entrevista que concedeu ao jornal (a Dario Cresto-Dina) e transcrevo algumas passagens.
.
****
.
Invejo quem tem fé. Eu não creio em Deus. Não posso crer num deus que nos premeia ou nos castiga; um deus que quer ter-nos nas suas mãos.
Cada um de nós pode tornar-se num santo ou num bandido, mas isso depende dos nossos primeiros três anos de vida, não de Deus. É uma lei de uma ciência chamada epigenética; por outras palavras: pode-se definir o diálogo que se instala entre os nossos genes e o ambiente familiar e social no qual crescemos. (...)
Pois bem, eu, aos três anos - aos três anos, juro-lhe - decidi que nunca me casaria nem nunca teria filhos. Fiquei condicionada pela relação vitoriana que subordinava a minha mãe ao meu pai. Naqueles tempos, nascer mulher significava ter estampada na pele uma marca de inferioridade.
Além do mais, tenho visto um excessivo número de matrimónios infelizes.
(…) Renunciei a constituir uma família, não ao amor. Isto não.
Tive afectos, enamorei-me, fui feliz.

Do passado não se levantam fantasmas. Sem Mussolini e Hitler, hoje seria somente uma velha senhora a um passo do centenário. Pelo contrário, graças àqueles dois, cheguei a Estocolmo. Nunca me senti uma perseguida. Tenho vivido a minha existência de judia em modo laico: sem orgulho nem humildade.
Não frequento a sinagoga nem a igreja. Não uso como uma medalha o dado histórico de pertencer a um género humano que sofreu muito nem jamais procurei vantagens ou ressarcimentos morais.
Ser judeu pode não ser agradável, não é cómodo, mas criou em nós um impulso intelectual suplementar.
Como se pode afirmar que Albert Einstein era de raça inferior?
Deveremos também abolir, nas nossas cabeças, o conceito de raça. Existem os racistas, não as raças. E a mim interessam unicamente as pessoas.

No dia um de Agosto, 2001, O presidente Carlo Azeglio Ciampi telefonou e disse-me: Sou Ciampi e abraço-a. Nomeio-a senadora vitalícia por méritos científicos e sociais. Apenas consegui dizer: obrigada. Senti uma grande emoção.
Sou absolutamente ignorante em questões de política. A minha ligação com a mesma é um puro dever cívico e moral. Certamente que sempre fui uma mulher de esquerda. No Parlamento encontrei pessoas de grande inteligência, quer nos partidos de governo, quer na oposição.


Muito elegantemente, omitiu as grosserias dos ordinários que abundavam na oposição (deram disso prova quando caiu o governo) e que a ultrajaram sempre que votava a favor do governo - para estes indivíduos, os senadores vitalícios não tinham direito de voto... se votavam a favor de Prodi.
No grupinho dos cretinos, sobressaiam os fascistas.
Quando escrevo fascistas, não uso uma palavra vazia de sentido, usada a torto e a direito por quem se coloca na esquerda radical e pensa que tem sempre razão. Refiro-me à extrema-direita, aos fascistas DOC, aos reais fascistas italianos.
Mas sobre isto falarei num próximo post.

(…) A coisa que mais desejo é a paz no Médio Oriente. Interrogo-me frequentemente sobre o conflito entre árabes e israelitas. Não posso aceitar a ideia de quem deseja a supressão do Estado de Israel; ao mesmo tempo, não aceito que os palestinianos tenham poucas possibilidades de exprimir, livremente, a própria inteligência. Penso que ainda seja possível atingir o objectivo de uma convivência pacífica entre os dois povos. Somos todos iguais.

A minha inteligência é medíocre, o meu empenho é pouco mais que medíocre. Creio ter duas únicas qualidades: a intuição e a capacidade de ver um problema na sua globalidade.

O meu cérebro funciona melhor do que quando tinha vinte anos. Decidi usá-lo ainda mais, precisamente na última etapa do meu percurso. Penso em continuação: ajuda-me a paixão pelo meu trabalho.
****
Alda M. Maia
**
Nota: este texto foi ligeiramente corrigido

domingo, abril 20, 2008

RECOMEÇOU O ESPECTÁCULO

Berlusconi que "metralha" uma jornalista russa (foto de "La Stampa")
*
Conferência de imprensa de Putin, em visita ao seu grande amigo Berlusconi, na Villa Certosa, Sardenha – 18/04/2008.

Uma imprudente jornalista russa - Natália Melikova, da Nezavsinaya Gazeta - fez uma pergunta inesperada a Putin: se eram verdadeiras as indiscrições sobre uma sua relação com uma ex-campeã olímpica de ginástica artística, Alina kabayeva, e um iminente divórcio da esposa.
Putin corou, mas antes que respondesse, Sílvio Berlusconi, com os habituais trejeitos do homem de espectáculo, mimando uma metralhadora, apontou-a para a jornalista incauta.
O Presidente russo apercebeu-se do gesto e, também sorrindo, aprovou. Entretanto, esclareceu que nada era verdade: “Os políticos vivem numa casa de vidro e é justo que todos saibam como vivem. Mas existem limites e existe uma vida privada na qual não permito que interfiram. Deve haver respeito”

Berlusconi continuou com as suas graçolas, mas a jornalista russa ficou assustada e, no fim da conferência, disse aos colegas: “Vi o gesto de Berlusconi a mimar uma metralhadora, mas sei que o vosso presidente está habituado a estas brincadeiras. Não haverá qualquer consequência”. Mais tarde, desatou a chorar.
Parece que a assustá-la foi o olhar gélido do ex-KGB.

A ingénua (ou corajosa?) jornalista evitaria a pergunta se tivesse sabido que «Moskovskij Korrespondent» suspendera as publicações, nem sequer a oito meses de vida, depois do "scoop" (a notícia do novo casamento de Putin), porque desapareceram os financiamentos. Na Rússia de Putin não existe a censura da era soviética. Não serve. Há a autocensura de garantia.
A oligarquia que financiava o jornal sabe que quem toca Putin arrisca: ou a Sibéria, como o petroleiro Khodorkovskij; ou o exílio, como tantos milionários espalhados por Londres e Israel”.
(Paolo Garimberti, La Repubblica)

Deus queira que Natália Melikova não siga o trágico destino de tantos outros jornalistas russos!
É triste que tal pensamento nos aflore, nos tempos hodiernos.
.
Quanto ao gesto de Berlusconi, segundo os comentários de quem assistiu à cena e com os quais estou perfeitamente de acordo, teria a sua graça se o caso se passasse com um qualquer dirigente de um país de fortes tradições democráticas.
Ora, sendo Putin a personagem em causa, mimar uma metralhadora, quando ninguém desconhece o que se tem passado com tantos jornalistas russos, somente um gesto irresponsável de um "cabaretista" que não tem a preocupação de controlar os seus actos nem procura agir como homem de Estado.
Mas não nos escandalizemos: outras gafes virão.

Os jornais falam de 200 jornalistas russos desaparecidos ou assassinados, num espaço de dez anos. Não sei se serão tantos, mas li o nome de quinze que foram assassinados, ocupando o primeiro lugar Anna Politkoskaja, cujos assassinos nunca foram encontrados.
Alda M. Maia

domingo, abril 13, 2008

POR QUEM EU NUNCA VOTARIA

Lendo as declarações de voto, expressas pelo director do jornal L’Unità, assim como os propósitos, neste sentido, de outras personalidades, a mim ocorreu escrever precisamente o contrário: por quem eu nunca votaria.

Nunca votaria por uma personagem que não conhece o respeito pelas instituições e que trata os cargos públicos mais representativos do país como vil mercadoria de câmbio.

Nunca votaria um candidato que tem um conflito de interesses escandaloso e inadmissível em qualquer outro país democrático.

Nunca votaria um indivíduo que foi objecto de inúmeros inquéritos judiciais e constituído arguido em seis processos penais, salvo erro.

Nunca votaria um indivíduo que, apenas eleito, passou grande parte do sua legislatura a promover e fazer aprovar leis “ad personam”as leis da vergonha - a fim de evitar a cadeia e anular a eficácia dos processos nos quais era arguido.
Um indivíduo que entrou na política para salvaguardar, descaradamente, os seus interesses; um indivíduo que fez eleger os seus advogados e continua a propô-los nestas novas eleições; um indivíduo que mente arrogante e despudoradamente, pretendendo que se acredite no que diz.

Nunca votaria por um indivíduo que ataca a Magistratura com expressões inauditas num aspirante a primeiro-ministro de um país democrático: só é juiz quem sofre de alienação mental; os juízes são “antropologicamente diversos da raça humana”.
Além destas bacoradas, a ignorância sobressai com grande resplendor! Repare-se no emprego da palavra "antropologicamente": como se pode ser, "antroplogicamente, diverso da raça humana"?!
Nunca votaria um indivíduo que preanuncia (se ganhar) a criação de uma lei que submeta os Ministérios Públicos a periódicos exames de sanidade mental. E o que ainda mais me repugnou foi a aquiescência de alguns magistrados seus acólitos.

Nunca votaria por um personagem que trata os adversários políticos como inimigos e os insulta com os epítetos mais ordinários: coglione; grullo (do toscano: atrasado mental), e por aí adiante.

Nunca, mas nunca votaria um indivíduo que chamou herói a um verdadeiro mafioso que, por dois anos, fora seu motorista privado ou moço de estrebaria… onde não havia cavalos.
Este mafioso, Vittorio Mangano, quando entrou ao serviço da "personagem", (1974/76) já tinha um “bom pedigree criminoso” (e prosseguiu, nos anos sucessivos, como elemento de relevo de Cosa Nostra), mas a "personagem" desconhecia tal circunstância, assim como o seu grande amigo e colega de universidade, Marcello Dell’Utri, amigo que lhe fez assumir esse servidor e o fez instalar, com mulher, filhos e sogra, na principesca residência da "personagem".
Marcello Dell’Utri é siciliano e factótum político da personagem que eu jamais votaria.
É senador e sê-lo-á novamente, embora também tenha um currículo judicial de todo o respeito!
Arguido em vários processos e condenado em alguns, em Dezembro 2004 Marcello Dell’Utri foi condenado a nove anos de prisão por “concurso externo em associação mafiosa”. Este senador foi também condenado a dois anos de liberdade controlada e à interdição perpétua de funções públicas… mas é senador!

Marcello Dell’Utri, nesta campanha eleitoral, referindo-se ao mafioso Mangano – falecido em 2000 na cadeia, imputado de três homicídios e condenado, em primeiro instância, a duas penas de prisão perpétua – afirmou que, a seu modo, foi um herói: “Mangano é um herói. Morreu por culpa minha. Era doente de cancro, teria saído da prisão com lautos prémios, se tivesse acusado a “personagem” e a minha pessoa à magistratura. Mas ele nunca disse nada”.
Viva a omertà: não vejo, não ouço, não falo!
A “personagem” imediatamente anuiu: sim, senhor, foi um herói. O Ministério Público dizia-lhe que se revelasse algo sobre mim iria para casa, mas nunca inventou nada a meu respeito.

Para esta gente, os heróis são os mafiosos; os verdadeiros heróis – os famosos juízes Falcone e Borsellino – esses não contam.

Ponho de lado outras singularidades; estas são mais que suficientes para dar um retrato supremamente negativo da "personagem".
Assim:
Nunca votaria nem jamais votarei por Sílvio Berlusconi.
Alda M. Maia

sexta-feira, abril 11, 2008

ELEIÇÕES ITALIANAS
DOMINGO E SEGUNDA-FEIRA PRÓXIMOS

O último comício do líder do Partido Democrático, Walter Veltroni , em Roma.
"Io sono ottimista"
Eu também quero ser optimista
George Clooney e Walter Veltroni, num bar de Milão

Walter Veltroni e Roberto Benigni
(fotos do Corriere della Sera e La Stampa)
*
Roberto Benigni é um dos 450 signatários de uma lista de expoentes do mundo da cultura que declararam o próprio voto a favor de Veltroni (PD).
Benigni votá-lo-ia três vezes!
Grande despeito de Berlusconi: Eu ainda fiz alguma coisa na minha vida; eles só receberam dinheiro do Estado e até necessitam de Clooney e Benigni.
Não tem que invejar ninguém: ao lado dele está a neta de Mussolini, Alessandra Mussolini, e tantos outros afins.
Alda M. Maia

domingo, abril 06, 2008

E POR CULPA DE UMA CONSTIPAÇÃO…

Apetecer-me-ia conversar sobre tantos assuntos, mas por culpa de uma constipação que pesa toneladas e não há forma de me deixar em paz, a uma semana das eleições italianas, vejo-me desviada para um único tema: dizer mal de Berlusconi.

É obsessiva esta minha antipatia. Aliás, pensava ter relegado este “aventuroso populista da política italiana” para os fundos do quintal, qual elemento inservível para uma política decente. Mas é impossível.
Ei-lo, de novo, em campanha eleitoral com os característicos insultos aos adversários e as sólitas jactâncias despudoradas; as insuportáveis ofensas às instituições, pois, segundo a sua exígua cultura neste sentido, todas estão nas mãos da “sshinistra” (esquerda) e, portanto, contra a sua ilustre pessoa, ele, um dos grandes da política europeia!...

Não duvida por um só instante que será matematicamente eleito. Assim, começou já a interpretar o papel de primeiro-ministro.

"Merkel, Sarkozy, Berlusconi serão os três máximos líderes que guiarão a Europa".
Esfreguei os olhos para ter a certeza que estava a ler correctamente esta asserção do Berlusca, num encontro com os embaixadores dos países da EU.
Estava a ler bem!

Hoje, já não há grandes figuras na Europa como Chirac e Blair. Os líderes do futuro serão: eu, a Merkel e Sarkozy. Juntos, poderemos criar aquele clube que fez grande o Velho Continente”.
“Estive com Putin, Bush, trabalhei para aproximação da Nato à Rússia
” … e por aí adiante.

****

Se calhar, ganhará mesmo as eleições.

Num editorial de Eugénio Scalfari em La Repubblica, da semana passada, escrevendo sobre as performances políticas de Berlusconi, contava o seguinte episódio: um celebérrimo artista de teatro de revista (Ettore Petrolini, 1884/1936), no fim da interpretação de um seu cavalo de batalha, foi mimoseado com um fortíssimo assobio da parte de um espectador do “galinheiro”. O artista aproximou-se da margem do palco e disse ao contestador: não estou aborrecido consigo. Estou irritado, isso sim, com quem está perto do senhor e não o atirou pela borda fora.

Voltemos a Sílvio Berlusconi. Se o votarem e lhe derem a maioria é porque não quiseram, metaforicamente, atirá-lo pela borda fora.
Isto é democracia, há que respeitar as regras democráticas.
Umberto Eco, numa entrevista a um jornal espanhol, afirmou: se ele ganhar, têm o que merecem.

Não merecem, não, senhor. Mereceriam melhor.

O jornal The Economist continua a sustentar que Berlusconi é “unfit”, inadequado para governar a Itália: “Aos italianos pede-se-lhes para votar por alguém que é pura e simplesmente inadequado para governar uma democracia moderna”.
The Economist é escassamente lido na Itália
.
O meu voto já devia ter chegado à Embaixada Italiana.
Por quem votei? Não se pode dizer. O voto é secreto
Alda M. Maia