EFECTIVAMENTE, NÃO HÁ PALAVRAS!
Traduzo o editorial de António Padellaro, director do jornal italiano, “l’Unità”.
Como aquilo que ele escreve – e vê-se que o escreveu de jacto – vem ao encontro do que penso, quero deixar aqui registada a tradução. Quaisquer outras frases que eu escrevesse, nunca as saberia expressar deste modo: comovente e equilibrado.
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“O PIOR INIMIGO”
“Hoje a dor é o pior inimigo de Israel. A dor pelas crianças mortas, a dor pelas crianças mortas que quase nos sufoca, pois que já não há mais palavras.
Não têm palavras os amigos de Israel, bem cientes do evidente cerco que ameaça este povo. Este povo profundamente consciente que, perante quem proclama o seu aniquilamento, como o presidente iraniano, nada mais pode fazer que defender-se. É a verdade: mas hoje torna-se muito mais difícil dizê-lo diante daquele pequeno corpo sem vida, olhando o desespero daquele pai.
São imagens que cobrem tudo o resto, que anulam o antes e o porquê; quem é o agressor e quem é o agredido. Em Jerusalém, compreende-o o ministro da defesa, Peretz, quando exprime profundo desgosto e promete um inquérito.
Também ele sabe que, hoje, serve a bem pouco denunciar o cinismo dos Hezbollah, mestres em usar os civis como escudo. Agachados, com os mortíferos mísseis, nos condomínios. Escondidos, politicamente, atrás do primeiro-ministro libanês que lhes agradece o “sacrifício”.
Tudo isto é verdade. Todavia, os únicos mísseis de que hoje tanto se fala são aqueles com a estrela de David. E as únicas crianças mortas são as de Qana.
É possível que Israel, por erro, tenha enveredado por uma estrada que não sabe aonde leva e da qual não sabe como tornar atrás. Um trágico desorientamento que leva o primeiro-ministro, Olmert, a dizer que as operações durarão ainda dez, doze dias.
Ninguém tem o direito de dar lições a ninguém, porém, onde estará Israel daqui a duas semanas de guerra, bombardeamentos e de famílias destruídas? Mas, sobretudo, onde estarão a solidariedade para com Israel e a intervenção da comunidade internacional para aquelas forças de interposição que Israel pede?
Para além da dor, Israel deve temer a sua solidão, pois é com isto que os inimigos de Israel contam.
E se, pelo contrário, acolhesse o cessar-fogo que os autênticos amigos (e a Itália é-o) imploram, não seria um verdadeiro acto de coragem?”
António Padellaro
Publicado em 31/07/2006
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O jornal L’Unità era o jornal do Partido Comunista Italiano. Hoje, embora um jornal de esquerda e ligado aos “Democratas de Esquerda”, é um jornal equilibrado, preparado por bons profissionais e enriquecido com excelentes editorialistas. Como nota curiosa, acrescento que já lá tenho lido alguns artigos do nosso Dr. Mário Soares.
Alda M. Maia
Traduzo o editorial de António Padellaro, director do jornal italiano, “l’Unità”.
Como aquilo que ele escreve – e vê-se que o escreveu de jacto – vem ao encontro do que penso, quero deixar aqui registada a tradução. Quaisquer outras frases que eu escrevesse, nunca as saberia expressar deste modo: comovente e equilibrado.
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“O PIOR INIMIGO”
“Hoje a dor é o pior inimigo de Israel. A dor pelas crianças mortas, a dor pelas crianças mortas que quase nos sufoca, pois que já não há mais palavras.
Não têm palavras os amigos de Israel, bem cientes do evidente cerco que ameaça este povo. Este povo profundamente consciente que, perante quem proclama o seu aniquilamento, como o presidente iraniano, nada mais pode fazer que defender-se. É a verdade: mas hoje torna-se muito mais difícil dizê-lo diante daquele pequeno corpo sem vida, olhando o desespero daquele pai.
São imagens que cobrem tudo o resto, que anulam o antes e o porquê; quem é o agressor e quem é o agredido. Em Jerusalém, compreende-o o ministro da defesa, Peretz, quando exprime profundo desgosto e promete um inquérito.
Também ele sabe que, hoje, serve a bem pouco denunciar o cinismo dos Hezbollah, mestres em usar os civis como escudo. Agachados, com os mortíferos mísseis, nos condomínios. Escondidos, politicamente, atrás do primeiro-ministro libanês que lhes agradece o “sacrifício”.
Tudo isto é verdade. Todavia, os únicos mísseis de que hoje tanto se fala são aqueles com a estrela de David. E as únicas crianças mortas são as de Qana.
É possível que Israel, por erro, tenha enveredado por uma estrada que não sabe aonde leva e da qual não sabe como tornar atrás. Um trágico desorientamento que leva o primeiro-ministro, Olmert, a dizer que as operações durarão ainda dez, doze dias.
Ninguém tem o direito de dar lições a ninguém, porém, onde estará Israel daqui a duas semanas de guerra, bombardeamentos e de famílias destruídas? Mas, sobretudo, onde estarão a solidariedade para com Israel e a intervenção da comunidade internacional para aquelas forças de interposição que Israel pede?
Para além da dor, Israel deve temer a sua solidão, pois é com isto que os inimigos de Israel contam.
E se, pelo contrário, acolhesse o cessar-fogo que os autênticos amigos (e a Itália é-o) imploram, não seria um verdadeiro acto de coragem?”
António Padellaro
Publicado em 31/07/2006
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O jornal L’Unità era o jornal do Partido Comunista Italiano. Hoje, embora um jornal de esquerda e ligado aos “Democratas de Esquerda”, é um jornal equilibrado, preparado por bons profissionais e enriquecido com excelentes editorialistas. Como nota curiosa, acrescento que já lá tenho lido alguns artigos do nosso Dr. Mário Soares.
Alda M. Maia
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