domingo, janeiro 25, 2009

OS PREDADORES

Crise, a palavra dominante neste princípio de ano e fins de 2008. Sê-lo-á ainda por muito tempo: não sabemos se este tempo deve ser calculado em meses ou anos.

Existe uma grande crise económica e financeira, porque a avidez, o cinismo e falta de escrúpulos dos “predadores” da finança manifestaram-se em todo o seu grande esplendor.
Enriqueçamo-nos e deitemos às ortigas a ética, a decência, a contenção da ganância, a honestidade, as regras. Foi assim que se concretizou a interpretação do liberalismo, desalfandegado dos empecilhos de uma política responsável.

Milton Friedman e colegas da Escola de Chicago, embora prémios Nobel de Economia, demonstraram um irrealismo desconcertante. Poder-se-ia mesmo dizer que foram estupidamente ingénuos, quanto à sofreguidão humana em relação ao dinheiro ou aos ganhos fáceis.

O mercado livre jamais seria auto-regularizador. Tornar-se-ia numa selva de “predadores” vorazes; e foi o que aconteceu. Qualquer pessoa de bom senso o teria previsto. Aqueles génios não o previram.

Teixeira dos Santos, o nosso Ministro das Finanças, asseriu que se trata de uma “crise sem precedentes”.
Sem precedentes no que concerne a mundialização (globalização é vocábulo que começo a detestar); não, certamente, quanto a causas e efeitos. Neste aspecto, não se desvia muito da crise de 1929.

No número dos culpados, não podemos incluir somente os corsários da finança, mas também a Política. Esta ajoelhou aos pés da economia de mercado, abdicando da sua função de vigiar e regularizar.
Muitos políticos, agora, não se cansam de proclamar a sacralidade destas funções, destes princípios: mas não deveriam ter pensado antes? Por onde andava a grande política ou os grandes políticos?
A primeira já de há muito que brilha por demorada ausência; os segundos extinguiram-se. Aguardemos uma nova geração e contentemo-nos, por agora, com a mediocridade reinante.

****

Palacetes prestigiosos amovidos de bancos e sociedades cotadas na Bolsa; operações com testas-de-ferro; mais-valias milionárias. (…) Um vorticoso rodopio de negócios com desenvoltos conflitos de interesses.

(…) Como protagonistas, temos: managers, banqueiros, grandes empresários, políticos, homens das instituições. Todos empenhados a trocar edifícios, palacetes - aos melhores preços, obviamente - subtraídos do património de sociedades cotadas na Bolsa com milhares de pequenos accionistas ou da carteira de fundos imobiliários.
Fácil quando se joga em casa. Fácil quando o especulador de turno se encontra na encruzilhada de grandes negócios e não resiste à tentação de aproveitar qualquer coisa em proveito próprio.
Quanto ao dinheiro? Nenhum problema: há sempre alguém pronto a conceder crédito aos espertalhões de Itália. Para eles, os bancos estão sempre abertos.
(…) Imóveis que saltam de um proprietário a outro com valores sempre crescentes.
Em cada passagem, o vendedor mete ao bolso uma aliciante mais-valia”.
"Exemplo da sarabanda de compra e venda do mesmo edifício, em Roma, Via del Corso, n.º 287: em Setembro 2005, Gilberto Benetton compra-o por 42,4 milhões €; Em Fevereiro 2007, revende-o por 57,2 milhões.
Noutros exemplos apresentados, houve um ganho de 5 milhões, no espaço de um ano!"

Estes são extractos de um serviço investigativo jornalístico da revista italiana L’Espresso, descrevendo realidades “predatórias” da finança italiana.

Lendo-o com atenção, é impossível não inferir que os casos pormenorizadamente descritos não são um exclusivo italiano.
Não tenho dificuldade em acreditar que factos idênticos se verificaram no nosso País, assim como em qualquer outro, onde as correrias da finança, sem brida nem regras, produziram o actual desastre que a todos angustia.

Quero respigar um episódio, bem iluminante, do que é a especulação selvagem.
(…) Feitas as contas, Stefanel (empresário) comprou o património do banco de que era sócio - Banco Antonveneta, controlado por um grupo de empresários - com uma dívida: 96 milhões emprestados, em grande parte, por Areal Bank; 16 milhões do seu bolso. Deu como garantia os imóveis e rendas pagas pelo banco, do qual era sócio, que mantinha naqueles edifícios as próprias sedes.

Giuseppe Stefanel representa muitos papéis na comédia.
Em 27 de Julho 2005, entra no Conselho de Administração do banco Antonveneta. Quando em 12 de Agosto compra à General Electric um edifício, em Génova, por 9,1 milhões
(vendeu-o em Março 2008 por 14!) pagou-o com um empréstimo garantido pelas rendas do banco do qual era sócio, senhorio e grande devedor. Um tripúdio de conflito de interesses!”.

Procurei traduzir o mais claramente possível, a fim de que os não iniciados nestas matérias, como eu, pudessem compreender e apreender o quão nauseabundas são estas traficâncias.

Os dirigentes bancários e afins prestaram-se a esta orgia de lucros que eu, pobre ignorante, classifico absurdos, incríveis e, hoje, prejudiciais para o financiamento de empresas necessitadas de crédito.
Esperar-se-ia que os obrigassem a prestar contas e os submetessem a consequências óbvias: prisão ou indemnização dos danos que provocaram.
Mas dadas as conivências, não passa de utopia.

Sobreveio a derrocada, e continuará. Só me entristece que a sofrer as consequências, e apenas estes, serão os milhares (se não milhões) de pessoas que perdem e perderão o emprego.
Alda M. Maia

domingo, janeiro 18, 2009

MAS O CARDEAL PATRIARCA ERROU VERDADEIRAMENTE?

Cautela com os amores. Pensem duas vezes antes de casarem com um muçulmano. Pensem muito seriamente. É meterem-se num monte de sarilhos que nem Alá sabe onde é que acabam.

Estes conselhos foram expressos pelo Cardeal Patriarca, D. José Policarpo -"proferidas num clima informal de tertúlia”, segundo o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa.

Mas serão assim tão censuráveis e inoportunos, o que não creio?
E por que motivo não considerar que o Cardeal Patriarca de Lisboa pode ter razão?
Embora tivesse ultrapassado os confins do político ou diplomaticamente correcto, acaso foi movido por integralismos, preconceitos, discriminações da pior espécie? Ou, muito simplesmente, partiu de uma análise e da constatação do que tantas situações revelam?

Já sei que estou a remar contra a maré. Todavia, e apesar da minha aversão a discriminações, recuso integrar-me na onda das opiniões correntes sem, primeiro, usar o meu raciocínio. Sempre me neguei a aceitar, passivamente, aquilo a que chamam – inflacionando-o – o “politicamente correcto”.

Li o testemunho de vários casos de matrimónios com muçulmanos, narrados no jornal Público. Chamou-me a atenção uma nota quase comum: a conversão das senhoras ao islamismo e a semelhança das afirmações que proferiram: foi uma opção minha; ninguém me impôs a religião; ele não me pediu, eu é que quis.

Imediatamente recordei o que tantas vezes lera nos jornais italianos ou ouvira em várias reportagens televisivas: exactamente o mesmo que agora lia no Público!

Eram frequentes as adesões ao islamismo, mas sempre declarando que era por vontade própria.
Algumas passavam a usar o véu; outras, o nicab ou o burqa, (vestuários que lhes escondiam o corpo). Sempre por livre decisão: o marido nada lhes pedira ou impusera.
Observo que se trata de mulheres italianas que continuaram a viver no próprio país.

Não estou a pôr em dúvida a liberdade destas alterações do modus vivendi nem a sinceridade de tais conversões. Todos têm o inalienável direito de efectuar e concretizar escolhas.
Seja-me lícito, todavia, manifestar perplexidade por tantas coincidências nos casamentos de cristãs com muçulmanos.

D. José Policarpo aludiu a casos dramáticos. Os jornais sublinharam que os não especificou. Não era necessário. São mais frequentes do que seria desejável, sobretudo quando há divórcios, existem filhos e se deve decidir a quem os confiar.
Conciliar as leis civis ocidentais com as tradições e leis islâmicas, é problema de difícil solução. Assim, nascem dramas e angústias.

A comunidade muçulmana, na Itália, ultrapassa um milhão e duzentas mil pessoas.
Em algumas dissoluções de casamentos mistos, verificaram-se diversos casos de filhos subtraídos, traiçoeiramente, à custódia da mãe, a qual lhe fora concedida pelo tribunal. O marido levava-os para o seu país de origem, pois deveriam ser educados como bons muçulmanos.
Só com uma persistente intervenção do corpo diplomático, essas mães conseguiam reaver e rever os filhos: por vezes, após alguns anos.

Eventos deste género podem ocorrer dentro de uniões com estrangeiros de cultura e religião afins. Porém, são esporádicos.
Nos matrimónios mistos com muçulmanos, são previsíveis: factos reais conduzem a essa previsibilidade.

A condição de mulher muçulmana não é rósea – sob o ponto de vista europeu, obviamente.
A obediência da mulher é um princípio fundamental do islamismo. Deve-se obediência a Deus, ao Profeta e às autoridades” – uma destas autoridades é o marido, naturalmente!
(…) Quanto àquelas de quem temeis actos de desobediência, admoestai-as, depois deixai-as sós no próprio leito, depois batei-lhes; mas se não vos obedecerão, então não procureis pretextos para as maltratar; porque Deus e grande e sublime (Cor. 4, 34).
Podes esposar uma mulher por quatro motivos: pela sua riqueza, pela sua família, pela sua beleza, pela sua devoção. Mas procura a que possui devoção" (
traduzido de uma versão italiana).

Não creio que a comunidade islâmica portuguesa, assim como os muçulmanos moderados, interpretem à letra todos os Hadiths do Profeta, válidos nos séculos em que brotaram e se expandiram.
As sociedades progrediram, as situações existenciais são bem diversas e a flexibilidade de interpretação está ao alcance das pessoas inteligentes e de boa vontade – o que sucede, aliás, em todas as religiões.

Infelizmente, porém, há as grandes massas de ignorantes e há os santões sequiosos de poder, além dos fundamentalistas, que manipulam essa ignorância. Torna-se fácil, portanto, torná-las escravas de concepções religiosas cegas, acríticas, autoritárias e intolerantes.

O Cardeal Patriarca quis alertar para os efeitos dessas concepções.
Como se exprimiu numa "linguagem coloquial", não recorreu à diplomacia, a grande escola das frases veludosas em questões delicadas. Perdoemos-lhe essa distracção.
Alda M. Maia

domingo, janeiro 11, 2009

PLANTA INEXTIRPÁVEL

Achei divertida, e obviamente de actualidade, a crónica de Miguel Esteves Cardoso, no jornal Público de ontem.

"Porque será que os judeus, em geral, hesitam em chamar anti-semita a quem critica o Governo de Israel? Será que eles conhecem (ou se lembram de) verdadeiros anti-semitas? Que os mataram ou querem matar só por serem judeus ou israelitas? Haverá um anti-semitismo genuíno, feito de ódio racial ou religioso, que procura não tanto criticar alguns judeus, como matá-los todos e destruir Israel? Quem Sabe?
Podem ficar descansados os opositores do Governo israelita e de Israel em geral. (…) Os próprios israelitas são peritos em ofender-se uns aos outros (…). Sejam ardentemente anti-sionistas, pró-palestinianos e pró-árabes. Ninguém vai chamar-vos anti-semitas por causa disso. Só se insistirem muito. Desculpem lá o mau jeito.
Porque é fácil achar anti-semitismo do genuíno."
(…)

Transcrevi parte desta crónica, porque me ofereceu motivo para referir-me às reacções, atitudes, frases que se crêem inócuas, mas bem eloquentes, sobre o que se passa em Gaza.

Começo por acenar a um facto que se verificou em Roma.
Um sindicato de base, aderente á Confederação Comércio e Indústria, distribuiu um comunicado, protestando contra os ataques à Faixa de Gaza, no qual se aconselhava o boicote a todos os estabelecimentos comerciais pertencentes a judeus.
"Decidimos actuar um boicote das aquisições nas lojas do comércio de Roma que dizem respeito à comunidade judaica romana, (muito activa no comércio de vestuário em Roma, e não só) em sinal de protesto contra este massacre, reconhecido e condenado, e agora unanimemente, pelo inteiro panorama político internacional” – ponho fortes dúvidas na sinceridade da motivação invocada.

O lobo e o cordeiro de Esopo!
Todas as pessoas de religião hebraica, seja qual for a sua nacionalidade, obrigatoriamente devem ser responsáveis pelas acções do Estado israelita!...

Urge informar que, perante este comunicado indecente, a indignação foi geral. Autoridades, os maiores sindicatos e todas as facções políticas italianas manifestaram condenação e repúdio total.
Os autores que o difundiram quiseram fazer marcha atrás com explicações atabalhoadas, mas já era tarde para lavar a sujeira.

Não posso reprimir um duplo asco, em virtude deste facto ter-se verificado na Itália, país que promulgou as odiosas leis raciais de 1938 e, mercê dessas leis, era muito comum especificar-se que determinadas lojas eram arianas: não seria permitida a entrada de judeus.
Como é possível não ter consciência nem sentir vergonha pelo que se passou durante o regime fascista e comportar-se, agora, como se tal acontecimento histórico não lhes dissesse respeito?!

O vírus, qual planta daninha inextirpável, ficou. Todos os motivos são bons para exteriorizar o que sempre permaneceu latente.
Efectivamente, Esteves Cardoso tem razão: “é fácil achar anti-semitismo do genuíno”!

****

Segundo caso, mas na Terra Lusa.
Sempre no Jornal Público, todos os domingos, no “espaço Público”, há um artigo de Frei Bento Domingues.
Gosto de o ler, pois parece-me um religioso que sabe abordar os diversos assuntos com uma mentalidade muito moderna e aberta.

Na semana passada, aludindo a Obama, escreveu: (…) Foram, sem dúvida, os menos poderosos que o elegeram. Serão, no entanto, os mais poderosos que, em nome das virtualidades da economia de mercado e do seu dinamismo, desviarão a atenção de Obama dos mais pobres das Américas, da África e da Palestina. Israel já fez o suficiente para mostrar que, mesmo com o fariseu Madoff na cadeia, os EUA devem continuar com fé em Israel, mesmo depois de todos os crimes contra a humanidade”. (o sublinhado a negrito é meu)

Já expressei a minha pouca simpatia por quem só considera as razões de uma parte. Paralelamente, sou defensora irredutível do respeito pela liberdade de expressão.

O que já não me merece o mínimo respeito é quando essa liberdade de expressão destila conceitos ou insinuações que me repugnam.
Mais repugnantes ainda, quando procedem de uma pessoa que julgamos bem formada: quer moral, quer intelectualmente.

Explico-me melhor.
É normal e correcto que Frei Bento Domingues exprima as suas convicções e simpatias. Já não é aceitável que exteriorize observações como as que sublinhei.

Madoff é cidadão americano. Ora, é como um normal cidadão que deve ser julgado e condenado pelas burlas que praticou.
Segundo Frei Bento Domingues, porém, visto que é de origem judaica, as suas vigarices devem, fatalmente, estar ligadas a todas as iniciativas dos dirigentes do Estado de Israel; logo, é triplamente execrável: judeu, vigarista, correligionário dos sionistas.

Na eventualidade de eu ter interpretado mal, advém uma pergunta: que entra o caso Madoff com a Palestina?
Se isto não é verdadeiro anti-semitismo, como o poderemos classificar?

Frei Bento Domingues deveria rever, com honestidade, a origem e história da praga do anti-semitismo. Ser-lhe-ia impossível evitar de pôr a Igreja, a que pertence, no banco de principal imputado. Sendo assim, e por uma questão de bom senso, talvez refreasse certas pulsões atávicas.

****

A ONG americana, Human Rigts Watch, denuncia a explosão de projécteis de fósforo branco em Gaza. Oxalá que essa loucura não corresponda à verdade!
Alda M. Maia

domingo, janeiro 04, 2009

QUE FAZER, QUANDO DIALOGAR É UM ACTO IMPOSSÍVEL?

Há dias telefonou-me um velho amigo, o "Judeu Errante", que se diverte a espicaçar os papagaios do partido preso, sobre o eterno conflito israelo-paestiniano, exprimindo comentários, on line, no jornal Público.

Comentários muito pertinentes, pois nem outra coisa esperaria de uma pessoa altamente inteligente e culta qual é o "Judeu Errante" que eu conheço.
O que não acertou foi na Sónia, de Famalicão, que defendia a causa de Israel. Como aqui em Famalicão “sou a única pró Israel” – assim me classificou aquele menino - tinha de ser mesmo eu.
Tive de negar quatro vezes que não, senhor, não sou essa Sónia: nunca escrevi comentários no site do Público nem de qualquer outro jornal; se os escrevesse, jamais usaria um pseudónimo.
Já que falamos disto, gostaria de conhecer a verdadeira Sónia!

E agora, enfrentemos o assunto seriamente
Eu sou pró Israel e sou pró palestinianos. E como palestinianos entendo o povo da Palestina: a população que serve de joguete, de vítima predestinada para que um islamismo fundamentalista encontre justificação.

No Estatuto do Hamas são bem explícitos dois credos indiscutíveis e irrenunciáveis: a eliminação de Israel e do seu povo; a sacralidade da terra da Palestina, “confiada às gerações do Islão até ao Dia do Juízo”.

Artigo 7: (…) O Movimento de Resistência Islâmico (Hamas) sempre procurou corresponder às promessas de Alá sem perguntar quanto tempo seria necessário. O Profeta declarou: o último dia não chegará enquanto todos os muçulmanos não combaterão contra os judeus e os matarão; até quando os judeus se devam esconder atrás de uma pedra ou de uma árvore e a pedra ou a árvore dirão: ó muçulmano, ó servo de Alá, um judeu esconde-se atrás de mim: vem e mata-o. (…)

Artigo 13: “As iniciativas de paz, as chamadas soluções pacíficas, as conferências internacionais para resolver o problema palestiniano contradizem todas as convicções do Movimento de Resistência Islâmico. Ceder qualquer parte da Palestina equivale a ceder uma parte da religião (…)

(…)“Não há solução para o problema palestiniano, excepto a Jihad. Quanto às iniciativas e conferências internacionais, são perdas de tempo e brincadeiras de crianças”. (…)

Perante estas doutrinas estatutárias e fundamentalistas muçulmanas; perante a convicção de país acossado, Israel, o qual entende que somente com represálias da sua força militar se resolverá o grave problema da própria segurança, como se chegará, um dia, a estabelecer um clima de entendimento e alcançar a suspirada paz?

****
.
Israel atacou a faixa de Gaza e, ontem, invadiu-a via terra.
Não sei em que atoleiro se foi meter. Não quero pensar no sofrimento dos habitantes daquele território: demasiado angustiante!

As várias opiniões insistem na desproporção do número de vítimas: na Faixa de Gaza são infinitamente superiores às perdas israelitas (estas pelo lançamento diário de rockets).
Em Israel estão tão habituados à certeza de serem rodeados de inimigos que souberam, desde sempre, criar refúgios e outras medidas de segurança.
Acaso o Hamas se preocupou de fazer o mesmo com a população de Gaza? Escolheu, como primeira medida, não a expor aos ataques do odiado sionista?
Pelo contrário, quantos mais civis deixarem morrer, mais ódios disseminarão e mais se embriagarão com a loucura de procurar o martírio. É só isto o que pretendem. A violência serve-lhes de alucinante. Não concebem a existência sem essa droga: uma droga bem alimentada pelos exaltados, mesquinhos e ignorantes religiosos que dominam o Irão.

Insiste-se também na desproporção da reacção de Israel.
Tanto se pica o touro que não seria previsível uma reacção do tipo enxota-moscas.
Se lhe declararam guerra sem tréguas, que se poderia esperar? Não cabe muito na filosofia hebraica oferecer a outra face. Ofereceu-a durante séculos; a Shoah encarregou-se de gravar-lhe na alma o “nunca mais”.
Serão exagerados, mas não meçamos aquelas realidades com o metro ocidental.

Os “cruzados” europeus nunca se cansaram de enviar milhões de euros para ajuda da população palestiniana e espero que jamais interrompam essa ajuda – a partir de hoje, mais necessária que nunca!
Que têm recebido em troca daqueles que se proclamam defensores do povo da Palestina? Hostilidade, rancor e atentados. Será possível compreender esta gente?

Acima, chamei papagaios aos bem-pensantes em sentido único. Nunca simpatizei com as pessoas que se recusam a observar os factos nas suas diversas facetas, nas suas opostas razões.
Certamente que nesse empenho de observação entra o factor simpatia. Porém, também é sempre aconselhável considerar que a razão nunca pertence inteiramente a uma das partes.

Se os simpatizantes absolutos, e somente da causa Palestina, defendessem com empenho e sinceridade a Autoridade Palestiniana, votando a um completo desprezo os métodos do Hamas e quejandos, quero acreditar que o processo de paz trilharia caminhos mais directos e justos, embora demorados e com alguns espinhos.

Jamais distribuiriam álibis e encorajamentos a concepções tão aberrantes como as que aqueles fanáticos violentos difundem e põem em prática.
Nazir Rayan, um dos mais importantes dirigentes do Hamas e vítima do ataque aéreo israelita, imolara o próprio filho numa missão suicida contra civis. Não há razão, por mais sacrossanta que se apresente, que possa justificar uma tal barbaridade.
Igualmente, não há razão para que, num mundo civilizado, se conceda apoio, em manifestações partidárias, a semelhantes distorções da mente humana.

Consideremos, além disso, que deixaria de haver motivos para represálias. Demais, Israel compreenderia melhor que os colonatos em território palestiniano foi um grande erro e tremendamente injusto.

Oxalá que esta seja a última guerra e aqueles dois povos vizinhos iniciem um sério diálogo. É um sonho que exprimi na semana passada. Confiemos nos sonhos.
Alda M. Maia