segunda-feira, agosto 27, 2012

SÓ AGORA ACONSELHAM
A MODERAR AS PALAVRAS?

Nesta crise do euro, alguns comentadores citaram a teia de Penélope. Penso que seja uma imagem acertada, pois encaixa perfeitamente no que observamos dia após dia.

A declarações de responsáveis - construtivas e claras sobre as medidas que urge pôr em acção, especificando bem quais são essas medidas - imediatamente surgem declarações opostas, eivadas de arrogância e intransigências, que as neutralizam. Normalmente, provenientes da Alemanha, Holanda e Finlândia: não é temerário supor que essas declarações de rejeição obedecem a uma imediação calculada.

Várias vezes aludi à minha antipatia por generalizações e opiniões indiscriminadas. Porém, no que concerne o comportamento e reacções de uma boa parte da imprensa e política alemães ante a crise do euro, sinto enorme dificuldade em compreender e aceitar a hostilidade e, digamo-lo, a desumanidade que revelam. A Grécia é o melhor exemplo.
Os sucessivos governos gregos tiveram culpas, obviamente, mas nada justifica o menosprezo como, actualmente, este país é tratado. Por outro lado, se observarmos a arrogância e autoritarismos do presidente do Banco Central alemão, torna-se difícil encontrar justificações para tanta soberba.

Existem representantes de altos cargos institucionais, cujas declarações assumem um enorme peso, que procuram dar o justo valor à expressão «União Europeia». Insistem na coesão dos 17 países da zona euro e que estes se devem esforçar por manter a moeda comum ao abrigo de ataques dos especuladores financeiros. No entanto, algumas destas personagens, em sequentes entrevistas que poderiam evitar, acrescentam dúvidas, indicam “possibilidades técnicas” que seriam desastrosas, enfim, os sins e os mas alternam-se, e a tela esfiapa-se. Mas por que não pesam as palavras ou evitam declarações que semeiam tempestades? Se não é má-fé, e penso que o não seja, onde está o bom senso destas pessoas?

A apologia do rigor, mas um rigor sem alma, equilíbrio e bom senso, é verdadeiramente o fruto de uma sã intenção? Não acredito.
Concordo que se deva exigir responsabilidades e reformas de instituições que resultem bem estruturadas, a fim de prosseguir e manter um correcto funcionamento da administração pública e a fuga a derrapagens financeiras ruinosas. Porém, hegemonias de quem quer que seja, empunhando o ceptro da virtude e superioridade económica, mas omitindo o respeito pela dignidade dos países mais débeis, repugnam.
Nestes casos, dá-se voz a populismos, nacionalismos e arrogâncias: tendências que sempre foram deletérias e catastróficas.
É incrível que a União Europeia e o Banco Central Europeu, em quatro anos e trinta vértices, ainda não tivessem conseguido criar uma barreira protectora da moeda comum! Poder-se-á perguntar: Cui prodest?

“A Versalhes de Berlim”: este é o título de um artigo de Massimo Riva, publicado no dia 18 deste mês. Obviamente, no jornal La Repubblica, jornal que leio diariamente.
Transcrevo algumas partes deste artigo. Será exagerado? Para o bem da Europa, oxalá que sim.

É a terceira ou quarta vez, em pouco menos de um século, que a Europa é constrangida a repropor-se a mesma e ameaçadora interrogação: que fazer com a Alemanha? Nas primeiras vezes cometeram-se erros políticos letais que abriram as portas a enormes tragédias. Mas também hoje, apresenta-se particularmente elevado o perigo que o velho continente se encaminhe para uma vereda grávida de riscos fatais com consequências talvez menos cruentas, mas não menos dramáticas. […]

Nos parágrafos seguintes, o jornalista resume o que foram os erros do Tratado de Versalhes, as consequências que levaram ao Nazismo e à Segunda Guerra Mundial.

Quando chegou o final das ruínas humanas e materiais daquele conflito, na América alguém pensou repropor o esquema de Versalhes, mas numa versão mais audaz. Felizmente, em vez do Plano Morgenthau (que pretendia uma Alemanha dedicada apenas à agricultura e pastoreio), dos Estados Unidos chegou o plano Marshall. Projecto que consentiu a toda a Europa (incluindo a Alemanha Ocidental) de aviar aquele renascimento económico célere que abriu à Europa uma longa era de crescente prosperidade, no silêncio das armas. De tal forma que permitiu aos Estados europeus pôr em marcha um projecto complexo de união económica e política que, após a suspirada reunificação das duas Alemanhas, atingiu um primeiro objectivo tangível: a moeda única à qual aderem 17 países.

Morto e sepultado, portanto, o funesto espírito de Versalhes? Pelo contrário, infelizmente. As tensões que se abriram nos mercados financeiros à volta do euro repropõem, em termos cada vez mais visíveis, o regresso de uma Europa dos vencidos e dos vencedores e na qual, a lição dos erros do passado parece não ter deixado qualquer vestígio. Porém, com uma novidade perturbante que inverte as posições tradicionais: desta vez, o comando das sanções passou das mãos europeias para as dos alemães.

É Berlim que dita aos outros países uma espécie de «lex germânica» fundada nos extraordinários favores que a moeda única ofereceu à economia alemã. Hoje, esta última pode permitir-se uma política comercial agressiva, em virtude de dois factores: primeiro, goza de um câmbio marcadamente subavaliado, devido à debilidade dos outros sócios do euro; segundo, é avantajada por um custo do dinheiro que se tornou irrisório, em virtude dos ataques dos mercenários da especulação contra os países frágeis da eurozona.

Uma visão alta das próprias responsabilidades na Europa deveria conduzir o Governo alemão a compensar estes privilégios com uma significativa expansão de procura interna. Mas, como em Munique em 1938, ninguém, até hoje, encontrou a coragem de avançar, com força, esta solicitação. Por conseguinte, tudo na mesma.
Berlim quer que sejam os outros países em dificuldade a suportar o peso integral do ajuste dos desequilíbrios. Numa espécie de Versalhes às avessas, desta vez é a Alemanha a impor «reparações» de uma onerosidade inaudita.
Já puseram a Grécia de joelhos, arriscam de o fazer amanhã com a Espanha e – que os deuses o não permitam – depois de amanhã com a Itália. Com resultados que – sem necessidade de incomodar de novo Keynes – fazem racionalmente temer alarmantes instabilidades socioeconómicas. Em seguida, políticas nos países sujeitos a esta terapia unilateral segundo o modelo, portanto, do que aconteceu à própria Alemanha nos anos vinte do século assado.

De um vértice europeu a outro, com o «intermezzo» de um Tribunal Constitucional alemão elevado a juiz supremo da Europa, está-se a escorregar para uma situação na qual a política imposta por Berlim – invertendo Von Clausewitz – cada dia se assemelha mais a uma guerra com outros meios.
Max escrevia que, quando se repetem, as tragédias da história tornam-se farsas. Será verdadeiro para os historiadores, mas para quem vive a tragédia é sempre uma tragédia.
Se não querem repetir a récita imbele dos Daladier e dos Chamberlain em Munique, compete aos líderes do resto da Europa impedir que a Alemanha, uma vez mais, faça mal a si mesma e aos outros” 

segunda-feira, agosto 20, 2012

HISTÓRIAS DE ANIMAIS

E como estamos no mês de gosto, mês de férias por excelência, deixemos os assuntos que reputamos sérios, não cansemos o cérebro a revolvê-los e demos atenção, por exemplo, a histórias lindas sobre animais. Se bem que…

O abandono de animais atinge o ápice neste período. Parte-se em vilegiatura e os animais, que até à data eram seres de “estimação”, transmutam-se em estorvo. Fazem-no entrar no automóvel que conduz os proprietários para um período de férias, percorre-se uma distância que seja bem afastada de casa, abra-se a porta de viatura e expulsa-se o pobre animal.

Tive ocasião de presenciar uma crueldade deste género. Não tivemos tempo de o recolher e salvá-lo.
Ao ser expulso, desorientou-se, correu desesperadamente atrás dos malvados que o tinham renegado, surgiu um outro automóvel e atropelou-o mortalmente. Fiquei agoniada! Se até então detestava esse tipo de gente, desde esse episódio fiquei a odiá-la.

Mas viremos página e falemos então dessas histórias lindas e curiosas.
No Jornal italiano La Stampa, jornal de referência publicado em Turim, há uma rubrica dedicada a toda a espécie de animais. Intitula-se “La Zampa” (A Pata). Publica informações, notícias, histórias e casos muito interessantes.

Vou contar os dois últimos que li. Um comoveu-me: a história da cadelinha Laica. O outro divertiu-me: o caso do gato Oreste (sem s final).

A Laica tem cinco anos e é uma mestiça de cão pastor. De há anos, tem uma pata ferida, consequências do coice de um jumento.
No dia 9 deste mês, quinta-feira, Laica acompanhou a patroa no seu passeio diário, a Sra. Alessandra Doglietto, a qual passava férias numa localidade alpina. Caminhava à frente, mas, repentinamente, desapareceu.

Ao longo da vereda que percorriam, abre-se uma garganta profunda 15 metros, muito estreita e da qual não se vê o fundo. Após muitas buscas, a senhora pensou que a cadelinha tivesse caído dentro daquele precipício. Pediu informações. Explicaram-lhe que não era possível, mas se efectivamente isso tivesse acontecido, já nada poderia salvar o infeliz animal.
Não aceitou o inevitável e, todos os dias, subia a vereda e, nas margens do despenhadeiro, chamava instantemente pela Laica, mas sem nunca obter resposta.

Persistiu e, na segunda-feira sucessiva, à tarde, acompanhada por um pastor que sabia como conviver com os animais, este aconselhou-a a chamar a Laica com doçura, como se quisesse dar-lhe qualquer alimento: “Com certeza o seu cão pensa ter errado e teme ser repreendido”.
O conselho foi precioso. A Laica respondeu com um latido.

Tinham passado cinco dias e cinco noites! Do musgo das rochas corria um fio de água e talvez este facto lhe tivesse salvado a vida
Intervieram os voluntários do socorro alpino da localidade, Ceresole Reale, e extraíram-na do precipício. A comoção foi geral, quando viram a Laica, sã e salva, a surgir das profundezas. Não era para menos. Imaginemos então a alegria da Sra. Alessandra Doglietto! E bem a merecia.

*****

Contemos agora o que aconteceu ao gato Oreste. Na cidade de Treviso, este gatinho foi atropelado por um automóvel e ficou gravemente ferido. Durante oito meses permaneceu internado e tratado pelo veterinário. Findo o internamento, foi enviada uma factura de 4.000€ à proprietária. A senhora não pôde pagar.

Passadas algumas semanas, o veterinário entregou Oreste a uma jovem que, comovida com o que se passava, saldou a conta e levou o gatinho para casa.
Mas o diabo meteu aqui a cauda: esta jovem era vizinha da legítima dona do gato, porém, não se conheciam.
Oreste, reconhecendo a antiga patroa, e vice-versa, procurava as suas carícias. Balbúrdia no condomínio entre a nova e a verdadeira proprietária do gato, feliz de o reencontrar.  
Alarmados pelos berros das duas senhoras, embora compreendendo a situação, os vizinhos chamaram a polícia.

Depois de acalmar os ânimos, os agentes conseguiram um compromisso entre as duas rivais: o gatinho viveria com a jovem, mas com a obrigação de permitir os afagos da primeira proprietária. Mais salomónico do que isto!... 

segunda-feira, agosto 13, 2012

ALELUIA! DESCOBRIU-SE A GRAMÁTICA

No quarto parágrafo da Introdução de “Metas Curriculares do Ensino de Português” - do 1.º ano ao 9.º - lê-se o seguinte: Foram globalmente respeitados os domínios existentes (Oralidade, Leitura, Escrita e Conhecimento Explícito da Língua, agora denominado Gramática) e foi acrescentado um outro, relativo à Educação Literária.

Este “Conhecimento Explícito da Língua, agora denominado gramática” deixou-me desorientada.
Agora denominado gramática?! Falta de clareza no enunciado ou quererá significar algo que a minha humílima preparação não atinge?
In illo tempore, que português nos ensinaram, então, na escola primária e no liceu? O que era aquilo a que sempre deram o nome de gramática… e de há séculos?

Vejamos o significado de gramática aplicada ao ensino. 
A gramática é uma disciplina que tem por objecto o conhecimento sistemático das regras que governam o funcionamento de uma língua. […] Em sentido mais corrente e popular, a gramática é a arte de falar e de escrever sem erros. […] Esta que acabámos de descrever é, propriamente, a gramática normativa.

Continuando nesta linha de ideias, passo a um outro assunto com o qual nunca estive de acordo.
Só gostaria de saber quem foram os iluminados que elegeram o português que se fala em Lisboa como “língua padrão ou norma padrão”!
Esclareço que não tenho a mínima antipatia pelos falares lisboetas, mas sempre me ensinaram que a língua padrão era a que se falava em Coimbra. Efectivamente, naquela região, por exemplo, respeitam-se os ditongos, além da pronúncia natural que a caracteriza e que se aproxima muito de uma boa dicção.
A este ponto, será pertinente interrogarmo-nos: faz sentido uma norma padrão em Portugal? Para que servem as gramáticas?

Há dias, e repetidamente, a jornalista Constança Cunha e Sá usou o vocábulo desvio, pronunciando-o “desviu”. É pena que aquela Senhora, a qual se dirige a todo o país, não recorde o que são ditongos crescentes e a sua correcta pronúncia.
É também lamentável que tantos ilustríssimos personagens lisboetas, e não só, continuem a atropelar a palavra “período”, pronunciando-a “periúdo”. Mais típico ainda, nesta língua padrão, o assassínio sistemático dos ditongos: caxa, baxa, Lôres, etc., etc., em vez de caixa, baixa e Loures. E se foram habituados a pronunciar Avairo e primairo, em vez de Aveiro e primeiro, é uma característica local, mas que a não imponham.
Como estas, quantas outras formas regionais, aceitabilíssimas, sem dúvida, mas longe do que devemos entender como um “português padrão”! Ou patrão?

Mas há mais. Detesto o uso e abuso, quase imposto, do tratamento “Vocês”. Muito corrente na Capital; agora, em todo o país.
Certamente que esta contracção de “vossas mercês” (vostra mercede) pertence ao nosso léxico, porém, vulgarizou-se e desceu a linguagem coloquial: não me parece que apresente traços de delicadeza e elegância, isto é, um registo cuidado.
Mas o que verdadeiramente me escandalizou foi a advertência, lida em duas gramáticas actuais (referi-me a este facto num texto precedente), que o pronome da segunda pessoa do plural, vós, já não se usa (a língua padrão assim comanda), portanto, deve ser substituído por vocês. Efectivamente, no léxico televisivo, o “vocês” impera e não conhece alternativas.

Que destino estará reservado para as formas verbais da segunda pessoa do plural? Deitamo-las ao lixo? Que ventos de loucura varreram a inteligência de uma certa parte - minoria, mas, pelos vistos, influente - dos meus compatriotas? Preciosismos mal assimilados ou parvoíces despachadas por modernidades?

Numa sala de aulas – ensino básico e secundário - qual será a forma mais gentil e gramaticalmente mais aconselhável de o professor se dirigir aos seus alunos: usando o tratamento vocês ou o clássico e sempre correcto “vós”? Eu escolho o segundo, pois nunca deixei de ver no primeiro uma roupagem grosseira.
Não me parece que isto seja uma evolução, mas uma espécie de abandalhamento da língua: a senhorilidade e gentileza, na forma como nos dirigimos aos interlocutores, desapareceram, foram canceladas.
Com qual justificação se mutilam formas gramaticais que nos ensinam a falar e escrever correcta e harmoniosamente? Por qual estúpida razão devemos banir o “vós”?

Imperdoável esquecimento da minha parte! Estamos na era da "fonio-mania". Os iluminados, acima referidos, entenderam que se deveria criar também a ulissipofonia e impô-la ao resto do país. Está em nós aceitá-la ou não.

É curioso que parti com o intento de escrever sobre a lista dos textos literários propostos nas novas metas para o ensino de português. Bastaram algumas frases da introdução para me desviar dos meus propósitos e divagar por tantas realidades que me desagradam. Mas acontece.

segunda-feira, agosto 06, 2012

“SÓ SEI QUE NADA SEI”

À celebérrima frase socrática, “só sei que nada sei”, ajuntemos o que disse o famoso poeta inglês, Percy B. Shelley: “Quanto mais estudamos, mais descobrimos a nossa ignorância”.
Tropeçamos nestas verdades a cada momento. São fáceis de reconhecer, se tivermos a inteligência necessária e aquela percentagem indispensável de modéstia que deveríamos cultivar diariamente.

Vem isto a propósito da minha falta de paciência perante os que pretendem impor as próprias razões, assim como os que não aceitam contestações a obras e iniciativas de que são responsáveis, sobretudo quando estas são discutíveis e desprovidas de bases sólidas que as sustentem.
E quantos casos destes se nos deparam!

Neste momento estou a recordar a “Declaração de Amor à Língua Portuguesa” da escritora Teolinda Gersão. Foi publicada no jornal Público, no dia 02 de Julho 2012, (salvo erro), mas já a tinha lido um mês antes no sítio que visito regularmente: //ilcao.cedilha.net.

É um texto interessante, oportuno, objectivo e divertidíssimo. Aconselho a leitura a quem ainda o não conhece, pois é fácil encontrá-lo na Internet. Por minha conta, já passei cópias a várias pessoas amigas, e todas aplaudiram.

Logo a seguir, no dia seis de Julho, o mesmo jornal publicou uma réplica de Maria Helena Mira Mateus: “A Propósito de um Texto de Teolinda Gersão”.
Quanto azedume, quanta agressividade… e quanta falta de estilo e elegância!
A Sra. Professora jubilada da Faculdade de Letras de Lisboa, M. Helena M. Mateus, não gostou, achando ofensivo o que Teolinda Gersão escrevera, alegando que era de péssimo gosto: “o artigo tem tanto de errado como de ridículo”; que revelava amplo desconhecimento do que é o Programa de Português do Ensino Básico.

Este programa pode conter planos muito bem articulados, mas no que concerne a prática do ensino gramatical, só têm apresentado disparates e adoptado nomenclaturas – as famosas TLEBS - que semeiam confusões em quem ensina e em quem deve aprender. Todavia, a Dra. Mira Mateus evitou argumentos susceptíveis de contrastar estas anomalias. Apenas aludiu à possibilidade de erros nos “manuais de que se servem os professores”: erros ou sugestões de certos linguistas?

Por que razão a Dra. M. Helena Mateus não se referiu aos exemplos que Teolinda Gersão enumerou abundantemente? Por que não quis explicar o motivo por que, nas gramáticas hodiernas, existe o disparate do sujeito nulo onde o não é, e a que aludiu Teolinda Gersão?

Tive ocasião de verificar esse disparate no teste de uma aluna do 7.º ano, Bárbara, a quem ajudo a esclarecer as suas dúvidas.
Os pais da Joana foram para as termas. Permaneceram lá duas semanas”. O sujeito de “Permaneceram lá duas semanas” é nulo.
Nulo?!! Apontei-lhe o significado da palavra nulo; expliquei-lhe o que significa sujeito implícito, subentendido, indefinido e quando o sujeito é verdadeiramente nulo.
Divertiu-me a resposta muito rápida da Bárbara: “Pois claro que isto não tem jeito nenhum!”.

A ilustre Professora jubilada da Faculdade de Letras de Lisboa ocupou duas colunas do jornal apenas para repetir-se, numa defesa prolixa, empolada e, digamos, atabalhoada do ensino do Português actual. Porém, nada esclareceu; atacou somente.
É co-autora de uma gramática (“Gramática da Língua Portuguesa”; Caminho, Colecção Universitária, série Linguística), desenvolvendo os Capítulos n.º 1, 3, 25, 26.1, 26.2: O tempo e o espaço da língua portuguesa; Dialectos e variedades do português; Fonologia; A sílaba; O acento.

Considerando que todas estas matérias explicam como nasceu e evoluiu, fonológica e lexicalmente, o português e nas quais, obviamente, a Dra. Helena Mateus é profunda conhecedora, encontra-se imensa dificuldade em justificá-la como defensora de um ensino abstruso da nossa língua e, paralelamente, apologista de um desastrado e insultuoso Acordo Ortográfico. Não me merece, portanto, a mínima credibilidade.

No dia 13/07/2012, conheceu-se a resposta de Teolinda Gersão. Sempre no jornal Público, respondeu-lhe apropriadamente, apenas numa coluna: “Carta Aberta a Maria Helena”.
Efectivamente, não necessitou de escrever muito, pois foi clara, sucinta, directa. Sem eufemismos, denunciou-a como uma dos responsáveis do estado a que chegou o ensino de português e pela “passagem do ensino do português no secundário a ensino de linguística”… quando, frequentemente, desconhecem as mais elementares regras da gramática!

Vivemos há décadas no enorme equívoco de que «os linguistas é que sabem, por isso o poder é deles». (O que te deve parecer tão óbvio que nem dás conta da imensa arrogância do teu artigo). Mas é altura de o país – se assim o quiser - dizer basta. A língua não é propriedade dos linguistas. O ensino da língua também não.”