domingo, maio 22, 2005

A SAGA DOS SOBREIROS

Tomando conhecimento das informações que jorravam em catadupa, quer através da TV, quer nos jornais; lendo os vários editoriais sobre o caso do abate de sobreiros, fica-se com a impressão que certas empresas agem como autênticas aves de rapina sobre o território nacional. Nenhuma sensibilidade pelo ambiente; absoluta ausência de respeito pelas regras que o defendem.

A amoralidade do homem político, quando se verifica, evidentemente que se torna execrável. Não consigo encontrar qualquer atenuante para os ministros Costa Neves, Telmo Correia e Nobre Guedes. Paralelamente, também não encontro qualquer tolerabilidade para a falta de civismo do Grupo Espírito Santo, sejam quais forem as justificações económicas que possam aduzir – o G. Espírito Santo ou outros grupos semelhantes.

Raramente são de utilidade pública, por esse país fora, os vários empreendimentos turísticos. Úteis, sim, mas para os especuladores.

Se investem capitais no mundo da construção civil, por que não dirigem esses interesses, por exemplo, para a reabilitação dos prédios em ruínas, nos centros das cidades de Lisboa e Porto, cujo espectáculo é confrangedor?

Mas não é por aí que os lucros chovem nem é por aí que as leis podem ser contornadas… ou o tal tráfico de influências pode entrar em movimento!
Alda Maia

segunda-feira, maio 09, 2005

O POLÍTICO ÚTIL AO PAÍS… ISTO É, O GRANDE HOMEM DE ESTADO

Este título vem a propósito de um artigo que li na revista italiano “L’ESPRESSO”. Escreveu-o Giampaolo Pansa que pergunta: “ Existe um De Gasperi que salve a Itália?”
Também ele – G. Pansa – apreciou o filme sobre De Gasperi e acerca do qual escrevi no precedente “post”.

Partindo dessa interrogação, construiu o “identikit” do político ideal, capaz de elevar-se às altas craveiras de um grande homem de estado.
Certamente que se referia a um italiano que represente a perfeita antítese de Berlusconi. Todavia, algumas virtudes que enumerou adaptam-se ao mundo político de qualquer país.

Respigo as menos directas ao primeiro-ministro italiano, resumindo-as. Vejamos.

1 - Deve ser um homem (ou mulher) em plena maturidade e que possa apresentar uma história e experiência bem claras - na política e em outros sectores. Conheça os defeitos dos seus compatriotas, mas não os considere irremediáveis. Obviamente, deve ser uma figura íntegra.
No que concerne os políticos que administram a casa lusitana – e é relativamente a esses que escrevo - estou a pensar se, efectivamente, têm procurado conhecer o cidadão português, o meio onde vive e o que espera do Estado. Conhecerão mesmo? Duvido. E duvido porque ainda ouço muita retórica à volta de programas anunciados sem ir ao cerne dos problemas diários – de norte a sul.

2 – Possuir a capacidade de saber usar a palavra com modo inteligente. Bastará que saiba explicar, uma vez por mês e com uma franqueza honesta, o que o seu governo faz. Que esteja preparado, duas vezes por ano, a enfrentar um debate televisivo com o presidente da oposição.
Não é má ideia. Bem sei que existe a Assembleia da República, mas é nos debates televisivos – e aqui, sim: fala-se para o País inteiro e não para iniciados – que o povo tomará conhecimento mais directo de como procede a governação.

3 – Deve ser austero na escolha dos colaboradores habituais. Queira-os super-inteligentes, ma de estilo sóbrio e absolutamente alheios à tentação de aparecer. Considere um pecado mortal o hábito de premiar parentescos políticos.
E aqui é que a porquinha torce o rabo! Estendo este conceito, não somente aos colaboradores, como a quaisquer cargos executivos.
Nas próximas autárquicas, por exemplo, temos a certeza que se escolheu a pessoa justa, inteligente, honesta e com a experiência devida? Não é só limitando os mandatos; acima de tudo privilegie-se a integridade na pessoa que será eleita.
Como Governadores Civis, o PS, nesta legislatura, escolheu sempre figuras de prestígio? Nos cargos de assessores e quejandos, não se andou a premiar compadres? Não se procedeu à distribuição de tachos a quem já usufrui de outras regalias, quando tantos licenciados lutam com falta de emprego? Muito mais haveria que dizer, mas fiquemo-nos por aqui.

4 - Cada dia que passe, terá obrigação de recordar-se que ganhou em nome de uma parte, mas deve governar por conta de todos, especialmente dos mais débeis. Governar no interesse exclusivo do país e não dos próprios dividendos políticos e, pior ainda, pessoais.
Sem comentários.

5 – Dizer sempre a verdade ao país, mesmo quando é uma verdade desagradável e indigesta. Se pensa que nos espera um período de “lágrimas e sangue”, não hesitar em anunciá-lo – “o médico piedoso mata o doente”.
Saber dizer não, muitos nãos e, quando necessário, usar de severidade a custo de ser impopular. Nunca agir, pensando em ser-se reeleito. Contentar-se em durar uma legislatura e fazer desses anos um tempo de bom governo. Depois, “quem viverá, verá.”
Também sem comentários.
Alda Maia







domingo, maio 01, 2005

ALCIDE DE GASPERI
SÍLVIO BERLUSCONI

A semana passada vi, na RAI, um filme que gostaria fosse adquirido pela nossa TV: «Alcide De Gasperi – O homem da esperança».
Filme em dois episódios e muito fiel à biografia do grande estadista.

Embora já tivesse lido muito acerca deste grande político italiano (e escrevo “grande”, porque o foi, efectivamente), a interpretação do actor que o personificou foi excelente, comoveu e apresentou-me um homem que, praticamente, desconhecia.
Não tendo sido De Gasperi uma figura que empolgou as massas, reviver a sua dignidade e estatura política, a sua firmeza e moderação naquele dificílimo período do pós-guerra, que lição de civismo, de grandeza política, de humildade!

Quando cheguei a Itália em 1962, considerava-me uma autêntica “analfabeta política”: ideias de democracia bastante confusas; uma ignorância crassa de como funcionasse. Sei apenas que sentia uma enorme rebelião dentro de mim; que me irritava profundamente quando ouvia os discursos dos iluminados salazaristas; que por muito tempo, a palavra pátria se me tornou odiosa, tanto nos intoxicaram, nesses tempos, com vocábulos que esvaziaram de sentido.

Do Brasil chegavam-me revistas com páginas e páginas todas negras: visado pela comissão de censura – eis o que se via escrito no fundo da página. Nós, comuns cidadãos portugueses, éramos tratados como minorados intelectuais ou, então, atrasados mentais.
Assim, na Itália, quando pude ler o que muito bem me apetecesse, com que voracidade me lancei na leitura das mais diversas publicações!

Pude conhecer a acção de excelentes políticos. Quero recordar Ugo La Malfa, secretário do partido republicano (PRI). Enquanto foi vivo, sempre votei o seu partido. E votei-o, porque aquele homem, dada a sua estatura moral e ideias políticas, inspirava-me confiança plena. Mas, como ele, havia muitos outros.

E agora, falemos de Berlusconi.

Actualmente, a degradação da classe política, parece-me que é universal. Personalidades medíocres com ideias que se aproximam muito pouco dos interesses dos próprios países. Ou então, mediocremente preparados para resolverem os graves problemas do mundo.

Acerca de Berlusconi, pergunto-me frequentemente: como é possível que, num país cuja democracia está bem consolidada, uma personagem negativa, como Sílvio Berlusconi, adquira tantos votos?!
Como é possível que semelhante extra-terrestre da política tivesse obtido a posição que ocupa na política italiana, com um conflito de interesses desmedido, e ninguém encontrou um travão constitucional a parar-lhe a marcha da ocupação do poder?!

Muito mais haveria para escrever sobre este tema, mas fico-me por aqui… por hoje.
Queria somente acrescentar: o filho de Ugo La Malfa – Giorgio La Malfa – é ministro do governo de Berlusconi! Certamente que o pai não merecia esta derrapagem do filho.
Alda Maia