segunda-feira, março 26, 2012

E SE FALÁSSEMOS DE CORRUPÇÃO?

Corrupção e “questão moral”. A podridão na vida pública e o antídoto.
A expressão “ questão moral” ganhou vulto e popularidade numa entrevista do fundador do jornal La Repubblica, Eugénio Scalfari, ao secretário do “Partido Comunista Italiano”, Enrico Berlinguer, em Julho de 1981.

“Os Partidos já não fazem política. Hoje, os partidos são, sobretudo, máquinas do poder e de clientela: escasso, ou conhecimento mistificado, da vida e dos problemas da sociedade, das gentes; programas, poucos e vagos; ideias, ideais, sentimentos e paixões civis, zero.
Gerem os mais diversos interesses, os mais contraditórios, por vezes equívocos, mas sem alguma relação com as exigências e as necessidades humanas emergentes; ou então, distorcendo-os, sem procurar o bem comum.”

E hoje, 2012, será tudo muito diferente de 1981? Mas que pergunta!...

Esta entrevista ficou nos anais dos documentos importantes que explicam uma época. Imprimi-a e conservei-a, porque, independentemente da sua colocação política, é o testemunho de um homem sincero e de elevada estatura moral.

Nos primeiros anos de 1990, houve a famosa operação judicial “Mãos limpas” que pôs a descoberto uma corrupção promovida a sistema normal, entre o poder económico e as instituições públicas. Ficou conhecida na linguagem jornalística como “tangentopoli” - cuja tradução poderá ser “subornópoles”. Deu origem a um verdadeiro terramoto político e à dissolução do maior partido italiano, a “Democracia Cristã”.

Berlusconi aproveitou o vazio e instalou-se na política. Tinha que defender os seus interesses… e como defendeu!
Passadas duas décadas, o fenómeno corrupção explodiu de novo. Nestas últimas semanas, é raro o dia em que não surjam novos casos de administradores públicos investigados, se não incriminados.

A Região que mais se tem evidenciado é a Lombardia. O maior número de corruptos aninha-se no que foi a coligação de direita do Governo precedente: PDL e Liga Norte. O centro-esquerda, porém, também dá o seu contributo para esta praga.
É triste recordar que Milão foi etiquetada como capital moral da Itália. Ao que chegou!

Na lista dos países mais corruptos da União Europeia – classificação de “Transparency International” de 2011 - Portugal é o 11.º com 6,1 de pontuação, a qual vai de 0 a 10, onde 10 é o valor máximo concedido aos países impolutos. A Itália ocupa o 4.º lugar negativo, com 3,9.

Relativamente a Portugal, há quem minimize a importância desta nossa posição no índice europeu, considerando a nota positiva que nos cabe na avaliação de 183 países, em todos os Continentes: o 33.º lugar.
A mim, porém, não agrada absolutamente nada. Virmos depois da Grécia, Itália e países da Europa oriental; ficarmos atrás da Espanha, Chipre, Estónia e por aí adiante, não me causa nenhuma alegria. Rejubilaria se visse Portugal próximo do Luxemburgo, ou seja, na vigésima posição.

Mas a erva daninha também medra no nosso território e os danos ao correcto andamento da nossa administração pública, assim como aos investimentos numa economia sã e competitiva, são fáceis de prever.
Ninguém procura arrancá-la com determinação e a “questão moral” serve apenas para uso e consumo da retórica. Como bem sabemos, dá oportunidade aos moralistas hipócritas que, frequentemente, são os piores prevaricadores, mas sempre prontos a autoproclamarem-se leais servidores do Estado.

Sendo então servidores conscienciosos do Estado, por que não lançam uma campanha séria e pertinaz contra a corrupção, servindo-se de todos os meios legais apropriados? Por que não se exige maior transparência em todas as administrações, sobretudo locais, onde tantas anomalias (chamemo-las anomalias!...) se verificam?

Por que não combatem, sistematicamente, a evasão fiscal, quando é claríssimo que, onde todos pagam, todos pagam menos contribuições?
Quem evade o fisco, sobretudo as grandes evasões, caminha de mãos dadas com os corruptos.

É impressionante o dano que a corrupção causa à economia da União Europeia! Avaliam-no em cerca de 120 mil milhões de euros por ano.
E no nosso País, qual será a média?

Olho com profunda desconfiança e antipatia o descarado conúbio da política com os poderes económicos. Vejo com desdém quem transita da política para altos cargos em empresas privadas ou públicas e vice-versa. È gente que não merece respeito.

Embora nada tenha que ver com o fenómeno corrupção, cito o caso de o economista António Borges acumular o cargo público de supervisor das privatizações e o lugar de dirigente do Pingo Doce.
O Governo asseriu que não é incompatível. Ninguém põe em dúvida a seriedade de António Borges, mas esta mistura do público com o privado só demonstra escassez de ética. Este Senhor não sabe o que é o culto da decência, já que os governos, nisso, demonstram absoluta insensibilidade?

domingo, março 18, 2012

E HOJE, FALEMOS DE PÁTRIA

Houve tempos em que este vocábulo, pátria - do latim patria(m), subentendido terra(m), derivado de patrius, “paterno” - me provocava uma sensação semelhante ao estridor de unhas que arranham vidros; ecoava-me como um som quase insuportável.
O motivo deste desagrado? A intoxicação a que nos submeteram, quando jovens, pelo uso asfixiante e instrumental que dele fizeram.
Em nome da retórica ditatorial daquela época, banalizaram-no, esventrando-o do lindo e poético sentido que, no seu amplo e verdadeiro significado, esta palavra é capaz de sugerir.

Só nos anos sessenta do século passado, quando pude assimilar o que é a democracia, vivendo-a, consegui rever e remover, imparcial e totalmente, os conceitos altissonantes, mas vazios, que nos inculcaram e contra os quais nunca nos fora permitido adquirir informações que os demolissem.
Recordo que me chegavam do Brasil algumas revistas com páginas inteiramente negras, onde apenas se lia, no fundo, o fatídico: “visado pela comissão de censura”.

Com o desenrolar dos tempos, sobretudo nos países democráticos, parece que caiu uma espécie de anátema sobre este vocábulo que simboliza a “terra dos pais”. Aliás, tornou-se de moda chamar patrioteiro mesmo a quem demonstre um amor normal pelas coisas da terra onde se nasceu. Será o caso de “o gato escaldado da água fria tem medo”? Também pode ser pedantice de quem não viveu esses anos de ditadura.

Por que razão me veio tudo isto à lembrança? Reli um texto que conhecia de há longos anos. Quando o li pela primeira vez, certamente que não lhe prestei a devida atenção. Mais tarde, com as ideias claras e depuradas do lixo a que me refiro nos primeiros parágrafos, acho-o belíssimo. Ei-lo.

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A PÁTRIA
De Alexandre Herculano (1810 – 1877)

A língua e a religião são as duas cadeias de bronze que unem, no correr dos tempos, as gerações passadas às presentes; e estes laços, que se prolongam através das eras, são a pátria.

A pátria não é a terra, não é o bosque, o rio, o vale, a montanha, a árvore, a bonina; são-na os afectos que esses objectos nos recordam na história da vida; é a oração ensinada a balbuciar por nossa mãe, a língua em que pela primeira vez ela nos disse: Meu filho!

A pátria é o crucifixo com que nosso pai se abraçou moribundo, e com que nos abraçaremos também, antes de ir dormir o grande sono, ao pé de quem nos gerou, no cemitério da mesma aldeia em que ele e nós nascemos.

A pátria é o complexo de famílias enlaçadas entre si pelas recordações, pelas crenças, e até pelo sangue. Tomai, de feito, as duas delas que vos parecem mais estranhas, colocadas nas províncias mais opostas de um país; examinai as relações de parentesco de uma com outra família, quais as destas com uma terceira, e assim por diante.
Dessa primeira, que tão estranha vos pareceu, à última, achareis um fio enredado sim, talvez inextricável, mas sem solução de continuidade.

Uma nação não é só metaforicamente uma grande família, é-o também no rigor da palavra. A oração, que consolou nossos avós e nos consola no dia da amargura, o gesto, com que imploramos a Providência, é mais veemente, quando nos foi transmitido por aqueles que pedem por nós a Deus.

É por esse meio que os homens apertam mais os laços invisíveis que os unem aos seus maiores; porque o sentimento misterioso da família, e portanto da nacionalidade, se purifica e fortalece quando se prende no céu”.

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Porque o sentimento misterioso da família, e portanto da nacionalidade, se purifica e fortalece quando se prende no céu”.
A desgraça é quando desce á terra e, no que concerne a nacionalidade, se amolda a retóricas manipuladoras.

Na União dos 27 países europeus democráticos - ou que, taxativamente, devem ser democráticos – hoje, demarca-se a Hungria que democrática não é. De novo assistimos á corrupção do predestinado termo pátria e, o que é triste, com o apoio de uma forte maioria, furtam-se liberdades sacrossantas. Quão fácil, sempre oportuna e capciosa é esta manipulação!

E a União Europeia que faz? Excessivamente concentrada nas dívidas soberanas e défices orçamentais dos Estados-membros, não lhe sobra tempo nem imaginação para se ocupar, com vigor, destas ninharias!...

segunda-feira, março 12, 2012

PARTAMOS DA PALAVRA SAUDADE

Não sei e é defeito nosso, que não sabemos ou nunca nos esforçámos por dar a conhecer quem é, o que é e quantos séculos conta este Velho País, mas é desconsolante verificarmos que existe uma profunda ignorância a nosso respeito. E limitemo-nos aos países europeus.

Recordo que, em Turim, uma senhora perguntou-me se em Portugal se falava francês. Outras pessoas, tomando conhecimento da minha origem, logo esclareciam que também tinham alguns conhecimentos de espanhol. A minha resposta era instantânea: Desculpe, mas eu falo a língua portuguesa.

Não fiquei surpreendida, portanto, quando li num jornal italiano, de alguns anos atrás, que o termo saudade era uma palavra brasileira e que só no Brasil podia ter nascido este lindo vocábulo.
Não me surpreendi, mas fiquei de certo modo irritada: não somente com esta rapina ao idioma que daqui se expandiu e é comum a vários países, como também com o índice de ignorância, imperdoável num falante de uma língua co-irmã da nossa.

Nestes últimos dias, pus-me a folhear uma das preciosas heranças paternos, fruto de buscas e descobertas nos alfarrabistas do Porto: “Nova Selecta Portugueza”, colligida, annotada por João M. Moreira e João M. Corrêa, professores do Lyceu Central do Porto; 5.ª edição correcta – 1902. Nas notas explicativas, deparei com o vocábulo saudoso. Transcrevo, respeitando a grafia, o que explicaram sobre esta palavra.

Saudoso: que tem ou causa saudade, ou lembrança dolorosa, desejo de um bem, de logar, de pessoa que está ausente. A palavra saudade vem do latim solitas, atis, que deu em portuguez soledade, soedade, suydade, saudade […] O primeiro que definiu saudade foi D. Duarte no “Leal Conselheiro”, pág. 151, onde se lê: “Suydade propriamente he sentido (sentimento) que o coraçom filha por se achar partido (apartado, separado) de presença de alguma pessoa ou pessoas que muito por affeiçom ama”, etc. O coração apartado, separado é o que está só, solus, e d’aqui solitas, atis, saudade.

Por uma curiosa associação de ideias, a suydade de D. Duarte e a “saudade brasileira” vieram-me à lembrança, lendo o artigo de Vasco Teixeira, administrador e director do Grupo Porto Editora, na edição do “Público” de sábado passado: “No meio da ponte entre o Brasil e África”.

Tudo continua a girar à volta do desastrado acordo ortográfico, com o qual “In Portogallo si parlerà brasiliano” – assim escreveram num importante jornal italiano.
Vasco Teixeira lamenta que Portugal tivesse adoptado o acordo “sem garantir o acompanhamento de Angola e Moçambique”.

Na minha opinião, não se tratou apenas de uma omissão, mas de ofender aqueles dois países, quando se foi “a reboque de uma eventual harmonização ortográfica com o Brasil” (palavras de Vasco Teixeira), descurando a importância e dignidade a que Angola e Moçambique têm direito e, aliás, onde se fala um excelente português europeu.

O administrador da Porto Editora usou certas expressões que me deixam perplexa. Acerca da importância da língua portuguesa, escreve: “Infelizmente, tendemos a esquecermo-nos da sua efectiva importância económica. […] Dossier (acordo ortográfico) que foi, como se sabe, liderado pelo Brasil”.

Não havia dúvidas sobre essa liderança nem da pouca dignidade dos nossos “comerciantes das palavras”. Mas, pior do que isso, foi a impreparação cultural e económica desses falsos curadores dos nossos interesses.
Penso seja isto o que o director da Porto Editora denuncia, embora com uma certa ambiguidade.

Continua: “Hoje, as principais editoras, com a Porto Editora à cabeça, têm nos maiores países africanos lusófonos importantes investimentos …”
[…] Não deixa de ser curioso que dependamos dos bons ofícios diplomáticos de Portugal e, em particular, do Brasil para convencer Angola e Moçambique a adoptar o acordo ortográfico e assim preservarmos um património

Preservar um património?! A qual património se refere o Sr. Vasco Teixeira? O tal português que vai a reboque da ortografia brasileira ou o verdadeiro património que caracteriza o português que falamos e que é acarinhado e respeitado em Angola e Moçambique?
Não deveria ser este o património mais natural, legítimo e, já que se alude ao aspecto económico, mais profícuo e digno de ser curado com atenção e interesse pelas nossas editoras, tradutores, etc., etc.? Por qual razão foi menosprezada esta afinidade com os PALOP? Em benefício de quem? Em nome de quais interesses se fala?

Não acha aviltante, no que concerne convencer Angola e Moçambique, devamos, também aqui, “andar a reboque do Brasil” e que, para cúmulo do absurdo, isso implica o abastardamento do nosso património linguístico?
Seja bem claro que nada me move contra o Brasil. Cultiva os seus interesses e muito legitimamente. O que não aceito é este diminuir-se em nome de uma falsa uniformidade, de uma globalização que tudo quer explicar e de mirabolantes interesses económicos. Mas a nossa dignidade, onde a colocaram?
Não confundam dignidade com patrioteirismos, se disso são capazes.

Entre o português do Brasil, de Portugal, de Angola, Moçambique, Cabo Verde e os demais, a compreensão é perfeita, total.
A unificação que se impõe, da qual pouco ou nada se fala e ouso dizer única, situa-se na terminologia: científica, artística, tecnológica, informática. Quanto ao resto, deixem-se de argumentos tão estúpidos quão falaciosos ou mercenários. Haja vergonha e bom senso!

domingo, março 04, 2012

INVESTIR NA CULTURA COMPENSA

Nos últimos meses do governo Berlusconi, o seu ministro de Economia e Finanças, Giulio Tremonti, num Conselho de ministros, vendo-se assediado pelos colegas de Governo, a fim de conceder mais financiamentos à justiça, escola, ambiente e cultura, respondeu com uma frase que ecoou em todo o país: “A gente não come cultura”.
Os jornais apresentaram-na em várias versões: “a cultura não dá de comer; a cultura não se come; com a cultura não se come” - Tremonti negou tê-la proferido, mas não passou de um frouxo desmentido que não convenceu ninguém.

Seja qual for a versão literal, todas exprimem o mesmo conceito, isto é, não percamos tempo com financiamentos a bens culturais e apoios ao desenvolvimento da cultura, em todas as suas formas, pois é uma espécie de luxo que não concorre para o desenvolvimento económico e financeiro do país; são “despesas improdutivas”.
Seriamente?!

Por certo que esse conceito verifica-se com frequência, mas apenas naquele grande grupo de ignorantes que um malfadado destino encaminha para a administração da coisa pública e que existem em todas as latitudes.

Corta aqui, corta ali; espreme aqui, espreme acolá; aumenta-se os impostos a quem sempre pagou - do combate, sério e persistente, a quem os evade, ninguém ouve falar. Estas e similares são as normas sem imaginação de quem é forçado a equilibrar as contas públicas. Pensemos no nosso país.

Bem sabemos que algumas destas medidas são inevitáveis, pois a crise que estrangula o presente impõe-nas. Todavia, parece que os cérebros de quem as deve aplicar ficam bloqueados, seguem apenas o caminho mais fácil, demonstrando incapacidade para alargar, criar e contemplar iniciativas ou ideias que também abarquem o futuro. E esta tacanhez leva-os a cortes em instituições que deveriam merecer grande atenção, isto é, a cultura e todo o seu mundo de largos horizontes.

Ninguém deve ignorar, tal a evidência, que o futuro e prosperidade de um país dependem da educação e cultura dos seus habitantes.
E também nunca é de mais acentuar que o período fundamental, a fim de que essa instrução ganhe bases sólidas, situa-se nos primeiros anos do ensino básico.
É isso o que acontece em Portugal? Esforçamo-nos atentamente para que o ensino elementar seja ministrado com rigor, eficácia e competência? Tenho muitas dúvidas, salvo as devidas excepções.

Pelo que pude avaliar no ensino de português, conheci e conheço alunos que já frequentam o ensino secundário e que não sabem distinguir uma oração coordenada de uma subordinada; que não têm a mínima noção do que é uma conjunção e a sua função na frase, etc., etc., etc.
O ensino da gramática, nas suas bases imprescindíveis, parece que se tornou obsoleto. Sendo assim, a pergunta torna-se obrigatória: como se pode pretender que o aluno escreva correctamente e saiba interpretar o que lê?

Bem, mas em compensação, esses mesmos alunos dissertam sobre os "actos da fala ou linguístico" O que é, por exemplo, um acto ilocutório assertivo, directivo, compromissivo, expressivo, declarativo.
Sabem o que é a holonímia e meronímia, hiperónimos e hipónimos… e por aí adiante.

Conhecimentos justos que não se põem em discussão. Porém, ao conjugar um verbo de tema a, no presente do conjuntivo / 2.ª pessoa plural, corre-se o risco de ouvirmos: “espero que vocês comeis”. Ah! É bom relembrar que o pronome pessoal vós é proibido – e cai-se na dupla asneira!
Não se usa em Lisboa e estes provincianos do resto de Portugal devem adaptar-se. A colonização linguística está em marcha… para quem se deixa colonizar, obviamente.
E assim acontece no ensino e na prática da nossa língua, o nosso português de Portugal, a matriz das outras variedades da língua portuguesa!

Mas continuemos no tema do qual me afastei. Ao contrário do que afirmou o Dr. Tremonti, a cultura dá de comer. A cultura proporciona postos de trabalho. É através da cultura científica, humanística e artística que se inova, se explora, se progride e se cria um mundo altamente civilizado.

Para finalizar, recordo um serviço jornalístico (de Federico Rampini) sobre a Coreia do Sul. Quanto invejei aquele país! A superfície do seu território é quase igual à nossa; número de habitantes é quatro vezes superior. Rendimento per capite, 31.700 dólares; taxa de desemprego, 3,4%.

Os colossos industriais sul-coreanos – aliás, bem conhecidos - distinguem-se pelo financiamento incondicionado às inovações.
Um dirigente da Samsung declarou que “o mercado enfrenta-se, apostando nos talentos; salva-se quem sabe inovar e temos isso no ADN”.

Não é só no campo industrial que a Coreia do Sul faz maravilhas, mas também na ciência médica e nas tecnologias biogenéticas.
Soube ultrapassar duas crises: a do sudoeste asiático de 1997 e a que proveio da América, em 2008.

Indicam-na como um exemplo que a Europa deveria seguir: mais despesa pública; mais investimento; mais consumos privados; favorecer as start-up (as novas pequenas empresas); uma dívida pública baixa; desvalorização até 30%.
A este ponto, Ângela Merkel desmaiaria com os berros da Bundesbank!

O que me impressiona, todavia, é a causa que explica todo este sucesso tecnológico e científico: o investimento na instrução.
Tem raízes antigas. Numa pequena cidade a 160 km de Seul, existem onze institutos de estudos confucianos que “transmitem os valores fundamentais de Confúcio: a instrução; a harmonia das comunidades (o sentido cívico); o respeito pelos anciãos; a lealdade para com o Estado”.