segunda-feira, abril 24, 2017

SEJAM DIGNOS DE APLAUSOS OS JORNALISTAS  CORAJOSOS 

Gabriele Del Grande - Jornalista
   
Embora sem alongar-me em apreciações fáceis de intuir, apenas quero registar a solidariedade que me merece um jornalista italiano, Gabriele Del Grande, 35 anos, vive em Milão.

Este jornalista é um estudioso dos fluxos de migrantes que se verificam no Mediterrâneo. Está a escrever um livro sobre os refugiados sírios para o qual procura notícias e todo o género de material que o enriqueçam. 
"Fundador do blogue "Fortress Europe", recolhe e cataloga todos os eventos atinentes às mortes e naufrágios dos migrantes africanos no Mediterrâneo, tentando chegar a Itália".

No dia sete chegou à Turquia e, imediatamente, se dirigiu para uma zona de fronteira com a Síria.
No dia nove foi detido pela polícia turca e submetido a um cerrado interrogatório. Retiraram-lhe todos os seus haveres e, durante dez dias, mantiveram-no em isolamento.Logo, sem qualquer direito a um advogado ou de entrar em contacto com o cônsul de Itália. Entrou em greve da fome.

Perante as insistências das autoridades italianas e de instituições internacionais, hoje foi libertado. 
Foi recebido com a máxima alegria pelos seus familiares e grande satisfação daquelas instituições, nacionais e internacionais, que foram incansáveis para a obtenção deste resultado.

"Fui vítima de uma violência institucional. O que me sucedeu é ilegal: um jornalista privo da liberdade enquanto desenvolve um trabalho num país amigo. (...) Ainda não compreendi por que me detiveram. Quero afirmar que não me trataram mal e ninguém me faltou ao respeito. Fui detido por agentes em burguês". 

Acabou a odisseia do jornalistas Gabriel Del Grande. E agora, pergunta-se: era necessário que um país que não podemos considerar "democracia das bananas" (ou podemos?) tivesse descido a estas manobras de mísera e velhaca administração da segurança social?
Resposta fácil: quando as aspirações totalitárias, e Erdogan é um bom exemplo, pretendem instalar as garras do poder, o "atrevimento jornalístico" é o primeiro perigo a combater. E o facto está explicado.  

segunda-feira, abril 17, 2017

PÁSCOA 2017: O QUE NOS SUGERE?

Data variável para a celebração da Santa Páscoa, mas sempre de 22 de Março a 25 de Abril. Já sabemos que é a “celebração da Igreja Cristã em homenagem à Ressurreição de Cristo”. O que sugere? Paz e serenidade, e não se trata de lugar-comum.
Logo, a quem, casual ou pacientemente me ler, desejo que tenha passado um fim-de-semana pascoal muito sereno e com alegria.

Alegria, sempre. Em fim de contas, “tristezas não pagam dívidas” nem resolvem qualquer problema que nos atenaze. Fixemo-nos naquilo que aquieta os nossos ânimos, pois “la vita è bela”. Isto é, a vida será bela se a não estragamos com pessimismos e passos desacertados, porque se assim for, tudo o resto que nos possa atormentar já não depende das nossas forças ou iniciativas.

E a propósito de me ler ou não ler, recordei a data deste blogue: Janeiro 2005 a Abril 2017. Treze anos. Data fatídica, mas não sou nem nunca fui supersticiosa e os treze contar-se-ão somente até ao dia 31 de Dezembro próximo.
A satisfação de aqui exprimir, mal ou bem, as minhas opiniões e transcrever o que mais me vai impressionando neste mundo onde vivemos, é sempre igual e sempre impulsiva.
A satisfação, por exemplo, de poder citar e desapreciar, a uma distância relativamente segura, o rapazote do penteado à capacete e que se crê grande dirigente da Coreia do Norte. Na minha humílima opinião, assemelha-se a um títere nas mãos de militaristas bem doutrinados pelos regimes do avô e pai do Sr. Kim Jong-un. Um títere, no entanto, dotado de espírito cruel. E se não queremos exagerar, apelidemo-lo títere a quem embotaram, totalmente, a sensibilidade.

Ninguém crê que este ditador por encomenda familiar tenha a competência, estro administrativo e a sabedoria necessárias para conduzir com equilíbrio e sensatez um país com armamentos atómicos. E é nisto que vejo o maior perigo na arrogância ostentada pela Coreia do Norte.
 Se isto não bastasse, existe um outro incompetente num grande país com maiores poderes, mas cuja falta de idoneidade também semeia inquietação.

O norte-coreano, Kim Jong-un, quer mostrar ao mundo, exibindo-as solenemente, as suas armas duplamente perigosas; e são-no, precisamente por estarem em mãos tão precárias de equilíbrio.
O norte-americano, Donald Trump, deseja reafirmar a potência dos Estados Unidos que não permite provocações.

O primeiro desencadearia um acto beligerante, usando as malditas armas atómicas; o segundo reagiria. Como? Com maior sentido de responsabilidade, embora drasticamente, ou imitando um desatinado a quem concederam o poder?
E se assim é, deve o mundo assistir impotente às manobras calamitosas de dois desequilibrados? Que Deus lhes dê juízo, se bem que, existem instituições nos Estados Unidos que põem travão a destemperos do seu presidente.
Por sua vez, a China, qual mentor do norte-coreano, saberá incutir-lhe moderação e ponderação. 
E assim seja, hoje e sempre, para a tranquilidade mundial. 

segunda-feira, abril 10, 2017

INIMIGOS DO QUE PRETENDEM DEFENDER

Exactamente: é o que sempre penso sobre os malfadados terroristas. Semeiam mortes e destruição em nome do culto que professam, autonomeando-se defensores de um Deus que nunca souberam interpretar no livro sagrado em que se inspiram ou dizem inspirar-se. Sendo assim, glorificam ou insultam esse Deus que, segundo declaram, tão fortemente os motiva?

Acredito que haja imãs ou mesmo os muftis (os doutores da lei do Corão) que inculquem procedimentos extremistas como única forma de servir a divindade. Sobram os exemplos de terroristas que se vangloriam do prémio pós-morte que lhes é reservado.
Mas também acredito que na grande maioria das mesquitas, aliás, como em qualquer outro templo religioso, vigore o equilíbrio, a seriedade, a sinceridade e o bom senso.

E como não duvido desta realidade, pergunto: por que motivo a comunidade muçulmana não é a primeira a rebelar-se, proclamando em voz bem audível e mundialmente, a sua repulsa contra correligionários, ou quem por eles, que os representam deste modo violento e, digamo-lo, malvado e cruel? Devemos sempre, e somente, contar vítimas inocentes, no meio das quais nem as crianças são excluídas; uma excelente razão para os expelir do credo que exibem.

Observando friamente certas reacções, dir-se-ia que, em certas comunidades, provocam aquilo a que chamaríamos aclamação pelo acto em causa. Será verdade? No ataque terrorista na América de 11 Setembro 2001, em alguns países islâmicos houve quem dançasse de alegria. Não os entendi.

Não se apercebem que estes actos de terrorismo, nos países ocidentais, podem retorcer-se contra a comunidade islâmica? Que, frequentemente, existe a tendência para a generalização e pagam os justos pelo pecador?

É possível que muitos autores destes dramas procedam, sobretudo, por motivos pessoais. É credível que não devam ser casos raros. Ademais, não faltarão imitadores dos actos terroristas mais comuns, talvez pelo simples motivo de passar à história. A percentagem de imbecis maldosos, distribuída por todas as camadas sociais, é sempre alta, infelizmente.

No atentado de Estocolmo, no passado dia 07 deste mês, o homem que a polícia sueca deteve como principal suspeito, de 39 anos e originário de Uzbequistão, a polícia descobriu que é pai de 4 filhos e simpatizante do Estado islâmico. Em 2014 pedira autorização de residência, mas foi-lhe negada em 2016 e devia ser expulso.

Foi detido por “homicídio com carácter terrorífico”. Surgiu-me uma dúvida: embora simpatizante do famigerado Estado Islâmico, não teria agido mais por uma vingança pessoal, dada a recusa da autorização de residência, apoiando-se nas motivações religiosas? Tudo pode caber, dentro do entendimento de espertalhões.

No Egipto, e aqui, sim, entra o fundamentalismo delituoso islâmico. È Domingo de Ramos e os doutrinados do terror cometeram um duplo atentado a igrejas cristãs coptas. Duas finalidades: provocar o maior número de vítimas; destruir templos cristãos.

Segundo as informações, o primeiro atentado foi a uma igreja na cidade de Tanta a norte do Cairo, no delta do Nilo.
Na igreja estavam cerca de 2 000 pessoas que assistiam à missa de Ramos. A explosão verificou-se nas primeiras filas, na proximidade do altar. Houve 25 vítimas e 40 feridos.

O segundo atentado verificou-se em Alexandria, a “capital” da igreja copta egípcia. A explosão foi por mão de um camicase que se fez explodir diante do portão da igreja de S. Marcos. O patriarca da igreja copta, Tawadros II, estava dentro do templo a celebrar a missa. O ministro da Saúde egípcio acena a 11 mortos e 35 feridos.

Os atentados foram reivindicados pelo ISIS, apelidado como os piores bárbaros do século XXI. Não é uma classificação banal, pois reúnem todas as piores acepções que aquele termo exprime.
Já é mais que tempo pôr fim a aberrações que não podem ter cabimento em qualquer parte do mundo civilizado. E insisto: agradar-me-ia ver a comunidade islâmica a elaborar as melhores medidas neste sentido.  

segunda-feira, abril 03, 2017

PRECEITOS RELIGIOSOS OU TRADIÇÕES?

A história é invulgar. Circulou nas páginas dos jornais e foi narrado na TV com todos os pormenores.
Passa-se na cidade de Bolonha e descreve o que aconteceu a uma jovem estudante de 14 anos, de religião muçulmana, oriunda do Bangladeche, residente em Itália há já alguns anos.

Excelente aluna, a jovem integrou-se perfeitamente na civilização ocidental. Desejava comportar-se como todas as suas coetâneas e colegas de estudo. Os pais, todavia, obedientes ao que entendiam como um imprescindível preceito religioso, impunham-lhe o uso constante do véu (Hijabe) que lhe cobria os cabelos e pescoço.

Usava-o em casa, forçosamente. Apenas saía para a escola e quando já se encontrava longe da vista dos pais, imediatamente tirava o véu e metia-o na bolsa.
A mãe foi informada sobre este “comportamento herético” da filha e aplicou-lhe o castigo que entendeu como medida mais drástica: rapou-lhe o cabelo.
Sem cabelos, forçosamente devia utilizar o fatídico véu.

No instituto que frequenta, quando viu a professora, começou a chorar e desabafou: “Ajudai-me! Não me reconheço detrás daquela echarpe. Não quero estar mais com a minha família. Pressionam-me continuamente e dizem que não sou uma boa filha. Mandai-me para outra família”.

Nada lhe era permitido: não confraternizar com amigas e conhecidos, telemóvel proibido, não falar com rapazes, enfim, tantas outras inibições que a sua vida era, praticamente, uma prisão. A frequência escolar, no entanto,  é o seu motivo de vida e com bons resultados. 
As professoras com quem falou vêem-na assustada, mas firme nas suas atitudes.
Entretanto, a directora do instituto, informada sobre a angústia da jovem, informou as autoridades – os carabineiros. Estes examinarão minuciosamente a questão. De igual modo, ocupar-se-ão a procuradoria dos menores e os serviços sociais. 
Como última notícia, a jovem e duas irmãs foram retiradas da família e transferidas para um instituto de segurança. 

A comunidade islâmica de Bolonha desvia-se deste comportamento dos pais da jovem. O coordenador desta comunidade, Yassim Lafram, explica:
Não há nada de religioso no gesto da mãe que rapou a cabeça à filha. Para a tradição islâmica, qualquer forma de imposição invalida o acto. Todas as prescrições do Islão, desde o jejum do Ramadão à peregrinação a Meca, fazem parte de uma escolha livre da pessoa: ninguém pode impô-las, religiosamente falando.
Neste caso, então, estamos fora do religioso: é um facto que deve ser enquadrado num código cultural particular e errado”.
E acrescentou:
”É necessário ajudar os familiares, mesmo a própria mãe a compreender o que a levou àquele gesto. O Islão prescreve que se deve preservar a dignidade das pessoas e não de humilhá-las.
Como muçulmano, tenho o dever de educar os meus filhos a um bom comportamento; tenho o dever de orientá-los, mas não tenho o dever de os obrigar. Quando atingem a puberdade, podem decidir de já não continuar nas tradições da família”.

Falou o bem senso e penso que nada mais se pode acrescentar. Bem, alguma coisa ainda se pode escrever. Aquela mãe não será fanática por determinação própria. Apenas continua a pôr em prática certos fundamentalismos religiosos e tradicionais que lhe foram inculcados desde a infância, alheando-se da integração no novo ambiente onde costumes e leis são diversos.