sábado, setembro 24, 2005

QUE PAÍS É ESTE?

Um post do Prof. Vital Moreira, de 20/09/2005, terminava com uma exclamação: “Que país, este!” Eu pergunto-me: que país é este?

Não quero cansar os dedos a escrever palavras sobre o carnavalesco regresso de Fátima Felgueiras. Parece-me que não conseguiria dar forma, em poucas frases, ao turbilhão de opiniões negativas. Aliás, os factos foram tão claramente exibidos que tecer comentários nada acrescentaria a este caso aviltante para a coisa pública.
A minha repugnância perante o comportamento dos meios de comunicação, sobre essa, sim, quero exprimir-me.

Que país é este onde os canais oficiais da TV portuguesa deram, e dão, uma cobertura e um sensacionalismo à telenovela da Sra. Fátima Felgueiras fora de toda a decência, bom gosto e responsabilidade?!
Que género de seriedade é a dos responsáveis dos telejornais, quando dão oportunidade a um simpatizante dessa senhora para que indique como e em quem se deve votar?!

Que país é este onde a justiça sai tão esfarrapada – direi mesmo humilhada, espezinhada – e as leis mais não são que conceitos abstractos ou opções?!
Como se pode compreender o teor do despacho de libertação de F. Felgueiras?! Isto é: há dois anos não se pôde executar o mandado de prisão, porque a “Dra. F. Felgueiras” (indecoroso usar um termo mais próprio: arguida!...) se encontrava ausente no Brasil.
Não é que um pensamento vagabundo se foi logo poisar numa conhecida máxima: “as leis aplicam-se aos inimigos; para os amigos, interpretam-se”!!...
É mesmo vagabundo, este pensamento!...

Que país é este onde não há um jornalismo corajoso que, face às metásteses da enorme corrupção e abusos de poder, sobretudo locais, não se atreve a uma investigação séria, aprofundada, dando toda a publicidade, com factos concretos, a este cancro da nossa sociedade?

Que país é este onde existe uma promiscuidade malcheirosa entre famosos escritórios de advogados, poderes económicos, poderes do estado, ex-servidores do estado, etc., etc.?!

Que país é este…
Não continuo. São ainda tantos os aspectos deprimentes a referir que, escrever sobre eles, só me provoca uma fortíssima indignação e desencorajamento.
Este é o País onde nasci e, já por isso, gosto muito dele; esta circunstância, todavia, não me dá razão para o desculpar e justificar.
Alda Maia

sexta-feira, setembro 16, 2005

VILA NOVA DE FAMALICÃO

A que propósito o nome desta cidade serve de título? Verdadeiramente, não deveria ser o nome da cidade, mas, por exemplo, “ridicularias e indecências no exercício do governo autárquico famalicense”. Porém, como daria um título muito comprido, fiquemo-nos no que escolhi.

Vila Nova de Famalicão, cidade pertencente ao distrito de Braga, 127.567 habitantes, 101.850 eleitores (dados recolhidos do livro “A Democracia Local” do Dr. A. Cândido Oliveira)

O órgão executivo actual é formado por uma coligação PSD/CDS. Presidente da Câmara, o Sr. Armindo Costa, isto é, o Sr. Arq. Armindo Costa.

De que é que se lembraram, então, estes homenzinhos provincianotes (claro está que me refiro ao presidente e respectivos vereadores da mesma cor política) para eternizarem a sua passagem pelo município?

Com o pretexto de comemorar os 170 anos de municipalidade e uns 800 de foral, resolveram encomendar um mural de oito metros de comprimento por 2,7 de altura. Nessa superfície ficarão gravados os nomes dos primeiros autarcas de há 170 anos, os actuais, assim como o nome de todos os presidentes de juntas de freguesia, sempre e somente os actuais.

Com certeza o nome do Sr. Arquitecto deve ficar cercado por qualquer coroa de louros. Onde é que jamais se teve um presidente da câmara com tantas virtudes? Que o digam os caminhos-de-ferro, por exemplo, cujos melhoramentos locais devem-se a este executivo!... Bem se diz que o ridículo não tem limites!

Como esse mural deve ser colocado no lugar mais nobre de Famalicão, nem o super ego do Sr. Presidente poderia tolerar algo diferente, qual o local escolhido? O ponto mais central do jardim que embeleza os Paços do Concelho, jardim este que é o que de mais bonito existe na cidade.
Que importa se é um coice na harmonia de toda aquela área? O escultor que realizou a obra e ajudou a escolher o local, é verdadeiramente um artista? Duvido.

A este ponto, quero pôr de lado ironias ou sarcasmos.
Quando passo pelos jardins e vejo a armação daquele monumento à ostentação de uma vaidade tão estúpida quanto indecente; quando vejo o jardim mutilado sem que, previamente, os munícipes fossem informados das intenções de auto-incensamento, sinto-me ofendida.

Sempre admirei os cuidados e a beleza dos “Jardins da Câmara” (como usualmente lhe chamamos). Não posso tolerar arbitrariedades deste género, mesmo decididas pela maioria eleita. Democracia acima de tudo, sim, senhor, mas contrabalançada pela ética, correcção e bom senso.
Alda Maia










quinta-feira, setembro 15, 2005

DEMOCRACIA LOCAL

A Democracia Local (Aspectos Jurídicos)”: este é o título de um livro da autoria do Dr. António Cândido Oliveira.

Abri-o, pensando que se tratava apenas de um livro técnico, consultivo, útil. Efectivamente, reúne essas qualidades, mas vai muito além disso.

Já na introdução – eu, uma não iniciada – apercebi-me que o texto era cativante: uma escrita clara, acessível; uma riqueza de conteúdo desenvolvido com grande simplicidade; os diversos capítulos dispostos de uma forma que não deixava espaço ao simples esfolhear, mas solicitava uma leitura continuada.

E foi o que me aconteceu.

Não trata somente dos aspectos jurídicos, mas também históricos. Estabelece comparações com os diversos sistemas autárquicos europeus, o que achei muito interessante. No final, apresenta quadros com um panorama geral sobre os dados estatísticos dos 308 municípios portugueses (área, população, eleitores).

Livro útil e digno de ser amplamente divulgado.

Quando leio qualquer obra que absorve a minha atenção, normalmente ponho um lápis ao alcance. Acabada a leitura, as páginas apresentam-se ornamentadas com sublinhas e comentários. É a minha maneira de dialogar com um livro que me informou e captou todo o meu interesse.

A Democracia Local” informou-me de muitos aspectos sobre os quais nunca reflecti e de muitos outros que desconhecia; obviamente, não poderia ficar sem sublinhados.

Para concluir, não quero esquecer de anotar, neste post, o meu enternecimento pela dedicatória do autor: “À D. Alda Maia, minha querida professora, que gosta de pensar pela sua cabeça e toma as coisas públicas a sério, com um abraço”.
Alda Maia

PS: hoje lamento não ser lida por muitas pessoas; bem gostaria que este post fosse alvo de muitas leituras.


segunda-feira, setembro 12, 2005

ARREMEDOS DE DEMOCRACIA

Quanto se usa e abusa da palavra democracia! E quanto se esvazia este vocábulo do que verdadeiramente significa! Ou, melhor: quanto incompleta, deturpada e levianamente se exerce a prática democrática!

Amiúde – talvez por qualquer associação de ideias – recordo-me da frase que, infalivelmente, os ex-regimes comunistas, antes da queda do muro de Berlim, inseriam nos discursos solenes: “Nós, países amantes da paz.”
Palavras ocas, obviamente.

Para que democracia não me soe como uma palavra oca, sempre entendi que o exercício da democracia, a verdadeira democracia, deveria alicerçar-se num conjunto de instituições que se contrabalançam. Sempre entendi que a ética deveria ser uma parte integrante da democracia. Sempre entendi que, sem estes dois fortes esteios, a democracia serve apenas para cobrir muita indecência na administração da coisa pública.
Obtém-se a maioria, tem-se mão livre, sobretudo a nível local, para ocupar o poder e satisfazer vaidades, interesses próprios ou dos compadres. Despudoradamente! È isto democracia?

Também sempre entendi que a democracia deveria preocupar-se em informar e formar uma consciência cívica no povo que administra.

Observando o nosso País, fico desolada com a persistente falta de ética, de civismo e de empenho democrático. Esta gente sabe, conscientemente, do poder que tem com o voto na mão e da responsabilidade que lhe cabe quando decide por quem votar?

As nossas instituições, as que deveriam intervir, alguma vez pensaram num inquérito rigoroso ao que se passa na Madeira? Qual a razão de tanta condescendência e surdez?

Já algum deputado pensou em apresentar uma proposta de lei que ponha travão, com equidade, a candidaturas de personagens com problemas judiciais?
Felgueiras, Amarante, etc., nada disto sugere iniciativas no Parlamento? Mas os senhores deputados, de que se ocupam? Em diatribes académicas para justificar o ordenado?
Temos uma democracia normal ou um arremedo?
Alda Maia






domingo, setembro 04, 2005

RECANDIDATURA DE MÁRIO SOARES

As críticas tornaram-se no leitmotiv da crónica diária, quer nos jornais, quer nos blogues. Com raríssimas excepções, todos se deleitam na reprovação e quase emulação de quem exprime a pior crítica.

As observações mais insistentes centram-se na parte do discurso de Mário Soares que alude aos problemas económicos. “A economia é extremamente importante, ninguém o ignora (…) Mas a economia está ao serviço das pessoas e não as pessoas da economia”.
Mas que heresia, Dr. Mário Soares!! Como se atreve a estabelecer igualdade entre o mundo económico e financeiro com as demais actividades também próprias da Política com –p- maiúsculo?!

O melhor exemplo disto encontra-se no blogue de Pacheco Pereira - Abrupto.blogspot.com. De jacobino a indiferente ao rigor das contas públicas, Mário Soares é culpado de tudo: que "não dá importância real à economia em crise; à economia portuguesa, ao capitalismo, ao mercado tal como ele funciona"; que nas suas palavras apenas se vislumbra “ideologia, estatismo e, acima de tudo, jacobinismo”. Conclui com uma sentença sem apelo: "a nossa crise deve-se, exclusivamente, ao jacobinismo do PS e Mário Soares. O PSD só muito venialmente concorreu para este estado de coisas".
A sério, Dr. Pacheco Pereira?!!
Bem, temos de aceitar que aos convertidos liberais-liberistas não se pode exigir objectividade; redundaria em perda de tempo e desperdício de palavras. Como se sabe, os convertidos são sempre fundamentalistas.

Acerca da importância da economia de mercado e do mundo financeiro, no âmbito político, os meus pensamentos giram frequentemente à volta destas realidades. Expressá-los-ei noutro post.
Alda Maia