O PODER CORROMPE?
Esta seria uma pergunta retórica, pois bem sabemos que a corrupção é inerente ao poder. Apresentemo-la doutra forma: as pessoas honestas, entrando na esfera do poder, vêem obstáculos à continuação da própria seriedade?
A resposta é quase óbvia: é-lhes difícil manter os ouvidos surdos aos mais diversos cantos de sereia dos corruptores, disso não tenho a mínima dúvida.
Lobbies bem organizados, o amigo dos amigos, os parentes ou amigos de parentes, colaboradores, é bem previsível este género de legiões que se põem em marcha e se lançam ao ataque.
Há também outro aspecto a considerar. Ter nas mãos a prerrogativa das decisões importantes, não é raro que provoque uma espécie de embriaguez e, consequentemente, surja a síndrome do “quero, posso e mando”.
Situações destas, que em circunstâncias diferentes desencadeariam uma reacção negativa, dir-se-ia que narcotizam os tais sentimentos de integridade e apresentam estas acções incorrectas – muitas vezes ilícitas – como actos naturais. E se o não são, existe um argumento ad hoc muito corrente: “se assim fazem todos, onde está o mal?”.
Todos – não todos, mas uma grande percentagem - procedem desse modo, precisamente porque se lhes adormeceu a faculdade de reagir, a capacidade de escandalizar-se. Ora, é a perda desta capacidade a razão primeira da falta de pudor, do descaramento como a corrupção se propaga; e na mais perfeita indiferença do cidadão comum! Aliás, é dos cidadãos comuns que provêm as fileiras do exército de corruptores.
Geralmente, não é nos titulares dos cargos mais altos onde nasce a corrupção. Esta aninha-se e medra no entourage dessas personagens. A única falta que lhes podemos atribuir, o que já é muito grave, é que fecham os olhos: nada vêem, nada sabem, nada ouvem. Mas assim vai o Mundo!
Todas estas considerações são derivadas das notícias do lamaçal que os inquéritos da magistratura italiana, sobre Vitorio Emanuel de Sabóia, patentearam à opinião pública. A lista das pessoas, cujos comportamentos são de baixíssimo nível (ético e penal) , é complexa: desde secretários de ex-ministros a dirigentes ou funcionários RAI, há de tudo.
Certamente que não creio na unicidade italiana destes casos. Abramos, nós também, os nossos “vasos de pandora”: sem remoras nem subserviências; não restariam motivos para nos rirmos dos outros!
Alda M. Maia
Esta seria uma pergunta retórica, pois bem sabemos que a corrupção é inerente ao poder. Apresentemo-la doutra forma: as pessoas honestas, entrando na esfera do poder, vêem obstáculos à continuação da própria seriedade?
A resposta é quase óbvia: é-lhes difícil manter os ouvidos surdos aos mais diversos cantos de sereia dos corruptores, disso não tenho a mínima dúvida.
Lobbies bem organizados, o amigo dos amigos, os parentes ou amigos de parentes, colaboradores, é bem previsível este género de legiões que se põem em marcha e se lançam ao ataque.
Há também outro aspecto a considerar. Ter nas mãos a prerrogativa das decisões importantes, não é raro que provoque uma espécie de embriaguez e, consequentemente, surja a síndrome do “quero, posso e mando”.
Situações destas, que em circunstâncias diferentes desencadeariam uma reacção negativa, dir-se-ia que narcotizam os tais sentimentos de integridade e apresentam estas acções incorrectas – muitas vezes ilícitas – como actos naturais. E se o não são, existe um argumento ad hoc muito corrente: “se assim fazem todos, onde está o mal?”.
Todos – não todos, mas uma grande percentagem - procedem desse modo, precisamente porque se lhes adormeceu a faculdade de reagir, a capacidade de escandalizar-se. Ora, é a perda desta capacidade a razão primeira da falta de pudor, do descaramento como a corrupção se propaga; e na mais perfeita indiferença do cidadão comum! Aliás, é dos cidadãos comuns que provêm as fileiras do exército de corruptores.
Geralmente, não é nos titulares dos cargos mais altos onde nasce a corrupção. Esta aninha-se e medra no entourage dessas personagens. A única falta que lhes podemos atribuir, o que já é muito grave, é que fecham os olhos: nada vêem, nada sabem, nada ouvem. Mas assim vai o Mundo!
Todas estas considerações são derivadas das notícias do lamaçal que os inquéritos da magistratura italiana, sobre Vitorio Emanuel de Sabóia, patentearam à opinião pública. A lista das pessoas, cujos comportamentos são de baixíssimo nível (ético e penal) , é complexa: desde secretários de ex-ministros a dirigentes ou funcionários RAI, há de tudo.
Certamente que não creio na unicidade italiana destes casos. Abramos, nós também, os nossos “vasos de pandora”: sem remoras nem subserviências; não restariam motivos para nos rirmos dos outros!
Alda M. Maia