domingo, agosto 27, 2006

D’ APRÈS CAMÕES

Sem armas os barões assinalados,
Que nestas ocidentais praias lusitanas,
Por caminhos nunca antes pisados,
Passaram indo além da traquitana,
E em inaugurações e mesas aparelhadas,
Entre as gentes postas de pescada arrotaram,
Que nesta nossa república já nada sublimaram;

E também as memórias ingloriosas
Daqueles homens que foram delapidando
A fé na administração virtuosa das terras
Do Minho ao Algarve que andaram devastando;
E aqueles que por obras indecorosas
Se vão da lei da decência libertando
- Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte

Hoje tive tentações de me divertir, aproveitando-me das duas primeiras estrofes de “Os Lusíadas” para este post. É também uma pequena vingançazinha sobre estas mesmas estrofes que me fizeram suar frio, quando, in illo tempore, o examinador me pediu a análise sintáctica, já não sei de quais versos.
Mas vamos à razão principal por que me sentei aqui para conversar com o computador
********
ARROGÂNCIAS E INEFICIÊNCIAS

Se todos tivessem o bom hábito de manifestar, com bom senso e equilíbrio, a reprovação dos abusos, anomalias, arrogâncias e incapacidades da administração pública, o País subiria, indubitavelmente, nas craveiras do civismo, progresso e seriedade.

Eis um caso, entre milhares.
Executam-se obras, construindo ou reestruturando edifícios numa cidade. Colocam-se os tapumes e, segundo a norma, ocupam a parte dos passeios correspondente a esses edifícios.
Segundo creio, é de lei criar uma passagem protegida, a fim que os peões não devam caminhar no meio do trânsito.

Aqui, em Vila Nova de Famalicão, são raríssimas as empresas que observam esta regra. Assim, inconscientemente, caminha-se de mistura com toda a espécie de veículos.
Chega um dia que o perigo se apresenta: um grande camião das obras aparcado paralelo ao tapume, o peão fica entalado entre o camião e os automóveis que circulam nos dois sentidos e que, naquele momento, anulam qualquer espaço que facilite a fuga do peão de um iminente atropelamento. O susto é tremendo!
Indignado – e tardiamente consciente do perigo daquele estado de coisas - dirige-se à Câmara Municipal, ali próxima.

Qualquer reclamação deve pagar uma taxa de 25 a 26 euros, informam. Não concorda, obviamente, pois foi apenas apontar uma grave falha dos serviços da Câmara.
Fala com a PSP, visto também ser uma questão de trânsito. No dia 29 de Julho, envia um exposto à Polícia e, para conhecimento, ao Presidente da Câmara.
Hoje, 27 de Agosto, tudo como antes. Ah! esquecia-me: o novo edifício de que se fala pertence aos serviços sociais da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão. O Sr. Presidente já lá foi visitar as obras, segundo me informaram, mas devo deduzir que é pouco conhecedor das regras que protegem a incolumidade dos seus munícipes.

Um curso ad hoc – mesmo aqueles de “aprendizagem em trinta dias” - para qualquer candidato à presidência das Câmaras Municipais, reclama-se; necessita-se urgentemente.
Alda M. Maia
.
Errata:
onde escrevo: "o novo edifício de que se fala pertence aos serviços sociais da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão" , a informação é errada. Corrijo:
O edifício é a nova sede da Associação Cultural e Beneficente (ACB) dos trsbalhadores do Município de V. N. de Famalicão

sábado, agosto 26, 2006

E POR UMA TROCA DE PREPOSIÇÕES…

A notícia saiu errada!

Público, 25/08/2006, página 20 e a propósito da força da ONU no Líbano: “Chirac afirmou que a França está pronta a comandar a força das Nações Unidas e não fez qualquer menção à proposta da Itália no mesmo sentido”.

A Itália não apresentou nenhuma proposta para o comando das forças ONU: a proposta foi apresentada à Itália pelo Primeiro-Ministro de Israel; o Primeiro-Ministro libanês apoiou e a mesma satisfação demonstrou Kofi Annan.
Romano Prodi aceitou essa proposta com muita cautela e tacto, precisamente para não ferir susceptibilidades francesas e esperou, portanto, que aquele país tomasse uma decisão definitiva nesta matéria.

Pelos vistos, tomou-a, mas com deselegância e pouca diplomacia.

Quanto ao papel da Itália neste conflito, só me merece aplausos. Tem sido incansável e generosa. Exigiu regras muito claras para a acção das forças da ONU (não foi só a França) e o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Massimo d’Alema, tem-se demonstrado um excelente membro do governo italiano.

Houve grandes polémicas pelas suas declarações a favor dos palestinianos e por uma sua visita ao Líbano. Uma foto, que o retratou guiado pelo braço de um ministro afecto ao Hezbollah, quando visitava as ruínas de Beirute, desencadeou uma tempestade.
Este género de tempestades deveria ser sempre temperado pelo bom senso, o que raramente acontece.
Primeiro, porque se tratava de um ministro que faz parte do governo legítimo libanês e não foi D’Alema que lhe deu o braço, mas o ministro a desviá-lo dos escombros, segundo esclareceu o próprio D'Alema. Além disso, esta visita entrava nas iniciativas e esforços italianos para o estabelecimento da paz naquela região.
Segundo, porque acho oportuno, naquele infinito pélago de ódios, a utilidade de um político que trate as duas razões – de Israel e Palestina - com igual respeito: é uma preciosa ajuda às duas causas. Inspira credibilidade a uma e a outra. Só espero que D'Alema, cada dia que passa, saiba sempre aplicar as mais refinadas artes da diplomacia.

Para finalizar, é um grande alívio verificar que à frente do governo italiano estão alguns políticos de muito bom nível.
Tenho-me entretido a imaginar um Berlusconi no lugar de Prodi, nesta emergência Líbano.
Seria um desastre!
Alda M. Maia

sexta-feira, agosto 25, 2006

AI SENHOR EMBAIXADOR DO ESTADO DE ISRAEL!...

Com o seu artigo de hoje - sexta-feira, 25 Agosto - no jornal Público, irá desencadear as indignações dos nossos pasdaran da esquerda!
Será a Dra. Isabel do Carmo que retrocederá na história até à época de Moisés. O Prof. Vital Moreira que não perderá a ocasião para zurzir, uma vez mais, nos criminosos israelianos – aqui talvez será melhor usar o gentílico israelita: está mais próximo da palavra judeu. O BE com as habituais catilinárias e o PCP a pegar ao pálio.
Pode ser que me engane, mas parece que me vou divertir um bocadinho!
Alda M. Maia
.
ADENDA
Quando escrevo "que me vou divertir", refiro-me ao que, normalmente, se escreve contra o Estado de Israel. E naquele contra, apenas leio opiniões unilaterais, expressas com argumentos claramente sectários.
O Embaixador de Israel apresentou estatísticas, mas na grande maioria da imprensa ocidental, sobretudo neste período, não faz notícia informar sobre as vítimas e os danos que esta guerra causou no território israeliano; muito menos interessa àqueles editorialistas que sempre descuraram a preocupação de equilibrar pontos de vista.

terça-feira, agosto 22, 2006

COPYRIGHT

Parece-me que estou a incomodar uma palavra demasiado séria destinada a assuntos sérios!
Todavia, o caso que aqui registei ontem e que diz respeito ao plágio do nome do meu blogue, se nos referirmos ao modo capcioso como foi plagiado, é sério; mas, acima de tudo, é-me insuportavelmente irritante! Não o aceito.

Pensamentos vagabundos” é um nome de blogue, título – chamem-lhe o que quiserem – que me pertence. Farei de tudo para que no Blog*Spot exista um único blogue com este nome.
Pesquisei milhares de nomes da blogosfera. Não vi nenhum exemplo que pudesse dar a mínima justificação ao que me aconteceu. E agora pergunto: como é possível aceitar as mesmas palavras – juntas ou separadas por hífen ou underscore - com valor semântico precisamente igual? A computorização é assim tão estúpida e destituída de filtros eficazes que possa permitir estas espertezas de gente sem dignidade?

Copyright - “Reserva do direito de propriedade sobre uma obra impressa; propriedade literária ou artística; direitos de autor

Ponhamos de lado a importância de “propriedade literária ou artística” que, neste caso, seria ridículo. Mas quanto ao direito de propriedade, sim, tenho todos os motivos para sentir-me indignada.

Mais uma vez, repito que criei este blogue, em Janeiro 2005, mais com o gosto de “conversar com o computador” que procurar notoriedade. Divirto-me, esclareço ideias (estes tais pensamentos vagabundos) e finjo que lanço tudo para o infinito.

Atenta leitora, na Internet, de jornais e blogues, frequentemente, quando os assuntos são convincentes, sinto o impulso de me incluir na lista dos comentadores de blogues interessantes, de qualidade. Hesito em fazê-lo e, normalmente, desisto.
Detesto comentários anónimos; devo identificar-me. Vejo-me, então, como se quisesse pôr-me em vista, tornar-me notada: eis o que me faz desistir.

Há apenas dois blogues onde me sinto à vontade e, de vez em quando, assinalo que os sigo: o do meu gentil colega radioamador (www.dispersamente.blogspot.com) e o de uma jovem de 19 anos que, pela impetuosidade e espontaneidade como defende as suas ideias, recorda-me como era eu naquela idade. Merece toda a minha simpatia: www.danielik.blogspot.com

Em conclusão, o indivíduo anónimo que usurpa o nome deste blogue, reparando que se tratava de mais um dos milhares que existem, pôs de lado quaisquer escrúpulos e Blog*Spot consentiu-lho.
Tenho poucos leitores, mas são pessoas amigas e muito atentas.

E sobre este assunto, neste blogue, ponto final.
Alda M. Maia

segunda-feira, agosto 21, 2006

PLÁGIO INDECENTE

Um plágio de menino espertalhão que não deixa margens para equívocos. Por esse mesmo motivo, inadmissível e altamente incorrecto.

De Braga, esta manhã, telefonaram-me para me informar que este blogue tinha desaparecido. Em seu lugar, surgia um blog diferente com o mesmo título. Fui verificar. O meu blogue apresentou-se-me sem quaisquer manipulações.
Quem me advertiu esquecera-se de inserir o hífen entre as duas palavras do nome do meu blogue; consequentemente, apareceu-lhe um outro “Pensamentosvagabundos” da blogspot, de Julho 2006

Um anónimo bloguista, tão rico de “umbiguismo” romântico quanto paupérrimo de dignidade e imaginação, muito simplesmente plagiou o título do meu blogue, anulando o hífen de separação. Quando se entra no blogue deste indivíduo, deparamos com o título: “Pensamentos_vagabundos”
No template, bastou substituir um hífen com um underscore!
Pelos vistos, são admitidas estas formas grosseiras de plágio. Não me parece que a “blogspot.com”, com estas malhas largas de criação de blogues, brilhe pelo rigor na aceitação de títulos!

Já apresentei, digamos, o meu protesto. Oxalá mereça alguma atenção. É meu costume ir até ao fundo das questões, sobretudo quando me sinto ofendida: este plágio ofende-me.
A nossa língua é riquíssima: não há nenhuma necessidade de roubar o título a outros blogues. Infelizmente, porém, abundam os indivíduos sem a mínima noção dos próprios limites; é esta característica que os torna atrevidos, grosseiros e incivis.
Alda M. Maia

segunda-feira, agosto 14, 2006

Corriere della Sera (14/08/2006)

"Collabora con i nemici"
Giustiziato, folla in festa













"Orrore a Jenin, in Cisgiordania. Accusato di collaborare con gli israeliani, per Bassim Al-Mallah il verdetto è stato: esecuzione. Cosi un ragazzo di 21 anni di un piccolo villaggio vicino a Jenin è stato ucciso in una pubblica piazza. Costretto a inginocchiarsi davanti a un mucchio de sabbia e ucciso mentre attorno a lui molti scattavano foto con il telefonino (Reuters)"

*****
Tradução:
"Colabora com os inimigos"
Justiçado, multidão em festa

"Horror em Jenin, na Cisjordânia. Acusado de colaborar com os israelianos, para Bassim Al-Mallah a sentença foi: execução. Assim, um rapaz de 21 anos, de uma pequena aldeia perto de Jenim, foi executado numa praça pública. Forçado a ajoelhar-se diante de um monte de areia e morto, enquanto, à sua volta, várias pessoas tiravam fotos com o telemóvel."
*****
E se fosse inocente?!
O rapaz confessou ter passado informações aos israelianos; era necessária toda esta espectacularidade? Pura barbárie, e é-me indiferente que este miserável espectáculo se tivesse passado na Cisjordânia, Israel ou em qualquer outro ponto do mundo
No site de La Repubblica apresentavam outras fotos, avisando sobre o horror que exprimiam.
Um dos aspectos que mais me chocou foi o número de crianças presentes. Clima de guerra, clima de horrores! Todavia, tanto ódio instilado nos mais novos, como se poderá sair deste trágico círculo vicioso que se instalou entre Israel e a população árabe?
Alda M. Maia

CONTINUAM AS MINHAS PERPLEXIDADES

Agora que o Conselho de Segurança aprovou, finalmente, uma resolução, talvez, depois, as perguntas sejam outras.
Mas entretanto…

Como foi possível que potentes mísseis anti-carro, de fabricação russa, chegassem às mãos do Hezbollah, uma milícia que deveria ser desarmada e cujos mísseis nunca lhes deveriam ter sido fornecidos?

Onde encontraram fundos – visto que a etnia xiita libanesa é a parte menos rica - para um arsenal de guerra digno de um pequeno país e não de uma facção extremista, mas fazendo parte de um Estado que não estava em guerra com ninguém (Estado este, o Líbano, com forças militares de 70 mil homens, embora pouco adestrados, e possuidor de um material de guerra modesto)?

Por qualquer prisma se queira observar esta guerra do Médio Oriente, quantas incongruências sem uma resposta satisfatória!
Houve a preocupação, isso sim, de relevar as dificuldades do exército israeliano (gosto mais deste gentílico para os cidadãos de Israel que israelitas) na luta contra o Hezbollah, quer na imprensa escrita, quer nos enviados especiais televisivos. Superficialidade ou o gosto do bota-abaixo?

Com todo aquele sofisticado material bélico; o treino recebido no Irão ou em quaisquer outros campos de extremistas; adequada preparação do terreno para uma guerrilha eficaz, que esperavam os senhores cronistas? E pensam que não foram estes factores a assustar Israel? E quando o perigo é iminente, são óbvias as reacções moderadas? Não creio. E não as houve, desgraçadamente.

Houve muitas notícias que, posteriormente, se revelaram inexactas. Por que razão não foram desmentidas ou correctas? A história falsa do funeral bombardeado. O empolamento da tragédia de Qana. A célebre fotografia do pai com a criança morta nos braços e que desconfiam seja uma foto de arquivo de outras calamidades… era necessário recorrer a estes truques? Não basta já o que é tão evidente?

Que o dia de hoje, segunda-feira, não apresente a contabilidade dos mortos. Que parem, de um lado e do outro.
Se Israel tem bom senso, que mande para as urtigas orgulhos nacionais e deixe o inimigo cantar vitória. Pode ser que a gente comum do Líbano, um dia, acorde, pondere melhor o que lhe aconteceu e peça contas ao Hezbollah. Essa, sim, que seria uma reviravolta salutar no mundo islâmico. Mas tal probabilidade, naquelas paragens, pode classificar-se como uma utopia.
Alda M. Maia

segunda-feira, agosto 07, 2006

PERGUNTAS A UMA PERGUNTA

Continuando a conversar com o computador…

No “Ponto de vista” de Jorge Almeida Santos, no Público de ontem, no parágrafo final do ponto 2 escreve: “Fica por responder uma tremenda pergunta: por que deixou Israel que o Irão, via Hezbollah, acumulasse mais de 15000 mísseis no Líbano e construísse na fronteira uma linha fortificada para atacar Israel, sem que Sharon ou Olmert tenham aberto uma crise internacional?”
Muito pertinente esta pergunta; mas outras, também pertinentes, podem ser formuladas.
E retorno às perplexidades a que ainda não encontrei resposta

Por que deixaram os observadores da ONU que o Hezbollah acumulasse mais de 15000 mísseis e construísse a tal linha fortificada na fronteira com Israel sem lançar o alarme, mas um alarme que ecoasse forte aos ouvidos de quem o deveria ouvir e agir?
Por que não se exigiu, ou não se ajudou o Líbano a dispor, nessa fronteira, tropas libanesas, imediatamente a seguir à retirada de Israel em 2000?

Mais uma vez, pergunto: para que serve manter e armar um exército se, em situações graves, o país fica à mercê de milícias fortemente armadas e treinadas pelo Irão e cujos fins não são, certamente, os interesses libaneses?

Se o Líbano, por questões de equilíbrio interno, coibiu-se de agir como estado soberano e permitiu que o braço armado do Irão diminuísse essa soberania, por que razão o Primeiro-ministro libanês, quando o Hezbollah, arbitrariamente, atacou Israel, não se distanciou, denunciando tal acto como inaceitável para a segurança do Líbano?
Sempre equilíbrios internos? Pusilanimidades? Ou o poder acima de tudo?

*****
Os “bem-informados” e “bem-pensantes” proclamam, aos quatro ventos, que Israel está a agir por conta da América contra o Irão. Parvoíces.

Nem sempre aprovo certas reacções israelitas, mas de uma coisa estou certa: a pesada solidão em que se encontra. Aliás, sempre se encontrou. Neste momento, então, o apoio declarado dos Estados Unidos talvez seja mais um contra que um pró.

Para acabar, só outra observação. A insistência como se alude às vítimas infantis desta guerra não me parece seja fruto de genuína piedade e horror a que, efectivamente, teriam direito. Dá-me tanto a impressão de sensacionalismo. Se corresponde à verdade, seria repugnante.
A minha perplexidade deriva da tragédia de outras crianças, doutras latitudes, em que esta atenção traduz-se, frequentemente, em notícia normal, se não indiferença; porquê tanta insistência agora? Exploração da tragédia qual propaganda bem orquestrada? Mais repugnante ainda.
Alda M. Maia

domingo, agosto 06, 2006

NENHUMA CERTEZA; TANTAS PERPLEXIDADES

No meu post anterior, expus perguntas sobre diversos temas para as quais sempre encontrei alusões vagas ou, então, nas muitas informações que chegavam, nas múltiplas análises lidas, quase colhia a ideia que nenhuma importância lhes era, ou é, atribuída. Confesso que me irritava e, paralelamente, duvidava - e duvido - do meu discernimento perante certos factos apresentados por génios da análise política e por certos políticos iluminados.

Acontece que, nesta guerra que tantas improvisadas cassandras já indicam como prelúdio da terceira guerra mundial, eu dou grande importância a factos que a gigantesca onda de críticas ao estado judaico descura ou acha mais conveniente ultrapassar. Por qual razão? Prefiro não dar juízos.
Todavia… todavia, vou traduzir um artigo que li no Corriere della Sera, de Ângelo Panebianco – um editorialista um pouco neocon e que nem sempre me convence. Refiro-me, sobretudo, às suas análises da política italiana. Ora, neste caso, quem sabe se não terá razão.

**********
Eis o artigo:

“O Velho Continente e a Segurança de Israel”
A REJEIÇÃO EUROPEIA

Foi uma singular dupla acção. O Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Philipe Douste-Blazy tinha acabado de elogiar o Irão, enaltecendo-lhe o “papel estabilizador na região”; imediatamente, o presidente do mesmo Irão, Ahmadinejad, retribuiu a cortesia, explicando ao mundo que a melhor solução da crise libanesa é a destruição de Israel. Ahmadinejad, obviamente, sabe o que diz, visto que o Irão arma e manipula aquele Hezbollah que à missão “destruir Israel” é, desde sempre, devoto servidor.

As desajeitadas avances dos governantes franceses ao Irão representam bem a atitude cínica de uma parte da Europa e recorda-nos que existe, mais sub-reptícia e mais hipócrita do que a rejeição árabe (do estado de Israel), uma rejeição europeia, ou algo que muito se lhe assemelha.

É próprio de quem, na Europa, nunca deixa de prometer que… certamente… por amor de Deus, Israel tem direito de viver em segurança; porém, depois, desmente com o próprio comportamento quanto asserido com palavras.
Verificámo-lo na altura do bombardeamento de Qana. Os mass-media europeus e a fina-flor dos comentadores mergulharam nas notícias, chamando assassinos, não ao Hezbollah que lança os mísseis escudando-se atrás de civis e a quem impede de deixar a zona de guerra, mas aos israelitas. Os quais, agredidos pelo Hezbollah (cujos mandantes são sírios e iranianos), tentam eliminar a ameaça. Se não se interpusesse a rejeição europeia, ninguém poderia negar que, se há um caso no qual é lícito aplicar o antigo conceito de “guerra justa”, a intervenção israelita, no Líbano, é precisamente um desses casos.
A rejeição europeia nutre-se de uma sinergia entre atitudes de sectores da opinião pública e cálculos de classes dirigentes.

Para uma parte da opinião pública europeia, Israel é, mais ou menos, um posto avançado do imperialismo americano no Médio Oriente (alias, como para o mundo árabe).
Além disso, é um facto bem patente às classes dirigentes europeias que a Europa tem relações mais vitais, de ordem geo-económica, com árabes e persas de quanto não tenha com Israel.
Se um dia Israel desaparecesse do mapa, uma parte dos europeus considerá-lo-ia um drama, um golpe mortal infligido a todo o Ocidente; mas, uma outra parte pensaria, sem o dizer, que um obstáculo às harmoniosas relações entre a Europa e Médio Oriente foi eliminado.
Seria uma falsidade sustentar que esta posição seja predominante na Europa. No entanto, é um comportamento presente e com o qual é necessário acertar contas abertamente, dadas as suas contínuas recaídas políticas. Isso mesmo se vê, também, nesta crise.

Quem não se preocupa com a segurança de Israel quer, ao fim e ao cabo, um cessar-fogo que seja prelúdio da reconstituição do status quo precedente à crise, o que seria uma ameaça mortal para Israel, agravada pela circunstância que o Hezbollah sairia vencedor da partida.
Quem, pelo contrário, defende a segurança, quer mudanças radicais, começando pela aplicação da resolução ONU 1559 relativamente ao desarmamento do Hezbollah.

Existe uma Europa para quem a segurança de Israel vem muito depois, na escala das prioridades, das boas relações (seja qual for o preço) com o mundo islâmico do Médio Oriente, “estados-canalha” incluídos. Existe outra, todavia, e felizmente, diversa da primeira.
Talvez não reste que aguardar os resultados das eleições presidenciais francesas, na próxima Primavera, esperando que enfraqueça o front da rejeição europeia.”
Ângelo Panebianco – 05 Agosto 2006

**********
Lendo o elogio de Philipe Douste-Blazy ao Irão, classificando-o como “país estabilizador da região”, misericórdia!!!
Com a devida vénia ao Sr. Ministro francês, bem podia evitar estas bajulices de comerciante interessado.
Alda M. Maia

terça-feira, agosto 01, 2006

MÉDIO ORIENTE - PERGUNTAS…

Para as quais busco respostas. Para as quais gostaria que as várias reacções oficiais, antes de se exprimirem, as considerassem e as apresentassem, já esclarecidas, à opinião pública.
Penso que se assim fizessem, condenações de sentido quase único seriam mais ponderadas e não se observaria a omissão de realidades graves. Esta é a minha opinião, obviamente.

Eis as perguntas:

No post anterior, concordei plenamente com as palavras de bom senso de António Padellaro. Não concordo, no entanto, com a referência ao "caminho errado do exército israelita e que este não encontra a via do regresso".
Será mesmo assim? Ou o Tsahal está determinado a acabar com o Hezbollah (ou debilitá-lo), a estrada conhece-a bem e só esperava uma causa para a enveredar?

É credível que o Mossad desconhecesse a verdadeira entidade do armamento amontoado além fronteiras? Eu não creio

Qual a verdadeira missão dos observadores da ONU no sul do Líbano?
Um contingente de 1900 homens que de há vinte anos vigiava as fronteiras do Líbano com Israel (Unifil – United Nations Interim Force in Lebanon).
Vigiando, certamente estava ao corrente dos preparativos de guerra do Hezbollah. Conhecia os vários túneis, galerias subterrâneas que eles iam escavando de há seis anos e a acumulação de milhares de mísseis e outro material bélico (contra a resolução da ONU que decreta o desarmamento dos Hezbollah) e bem sabendo, de igual modo, que tais factos pressupunham ataques ao país vizinho, Israel. Se nada observaram, devemos inferir que estavam ali como representantes da ONU, mas simplesmente para marcar presença, o que também não creio.

De tudo isto, por que razão não houve uma severa e persistente denúncia pública da parte do Sr. Kofi Annan? Para que serviam, então, os observadores?

Não há nenhum jornal internacional de referência que não aluda aos métodos de guerra bárbaros do Hezbollah (ou de quaisquer outros grupos terroristas): servirem-se dos civis como escudo, dispersando-se entre a multidão; instalar lançamento de mísseis nas zonas mais povoadas – condomínios, hospitais, mesquitas, etc. - organizando ataques e bem prevendo que a reacção de Israel irá, fatalmente, atingir esses civis. Obviamente, é isso mesmo o que pretendem para uma posterior e macabra propaganda.
Não é só a imprensa mundial e os israelitas que acusam tais métodos: testemunhos, in loco, denunciam esta táctica aberrante, assim como a acção do Hezbollah que impedia, à força, que os civis abandonassem as zonas de guerra. Incrível!

Por que motivo as vozes mais autorizadas internacionais são tão solícitas
a carimbar a violência israelita como crimes de guerra e omitem a execração do modus operandi Hezbollah, tão cruel quanto cínico e revoltante?

Não quero atenuar responsabilidades de Israel, porém, surge-me outra pergunta:
Como deve defender-se qualquer estado, atacado com tais métodos, sem provocar danos colaterais? Algum iluminado pode esclarecê-lo? Acho o caso bicudo!

Por que não se expressou, com veemência, o máximo desdém contra a iniciativa Hezbollah, preferindo condenar, quase exclusivamente, a “desproporção” da reacção israelita?
Estou a lembrar-me de um conceito, lido há tempos, de Alan Dershowitz (advogado famoso e professor de direito na Universidade de Harvard) que, se não recordo mal, dizia: “Israel é o estado judaico e o judeu das nações”! Assim parece!...

Qual acção bélica é mais repugnante?
Já sei que todas as guerras são repugnantes, e as acções terroristas mais repugnantes ainda; todavia, observar que foi estranhamente diminuída, se não postergada, uma condenação pública - bem clara, planetariamente divulgada e dando-lhe o máximo relevo - da crueldade e velhacaria dos métodos Hezbollah, sobretudo nesta guerra, isso ultrapassa a minha compreensão. Choca-me, repito, o escasso relevo que se dá a este aspecto da questão.

O Líbano é um estado normal ou uma república caótica onde cada etnia, com toda a naturalidade, faz o que muito bem lhe apetece e qualquer fanatismo organizado promove guerras, quais profissionais da violência, sem se incomodar das consequências trágicas para o próprio país? São libaneses ou mercenários que fazem daquele país terra de ninguém?
Só nos falta ser testemunhas da consagração do Hezbollah como legítimos defensores do Líbano e nobres paladinos dos palestinianos. Pobre Palestina! Desgraçado Líbano!

Para que servem as forças armadas do Líbano?
Haveria tantas outras perplexidades; fico-me por aqui.
Alda M. Maia