HISTÓRIA DAS PALAVRAS:
ORIGEM DO NOME JADE
Estas conversas de computador (as minhas) nascem, quase sempre, do acaso: ou porque determinado acontecimento atraiu a minha atenção com maior intensidade; ou porque um determinado editorial me provocou reacções contraditórias e quero esclarecê-las; ou, muito simplesmente, porque me decidi pôr em ordem de número uma série de sessenta volumes.
Porém, como sempre acontece, perdi-me a folheá-los.
São de pequeno formato (19 cm x 13,5 cm), elegante capa vermelha, nenhum deles vai além das 158 páginas, ilustrados com imagens sugestivas.
Editados pelos célebres Fratelli Fabri, em 1966, constituem uma das mais completas enciclopédias sobre as “artes menores”.
Chama-se “Elite. As Artes e os Estilos de todos os Tempos e Países”.
Cada tomo desenvolve um único tema, desde a ourivesaria medieval às miniaturas indianas, terracotas pré-colombianas, as decorações na idade barroca, o estilo Luís XV, enfim, nenhuma criação artística foi esquecida.
O tomo número quatro ocupa-se das “Jades Antigas”. Como sempre gostei desta pedra semipreciosa, iniciei a releitura. Transcrevo o primeiro parágrafo:
Jade (ou jada): este nome que, para a maior parte dos Ocidentais, possui um fascínio evocador de um fabuloso mundo de Oriente, tem, pelo contrário, uma banal e pouco poética origem europeia.
A história do jade é interessantíssima, embora a origem do nome seja controversa. Mas não antecipemos.
Nos fins do século XIV, Marco Polo trouxera notícias da existência, na China, de lindos objectos talhados numa pedra duríssima.
ORIGEM DO NOME JADE
Estas conversas de computador (as minhas) nascem, quase sempre, do acaso: ou porque determinado acontecimento atraiu a minha atenção com maior intensidade; ou porque um determinado editorial me provocou reacções contraditórias e quero esclarecê-las; ou, muito simplesmente, porque me decidi pôr em ordem de número uma série de sessenta volumes.
Porém, como sempre acontece, perdi-me a folheá-los.
São de pequeno formato (19 cm x 13,5 cm), elegante capa vermelha, nenhum deles vai além das 158 páginas, ilustrados com imagens sugestivas.
Editados pelos célebres Fratelli Fabri, em 1966, constituem uma das mais completas enciclopédias sobre as “artes menores”.
Chama-se “Elite. As Artes e os Estilos de todos os Tempos e Países”.
Cada tomo desenvolve um único tema, desde a ourivesaria medieval às miniaturas indianas, terracotas pré-colombianas, as decorações na idade barroca, o estilo Luís XV, enfim, nenhuma criação artística foi esquecida.
O tomo número quatro ocupa-se das “Jades Antigas”. Como sempre gostei desta pedra semipreciosa, iniciei a releitura. Transcrevo o primeiro parágrafo:
Jade (ou jada): este nome que, para a maior parte dos Ocidentais, possui um fascínio evocador de um fabuloso mundo de Oriente, tem, pelo contrário, uma banal e pouco poética origem europeia.
A história do jade é interessantíssima, embora a origem do nome seja controversa. Mas não antecipemos.
Nos fins do século XIV, Marco Polo trouxera notícias da existência, na China, de lindos objectos talhados numa pedra duríssima.
"O jade era considerado pelos chineses um bem precioso, talvez mais que o ouro, e possuía, segundo uma opinião difusa, uma lendária propriedade taumatúrgica. Por este motivo, era proibida, severamente, a exportação”.
(…) Sem dúvida alguma, foram os Portugueses a importar os primeiros jades na Europa.
Estes audazes mercantes e navegadores tinham estabelecido, a partir dos fins do século XVI, normais relações comerciais com a China. Chegados a Cantão em 1517, com algumas caravelas comandadas por Fernão Peres de Andrade, foram acolhidos amigavelmente. (…)
Como acima se refere, ao jade eram atribuídas “especiais propriedades medicamentosas. Especialmente, e por simples contacto, evitaria doenças renais e garantiria uma normal e regular diurese”.
Esta lenda acompanhou a belíssima pedra que os portugueses fizeram chegar a Portugal. As nossas gentes, imediatamente, aceitaram-na como verdadeira, baptizando-a com a uma expressão muito vernácula: pedra da mijada!
Já sabemos como se processa a evolução da uma língua: de uma expressão de três vocábulos chegou-se às duas últimas sílabas da última palavra, isto é, jada, jade
O grande e excelente Dicionário Houaiss acena a outra história, quando dá o significado de jade (do francês jade) e explica a origem, citando o padre Sebastião Rodolfo Dalgado que, por sua vez, se refere a Max Müller: o jade só foi conhecido após o descobrimento da América. A essa pedra os espanhóis deram-lhe o nome de “piedra de la ijada”.
Como é possível que, frequentemente, devamos ser rapinados nos nossos feitos!? Até nesta “glória” de dar um nome a uma pedra semipreciosa procuram a rapina!
Mas falemos seriamente. Considero o Houaiss como o actual melhor dicionário de língua portuguesa. Todavia, neste assunto, atribuo maior credibilidade a esta enciclopédia Elite. Além disso, como é lógico, todos os temas são corroborados por uma vasta e idónea bibliografia.
Nas páginas 38 e 39 aludem, exaustivamente, aos jades centro-americanos.
"Poucos anos após a chegada a Portugal dos primeiros objectos em jade, provenientes da China, os conquistadores espanhóis começaram a enviar do México para Espanha um grande número de estatuetas e jóias esculpidas numa pedra dura muito semelhante ao jade chinês trazido pelos Portugueses.
É pouco provável que a mesma crença sobre as virtudes diuréticas por contacto, deste mineral, fosse também radicada entre os povos Maya e Asteca. Portanto, é mais atendível que o nome “pedra da mijada” seja uma herança do País vizinho”.
Herança de Portugal, obviamente, e que transitou para outras línguas. Ademais, vejo este caso muito mais aderente aos eventos históricos ligados às nossas andanças por terras do Oriente.
****
Não fujo à tentação de narrar um facto sobre a palavra jade e que, em italiano, giada (djada), é também um nome próprio. Há muitas senhoras e meninas que se chamam Giada.
Em Turim, encontrava amiudadamente uma senhora dotada de grande simpatia e que sempre parava a conversar comigo. Nos últimos tempos, ressumbrava alegria por todos os poros: estava para nascer o primeiro ou primeira netinha.
Quando nasceu, deu-me a notícia com a descrição pormenorizada da menina que veio à luz. Depois dos parabéns e outras frases oportunas, a pergunta normal surgiu: - E como se vai chamar?
Resposta da senhora: - É um nome lindo! É um nome que traz os perfumes, todo o fascínio e odores do Oriente. Chamar-se-á Giada.
Já conhecia a origem do nome. Se a gentil senhora não aludia a perfumes, odores, a palavra giada não me faria evocar o nosso plebeísmo mijada que lhe deu origem. Porém, ouvindo-a ligada aos odores, o meu esforço não foi pequeno para abafar um sorriso divertido.
Mas comportei-me bem, como convinha a uma pessoa educada. Efectivamente, Giada ou Jade é um nome cuja eufonia é harmoniosa, sugestiva.
Não me cansei de elogiar o nome escolhido. E não fui hipócrita.
(…) Sem dúvida alguma, foram os Portugueses a importar os primeiros jades na Europa.
Estes audazes mercantes e navegadores tinham estabelecido, a partir dos fins do século XVI, normais relações comerciais com a China. Chegados a Cantão em 1517, com algumas caravelas comandadas por Fernão Peres de Andrade, foram acolhidos amigavelmente. (…)
Como acima se refere, ao jade eram atribuídas “especiais propriedades medicamentosas. Especialmente, e por simples contacto, evitaria doenças renais e garantiria uma normal e regular diurese”.
Esta lenda acompanhou a belíssima pedra que os portugueses fizeram chegar a Portugal. As nossas gentes, imediatamente, aceitaram-na como verdadeira, baptizando-a com a uma expressão muito vernácula: pedra da mijada!
Já sabemos como se processa a evolução da uma língua: de uma expressão de três vocábulos chegou-se às duas últimas sílabas da última palavra, isto é, jada, jade
O grande e excelente Dicionário Houaiss acena a outra história, quando dá o significado de jade (do francês jade) e explica a origem, citando o padre Sebastião Rodolfo Dalgado que, por sua vez, se refere a Max Müller: o jade só foi conhecido após o descobrimento da América. A essa pedra os espanhóis deram-lhe o nome de “piedra de la ijada”.
Como é possível que, frequentemente, devamos ser rapinados nos nossos feitos!? Até nesta “glória” de dar um nome a uma pedra semipreciosa procuram a rapina!
Mas falemos seriamente. Considero o Houaiss como o actual melhor dicionário de língua portuguesa. Todavia, neste assunto, atribuo maior credibilidade a esta enciclopédia Elite. Além disso, como é lógico, todos os temas são corroborados por uma vasta e idónea bibliografia.
Nas páginas 38 e 39 aludem, exaustivamente, aos jades centro-americanos.
"Poucos anos após a chegada a Portugal dos primeiros objectos em jade, provenientes da China, os conquistadores espanhóis começaram a enviar do México para Espanha um grande número de estatuetas e jóias esculpidas numa pedra dura muito semelhante ao jade chinês trazido pelos Portugueses.
É pouco provável que a mesma crença sobre as virtudes diuréticas por contacto, deste mineral, fosse também radicada entre os povos Maya e Asteca. Portanto, é mais atendível que o nome “pedra da mijada” seja uma herança do País vizinho”.
Herança de Portugal, obviamente, e que transitou para outras línguas. Ademais, vejo este caso muito mais aderente aos eventos históricos ligados às nossas andanças por terras do Oriente.
****
Não fujo à tentação de narrar um facto sobre a palavra jade e que, em italiano, giada (djada), é também um nome próprio. Há muitas senhoras e meninas que se chamam Giada.
Em Turim, encontrava amiudadamente uma senhora dotada de grande simpatia e que sempre parava a conversar comigo. Nos últimos tempos, ressumbrava alegria por todos os poros: estava para nascer o primeiro ou primeira netinha.
Quando nasceu, deu-me a notícia com a descrição pormenorizada da menina que veio à luz. Depois dos parabéns e outras frases oportunas, a pergunta normal surgiu: - E como se vai chamar?
Resposta da senhora: - É um nome lindo! É um nome que traz os perfumes, todo o fascínio e odores do Oriente. Chamar-se-á Giada.
Já conhecia a origem do nome. Se a gentil senhora não aludia a perfumes, odores, a palavra giada não me faria evocar o nosso plebeísmo mijada que lhe deu origem. Porém, ouvindo-a ligada aos odores, o meu esforço não foi pequeno para abafar um sorriso divertido.
Mas comportei-me bem, como convinha a uma pessoa educada. Efectivamente, Giada ou Jade é um nome cuja eufonia é harmoniosa, sugestiva.
Não me cansei de elogiar o nome escolhido. E não fui hipócrita.
Alda M. Maia