domingo, outubro 26, 2008

GRANDE MANIFESTAÇÃO EM ROMA

Manifestação política, obviamente.

Sábado, 25 de Outubro / 2008, centenas de milhares de pessoas de toda a Itália afluíram a Roma, concentrando-se no “Circo Máximo”.
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Manifestaram contra os senhores da direita que, tendo obtido uma grande maioria, mercê de uma lei eleitoral fabricada ad hoc – classificada pelos fautores como lei “porcata” – entendem que ganhar eleições significa instalar-se no poder e governar com decretos-leis.
O Parlamento passou a servir apenas como lugar de encontros ou como justificação de chorudas benesses aos parlamentares.
Como instituição imprescindível e robusto esteio do edifício democracia, para o primeiro-ministro e compadres deixou de merecer atenção e respeito. Uma indecência!

Fiquei satisfeita que se verificasse esse despertar das gentes democráticas.

Do discurso de Walter Veltroni, secretário do PD (Partido Democrático), respiguei algumas passagens.
Como de há uns tempos a esta parte, nota-se, nessa direita que apoia o berlusconismo, um desvio em direcção de um “revival” da era mussoliniana, e como tudo o que a isso diz respeito tem o dom de me provocar uma instintiva repulsa, estranhava que, da oposição genuinamente democrática, não partisse uma clara e inequívoca condenação desse revisionismo sobre aquela repelente Itália ditatorial e das famigeradas leis raciais.
Eis a razão que me levou à escolha de uns parágrafos em vez de outros igualmente interessantes.

O mote do discurso de Veltroni: "A Itália é um País melhor do que a direita que o governa". E partindo daí…

(…) E para quem acredita que, de uma certa maneira, o fascismo, no fundo, não era mau, é bom recordar que se estava em 1935. Ainda não tinha chegado a vergonha das leis raciais, mas o regime já de há muito que suprimira a liberdade de imprensa e liberdade de associação; tinha eliminado partidos e sindicatos; espezinhado o Parlamento; encarcerado, exilado ou assassinado quem não se curvara perante a ditadura (…)

A Itália, Senhor Primeiro-Ministro, é um País antifascista.

A quem lhe perguntou se poderia definir-se um “antifascista”, o Senhor respondeu, com um certo enfado, que não tinha tempo para perder: havia coisas mais importantes do que ocupar-se de antifascismos ou da “Resistência”.


Efectivamente, Berlusconi jamais se quis pronunciar sobre esse tema. Nunca participou nas comemorações oficiais do 25 de Abril 1945: data da libertação da Itália do nazi-fascismo e celebração da Resistência.
Atitudes eloquentes? Penso que sim.

Mas continuemos sobre o discurso de Veltroni, agora sobre a crise financeira.

(…) Por que razão o Primeiro-Ministro se sentiu autorizado, em plena tempestade financeira, a convidar os cidadãos a comprar as acções de determinadas empresas? Por que razão se permitiu anunciar uma deliberação, que ninguém decidira, do encerramento dos mercados, levando a Casa Branca a lançar um desmentido?
Se tudo isto fosse dito por Gordon Brown ou Ângela Merkel, sucederia uma catástrofe. Porém, como no mundo sabem quem é, não sucedeu nada.
Estocada impiedosa, mas que me fez rir! (o negrito é meu)

Existe a crise. É verdade que nos chegou dos Estados Unidos. Mas ninguém pode aproveitar esse facto para construir-se um álibi ou uma desculpa. Sobretudo, não o pode fazer nem pode colocar-se de lado uma direita que, por vários anos, difundiu a mãos cheias três toxinas, culturais e políticas.

A primeira é uma ideia estropiada da liberdade: aquela que considera cada regra como um empecilho e é filha da ideologia do liberismo selvagem e do individualismo desenfreado.
A desenvoltura com que se executa uma cabriola e se torna, de improviso, estadista, nasce do facto que o único sistema que verdadeiramente agrada à direita é aquele em que, quer o mercado, quer o Estado, estão ao serviço dos interesses do mais forte.

A segunda toxina é a frieza, o cepticismo, a hostilidade mesmo contra a Europa. É óbvio: a Europa é simultaneamente coesão social e crescimento económico; é um horizonte que solicita a mover-se num sistema de regras e responsabilidade comuns.

A terceira toxina é o primado da finança - a mais desenvolta e a mais cínica possível - em relação ao trabalho e à produção de bens e serviços.
Sereis todos ricos, porque o dinheiro, por si só, multiplicará o dinheiro. Todos vós tereis a árvore das moedas de ouro, no campo dos milagres. O empenho, a fadiga, o estudo, a paciência e a tenacidade já de nada servem: são insignificâncias do passado. Tudo é fácil, tudo é possível, porque tudo é lícito.
A crise, disse um grande economista como Paul Samuelson, «é filha de uma soma diabólica de avidez, endividamento, especulação,
"laisser faire" e, sobretudo, de uma infinita inconsciência» (...)

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Inútil aludir ou repetir as reacções desdenhosas, agressivas, despeitadas da coligação do governo, perante esta manifestação imponente da oposição. Pode-se imaginar, com grande aproximação, as frases que efectivamente disseram: algumas ridículas, outras insultuosas; mas sempre previsíveis.
Alda M. Maia

domingo, outubro 19, 2008

CATA-VENTOS

Já precedentemente exteriorizei a minha estranheza pela desenvoltura como muitos publicistas mudam de ideias, conforme a direcção dos ventos.
Certamente que mudar de opinião ou alterá-la com algumas correcções não significa incoerência: a coerência não é imobilidade de juízo afirmou alguém, e justamente.
Mas os casos que não me agradam referem-se às despudoradas reviravoltas de quem escreve, comenta, opina nos mais diversos meios de informação.

Antes do terramoto financeiro, o primeiro-ministro inglês era descrito como figura apagada, sem carisma, impopular, prestes a ser substituído.
As sondagens punham-no de rastos… Mas serão sempre correctas as perguntas que dão forma às sondagens? E estas serão sempre fiáveis? De norma, leio-as com uma certa difidência.

Não sei explicar claramente a razão, mas Gordon Brown é um género de político que me é simpático. Assim, tudo o que lia de negativo, sobre a sua actividade de primeiro-ministro, desagradava-me. Entendia que, em tais criticas, predominavam mais as opiniões camaleónicas que a preocupação da objectividade.

Não possuindo o dom da comunicabilidade ou os modos persuasivos de Tony Blair, fácil ou premeditadamente se obliterou a sua eficiência e seriedade como ministro da economia.

Hoje, que a tempestade financeira amainou e o seu plano e sugestões muito contribuíram para a domar, é “o salvador do mundo” (Paul Krugman). Os jornais mais prestigiosos louvam-lhe a calma e experiência, as sondagens (sempre estas abençoadas sondagens!) dão-lhe uma subida de cotação.

Agora, o Sr. Primeiro-Ministro do Reino Unido começa a ser descrito como um político de excelentes qualidades!
Os ventos mudaram; vire-se o leme nessa direcção!...

Oxalá que Gordon Brown mantenha o ar que sempre teve de pessoa mesurada e não caia na tentação de se tornar num divo da política. Que deixe isso para aqueles politiqueiros sem outra coisa na cabeça que não seja vaidade, esperteza de feirantes e interesses pessoais.
Que continue a sorrir com mais frequência: favorece-o e fica mais bonitinho que Tony Blair. Numa política séria como a sua, isso também serve!

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"PRÓS E CONTRAS"

Fátima Campos Ferreira é uma simpática senhora da nossa televisão, muito popular pela apresentação e condução do programa “Prós e Contras”.

Atenta aos temas que a actualidade impõe, escolhe com seriedade a competência dos intervenientes. Não descura a criação de um clima distensivo, mesmo quando as matérias podem dar origem a fortes polémicas. Estes os prós a favor de Fátima Campos Ferreira.

Sendo, praticamente, condutora e entrevistadora, visto que a sua missão é extrair o máximo dos seus convidados e administrar com equidade o tempo disponível, certamente que se espera aquela técnica muito própria de um bom entrevistador: perguntas muito sóbrias, directas e pertinentes; jamais cobrir a voz da pessoa a quem se concede a palavra com opiniões próprias.

Tenho notado que algumas das nossas entrevistadoras sofrem de uma espécie de bulimia verbal: perguntam, comentam, interrompem, exprimem as próprias ideias: são elas que se devem salientar e não o entrevistado.
Esquecem-se que a opinião da ou do entrevistador não interessa, mas sim a do entrevistado.

Por vezes, parece-me que Fátima Campos Ferreira padece deste mau costume. E nisto vejo um grande contra.

No último programa excedeu-se. Houve ocasiões em que roçou a má educação, sobretudo quando intervinha o presidente do BPI, Fernando Ulrich. Este Senhor expunha os seus pontos de vista e a condutora falava ao mesmo tempo; não para o interromper, mas para exprimir comentários sem a mínima preocupação de cometer uma indelicadeza imprópria de um bom profissional. Péssimo espectáculo!

É justa a interrupção, quando um participante se alonga ou se torna verborreico. Mas um bom condutor encontra sempre uma pergunta rápida e oportuna que consegue interromper e desviar com inteligência digressões que nada esclarecem.

Insisto, as opiniões do condutor são dispensáveis. Que demonstre preparação, bom conhecimento das matérias em discussão e, mercê destas capacidades, saiba levar os intervenientes a dar o máximo brilho e interesse ao debate; é nisto que se nota o autêntico e grande profissionalismo.
Logo, seria aconselhável que jamais esquecesse que não são as verbosidades inoportunas que lhe podem dar classe.

Alda M. Maia

domingo, outubro 12, 2008

CRISE FINANCEIRA OU CRISE DE IDEIAS?
CRISE DE ÉTICA, ACIMA DE TUDO.


Ou crise de bons líderes políticos? Também este seria um bom ponto a considerar na babel de opiniões e análises sobre o caos financeiro.

Comecemos pela conferência dos quatro mosqueteiros que guiam França, Itália, Alemanha e Inglaterra: resolveram encontrar-se, esquecendo os restantes países que formam a “desunião europeia”.
E pensava eu que, ao menos nas questões económicas, os espadachins poderiam gritar “um por todos e todos por um”, isto é, encontremos maneira de neutralizar a desorientação e perda de confiança que estão a destruir os mercados financeiros e cujas consequências serão tremendas para a economia real.
Coordenemos as nossas intervenções e sejamos inteligentes no modo de as pôr em prática, de acordo com as necessidades de cada país.

Foi isso o que fizeram? Que resultou de tal encontro? Nada! Oxalá sejam mais brilhantes nas decisões de hoje.
Sobretudo, que inspirem credibilidade.

No que concerne os copiosíssimos editoriais, análises, comentários, críticas que os meios de comunicação publicaram e publicam, há um particular, de não pequena importância, que me deixou boquiaberta: a desenvoltura do volte face de vários opinionistas sobre questões financeiras e económicas.
Precedentemente, quantas vezes emitiram opiniões, análises, cuja tese era literalmente oposta ao que hoje defendem!!
Falta de seriedade ou cálculos errados sobre a memória de quem os ouve ou lê?

O liberismo era o non plus ultra do desenvolvimento, da criação de riqueza. O mercado deveria ser libérrimo e o Estado que não criasse obstáculos ao que se revelou, agora, um autêntico far west, no mundo da finança.

O Estado não é a solução, mas o problema”, enunciou o presidente Reagan: para quê empecilhos de regras sob uma observação atenta desse Estado fastidioso?

Estou a lembrar-me de certos filhos que, peremptoriamente, declaram não admitir interferências ou conselhos assisados dos pais.
Surgem as dificuldades, esbarram contra problemas angustiantes, ei-los a refugiar-se sob a protecção paterna.
Assim, o Estado, nestes momentos de pânico, tornou-se na mãe protectora, como um jornalista o apelidou.

Será mãe protectora, mas com o sacrifício dos filhos pobres e da classe média.
Não faltaram estatísticas a denunciar uma exígua percentagem de ricos que ficavam cada vez mais ricos contra a grande massa que empobrecia.

Não faltaram economistas competentes que prenunciaram a gravíssima crise de hoje, mas a política ficou muda.

Não faltaram pessoas de bom senso que invocavam o predomínio da ética, mas a política ou a mediocridade dos políticos hodiernos sofriam de grande surdez a esse propósito. Curá-la-ão?

Tenhamos esperança que esta crise sirva para despertar o sentido de Estado e imponha a determinação, bem reforçada, de colocar a ÉTICA no trono que lhe pertence e do qual nunca deveria ter descido.

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Insistem na opinião que a América perdeu importância e credibilidade. Outros países emergentes a suplantarão, nunca mais será a mesma, etc., etc.
Tretas! O orgulho e potencialidades daquele grande país - onde há muitas Américas - saberão tirá-lo do pântano em que se atolou. Levará tempo, mas ressurgirá.
Entretanto, que não me elejam aquelas duas desgraças: McCain e a pistoleira Sarah Palin, sendo a segunda mais intragável que o primeiro!
Alda M. Maia

domingo, outubro 05, 2008

INTOLERÂNCIA E RACISMO

É-me impossível não fazer comparações com o que se passa em Portugal e o que sucede na Itália.

Visto que agressões violentas de puro racismo se sucedem em várias regiões italianas, não somente provocadas por civis, como por agentes da ordem, vejo as preocupações e sugestões de Paulo Portas, contra imigrantes, como uma atitude decididamente antipática.
Considero-as muito semelhantes às doutrinas que, na Itália, induzem tantos energúmenos a pôr em prática actos de selvagem brutalidade: não somente através da violência física, como também de uma não menos odiosa violência oral.

Em Portugal, é inegável que se verificou um aumento da criminalidade, mas não é justo que se deva atribuir aos imigrantes o maior peso da delinquência existente.

O CDS não será xenófobo, mas intolerante, o que, na minha opinião, é pior: é na intolerância que se aninham as discriminações indignas de um país civilizado e democrático.

No centro-direita italiano, foi desse modo brando que a onda xenófoba, racista e anti-imigrante nasceu e foi crescendo: a Liga Norte é o porta-bandeira, como todos sabem.
Assim, de há um tempo a esta parte, quase diariamente, desencadeou-se uma violência incontrolada, sobretudo contra africanos.
A sineta de alarme racismo começou a tocar freneticamente. Se não houver intervenção político, a magistratura ainda é independente, graças a Deus!

No que concerne a aceitação de imigrantes em Portugal (ou a concessão da nacionalidade, presumo), achei divertida - para não dizer estúpida - a proposta do Sr. Portas: “um contrato em que o candidato se compromete a cumprir integralmente a lei portuguesa”.
É melhor ser sincera e dizer que essa proposta me parece mais estúpida que divertida.

Se um imigrante deseja estabelecer-se em Portugal, é óbvio que deve, é obrigado a respeitar as leis válidas para qualquer cidadão que vive neste País. As leis são iguais para todos – nem sempre… - e todos as devem respeitar. Elementar, Mr. Portas!

Se, pelo contrário, entram no território português com a única intenção de traficar droga ou exercer actos de banditismo, certamente devem ser encarcerados, julgados e, cumprida a pena, expulsos.
Esses não são imigrantes, mas delinquentes que vagueiam pelos países europeus e onde o acesso às fronteiras se torna fácil.

Quanto ao respeito por culturas diferentes, ninguém as contraria, desde que não entrem em choque com as nossas leis ou com os direitos humanos.
Tudo isto é uma obviedade que está ao alcance da inteligência do comum cidadão e que a Lei da Imigração já muito bem equilibrou.

Seja-me permitida uma pergunta maliciosa: Paulo Portas não teria participado em qualquer seminário organizado pela Liga Norte?

Para terminar, quero transcrever alguns excertos do discurso pronunciado em Veneza pelo vice-presidente da Câmara da cidade de Treviso, Giancarlo Gentillini, leguista dos quatro costados.

(…) Quero a revolução contra os clandestinos. Quero a revolução contra os acampamentos dos nómadas, ciganos. Já destruí dois em Treviso e agora não há nenhum. Quero eliminar as crianças que roubam aos velhinhos.

(…) Quero a revolução contra aqueles que querem abrir mesquitas e centros islâmicos. Aqui, àqueles que dizem, inclusive as hierarquias eclesiásticas, “deixemo-los orar”, eu digo não. Que vão rezar nos desertos. Abrirei uma fábrica de tapetes para oferecer-lhos, mas que vão rezar lá para o deserto. Bastaaaa!!! Escrevi ao Papa: os islâmicos que voltem para os seus países.

Quero a revolução contra a magistratura. Para aplicar as leis devem ser os juízes vénetos.

Quero a revolução contra os phone center, cujos clientes põem-se a comer a altas horas da noite e depois vão urinar contra as paredes: que vão urinar nas mesquitas deeeeles!!!!
Quero a revolução contra os véus e ou burca das mulheres. Quero ver-lhes a cara, pois que, escondido pelos véus, pode estar um terrorista com uma metralhadora entre as pernas. Quando muito, que mostrem o umbigo!...

Quero a revolução contra quem pensa conceder o voto a extracomunitários. Não quero ver negros, castanhos ou cinzentos que ensinem as nossas crianças. Que lhes podem ensinar? A civilização do deserto? O voto é só nosso
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Todo o discurso, no tom e conteúdo, é semelhante ao que transcrevi.

Giancarlo Gentillini foi constituído arguido pela grosseria e violência das baboseiras, em forma de discurso, gritadas em Veneza: “crime de instigação ao ódio racial”.

Grandes aplausos, e bem merecidos, à Magistratura de Veneza

Também grandes aplausos aos nossos Tribunais pelas condenações aos nazi-fascistas que empestam a Terra Lusa.
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Odeio extremismos, quer nas ideias, quer nos actos daí derivados. De esquerda ou direita, são uma praga quase inextirpável, desgraçadamente.
Alda M. Maia