segunda-feira, outubro 26, 2009

CASOS DA SEMANA

Parlamento Europeu e a resolução para um pluralismo correcto da informação.

Mas o Parlamento Europeu, na sessão plenária de 19-22 de Outubro, em Estrasburgo, não decidiu absolutamente nada sobre o que poderia ser a adopção de directivas gerais para uma liberdade de informação correcta e sem as anomalias que se verificam na Itália.

Por três votos apenas, gorou-se uma iniciativa que, embora apresentasse a situação actual italiana como o paradigma negativo, contribuiria para um clima de maior serenidade e independência de quem deve informar a opinião pública, nos países-membros da União Europeia.

É penosa a declaração do não voto de Ilda Figueiredo do PCP. (…) No entanto, discordamos de alguns aspectos desta resolução que raiam a ingerência na vida democrática de cada país (…).
Basta esta asserção para desacreditar quaisquer outras justificações. Não haja dúvida que os extremos tocam-se… e chegam a entendimento!

Este argumento foi uma espécie de leitmotiv dos conservadores do PPE e compadres da extrema-direita: “Utilizava-se a União Europeia para discutir questões políticas nacionais”.
O Parlamento Europeu não tem poderes no assunto em questão e não deveria ser utilizado para ajustes de contas” – Joseph Daul, líder do PPE.

O caso italiano existe e só o não vê quem não quer. Em nenhum outro país da União há um primeiro-ministro que alia ao poder político um esmagador poder informativo.
A França também não está muito melhor: “Sarkozy nomeia directamente os directores da TV pública e, indirectamente, os da informação privada, graças à cumplicidade dos seus ricos amigos editores” – Gigi Riva em “Sua Majestade Sarkozy”.

Estas situações são toleráveis dentro de uma União Europeia, onde as regras democráticas devem ser claras e incontestáveis?

Propôs-se uma resolução de directivas em defesa da liberdade de informação: Uma liberdade serena, correcta e ao abrigo de todas e quaisquer pressões: era isto o que se pedia ao Parlamento Europeu e era isto o que se propugnava para todos os países-membros.
A Itália servia apenas como um péssimo exemplo, a fim de que os demais países o rejeitassem.

As manifestações de alegria dos conservadores amigos de Berlusconi - inclusive os nossos deputados, obviamente – ante a não aprovação do Parlamento Europeu dessa resolução, só retratam escassa dignidade política, pois conhecem apenas os joguinhos do poder, as oportunidades de confortáveis poltronas, concertações nos bastidores, demonstrando-se incapazes de reflectir e ponderar sobre estes problemas.
Bastar-lhes-ia ler, no dia anterior, o relatório 2009 dos “Repórteres sem Fronteiras”, acerca da liberdade de informação em 175 países e onde a Europa, maioritariamente, está em queda (
www.rsf.org).

Grande parte dos deputados europeus terá formação intelectual e preparação adequada ao lugar para que foram eleitos? Analisando várias performances, não é ousado alimentar fortes dúvidas.

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A CASTA SUPERIOR QUE ESTUDOU

Nos tempos em que estudar era um privilégio e estava ao alcance de poucos.

Outro caso que já foi muito falado e comentado: a Bíblia e Saramago.
Certamente que foi infeliz, inoportuno, insensível ao sentir e opinião de milhões de crentes ou de estudiosos, exegetas da Bíblia.
Aquelas bacoradas – o termo não é elegante, mas expressivo – não me escandalizaram. Sabemos que Saramago é provocador e arrogante. Pontifica, quando a sua inteligência deveria aconselhar-lhe bom senso e moderação sobre certos argumentos delicados.

Escandalizou-me, isso sim, o que Vasco Pulido Valente escreveu, a este propósito, na sua habitual "opiniões" - no jornal Público - e a que chamou “Uma Farsa”.
Melhor dizendo: mais que escandalizar, enojou-me.

(…) São ideias de trolha ou de tipógrafo semianalfabeto. (…) Claro que Saramago tem 80 e tal anos, coisa que não costuma acompanhar uma cabeça clara, e que, ainda por cima, não estudou o que devia estudar, muito provavelmente contra a vontade dele. (…) D. Manuel Clemente conhece com certeza a dificuldade de explicar a mediocridade a um medíocre e a impossibilidade prática de suprir, sobre ou tarde, certos dotes de nascença e de educação. (…) O que, finalmente, espanta neste ridículo episódio não é Saramago, de quem – suponho – não se esperava melhor. É a extraordinária importância que lhe deram criaturas com bom senso e a escolaridade obrigatória.

Quanta empáfia do intelectual com estudos! Quanto desdém classista de quem não foi tipógrafo, por exemplo - para um descendente de casta superior, vade retro, Satana!
Quanta falta de senhorilidade e quanta acrimónia mesquinha nos comentários expressos pelo Sr. Pulido Valente!
Por fim, quanta inveja e despeito de quem se alcandora nos cimos da importância social e, no fim de contas, não passa de um intelectual de uso caseiro, mas que nem sequer é doc.

PS.
No citado artigo de Vasco P. Valente está escrito: "Principalmente a dignatários (que deveria ser dignitários) da igreja como o bispo do Porto" (...)
Gralha ou ignorância?
Alda M. Maia

domingo, outubro 18, 2009

NORBERTO BOBBIO: CENTENÁRIO DO NASCIMENTO
.Norberto Bobbio
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Nasceu na cidade de Turim em 18 de Outubro 1909 e morreu, na mesma cidade, em 9 de Janeiro 2004.

Seria grande presunção da minha parte, e bastante ridícula, se me propusesse dedicar este texto a Norberto Bobbio, dissertando sobre os méritos deste extraordinário pensador italiano do século vinte.
Limitar-me-ei a falar, de coração aberto, sobre a grande simpatia e admiração que sempre me inspirou.

Em Turim, de 15 a 17 de Outubro, teve lugar um congresso internacional em honra do grande filósofo e “figura de referência muito significativa, não só na Itália, como na Europa”.
Filósofo, historiador, editorialista, professor de Filosofia do Direito, senador vitalício, autor de várias obras, algumas das quais também editadas em Portugal.

O programa das comemorações do centenário do nascimento - incluindo uma mostra (sempre em Turim) que será “um resumo policêntrico sobre o tema «Bobbio e il Novecento» - prolongar-se-á por todo o ano 2010.

Por duas ou três vezes, cruzei-me na rua com este Senhor que morava na Via Sacchi, centro da cidade.

Na primeira vez, depois de ter lido vários artigos que ele publicava no jornal La Stampa e alguns dos seus livros, de o ter visto em entrevistas televisivas e, portanto, de ter obtido um modesto conhecimento da espessura intelectual de Bobbio, a minha curiosidade foi quase desmedida: tive de fazer um esforço enorme para disciplinar os olhares e não ser mal-educada.

Na segunda vez, só recordo o quanto lamentei não ser atrevida, parar e manifestar-lhe a minha estima. Mas nunca tive cara de bronze, “lata”, para tais iniciativas.

As obras que Bobbio publicou espraiam-se pela filosofia, direito, política, ética, temas de comportamento e empenho civil, história, enfim, um olhar profundo em grandes horizontes.

Encorajei-me a comprar e ler: “Política e Cultura”; “Qual Socialismo?”; “O futuro da Democracia”; “Ensaios sobre Ciência Política na Itália”; “Direita e Esquerda – Razões e significados de uma distinção política”.
Traduzo os títulos da versão original; não sei os que foram adoptados na tradução em português. Presumo que sejam idênticos, pois são facilmente traduzíveis.

Na mudança de Turim para Famalicão, as primeiras três obras desapareceram – assim como desapareceram obras de Primo Levi e outros autores que não encontro e que sabia ter encaixotado. Restam-me as últimas duas.
O centenário do nascimento de Bobbio será um bom motivo para readquiri-las, além de outras.

“Direita e Esquerda”, um pequeno volume de 141 páginas (a 2.ª edição de 1995, em italiano), é um livro que recomendo (foi publicado em Portugal).
Muito interessante para iniciados e não iniciados e sempre de actualidade, por muito que queiram apagar o famosa dicotomia: direita/esquerda.

Há uma característica que espelha a beleza literária de Bobbio: a clareza e simplicidade - logo, a grande acessibilidade - como enfrenta e desenvolve os mais elevados temas e raciocínios. Paralelamente, o equilíbrio e bom senso que procura transmitir.

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Convido ao estudo, à reflexão, à meditação sobre as coisas da história; a abandonar as frases feitas, as fórmulas, os catecismos, a prosápia dos iniciados, a desdoutrinação e a doutorice, o falar difícil, a gíria das escolas e das seitas; a estudar os mecanismos do poder e não somente das ideologias que os legitimam ou recusam; a preferir a veste de quem não compreendeu nada à de quem compreendeu tudo” - Norberto Bobbio

O dever dos homens de cultura, hoje mais do que nunca, é o de semear dúvidas, não de recolher certezas.
De certezas – revestidas com a pomposidade do mito ou edificadas com as pedras duras do dogma – estão cheias, trasbordantes as crónicas da pseudocultura dos improvisadores, dos diletantes, dos propagandistas interessados.

Cultura significa medida, ponderação, circunspecção: avaliar todos os argumentos antes de pronunciar-se; controlar todos os testemunhos antes de decidir; nunca pronunciar-se e decidir à guisa de oráculo, da qual dependa, de modo irrevogável, uma escolha peremptória e definitiva. (…)
Ao homem de cultura não cabe outro dever senão o de compreender e ajudar a compreender
. (…) – Norberto Bobbio

Certamente que uma democracia tem necessidade de instituições próprias, mas não vive se estas instituições não são alimentadas por sólidos princípios. Onde os princípios que inspiraram as instituições perdem vigor nos ânimos, também as instituições decaem; tornam-se em esqueletos vazios e correm o risco de, ao primeiro choque, acabar em pó. (…) – Norberto Bobbio

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Alda M. Maia

segunda-feira, outubro 12, 2009

DIGAM O QUE DISSEREM, O PRÉMIO FOI BEM ENTREGUE

Ficará na história, todavia, como o Nobel das múltiplas perplexidades e mil controvérsias.
Cá na Europa, os ex-admiradores de Bush, - se não admiradores, pelo menos muito compreensivos da sua actuação como presidente - são os que evidenciam o mais elevado grau de cepticismo.
Pela sua obviedade, é inútil aludir às críticas e sarcasmos dos americanos conservadores.

O leitmotiv das perplexidades apresenta-se com roupagens diversas, mas o significado é sempre o mesmo: um Nobel da Paz prematuro ou precipitado; prémio à esperança; prémio ao futuro; prémio ratoeira, pois ainda nada fez e só lhe trará problemas… em conclusão, após nove meses de presidência, Barack Obama tinha obrigação de mostrar obra, mesmo as do reino do impossível.
Ademais, este género de prémios, no entendimento geral, apenas se concede no fim da caminhada – o que nem sempre tem sucedido

Num debate sobre o Nobel a Obama, um interveniente usou uma imagem que tenho gosto em compartilhar.
Quando assistimos a um concerto de um famoso pianista, bastam os primeiros acordes e já compreendemos que não é necessário esperar pelo final do concerto para concluirmos se estamos perante um excelente ou um artista medíocre.
Não creio que nestes nove meses de actuação, como Presidente dos Estados Unidos, Obama tenha demonstrado ser um mau executor.

Não creio também que a observação crítica sobre os seus discursos, acusando-o de belas palavras e poucas acções, seja correcta. As boas palavras, provindas de quem tem demonstrado seriedade, forjam um grande impacto. O famoso discurso do Cairo está a demonstrá-lo.

Quando se diz que não fez nada, que nada demonstrou, fala-se por falar. Fala-se por arrastamento de opiniões alheias, pela antipatia que o personagem pode inspirar, porque se dá lugar à superficialidade, em vez de ponderar com atenção o que vai sucedendo.
Fala-se, também, porque se esperava que resolvesse, imediatamente, todas as calamidades que o antecessor provocara. Como se esse “imediatamente” fosse possível!

Limpar, agora, os escombros das demolições de Bush e deixar uma situação de estabilidade, onde quer que seja, recorre-se ao ditado já antigo: quase sempre, tem de se concluir uma guerra suja a fim de atingir uma paz boa e estável.

Cada um pense como quiser. Somente, seria correcto se déssemos menos lugar à banalidade de opiniões preconcebidas e mais a uma observação cuidadosa e imparcial do que tem sucedido e do que é possível.
Este “nada” que serve de argumento negativo já fez brotar “rebentos que anunciam bons frutos”; não foram necessárias acções plateias, mas o sonho de preferir a concórdia.

Para finalizar, há uma perplexidade que também alimento. Que Obama mereça este prémio, merece-o. Que o alivie do pesado fardo de problemas que tenta e deve resolver, mantenho muitas reservas.

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Falemos agora de coisas menos sérias, mas sempre concernentes o Prémio Nobel da Paz.

Correu voz, e é verdade, que há um comité a trabalhar para a candidatura de Berlusconi ao Nobel de Oslo 2010... sim, sempre aquela mina inesgotável de comicidade, quando não irrita.

Transcrevo um apanhado do que se lê no site: “Perchè Sílvio Berlusconi?
www.silvioperilnobel.it

Sílvio Berlusconi reforçou as ligações com os Estados Unidos, mediou na crise Rússia/Geórgia 2008, assim como entre USA e Líbia. Além disso, desenvolveu uma acção reconhecida e notável para a obtenção de uma paz durável entre Israel e Palestina”. (?!)
Citação: “Nunca teríamos obtido um acordo entre georgianos e russos se Berlusconi não tivesse feito valer as suas relações de amizade e confiança com Vladimir Putin” – Nicholas Sarkozy, 24/02/2009

Sarkozy teria dito isto?!!! Acho estranho, mas se é verdade, com as mãos nos bolsos, sabe-se lá quantas figas acompanharam a despudorada asserção.

Restabeleceu entre os Estados Unidos e Federação Russa o mesmo clima de diálogo e de amizade que tinha desabrochado no vértice de Pratica di Mare de 2003 e que pôs fim, definitivamente, à Guerra Fria”.

A diplomacia americana anda mesmo de rastos! Imaginem que teve necessidade da amizade do Pinóquio Berlusconi com Putin para sanar controvérsias, incompreensões e hostilidades decenais!

Mas continuemos na transcrição das razões por que o Sílvio deve ser candidato.

Graças às boas relações estabelecidas nestes anos, sobretudo com a Turquia, e graças à óptima consideração internacional conquistada com o bom governo, Sílvio Berlusconi teve um papel decisivo na nomeação de Rasmussen a Secretário-Geral da Nato. (o negrito é meu)
Na conferência de imprensa do vértice EU/Usa, o primeiro-ministro explicou: Todos, hoje, me estão reconhecidos e me agradeceram. Sem a nossa intervenção (o nosso majestático!) não teria sido possível a nomeação do novo Secretário-Geral, o que seria gravíssimo”.

Recordemos o célebre telefonema e Ângela Merkel à espera que a grosseria do acto tivesse fim.
A Nato deve dedicar-lhe um busto, mas com um nariz de um metro.

As motivações que o comité apresenta reproduzem, na íntegra, os “méritos” que Berlusconi apregoa, com uma cara de bronze sem igual, através de todos os canais de comunicação.
A estes, juntam-se tantos outros factos sem qualquer base de veracidade defensável, mas dos quais o homem se vangloria descaradamente.

O que é triste é vermos tanta gente tomar a sério estes delírios e aceitá-los como verdadeiros.
Fora da Itália, quanta paciência com um primeiro-ministro de um país amigo – mal-educado, mentiroso e sem noção do que é ser homem de Estado - a fim de evitar graves problemas diplomáticos!

Fechemos com um comentário bastante espirituoso que apareceu em Facebook, a propósito do Nobel e Berlusconi: “O bronzeado bifou-lhe o Nobel!
Alda M. Maia

domingo, outubro 04, 2009

OS "CÃES DE GUARDA" DA DEMOCRACIA
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Manifestação em Roma pela liberdade de expressão
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Penso que haja muitos, embora existam outros que não sendo propriamente vigilantes, actuam como guardas irremovíveis, isto é, as instituições que equilibram o funcionamento das democracias dignas deste nome.

Normalmente, atribui-se o apelativo “cães de guarda” à liberdade de imprensa. Uso o termo apelativo, porque nele vejo o implícito apelo a que a imprensa seja constante e tenazmente o “cão de guarda” da correcção dos poderes democráticos.

Outro "cão de guarda" seria a opinião pública, se todos cultivassem a preocupação e o interesse de se manterem informados - “O cidadão não informado ou informado mal é menos livre” – Valério Onida, presidente emérito do Tribunal constitucional Italiano.

Mas, também neste caso, será sempre a liberdade e seriedade da informação a fonte onde pode beber o conhecimento de como funciona ou deve funcionar a coisa pública.

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Estive a seguir a gigantesca manifestação que se efectuou, ontem, em Roma, assim como em várias outras cidades italianas, contra as tentativas de manipular e intimidar a liberdade de expressão, organizada pela Federação Nacional da Imprensa Italiana (FNSI).

Houve jornalistas, porém, que se demarcaram, alegando que se tratava de um protesto injustificado.

Jornalistas que trabalham sob ditado ou para um patrão e respectiva facção política, obviamente.
Quaisquer perplexidades sobre o condicionamento da informação não lhes arranham a inteligência nem lhes sugerem que as circunstâncias onde navegam protegidos estão sujeitas a naturais mutações.
Ora, a manifestação de ontem exigia o respeito pela liberdade de informação, em todas os meios que a expressam, em todos os tempos, em qualquer lugar, sem atitudes intimidatórias nem riscos de retaliações, como se tem verificado.

O que mais detesto num jornalista é a falta de verticalidade. Quando este aprumo vacila, apenas existem duas interpretações: ou está ao serviço de um patrão (ou de uma ideologia intransigente) ou trabalha num país onde impera o pensamento único. Neste último caso, e só neste caso, encontra justificação.

Na Itália, não podemos dizer que haja absoluta falta de liberdade de imprensa.
Simplesmente, Berlusconi não tolera críticas e entende que os votos que o elegeram dão-lhe toda a autoridade para impor um modus operandi que o coloca acima das instituições, das regras democráticas e da decência.

Nos dois canais de Estado, RAIuno e RAIdue, impôs, praticamente, pessoas da sua confiança ou que trabalharam nas suas televisões. Nestes canais (além das televisões de que é proprietário), apenas se transmite o que não importuna o “sultão” (assim o apelidou Giovanni Sartori) e as informações que servem os seus desígnios de cloroformizar a população com a apologia do personagem e realidades que não existem - "69,3% dos eleitores italianos informou-se e escolheu quem votar apenas através das notícias e comentários dos telejornais".
Ora, os lacaios - e são tantos! – tudo fazem para satisfazer os interesses deste ditadorzeco endinheirado.

Ainda não conseguiu controlar RAItre. Porém, os programas indóceis deste canal sofrem todos os tipos de pressões e dificuldades. Descaradamente!

Os jornais de que é proprietário têm sido usados como uma autêntica clava para ataques sujos e intimidatórios contra quem ousa criticá-lo. Basta recordar o que fizeram ao director do jornal da Conferência Episcopal Italiana, Avvenire, forçando-o a demitir-se.

Pergunto-me o que vários jornais estrangeiros também perguntaram: como é possível ter havido necessidade de efectuar uma manifestação pela liberdade de informação, num grande país europeu democrático?!

A esta pergunta junto uma outra: por que espera a UE para enfrentar este problema de atropelos à democracia, dentro de um país fundador?
Com qual credibilidade pode exigir o respeito pelas normas democráticas, como condição fundamental, aos países que pretendem entrar na União?

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Annozero”, programa polémico, irreverente, discutível ou não, mas arrojado.
Após as férias, a fim de recomeçar com as novas transmissões semanais (à quinta-feira), houve mil entraves na renovação do contrato, quer do condutor, quer dos participantes fixos: insuportável fumo nos olhos e fogo nas vísceras do “sultão” e acólitos!

Nesta última quinta-feira, estava anunciada uma entrevista com Patrizia D’Addario, a famosa companheira da noite de alta classe com quem Berlusconi dormira.
Protestos, indignações, cartas da direcção RAI convidando (?) a truncar essa malfadada entrevista… enfim, fogo cerrado.

Valeu de pouco. O autor do programa, Miguel Santoro, rebelou-se e pôs no ar a entrevista e as declarações da senhora D’Addario: Berlusconi sabia muito bem quem ela era, - exactamente o contrário das “verdades” do primeiro-ministro – que lhe fora prometido uma candidatura para o Parlamento Europeu ou para as autárquicas, etc., etc.
E lá se afundou a versão oficial que desconhecia quem fosse Patrizia D’Addario!...

Segui todo o programa, com atenção e divertida - teve mais de sete milhões de telespectadores.
Escandalizada? Não. Encadeiam-se tantas e tão diversas anomalias que se espera sempre que tudo dê uma reviravolta e, seja lá qual for a cor política democrática em acção, de novo se instale o bom senso, a decência e o respeito pela instituição e o País que se representa.
Alda M. Maia