domingo, maio 25, 2008

SERÁ UM ACORDO ORTOGRÁFICO,
CACOGRÁFICO OU “CAOGRÁFICO”?


"In Portogallo si parlerà «brasiliano»
Il Parlamento di Lisbona approva il progetto: si adegua la lingua agli standard dell’ex colonia".

Título e subtítulo de um artigo do "Corriere della Sera" sobre a aprovação do Segundo Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico, na Assembleia da República.

"Em Portugal falar-se-á «brasileiro».
O Parlamento de Lisboa aprova o projecto: adapta-se a língua às normas da ex-colónia”.

Pensei não voltar a escrever sobre este assunto. Todavia, o que li no jornal italiano, e que me deixou “a boca amarga”, levou-me a mudar de ideias

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O autor do artigo – Rocco Cotroneo - parece ter uma opinião muito própria no modo de interpretar a aprovação do Acordo. Mas será pessoal ou é mesmo a realidade que se impõe e, portanto, a interpretação não poderia ser diferente?
Respigo algumas passagens.

(…) Só dez milhões de pessoas falam português onde a língua nasceu, enquanto no resto do mundo são 220 milhões, em grande parte brasileiros: era bem previsível que quem deveria sucumbir, no processo de unificação, fosse precisamente Portugal, e assim aconteceu.
(…) Quase todas as modificações desviam as regras para o uso brasileiro da língua, muito simplificadas de há séculos.
(…) Os fautores da reforma sustentam que os benefícios serão consideráveis; desde a busca via Internet à linguagem jurídica internacional.
(…) À capitulação opuseram-se, até ao fim, os puristas do idioma que entregaram uma petição de 33.000 assinaturas aos deputados, a fim de votarem contra a reforma. Mas não houve nada que fazer
- o negrito é meu

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Em Angola, Moçambique e os demais países africanos, não creio se use o português brasileiro. Poderá haver muitas variações fonéticas e semânticas, inevitáveis e naturais, mas o português é o de Portugal, por enquanto.
Somos dez milhões no nosso País: não esqueçamos as comunidades portuguesas que vivem no estrangeiro e que somam alguns milhões.

Benefícios consideráveis na busca via Internet e linguagem jurídica?!
Acaso vivemos num país de inteligências limitadas, com escassez de cérebros capazes de criar programas informáticos à altura de um país de língua românica!?
Acorrerão e ocorrerão então as fórmulas brasileiras, dando-nos boleia informática, a nós, «bárbaros» da Península Ibérica?
Ai a nossa falta de auto-estima que induz os de fora a apoucar-nos!

“À capitulação opuseram-se os puristas da língua”.
Frase bastante infeliz ou, pelo menos, irritante: irritante quanto ao vocábulo “capitulação” … visto que não está longe da verdade; errada, quando reduz os opositores a puristas da língua.

Antes de puristas, vejo-os como defensores da estrutura da língua que falamos e escrevemos. No número destes opositores, avultam os profundos conhecedores do nosso idioma, os quais usam argumentos sólidos para contestarem o modo estranho como gizaram, aprovaram e impõem o Acordo.

Acerca desta grande polémica, li atentamente as intervenções, opostas, de Vasco Graça Moura e Carlos Reis, na audição pública promovida pela Comissão de Ética, Sociedade e Cultura da Assembleia da República.

Enquanto o Professor Carlos Reis desenvolve uma tese mais tribunícia que técnica, portanto retórica e não convincente - ao contrário do que esperaríamos, dado o seu currículo académico - o Dr. Vasco Graça Moura, embora entregue a negros pessimismos, vai ao cerne da questão e, com dados tecnicamente irrefutáveis, aponta incorrecções e alterações inaceitáveis para a estrutura do nosso português.

Informa, também, que não se consultou “nenhuma Universidade portuguesa, o Conselho de Reitores, a Associação Portuguesa de Escritores, a Sociedade de Língua Portuguesa; não se ouviu o parecer negativo da Direcção-Geral do Ensino Básico e Secundário”.
Devemos concluir que temos aqui o caso do sapateiro que foi além da chinela?

Já possuía prontuários ortográficos com as alterações, detalhadas, do Acordo de 1991; adquiri, nestes últimos dias, o “Guia Prático” da Porto Editora.
Não descurei a leitura dos textos publicados – a favor e contra - que melhor me informassem. A minha opinião é sempre a mesma: este Acordo, na sua totalidade, não beneficia o português de Portugal. Aceitá-lo, na íntegra, é errado, errado, errado.
Considero-o um Acordo inconsequente, submisso, caótico.

O observador italiano tem razão: capitulámos! E capitulámos perante vantagens hipotéticas de uma unidade que, naturalmente, não existe nem jamais existirá.
Achatámo-nos, ou fizeram-nos achatar, á ortografia brasileira sem considerarem a ortoépia caracterizadora da nossa linguagem.
Se o único objectivo será ver o português como língua oficial na ONU e profetizam que só o português brasileiro tem foros de legitimidade, pelo maior número de falantes, saibam as autoridades competentes dar mais vigor e incisividade à expansão da nossa língua, - o que, infelizmente, nunca fizeram. Exijamos, depois, versão dupla. É um fenómeno corrente; não vejo onde esteja o problema.

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ACORDO "CAOGRÁFICO"
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O elemento de composição cao (caos) existe (Houaiss). Visto que neste Acordo a ortografia, em certas bases, passará a ser à la carte, isto é, da lista poderemos escolher o que mais nos agrade, seja-me permitido criar um neologismo: caografia.

Vejamos alguns exemplos do que considero caos gráfico: infecioso ou infeccioso; amigdalite ou amidalite; amnistia ou anistia; facto ou fato; indemnizar ou indenizar, etc., etc., etc.
Chegamos a dicção ou dição. Que faz ali o ou, quando se trata de duas palavras de significado diferente?
Dicção = maneira de dizer ou de pronunciar, etc. (lat. dictione); dição = domínio (lat.ditione).

O Dr. Carlos Reis fala muito das incoerências da língua portuguesa. Cita os vocábulos herbanário e ervanário, a abundância das homografias. Neste sentido, alonga-se em múltiplos exemplos. Frágeis, a meu ver, para aquilo que defende.
Se assim não fosse, para quê aumentar, no novo Acordo, a babel nesse campo da semelhança dos significantes? É isto coerência?

Não quero demorar-me sobre a supressão das consoantes mudas ou não articuladas. Basta dizer que passou por ali uma foice implacável. Nenhum dos obreiros desta ceifa deve estar muito familiarizado com a nossa tendência para emudecer as sílabas átonas, sobretudo quando incluem as vogais e, o. Assim, com o andar dos tempos, não será estranho ler-se injção por injèção; adutar por adòtar; a estes exemplos podem juntar-se muitos e muitos outros.

Nenhum desses ceifeiros ponderou que, no Brasil, as vogais pronunciam-se todas e claramente. Logo, regras iguais, neste sector, são absurdas – abissurdas, à boa maneira do Brasil – mas os entusiastas do Acordo, sobre este problema, deslizam.
Relativamente a essas consoantes, podemos ler o que indica o excelente "Tratado de Ortografia de Língua Portuguesa" de Rebelo Gonçalves:
(…) Ocorrem em seu favor outras razões, como a tradição ortográfica, a similaridade do português com as demais línguas românicas e a possibilidade de, num dos dois países, exercerem influência no timbre das referidas vogais (a, e, o). (o negrito é meu)

Há outra pérola que me deixou desconcertada: passar-se-á a escrever Egito, mas manter-se-á egípcio. Qual a lógica em tudo isto?

Há sensatez na eliminação de acentos que são óptimos elementos para uma pronúncia correcta? Retorno ao que escrevi atrás: escutaremos veém em vez de vêem; creém por crêem, deém por dêem, leém por lêem - será uma questão de tempo.
Outros acentos, que penso nunca deveriam ser postos em causa, ficam à vontade do freguês.
Acabo como iniciei: ortografia, cacografia ou caografia?
Alda M. Maia

domingo, maio 18, 2008

"O POGROM MODERNO"
PAÍS DE EMIGRANTES, HOJE XENÓFOBO
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Acampamento de ciganos incendiado em Nápoles (Corriere della Sera)
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Maria Teresa Fernández de la Veja, vice-presidente do Governo espanhol, em linguagem muito clara, foi direita ao assunto: El Gobierno rechaza la violência, el racismo y la xenofobia, por tanto, no puede compartir lo que está sucediendo en Italia.

E quem é que poderia compartilhar ou aplaudir a onda perigosa de intolerância que se desencadeou contra os estrangeiros indocumentados, irregulares, e a violência genuinamente racista contra os acampamentos ciganos?!

Perseguir e punir, sem tréguas, o considerável número de imigrantes clandestinos que, efectivamente, chegam ao país com intenções exclusivamente criminosas é sacrossanto e impreterível.
A mesma severidade se deve esperar acerca da criminalidade que grassa em certos acampamentos ciganos, não incriminando, obviamente, tudo e todos os que pertencem a essa etnia, pois não seria justo. São seres humanos que devem merecer uma justiça e consideração iguais às que esperamos para os demais cidadãos.

Bem diferente, direi mesmo repugnante, é a tendência xenófoba, generalizada, como avaliam qualquer imigrante, não distinguindo quem chegou a Itália em busca de um emprego honesto e que, frequentemente, encontra dificuldade a regularizar a própria situação.
Curiosa, então, é a atitude de certos pequenos e médios empresários, sobretudo em algumas regiões do norte: usam a mão-de-obra dos imigrantes irregulares, pagando-os miseravelmente e sem um mínimo de segurança no trabalho; porém, quando se trata de protestar contra a imigração clandestina, ocupam as primeiras filas e são os que berram mais forte!
Decididamente cómico, se não fosse um procedimento execrável.

O leitmotiv das forças de direita, na última campanha eleitoral que ganharam, foi um martelamento contínuo sobre o tema segurança: a Itália corre um grave perigo; os imigrantes sem documentos devem ser expulsos; os acampamentos de ciganos devem ser desfeitos e obrigar os seus ocupantes a abandonar o país (esquecendo-se que existem muitos ciganos com nacionalidade italiana); o povo vive atemorizado com a criminalidade sem freios, provocada por estas excrescências malignas de origem não italiana.

Tanto gritaram “ao lobo”, que despertaram os piores instintos de grande parte da população.

Nestes últimos dias, os jornais têm dedicado amplo espaço aos acontecimentos e ao problema da imigração (que não é somente italiano, mas de toda a Europa).

Dos vários artigos que pude ler, um dos mais interessantes foi “O Pogrom Moderno”, de Adriano Prosperi, no jornal La Repubblica (sexta-feira, 16 de Maio).

(…) Mas o problema mais grave, em absoluto, é um outro: como e porquê os italianos se tornaram racistas? Como e quando as autoridades de governo tomarão iniciativas sérias para a integração civil e para a tutela jurídica de todos os habitantes do país?
Por agora, assiste-se somente a uma prova de quem grita mais alto, de quem encontra as palavras mais ameaçadoras contra os desventurados, contra os danados da terra.
Assistimos a uma rajada de medidas da polícia, reais ou delineadas; a uma competição na qual se empenham administradores locais e poderes centrais de todas as cores e que seria ridícula, se não fosse trágica pelos efeitos de insegurança e de violência que provoca.
Já chegámos às rondas. Resta-nos esperar a chegada dos esquadrões da morte e de polícias «do it yourself».
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É de esperar que os ânimos se acalmem; que o bom senso e um sentido de humanidade e tolerância comecem a iluminar os entusiastas da "ordem, acima de tudo" - e bem sabemos a que cor política atribuir esse entusiasmo.
Alda M. Maia

domingo, maio 11, 2008

O CALVÁRIO DE ALDO MORO


Aldo Moro: professor universitário, figura eminente da política italiana
1916 - 1978
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Em 04 de Maio, 2007, o Parlamento Italiano aprovou a Lei n.º 56, instituindo o “Dia da Memória”

Artigo 1; Alínea 1: A República reconhece o nove de Maio, aniversário do assassínio de Aldo Moro, como “Dia da Memória”, a fim de recordar as vítimas do terrorismo, interno e internacional, e dos massacres de tal matriz.

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Recordo nitidamente aquele tremendo drama que se arrastou de 16 de Março 1978 a 9 de Maio do mesmo ano.

Tudo foi trágico: o rapto de Moro pelas Brigadas Vermelhas, o massacre dos cinco homens que o escoltavam e a sucessão interminável de eventos daí derivados e que se prolongaram por 55 dias; a manhã do dia 9 de Maio em que encontraram o corpo de Aldo Moro, na mala da Renault4, na Rua Caetani: precisamente entre Piazza del Gesù, sede do partido “Democracia Cristã”, e Rua delle Botteghe Oscure, sede do "Partido Comunista Italiano".

Esta distância intermédia entre a sede dos dois maiores partidos italianos é muito eloquente e simbólica: o “fronte revolucionário” (um bando de assassinos delirantes) não aceita acordos entre a DC e o PCI”.

Eram as Brigadas Vermelhas ou alguém que as utilizou para fazer naufragar o famoso “compromisso histórico” - perspectiva política de uma colaboração e entendimento entre as forças de inspiração comunista e socialista e as forças de inspiração cristã e que estava para tornar-se realidade?
Os mistérios que pairam sobre o sequestro e assassínio de Aldo Moro nunca se esclareceram totalmente. Ainda persistem muitos pontos interrogativos.

O “Compromesso Storico” poderia ter sido uma excelente ocasião de efectuar aquelas reformas que seriam um bom e robusto esteio para a consolidação da democracia e pô-la ao reparo de tentações totalitárias, que existiram. Não se esqueça aquilo a que chamaram a “estratégia da tensão”: expressão muito usada para classificar uma longa série de atentados terroristas que se verificaram na Itália, entre 1960 e 1970, com dezenas de mortos – atentados muito misteriosos e cujos executores dos actos mais graves nunca foram identificados.

Referindo-me ainda ao sequestro de Moro, não menos dramático foi o telefonema de um brigatista, Valério Morucci, feito a um amigo e ex-aluno do estadista, Prof. Franco Tritto, indicando onde encontrar o cadáver de Moro e dando instruções, a pedido do condenado, como avisar a família.

Rádio e televisão transmitiram-no repetidamente, mas já à segunda vez, eu tapava os ouvidos; não conseguia ouvi-lo. Era demasiado cínico e, paralelamente, o choro, a emoção do filho do Prof. Tritto - a primeira pessoa que atendeu o telefonema – tornava-o dilacerante.

Actualmente, e praticamente, todos os autores deste crime estão em liberdade ou semiliberdade.
Nada a opor, se não os víssemos conceder entrevistas, proferir conferências, dar opiniões como se tivessem sido uns “combatentes” (assim se intitulavam) e não uns criminosos: assassinaram e feriram várias pessoas, de todas as categorias sociais; assaltaram bancos para se financiarem; ameaçaram, impuseram o medo.
Entretanto, as famílias das vítimas presenciam tudo isto e podemos bem imaginar com quanta amargura!

Neste nove de Maio, comemorou-se o Dia da Memória, mas, acima de tudo, recordou-se Aldo Moro, e justamente.

Fiquei muito impressionada com o discurso do Presidente da República, Giorgio Napolitano.
Por três vezes se comoveu e fez um certo esforço para suster as lágrimas.
Mas foi o teor do que disse, e que pude ler na íntegra, que me agradou plenamente.
Acerca do comportamento actual dos ex-brigatistas, não usou perífrases e foi muito directo e claro no que exprimiu.

(…) “Fiquei chocado e indignado, quando, há dias, li a entrevista de um ex-brigatista - o mesmo que há um ano narrou, com horrenda frieza, como tinha assassinado Carlo Casalegno (jornalista de "La Stampa") – e que, agora, afirma sentir pesar pelos familiares das vítimas das Brigadas Vermelhas, acrescentando: «Quando se cometem acções de um certo tipo, sucede que se provocará desgostos a alguém».
Não, jamais deveriam existir tribunas para certos energúmenos.

Quem regularizou as suas contas com a justiça, tem o direito de reinserir-se na sociedade, mas com discrição e medida: nunca deve esquecer as próprias responsabilidades morais, embora já não sejam de carácter penal.
Do mesmo modo, não deveriam esquecer as suas responsabilidades morais todos os que contribuíram para a criação de teorias aberrantes e campanhas de ódio e violência, origem das piores acções terroristas; os que tenham oferecido ao terrorismo motivações atenuantes, coberturas e indulgências fatais
”.

Como nota final e a propósito das perplexidades sobre o caso Moro, a partir de hoje, “o Senado da República decidiu pôr à disposição os actos da Comissão de Inquérito, consultável on-line: “as cartas de Aldo Moro, os relatórios provenientes dos comandos da polícia de toda a Itália”… e tantos, tantos outros documentos; serão milhares de páginas. (
www.senato.it)
Alda M. Maia

domingo, maio 04, 2008

TAMBÉM EM TURIM SE QUEIMAM ESTAS BANDEIRAS
Turim, praça San Carlo
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Quinta-feira, dia 8 de Maio, será inaugurada, pelo Presidente da República, a importante Feira do Livro da cidade de Turim – Salão do Livro de Turim.

Já num post anterior escrevi acerca da importância deste evento cultural e do caso dos escritores israelianos serem, este ano, hóspedes de honra.
Também me referi á reacção da esquerda radical italiana e de organizações árabes que imediatamente colheram a oportunidade para apresentar um peremptório diktat aos organizadores: Israel, como hóspede de honra e no sexagésimo aniversário da sua existência, deverá ser banido, com esse título, de tal manifestação; se assim não for, pôr-se-á em marcha um boicote total.

Como sempre, estes indivíduos brilham por falta de discernimento, tolerância e capacidade de diálogo.

E como sempre, foge à minha compreensão estas atitudes truculentas, perante eventos como uma “Feira do Livro”, onde se pode falar de tudo com civismo e a ninguém é vedado propor temas de uma certa gravidade.
Os boicotes, portanto, são totalmente descabidos.
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Aproximando-se a data de abertura da Feira, explodiram manifestações violentas durante a comemoração do 1.º de Maio. Na Praça S. Carlos (sala de visitas de Turim), juntamente com vivas aos palestinianos e invectivas a Israel, queimaram-se duas bandeiras deste País e uma dos Estados Unidos.

Um gesto estúpido, muito próprio de quem não conhece outros argumentos que não seja a violência e uma ofensa gratuita já sem qualquer originalidade.
Está a ser investigado pela polícia.
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Se actos similares, noutras latitudes, são encorajados como factos legítimos, nos países ocidentais há outras sensibilidades; acima de tudo, o respeito pelos símbolos de todos os povos.

As autoridades predispuseram medidas de grande segurança, a fim de que a inauguração não fique assinalada por actos graves dos desordeiros e da intolerância de opositores programados.
Circunstância aberrante e muito triste!

Gianni Vattimo, o bem conhecido intelectual e professor de filosofia na Universidade de Turim, muito radical no seu esquerdismo, é o principal acusador do Estado Hebraico.
Sobre este tema, quando o ouço exprimir juízos drásticos, facciosos e sem jamais conceber a ideia que a razão nunca pode estar só de um lado, a minha perplexidade é amplíssima e pergunto-me:
É isto um filósofo, o amigo de escavar nas ideias e pensamentos?!
Será que a apreciável inteligência deste homem funciona em sentido único? Melhor: quando sai das matérias que o tornam conhecido e entra na política, não se apercebe que, por vezes, no seu radicalismo absoluto, peca por total falta de objectividade? Não, não se apercebe.

Na faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Turim, segunda e terça-feira próximas, haverá uma conferência onde já se indicaram argumentos exclusivamente anti-israelitas. Obviamente, Gianni Vattimo será um dos intervenientes, assim como Tariq Ramadan, “um dos mais importantes ideólogos do islamismo fundamentalista”. Aliás, estes dois intelectuais são os principais promotores do boicote à manifestação literária.
Mas surge-me uma pergunta e que pode não ser correcta: a que título é que Ramadan se vem intrometer nas iniciativas de um país soberano onde não vive?
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Realizando-se esta conferência, vejo-a como uma ocasião perdida para envolver palestinianos e israelitas numa discussão sem ódios e esclarecedora de tantas incompreensões recíprocas!
Mas como é bem sabido, o radicalismo ou fundamentalismo político sempre embruteceram e abafaram o bom senso.

No dia 04/02/2008, Vattimo escreveu um artigo, no jornal "La Stampa" de Turim, com o título: “Por que boicoto Israel”.
Drástico e repetitivo sobre os argumentos de quem só conhece uma razão.

Com a mesma data, no mesmo jornal e sobre o mesmo assunto, foi publicado um artigo do escritor Avraham B. Yehoshua. “Um acto contra a paz”.
Nota-se a diferença: escreveu-o com o coração, compreensão e respeito pela razão de todos.

(…)
“Na condição de escritor israelita, apoiante da esquerda e de há anos propugnador da paz, seja-me permitido intrometer-me neste debate, a fim de sustentar que o boicote não somente é injusto como prejudicial para o processo de paz, no qual todos depositamos esperanças”

No último parágrafo:
“Este ano, no sexagésimo aniversário da sua fundação, será Israel o hóspede de honra do Salão do Livro de Turim. Os meus votos é que, no próximo ano, o seja a Palestina, na ocorrência do primeiro aniversário do seu nascimento. Nós, escritores e poetas israelianos, participaremos a este evento com alegria e convicção”.
Gostaria de ver este equilíbrio em Gianni Vattimo.
Alda M. Maia