terça-feira, março 27, 2007

RESPOSTA A UM COMENTÁRIO

Em vez de escrever no espaço reservado aos comentários – comentário do meu caro amigo António ao post precedente - preferi responder com um outro post, pois alude a um tema a que se não pode ficar indiferente: o modo verdadeiramente mesquinho como as organizações partidárias - melhor dizendo, os seus vértices – se aproveitam da espontaneidade e sinceridade de grande parte dos seus militantes.

Estes mesmos militantes põem toda a boa vontade, entusiasmo, tempo e dedicação a fim de que o partido, a que se votaram, atinja os melhores resultados. Ora, é sobre esta dedicação que os oportunistas constroem as suas carreiras. É já uma fórmula clássica: uns trabalham; outros colhem. Obviamente, não incluo os óptimos políticos, que existem, os quais se dedicam à causa pública com respeito e empenho. Refiro-me, sim, aos carreiristas que se servem da política como trampolim ideal para atingir posições que, de uma forma normal, nunca atingiriam. Desgraçadamente, a percentagem destes politicantes é excessivamente alta.

Aos maiorais que ocupam as cimeiras bem de raro lhes sobra tempo para se inteirar do que sucede nas várias sedes e avaliar, desapaixonadamente, competências e sinceridades. Os vendedores de fumo, regra geral, são os que obtêm melhor acolhimento. Aqui está um dos motivos por que vemos tantas mediocridades no Parlamento; tantos incompetentes em lugares de responsabilidade; tantos oportunistas a aproveitarem-se, com a máxima desenvoltura, de situações que rendem vencimentos sobre vencimentos, acumulações de bons ganhos com benesses indevidas.

Atente-se ao relatório do Tribunal de Contas sobre as remunerações, fora de qualquer licitude ou decência, em várias empresas municipais. Escandalosas e até hoje desconhecidas? Escandalosas, sim; desconhecidas, só para quem não quis ver ou fingiu ignorar.

Há outro aspecto da questão que, para mim, é ainda mais escandaloso: sabe-se de toda esta pouca-vergonha; aceita-se e, por vezes, até se admira o espertalhão que teve a habilidade de acomodar-se em poltronas financeiramente tão confortáveis! Pior ainda, nas próximas eleições somos capacíssimos de dar o voto ao partido que facilitou ou fechou os olhos perante estes desacertos – chamemos-lhes desacertos!...
Ao partido? Mas qual partido se, por norma, nenhum deles jamais se apercebe de nada?...

Pois é, António, o que escreveu já não foi novidade: a mesma coisa se passou com uma senhora minha amiga, pessoa culta e ponderada. Quando discursava, segundo me disseram, sempre conseguiu transmitir ideias com clareza e acerto e distinguia-se dos demais militantes.
Também ela se dedicou com entusiasmo e sacrifício ao partido no qual se identificou. Embora não estivesse interessada inserir-se em qualquer lista electiva, devido à sua vida familiar, dois filhos menores, e à profissão de professora primária, mesmo assim teve a amarga surpresa de ver-se posta de lado em favor da mediocridade. Expendessem ao menos um acto de reconhecimento! Pelos vistos, nem isso. Como vê, está em boa companhia.

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Para terminar, e a propósito de corrupção, faço eco ao que escreveu a Senhora Ana Gomes: por que espera a Assembleia da República para assinar a Convenção da ONU contra a Corrupção, já em vigor desde Dezembro 2005?
Se 140 países assinaram, por que razão Portugal ainda o não fez?
Qual a causa que faz gripar o motor que acelera as decisões parlamentares, sempre que se deva exprimir leis claras e severas sobre este cancro que tanto prejudica uma democracia?
Alda M. Maia

domingo, março 18, 2007

PARLAMENTARES: CASTA PRIVILEGIADA?

Nos últimos tempos, houve muitos argumentos sobre os quais gostaria de ter vindo para aqui conversar, como de costume, com o computador. Porém, uma pesada constipação, quase gripe, dispôs doutra maneira. Bom, aqui estou de novo, e como ia a dizer…

Alguns postes atrás, aludi a um programa televisivo italiano do canal «Itália 1» que se chama “Le Iene” (As Hienas). Assemelha-se ao nosso Gato Fedorento, mas com uma diferença: não se limitam à comicidade; apresentam reportagens, denunciadoras e bem preparadas, de situações negativas do país.
Alguns destes serviços têm provocado fortes abanões na imagem dos senhores parlamentares.

Há meses, desmascararam uma certa percentagem de deputados que faz uso de droga, embora respeitando-lhes o anonimato, e puseram em evidência a ignorância de muitos. Nestas duas últimas semanas, ocuparam-se do costume, desenvoltamente ilegal, como os representantes de povo pagam os próprios colaboradores.

Dos 683 assistentes acreditados na Câmara dos Deputados – os porta-bolsas, como normalmente lhes chamam - somente 54 têm um contrato regular de trabalho! Os demais, mal pagos, prestam serviço aos deputados quais trabalhadores fantasmas sem direitos ou a título gracioso.

Dentro das múltiplas ajudas de custo, cada deputado usufrui de 4.100 euros mensais para serviços de relação com os eleitores; obviamente, através de assistentes: dois por cada deputado. Os ordenados que a grande maioria destes colaboradores recebe, repito, sem qualquer contrato de trabalho, vão de 500 a 1000 euros. Ora aqui está um exemplar modus operandi de correcção e transparência!...

Os meios de informação – os jornais, sobretudo - deram grande relevo ao caso. Assim, novamente se deu a lume os opíparos emolumentos de deputados e senadores do Parlamento italiano.

Com o salário base mais ajudas de custo de todo o género, um parlamentar italiano, grosso modo, recebe à volta de 19.150 euros por mês. A chover no molhado, entram ainda os passes de viagens gratuitas em todos os meios de transporte, entradas nos teatros, cinemas, e por aí adiante: a lista de benesses é bastante longa.

Não faltaram as comparações: na Alemanha ganham 7.009,00 €; na França, senadores e deputados ganham 6.892,00 €; na Espanha, menos ainda: de 3.731,00 a 4.619,00 €, etc.
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Em Portugal, quanto ganham os nossos deputados? Quais as regalias a que têm direito?
Sobre a matéria, confesso a minha ignorância. Além disso, em nenhum sítio consegui obter uma resposta. Com certeza não soube procurar bem.

Sempre fui de opinião que os nossos representantes na Assembleia da República devam ser compensados com altos vencimentos, dignos do cargo para que foram eleitos, do trabalho que desenvolvem e compensatórios das despesas a que irão encontro.

No que concerne regalias, pelo contrário, nunca lhes encontrei a mínima justificação. Acho-as um puro e simples abuso de quem se crê uma espécie de casta privilegiada, somente por que se ocupa da coisa pública; como tal, não demonstra quaisquer pruridos de decência no hábito de atribuir-se vantagens e explorá-las até à medula.

Não concordo também com o número actual de deputados: 230. Penso que 140 / 160 seriam mais que suficientes. Muito bem pagos, insisto, mas pessoas de grande competência política, técnica e intelectual: poucos, mas a fina-flor do País e não os premiados por fidelidade ou com direitos de casta.
É uma utopia? Claro que é! Basta-nos observar e ouvir certas mediocridades, escolhidas pelos partidos, para que ilusões de tal género não sejam outra coisa que isso mesmo: utopias.

Não quereria acabar sem um pensamento para os nossos Gatinhos Fedorentos: por que não imitam os colegas «Le Iene», começam a escorraçar por este Portugal fora e, paralelamente ao habitual ronronar que faz rir, tiram as garras de fora e arranham o que não faz rir ninguém?
Seguir uma boa ideia não é um acto imitativo, mas sinal de inteligência.
Alda M. Maia

segunda-feira, março 05, 2007

PAIS ARRUACEIROS

Para a palavra inglesa bullying, em italiano existe bullismo e com o mesmo significado: atitude própria de pessoa, sobretudo jovem (bullo), violenta, arrogante, prepotente, etc. (fazem-na derivar do alemão).

Seria oportuno que também aportuguesássemos o termo, visto o largo uso que as circunstâncias actuais sugerem.
Se bem que, no nosso rico vocabulário, não faltam palavras que se apliquem com propriedade, por exemplo, ao comportamento dos paizinhos que decidem agredir os professores dos respectivos filhos.
Eu chamar-lhes-ia arruaceiros, brigões da pior espécie.

Os dois partidos da oposição, PSD e CDS, e os sindicatos dos professores apelam para que as agressões a professores sejam consideradas crime público. Entendo que têm toda a razão e o Parlamento deveria legislar em tal sentido, sem «mas» nem «ses».

Paralelamente, deveria aprovar-se, a nível nacional, uma taxativa proibição do uso e existência de telemóveis, dentro das salas de aulas.
Enquanto se ministra o ensino, não vejo qual a utilidade de tal apetrecho. Pelo contrário e como num post precedente denunciei: muitos desconchavos que se vêem na Internet são o fruto de filmagens feitas, com telemóveis, dentro dessas salas, o que é inconcebível e inaceitável.

Há um aspecto que acho profundamente negativo: a exautoração dos professores no ensino moderno, quer perante os pais, quer em relação aos alunos.
Não me canso de defender este princípio: exija-se proficiência e empenho na profissão que escolheram, mas salvaguarde-se a dignidade e respeito que lhes são devidos.
Deixe-se, entretanto, de endeusar os meninos, pois creio que se está a favorecer o crescimento de uma elevada e insuportável percentagem de malcriados, arrogantes e irresponsáveis.

Como para “mal comum, meio gáudio”, as situações que se verificam em Portugal são idênticas ao que se passa noutros países.

Quando levava para casa uma péssima nota, podia acontecer que o meu pai me desandasse uma bofetada. Era um pai à moda antiga: as bofetadas, hoje, são os pais modernos a dá-las aos professores. São eles os verdadeiros turbulentos.
(…) O código no qual se inspiram consta de um único artigo: o meu filho tem sempre razão. Se na escola vai mal, a culpa é dos professores. (…)
A tendência a considerar a prole um prolongamento do próprio ego já era bem acentuada no passado. O que a impedia de transformar-se em violência era o sacro respeito pelo lugar que cada um ocupava”.

Do jornal La Stampa (Turim), 04/03/2007, artigo de Massimo Gramellini: “Quei bulli di genitori” – Aqueles pais arruaceiros.

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(…) Não há qualquer professor, por muito capaz e sensível, que não deva enfrentar pais apreensivos e pretensiosos. Abolidos os tabefes há já uns tempos, ocorre medir bem as reprimendas excessivamente severas ou cáusticas, pois poderiam perturbar o equilíbrio dos preciosos rebentos.

Pretendem fazer passar a má educação e a insubordinação por expressão de uma natural vivacidade, digna mesmo de apreço, comparadas com o sossego das «mosquinhas-mortas»!

Quanto às notas e aos juízos de mérito, é necessário ser amplamente generosos, até mesmo para quem é um irrecuperável asno!
É quase um pedido precoce de absolvição e de indulto que acompanhará os alunos até ao ensino secundário e aos não preclaros estudos universitários, esperando que fique por ali”.

Do jornal La Stampa, 04/03/2007, artigo de Lorenzo Mondo: “Una precoce richiesta di indulto” – Um pedido antecipado de indulto

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Lá como cá, o alarme começa a fazer ouvir as sirenes.
Alda M. Maia