domingo, setembro 27, 2009

FALEMOS DE ANIMAIS
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Mambo
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Eleições, obrigação de votar, afluência às urnas, clima eleitoral sereno, enfim, muito se poderia escrever sobre estes temas, omitindo, obviamente, os que seriam incorrectos depois da meia-noite de sexta-feira passada.

Mas para desenfastiar, pois confesso que nunca vi uma campanha tão suja como a que ora findou, hoje quero falar de casos interessantes, curiosos, tristes e enternecedores sobre animais.

“Mambo”, o cãozinho abandonado que duas bestas humanas - uma rapariga de 22 anos e um rapaz de 17 – numa pequena cidade francesa, não longe de Perpignan, regaram com gasolina, pegando-lhe fogo. O pobre animal fugiu, rebolou-se no chão e conseguiu sobreviver.
O caso tornou-se notícia, esta alastrou-se, mesmo para além fronteiras (inclusive os nossos telejornais), a França comoveu-se e indignou-se.

Esta história triste teve uma conclusão feliz, pois “Mambo” encontrou imediatamente quem o adoptasse. Além disso, obteve 10 mil euros de contribuições que pessoas generosas enviaram – entre elas Zidane, Alain Delon, Brigitte Bardot, etc. - a fim de que as suas feridas fossem tratadas convenientemente.

A rapariga já foi processada e condenada a um ano de cadeia, embora seis meses com pena suspensa, e uma multa de 6 mil euros, “por crueldade e barbárie”
O cãozinho compareceu no tribunal. Segundo explicou o Procurador, não estava no Tribunal para “suscitar emoções”, mas, como vítima, tinha todo o direito de estar presente.
O rapazote será julgado pelo tribunal de menores.

Para além de um ano de cadeia, poria esta rapariga de 22 anos a limpar um canil e a tratar os animais durante outro ano. Sob vigilância, evidentemente, pois com aquela idade poderia ter demonstrado mais sensibilidade e bom senso.

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Smokey
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“Smokey”, um gatinho de nove anos, australiano - de Maryboroug, Estado de Vitória.
Três dias após o desaparecimento, regressou todo ensanguentado. Tinha sido alvejado com treze tiros na cabeça.
Ninguém consegue explicar como sobreviveu e encontrou forças para encontrar o caminho de casa. Chamam-lhe o gatinho heróico.
Sedaram-no maciçamente, a fim de poderem extrair os projécteis e internaram-no.

Um conhecido defensor dos animais australiano, Hugh Wirth, asseriu que “são gestos característicos de rapazes entre os 18 e 20 anos. Um modelo que vemos repetir-se em toda a Austrália e existe uma única maneira para resolvê-los, que é a prisão”.
E de que estão à espera?

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LEIS DEDICADAS AOS ANIMAIS
(Informações de um artigo de Roberta Maresci - jornal La Stampa)
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A parte cómica destas leis é reservada ao bicho homem, visto ser ele o autor.

Vejamos: em Baltimore é ilegal levar um leão ao cinema. Não foi explicada a razão.
Na Florida, é permitido levar a passeio um elefante, mas com uma condição: uma vez ligado o paquiderme a um parquímetro, paga-se o estacionamento como um qualquer veículo.

Em Fairbanks, Alasca, é proibido aos alces caminhar nos passeios.
A lei nasceu há muitos anos, quando o dono de um bar tinha um alce que tratava como um cachorrinho doméstico e divertia-se a embebedá-lo. O pobre alce, embriagado, vagueava pela cidade, cambaleando e sem tino. O povo obrigou as forças da ordem a intervir. Com o fim de pôr termo a esta maldade, foi emanada uma lei com essa proibição.

Na França não se pode dar o nome de Napoleão aos porcos. A questão relaciona-se com o celebérrimo “O Triunfo dos Porcos”, de George Orwell (Animal farm) - na versão francesa, o revolucionário suíno Napoleão foi rebaptizado com o nome César.
Se é verdade a causa que apontam, respeitinho pelos heróis nacionais!

Por fim, aconselho um clic neste post (e noutros), do interessante blogue:
//sonhospesados.blogspot.com.
Asseguro que se deliciarão com os agudos de uma Susaninha Boyle canina.
Não me canso de escutar o Zequinha e rio-me divertidíssima.
Alda M. Maia

domingo, setembro 20, 2009

SUA MAJESTADE, O AUTOMÓVEL
HUMILDE SERVO, O PEÃO


Ao automóvel poder-se-ia juntar uma outra “majestade”: as obras públicas ou privadas.
Estas majestades, com todos os direitos de acção e precedência, reinam no ambiente citadino sem quaisquer obrigações de pensar na protecção e direitos dos peões. É dessas majestades que desejo escrever.

Não sei se é uma pecha característica de V. N. de Famalicão ou se, pelo contrário, é praga disseminada em todo o País. O que sei, e verifico-o quotidianamente, é a indiferença e desrespeito que os seres humanos que usam “o cavalo de S. Francisco” (as pernas) como meio de transporte, merecem aos governos autárquicos.

Projectam-se novas construções ou reestruturações de prédios, instalam-se os taipais obrigatórios, absorvem-se as áreas dos passeios paralelos, pois que as “majestades” necessitam de espaço de manobras, iniciam-se as obras. Os peões que se habituem a caminhar de mistura com todos os géneros de viaturas, visto que, para estas, não devem existir obstáculos.
Forçosamente, devem tornar-se expertos da marcha ziguezagueante, a fim de não ir parar ao hospital ou aonde se dorme o sono eterno.

As normas exigem que se disponha uma passagem que salvaguarde a incolumidade das pessoas. São bem raras as empresas construtoras que respeitem essas normas; são absolutamente inexistentes os controlos da Câmara Municipal sobre este estado de anarquia.
Insisto na dúvida: sucede exclusivamente nesta cidade ou é um tique nacional?
Ma passemos a um outro aspecto não menos digno de nota.

Durante os meses de verão, iniciaram-se obras na rotunda e rua onde se situa o Hospital da cidade: alteração da pavimentação da rua e dos respectivos passeios.

Nos primeiros tempos, foram intervenções caóticas na demolição do que deveria ser melhorado, isto é, tudo. Transitar naquelas áreas começou a ser uma empresa árdua.
Criaram-se pistas, a fim de que houvesse um limitado trânsito dos carros. Porém, no que concerne os peões, foi uma preocupação que não existiu na programação dos trabalhos.
Portanto, houve que adaptar-se a uma espécie de atalhos escabrosos: pedregulhos, areia, buracos, desníveis, enfim, uma quase intransitabilidade e um perigo para pessoas com dificuldades de locomoção: assisti a um caso que poderia ter tido um desfecho grave.

Colocaram a barraca dos apetrechos em frente ao Hospital, inclusivamente ocupando o passeio, o que era desnecessário. Bastante mais tarde, abriram a passagem. Grande bondade do director das obras!...

Há mais de uma semana que terminaram de asfaltar a estrada e alindar a rotunda. Os passeios foram a última preocupação, quer os do lado direito, quer os da esquerda: obras em curso.

Os automóveis, entretanto, circulam alacremente, num piso macio e convidativo a rolar sem grandes preocupações, pois não existem passadeiras nem quaisquer outros sinais que aconselhem cuidado com estes insectos fastidiosos a que chamam peões.
Mas, aleluia! Neste fim-de-semana, traçaram, num branquinho imaculado, as passadeiras. Finalmente, após uma semana de mil cautelas, pude atravessar a rua sem comportar-me como o gatuno que tem medo de ser apanhado.

Não discuto se, neste género de trabalhos, existe um único modo de os efectuar. Não creio.
Começar num ponto, deslocar-se para outro e outro sem os concluir; ocuparem-se da parte oposta; escavacar os passeios de um lado e do outro: toda esta sarabanda fugiu à compreensão de quem desejava compreender.
E como não creio, só me pergunto qual as competências de vereadores, assessores, técnicos que exercem uma actividade - útil para os munícipes - dentro da Câmara Municipal e onde estiveram durante estes meses.

Só me pergunto por qual razão, de vez em quando, não saem para a rua e observam, controlam, procuram dar remédio ao que não está correcto na cidade a que se votaram, sem que devamos avançar protestos… frequentemente ignorados. Falo com conhecimento de causa.

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“Mais acção, mais Famalicão”; “Por Famalicão”: estes são os slogans espalhados pela cidade.
Quando os vejo, maliciosamente, vem-me à ideia a cidade de Braga. E se algum candidato, para ser original, decide: “Mais viagra, mais Braga” (não será rima consoante, perfeita, mas a toante também é aceitável)!?
Não é promessa oca e pode levar a resultados; foge ao fraseado corriqueiro - que tudo quer dizer e nada diz - e diverte.

Mas voltemos às coisas sérias. "Mais acção": que significa? Obras e acções que dêem nas vistas ou constituam espectáculo? Obras que o Governo faz, mas que se apresentam como trunfos do Município? Projectos grandiosos?

O “mais acção” vê-lo-ia também, e sobretudo, nas pequenas coisas. São estas que reforçam e concorrem para um melhor e mais atraente modus vivendi dos munícipes, embora não tenham consistência de bandeiras triunfantes para campanhas eleitorais.
As pessoas, todavia, apercebem-se do que funciona e sabem distinguir quem se empenha de quem se vangloria.

Quanto aos senhores do “Por Famalicão”, criem desde já a ideia de não sonhar com as cadeiras confortáveis dos gabinetes e pensem, com determinação e honestidade, em conhecer, percorrer, embeber-se nos problemas - grandes, pequenos ou pequeníssimos - desta cidade. É a isto que chamaria “por Famalicão” ou por qualquer outro município do nosso País.

Por último, quer ganhe o governo municipal vigente, quer a oposição, poupem-nos o espectáculo de vermos pessoas incompetentes, mas políticos ambiciosos que se devem premiar, nos vários pelouros.
Onde a competência escasseie, escolham pessoas com entusiasmo e boa vontade de bem servir: as ideias nascerão; a competência surgirá e crescerá de pari passu.
Alda M. Maia

segunda-feira, setembro 14, 2009

A CORAGEM DE REBELAR-SE

O caso de Lubna Ahmed al-Hussein, a jornalista sudanesa que se rebelou à lei das 40 chicotadas por uso de “vestuário indecente”, tornou-se conhecido nos quatro cantos da terra e bom seria se casos análogos fossem difundidos com o mesmo clamor que este suscitou.

A história é conhecida: Lubna e outras doze senhoras que se encontravam, em Julho passado, num restaurante, foram detidas pela polícia especial (polícia religiosa) por usarem calças: “vestuário indecente” que o artigo 152 do código penal sudanês pune com uma multa ou 40 chicotadas… ou as duas coisas. Como alternativa à multa, haverá trinta dias de prisão.

A jornalista e funcionária da ONU no Sudão foi condenada a uma pena de 40 vergastadas. Ulteriormente, esta pena foi comutada numa multa de 140 euros.
Decidiu não aceitar a pena e preferir a cadeia, renunciando ao cargo na ONU que lha dava imunidade e levando para a frente o protesto contra essa grave injustiça que atinge as mulheres sudanesas.

Numa entrevista de Lubna a El País, fica-se a saber que as outras doze senhoras foram “mimoseadas” com dez vergastadas e uma multa de 75€. Sete euros e meio por cada chicotada: indemnização, se calhar, para o desgaste dos chicotes!
Em virtude desta lei, dezenas de milhares de senhoras foram presas e humilhadas com o açoite.

É insuportável que existam estes primitivos, alfabetizados, que escrevem e fazem aplicar leis desta natureza. É repugnante que se sirvam da religião para dar cobertura a tradições bárbaras que nada têm que as possa justificar: quer perante a fé cuja pureza dizem defender, quer perante a dignidade a que todo o ser humano tem direito.

Lubna Hussein esteve apenas 22 horas na cadeia. O sindicato dos jornalistas sudaneses pagou os 140 euros de multa – assim convinha ao governo de Cartum – mas a jornalista não ficou satisfeita. Deseja continuar a batalha. Se antes usava calças ocasionalmente, assegura que, de futuro, usá-las-á todos os dias.

Dada a sua posição na sociedade sudanesa, pôde rebelar-se, corajosamente, e dar a conhecer, fora do seu País, a aberração a que as mulheres sudanesas são submetidas. Porém, outras vítimas destas barbáries, cidadãs comuns, cidadãs humildes e anónimas de outros países, quem as protege do machismo primário dos seus correligionários?

Transcrevo um artigo do escritor marroquino, muçulmano, Tahar Ben Jelloun. É um artigo que merece ser lido com interesse e atenção.

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QUANDO A BARBÁRIE SE IMPÕE

“O que está em curso é a colisão entra quem trata as mulheres como bestas e quem as trata como seres humanos”

O choque de civilizações sobressai, por vezes, em situações ridículas, em comportamentos estúpidos, fruto de grande pesporrência e ignorância. Um bom exemplo é a cena a que assisti, há dias, quando me encontrava no Sul de Marrocos.

Numa estrada estreita e cheia de buracos, chega um automóvel a grande velocidade: um carro desportivo, talvez um Porsche. Ao volante está um rapaz moderno, cabeça rapada, óculos escuros e cigarro na boca. O veículo ter-lhe-ia custado uma fortuna: quanto uma pradaria, o apanágio de um príncipe ou uma vida inteira de trabalho, no estrangeiro.
O jovem, claramente orgulhoso do seu veículo, trava no lugar onde nos encontrávamos e mostra a paisagem a uma mulher sentada a seu lado. Mas esta mulher está completamente envolvida por um véu negro e óculos escuros a cobrir a parte livre do rosto. Um fantasma, uma coisa quase imóvel e muda. Recorda-me as últimas páginas de “Vozes de Marraquexe” de Elias Canetti, nas quais se fala de uma coisa negra que se move apenas, onde não se distingue um corpo nem os seus membros – mas talvez, lá escondido, haja um corpo humano.

O rapaz desce da Porsche, acende um cigarro e diz em francês: “É bonita a minha terra!” A mulher sequestrada no sudário negro anui, mas não abre boca. Sem que eu lhe tenha dirigido a palavra, diz-me ele: “Casei-me e agora parto com a minha mulher. Todavia, há um problema no que concerne os documentos: pretendem uma fotografia de identidade com o rosto descoberto. São doidos. Eis como as coisas andam!”. Entretanto, vai afagando o pára-lamas do automóvel como se acariciasse as pernas de uma linda rapariga nua.
Pelo sotaque, depreendo que provém do Rif, zona onde se cultiva a matéria-prima do haxixe, o kif.
Dinheiros fáceis e arrogância estúpida. Está ao volante como se estivesse no ponto de descolar em direcção à Lua; ao mesmo tempo, trata a mulher como uma escrava, melhor, como uma coisa: um pacote envolvido em paramentos fúnebres. E como seria de esperar, pôs-se a falar ao telemóvel, em holandês. Vive em Roterdão, avaliando pela matrícula do carro.
A “coisa” segui-lo-á para o seu país de imigração ou encarregará os seus pais de lha enviarem como um pacote postal?

Quando avia o motor, a fim de partir, fez o melhor que pôde para envolver-nos numa nuvem de pó. A coisa negra já não é visível.

Não tive intenções de dirigir-lhe a palavra. Não serviria de nada. É um indivíduo que tem medo das mulheres. O seu problema é íntimo e entra no campo da psicoterapia. Tem medo que a alguém lhe roube a mulher, que possa ser violada com um olhar, desejada em sonho. È por isso que a vigia. Mas um dia, a pobrezinha desperta e põe em acção a sua desforra. Já sucedeu e voltará a suceder.

Aquele indivíduo é o perfeito exemplo que serve para ilustrar todas as contradições de uma mentalidade que remonta à idade da pedra, mas com um pé no século XXI. É um dos que usam os meios técnicos mais sofisticados, mas tratam a própria esposa como mais um animal da manada.

Situações como esta foram denunciadas, com força e coragem, nos princípios de Julho, por uma mulher árabe - uma psicóloga que vive em Los Angeles - durante um debate com um teólogo egípcio e transmitido por Al Jazira.
Transcrevi as suas palavras e cito aqui algumas passagens: “O fenómeno a que assistimos hoje não é o choque de civilizações: é a contraposição entre mentalidades medievais e mentalidades do século XXI; entre civilização e atraso, barbárie e racionalidade, democracia e ditadura, liberdade e repressão. É a colisão entre quem trata a mulher como uma besta e quem a trata como um ser humano…”

Esta mulher fala com calma, destacando bem as palavras, e diz as suas verdades a um mundo no qual reina a hipocrisia e o obscurantismo.
Quer queiramos, quer não, hoje existem, efectivamente, dois mundos contrapostos: o mundo da liberdade e o mundo da barbárie. O mundo de quem fez demolir as estátuas budistas no Afeganistão, de quem manda os jovens a fazer-se explodir nos lugares públicos, de quem ameaça a paz no mundo, apelando-se a um islamismo absolutamente estranho a esta brutalidade e a esta loucura.

Exactamente como disse aquela mulher corajosa: “Os muçulmanos devem interrogar-se sobre o que devem fazer pela humanidade, antes de exigir que a humanidade os respeite”.

E pensar que o jovem imigrante que esguichou na sua Porsche, tendo ao lado a mulher de preto, estava convencido de ser um bom muçulmano!...
Tahar Ben Jelloun – semanário L’Espresso.
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Alda M. Maia

segunda-feira, setembro 07, 2009

DEMOCRACIA “ASFIXIADA” EM PORTUGAL?
GANHEM JUÍZO!


Seria um excelente tema de batalha política, se correspondesse a um real perigo. Felizmente, no nosso País, esse perigo não existe, embora convenha a quem é pobre de argumentos ou muito míope em discernir as causas sérias das causas ruidosas vazias.

Não farei do caso do dia, a suspensão do “Jornal Nacional” da TVI, o motivo central do que escreverei. Todavia, não deixarei de exprimir o meu total desacordo com essa suspensão. Pouco inteligente, inoportuna e dispensável.
Ademais, o “Jornal Nacional da sexta” torna-se necessário: é um bom modelo para melhor sabermos discernir o “jornalismo lixeira” do que deve ser um bom ou normal jornalismo.

Além dessas considerações, podemos também classificar o acontecimento como uma eficacíssima rasteira ao Governo e PS.
Se em nada intervieram, toda a oposição ignorá-lo-á e recolhem esta oferta com um talento de excelentes actores. Com quanta solenidade e frémito na voz proclamam, apontando o dedo a Sócrates: “Censura intolerável e um grave atentado à liberdade”!

Acho-lhes uma graça! Como se não fosse do conhecimento geral, afora este caso TVI, as pressões que todas as facções políticas no poder, em qualquer país democrático e em todos os tempos, exercem sobre os meios de comunicação, a fim de obter as boas graças ou tréguas.
Está na seriedade dos jornalistas ignorar essas pressões, quando devem ser ignoradas. Certamente que não são contemplados actos de prepotência.

Sócrates, a seu tempo, errou nas reacções ao “Jornal Nacional”. Quem exerce o poder deve preparar-se para ser alvo de todo e qualquer género de ataques e saber apará-los com senhorilidade, serenidade e indiferença (se é possível).
Não acredito, todavia, que tenha quaisquer responsabilidades no caso TVI. Seria uma irrefutável prova de estupidez.

Por último, acrescento uma outra razão à minha censura e desagrado à suspensão do “Jornal Nacional de sexta”, melhor dizendo, “Pasquinadas Nacionais da sexta-feira”: terem feito de Manuela Moura Guedes uma vítima imolada no altar da liberdade de informação.
Não me queiram fazer passar esta Senhora por um excelso representante do jornalismo de investigação!... Isso, sim, que é um despudorado ataque à nossa inteligência!

Mas voltemos à “democracia asfixiada”.
Onde localizaram a asfixia? Na informação? No Parlamento? Em atropelos à Constituição? Em abusos de poder? Onde e quando?
A este ponto, não posso deixar de estabelecer comparações entre os dois países cuja política e realidades sigo com a máxima paixão e atenção de que sou capaz.

Os nossos primeiros-ministros, devidamente, sempre prestaram contas da acção do Governo, na Assembleia da República. Ali, todas as partes políticas da oposição tiveram, e têm, os seus direitos bem implantados e todo as condições para os impor. Durante este último Governo, houve comportamentos anormais condenáveis?

Vejamos a Itália. Segundo o inefável Berlusconi, ir ao Parlamento é uma perda de tempo. Assim, tudo tem feito para esvaziar a função deste órgão soberano de Estado.
Apesar de usufruir de uma maioria superabundante, promulga a maior parte das leis com votos de confiança – para não falar no uso e abuso decretos-leis - roubando à oposição o seu direito de apresentar propostas e discutir razões. Isto, sim, é asfixiar e insultar a democracia!

Falemos da “asfixia na informação”: quais foram os jornais portugueses asfixiados ou domesticados? Há alguém que, honestamente, possa dar exemplos concretos?

Por norma, ou por carácter, quando me apercebo do avolumar-se de uma corrente de opinião, onde todos se deixam envolver e seguem a mesma rota, imediata e instintivamente remo contra essa corrente. Sucedeu-me com a persistente campanha contra José Sócrates.
De início, achei-a correcta e própria de uma imprensa livre que faz o seu dever. Com o decorrer do tempo, foi fácil aperceber-me que se tratava de uma campanha programada e bem orquestrada. Começou a enojar-me: já não era informação, mas intenção de afundar o personagem
Pode dizer-se que o jornal Público foi o porta-bandeira dessa campanha. Continua.

Sábado, dia cinco, lendo “Olho Vivo” de Eduardo Cintra Torres, apenas me pareceu ver um azedume panfletista de pessoa ressabiada.
Este PS-Governo é muito perigoso para a liberdade. Até o seu fundador (…) Ao reduzir a censura anticonstitucional, ilegal e protofascista do JN6ª a um caso de gestão, Soares desceu ao seu mais baixo nível político”.

Lendo com atenção a análise deste órfão do “JN6ª”, torna-se difícil classificá-la como objectiva, equilibrada, séria.
E por este artigo podemos avaliar o género de “asfixia democrática na informação” e a grande falta de liberdade na Terra Lusa!...

Acaso o menino Cintra Torres ouviu falar, por exemplo, nos Tribunais Plenários de triste memória? Mário Soares pode ministrar-lhe lições, dando exemplos concretos sobre o que é a verdadeira falta de liberdade.
Seria mais correcto que se deixasse de teatralidades panfletárias e pesasse com o bom senso o que vai publicando… mas que tem todo o direito de publicar, obviamente.

Onde existem as publicações de propriedade do PS ou fortemente ligadas ao PS-Governo que o ajudam a tramar conspirações contra a liberdade? Existem? Quem os edita? Eu não conheço nenhuma, mas admito a minha ignorância nesse sector.
Domínio na RTP? Faltou ali espaço à Sra. Ferreira Leite para lançar os seus alarmes? Houve mais atenção para o PS-Governo em detrimento das contraposições dos demais partidos? Quando?
Por qual razão, no relatório anual da Freedom House, Portugal continua na lista dos países detentores de uma imprensa livre?
A Itália é “parcialmente livre” e, numa lista de 195 países, ocupa o 71.º lugar.

Verificaram-se ofensas aos princípios constitucionais? Alguém do PS se improvisou régulo e insulta tudo e todos impunemente, ultraja instituições e, por esses "altos méritos", foi proposto como representante do seu reino para a Assembleia da República?

É oportuno informar: o território desse régulo, a Madeira, é o único oásis onde a democracia não é asfixiada.
E perante esta informação, provinda de uma candidata a primeiro-ministro, que estou eu para aqui a perder tempo com o tema da “democracia asfixiada em Portugal” quando, no instante em que foi proferida tal “verdade”, esse tema morreu ali mesmo, asfixiado pelo ridículo! O melhor é ficarmos por aqui.
Alda M. Maia

domingo, setembro 06, 2009

"O INTOCÁVEL"
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O intocável Berlusconi em Nova York
Os cartazes de Milão
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(…) De há alguns dias a esta parte, o primeiro-ministro, que às perguntas dos jornalistas responde com a intervenção da magistratura, chegou às paredes de Nova Iorque.
Uma série de cartazes – descoberta por um jornalista que há anos vive e trabalha nos Estados Unidos e que imediatamente a fotografou – inspirada no filme “The Untouchable”, de Brian de Palma e dedicado a Al Capone, com a cara do primeiro-ministro e o título: “O Intocável”.
Na parte inferior, um trocadilho de palavras entre “Untouchable”, e “Unimpeachable”, isto é, que na Itália escapa ao “Impeachmente” , mas que, na América, seria já mais difícil.
Também se pode ler, nesses manifestos: Berlusconi / He rules Italy / With absolute power / No one can touch him / No one can stop him.

Parece que atrás desta iniciativa estaria um grupo de estudantes e livres profissionais, residentes nos Estados Unidos e que se definem “Os novos carbonários”. A operação teria custado 4 mil dólares (autotaxação).
Os manifestos serão apenas o início: outras iniciativas estão em projecto
– de Angelo Aquaro, enviado de La Repubblica.

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Dezenas de manifestos, retratando Silvio Berlusconi na pose de Roberto de Niro, no filme “os Intocáveis”, foram afixos em várias zonas da cidade de Milão. - informação de vários jornais

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Alda M. Maia