NENHUMA CERTEZA; TANTAS PERPLEXIDADES
No meu post anterior, expus perguntas sobre diversos temas para as quais sempre encontrei alusões vagas ou, então, nas muitas informações que chegavam, nas múltiplas análises lidas, quase colhia a ideia que nenhuma importância lhes era, ou é, atribuída. Confesso que me irritava e, paralelamente, duvidava - e duvido - do meu discernimento perante certos factos apresentados por génios da análise política e por certos políticos iluminados.
Acontece que, nesta guerra que tantas improvisadas cassandras já indicam como prelúdio da terceira guerra mundial, eu dou grande importância a factos que a gigantesca onda de críticas ao estado judaico descura ou acha mais conveniente ultrapassar. Por qual razão? Prefiro não dar juízos.
Todavia… todavia, vou traduzir um artigo que li no Corriere della Sera, de Ângelo Panebianco – um editorialista um pouco neocon e que nem sempre me convence. Refiro-me, sobretudo, às suas análises da política italiana. Ora, neste caso, quem sabe se não terá razão.
**********
Eis o artigo:
“O Velho Continente e a Segurança de Israel”
A REJEIÇÃO EUROPEIA
Foi uma singular dupla acção. O Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Philipe Douste-Blazy tinha acabado de elogiar o Irão, enaltecendo-lhe o “papel estabilizador na região”; imediatamente, o presidente do mesmo Irão, Ahmadinejad, retribuiu a cortesia, explicando ao mundo que a melhor solução da crise libanesa é a destruição de Israel. Ahmadinejad, obviamente, sabe o que diz, visto que o Irão arma e manipula aquele Hezbollah que à missão “destruir Israel” é, desde sempre, devoto servidor.
As desajeitadas avances dos governantes franceses ao Irão representam bem a atitude cínica de uma parte da Europa e recorda-nos que existe, mais sub-reptícia e mais hipócrita do que a rejeição árabe (do estado de Israel), uma rejeição europeia, ou algo que muito se lhe assemelha.
É próprio de quem, na Europa, nunca deixa de prometer que… certamente… por amor de Deus, Israel tem direito de viver em segurança; porém, depois, desmente com o próprio comportamento quanto asserido com palavras.
Verificámo-lo na altura do bombardeamento de Qana. Os mass-media europeus e a fina-flor dos comentadores mergulharam nas notícias, chamando assassinos, não ao Hezbollah que lança os mísseis escudando-se atrás de civis e a quem impede de deixar a zona de guerra, mas aos israelitas. Os quais, agredidos pelo Hezbollah (cujos mandantes são sírios e iranianos), tentam eliminar a ameaça. Se não se interpusesse a rejeição europeia, ninguém poderia negar que, se há um caso no qual é lícito aplicar o antigo conceito de “guerra justa”, a intervenção israelita, no Líbano, é precisamente um desses casos.
A rejeição europeia nutre-se de uma sinergia entre atitudes de sectores da opinião pública e cálculos de classes dirigentes.
Para uma parte da opinião pública europeia, Israel é, mais ou menos, um posto avançado do imperialismo americano no Médio Oriente (alias, como para o mundo árabe).
Além disso, é um facto bem patente às classes dirigentes europeias que a Europa tem relações mais vitais, de ordem geo-económica, com árabes e persas de quanto não tenha com Israel.
Se um dia Israel desaparecesse do mapa, uma parte dos europeus considerá-lo-ia um drama, um golpe mortal infligido a todo o Ocidente; mas, uma outra parte pensaria, sem o dizer, que um obstáculo às harmoniosas relações entre a Europa e Médio Oriente foi eliminado.
Seria uma falsidade sustentar que esta posição seja predominante na Europa. No entanto, é um comportamento presente e com o qual é necessário acertar contas abertamente, dadas as suas contínuas recaídas políticas. Isso mesmo se vê, também, nesta crise.
Quem não se preocupa com a segurança de Israel quer, ao fim e ao cabo, um cessar-fogo que seja prelúdio da reconstituição do status quo precedente à crise, o que seria uma ameaça mortal para Israel, agravada pela circunstância que o Hezbollah sairia vencedor da partida.
Quem, pelo contrário, defende a segurança, quer mudanças radicais, começando pela aplicação da resolução ONU 1559 relativamente ao desarmamento do Hezbollah.
Existe uma Europa para quem a segurança de Israel vem muito depois, na escala das prioridades, das boas relações (seja qual for o preço) com o mundo islâmico do Médio Oriente, “estados-canalha” incluídos. Existe outra, todavia, e felizmente, diversa da primeira.
Talvez não reste que aguardar os resultados das eleições presidenciais francesas, na próxima Primavera, esperando que enfraqueça o front da rejeição europeia.”
Ângelo Panebianco – 05 Agosto 2006
**********
Lendo o elogio de Philipe Douste-Blazy ao Irão, classificando-o como “país estabilizador da região”, misericórdia!!!
Com a devida vénia ao Sr. Ministro francês, bem podia evitar estas bajulices de comerciante interessado.
Alda M. Maia
No meu post anterior, expus perguntas sobre diversos temas para as quais sempre encontrei alusões vagas ou, então, nas muitas informações que chegavam, nas múltiplas análises lidas, quase colhia a ideia que nenhuma importância lhes era, ou é, atribuída. Confesso que me irritava e, paralelamente, duvidava - e duvido - do meu discernimento perante certos factos apresentados por génios da análise política e por certos políticos iluminados.
Acontece que, nesta guerra que tantas improvisadas cassandras já indicam como prelúdio da terceira guerra mundial, eu dou grande importância a factos que a gigantesca onda de críticas ao estado judaico descura ou acha mais conveniente ultrapassar. Por qual razão? Prefiro não dar juízos.
Todavia… todavia, vou traduzir um artigo que li no Corriere della Sera, de Ângelo Panebianco – um editorialista um pouco neocon e que nem sempre me convence. Refiro-me, sobretudo, às suas análises da política italiana. Ora, neste caso, quem sabe se não terá razão.
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Eis o artigo:
“O Velho Continente e a Segurança de Israel”
A REJEIÇÃO EUROPEIA
Foi uma singular dupla acção. O Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Philipe Douste-Blazy tinha acabado de elogiar o Irão, enaltecendo-lhe o “papel estabilizador na região”; imediatamente, o presidente do mesmo Irão, Ahmadinejad, retribuiu a cortesia, explicando ao mundo que a melhor solução da crise libanesa é a destruição de Israel. Ahmadinejad, obviamente, sabe o que diz, visto que o Irão arma e manipula aquele Hezbollah que à missão “destruir Israel” é, desde sempre, devoto servidor.
As desajeitadas avances dos governantes franceses ao Irão representam bem a atitude cínica de uma parte da Europa e recorda-nos que existe, mais sub-reptícia e mais hipócrita do que a rejeição árabe (do estado de Israel), uma rejeição europeia, ou algo que muito se lhe assemelha.
É próprio de quem, na Europa, nunca deixa de prometer que… certamente… por amor de Deus, Israel tem direito de viver em segurança; porém, depois, desmente com o próprio comportamento quanto asserido com palavras.
Verificámo-lo na altura do bombardeamento de Qana. Os mass-media europeus e a fina-flor dos comentadores mergulharam nas notícias, chamando assassinos, não ao Hezbollah que lança os mísseis escudando-se atrás de civis e a quem impede de deixar a zona de guerra, mas aos israelitas. Os quais, agredidos pelo Hezbollah (cujos mandantes são sírios e iranianos), tentam eliminar a ameaça. Se não se interpusesse a rejeição europeia, ninguém poderia negar que, se há um caso no qual é lícito aplicar o antigo conceito de “guerra justa”, a intervenção israelita, no Líbano, é precisamente um desses casos.
A rejeição europeia nutre-se de uma sinergia entre atitudes de sectores da opinião pública e cálculos de classes dirigentes.
Para uma parte da opinião pública europeia, Israel é, mais ou menos, um posto avançado do imperialismo americano no Médio Oriente (alias, como para o mundo árabe).
Além disso, é um facto bem patente às classes dirigentes europeias que a Europa tem relações mais vitais, de ordem geo-económica, com árabes e persas de quanto não tenha com Israel.
Se um dia Israel desaparecesse do mapa, uma parte dos europeus considerá-lo-ia um drama, um golpe mortal infligido a todo o Ocidente; mas, uma outra parte pensaria, sem o dizer, que um obstáculo às harmoniosas relações entre a Europa e Médio Oriente foi eliminado.
Seria uma falsidade sustentar que esta posição seja predominante na Europa. No entanto, é um comportamento presente e com o qual é necessário acertar contas abertamente, dadas as suas contínuas recaídas políticas. Isso mesmo se vê, também, nesta crise.
Quem não se preocupa com a segurança de Israel quer, ao fim e ao cabo, um cessar-fogo que seja prelúdio da reconstituição do status quo precedente à crise, o que seria uma ameaça mortal para Israel, agravada pela circunstância que o Hezbollah sairia vencedor da partida.
Quem, pelo contrário, defende a segurança, quer mudanças radicais, começando pela aplicação da resolução ONU 1559 relativamente ao desarmamento do Hezbollah.
Existe uma Europa para quem a segurança de Israel vem muito depois, na escala das prioridades, das boas relações (seja qual for o preço) com o mundo islâmico do Médio Oriente, “estados-canalha” incluídos. Existe outra, todavia, e felizmente, diversa da primeira.
Talvez não reste que aguardar os resultados das eleições presidenciais francesas, na próxima Primavera, esperando que enfraqueça o front da rejeição europeia.”
Ângelo Panebianco – 05 Agosto 2006
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Lendo o elogio de Philipe Douste-Blazy ao Irão, classificando-o como “país estabilizador da região”, misericórdia!!!
Com a devida vénia ao Sr. Ministro francês, bem podia evitar estas bajulices de comerciante interessado.
Alda M. Maia
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