SUA MAJESTADE, O AUTOMÓVEL
HUMILDE SERVO, O PEÃO
Ao automóvel poder-se-ia juntar uma outra “majestade”: as obras públicas ou privadas.
Estas majestades, com todos os direitos de acção e precedência, reinam no ambiente citadino sem quaisquer obrigações de pensar na protecção e direitos dos peões. É dessas majestades que desejo escrever.
Não sei se é uma pecha característica de V. N. de Famalicão ou se, pelo contrário, é praga disseminada em todo o País. O que sei, e verifico-o quotidianamente, é a indiferença e desrespeito que os seres humanos que usam “o cavalo de S. Francisco” (as pernas) como meio de transporte, merecem aos governos autárquicos.
Projectam-se novas construções ou reestruturações de prédios, instalam-se os taipais obrigatórios, absorvem-se as áreas dos passeios paralelos, pois que as “majestades” necessitam de espaço de manobras, iniciam-se as obras. Os peões que se habituem a caminhar de mistura com todos os géneros de viaturas, visto que, para estas, não devem existir obstáculos.
HUMILDE SERVO, O PEÃO
Ao automóvel poder-se-ia juntar uma outra “majestade”: as obras públicas ou privadas.
Estas majestades, com todos os direitos de acção e precedência, reinam no ambiente citadino sem quaisquer obrigações de pensar na protecção e direitos dos peões. É dessas majestades que desejo escrever.
Não sei se é uma pecha característica de V. N. de Famalicão ou se, pelo contrário, é praga disseminada em todo o País. O que sei, e verifico-o quotidianamente, é a indiferença e desrespeito que os seres humanos que usam “o cavalo de S. Francisco” (as pernas) como meio de transporte, merecem aos governos autárquicos.
Projectam-se novas construções ou reestruturações de prédios, instalam-se os taipais obrigatórios, absorvem-se as áreas dos passeios paralelos, pois que as “majestades” necessitam de espaço de manobras, iniciam-se as obras. Os peões que se habituem a caminhar de mistura com todos os géneros de viaturas, visto que, para estas, não devem existir obstáculos.
Forçosamente, devem tornar-se expertos da marcha ziguezagueante, a fim de não ir parar ao hospital ou aonde se dorme o sono eterno.
As normas exigem que se disponha uma passagem que salvaguarde a incolumidade das pessoas. São bem raras as empresas construtoras que respeitem essas normas; são absolutamente inexistentes os controlos da Câmara Municipal sobre este estado de anarquia.
Insisto na dúvida: sucede exclusivamente nesta cidade ou é um tique nacional?
Ma passemos a um outro aspecto não menos digno de nota.
Durante os meses de verão, iniciaram-se obras na rotunda e rua onde se situa o Hospital da cidade: alteração da pavimentação da rua e dos respectivos passeios.
Nos primeiros tempos, foram intervenções caóticas na demolição do que deveria ser melhorado, isto é, tudo. Transitar naquelas áreas começou a ser uma empresa árdua.
Criaram-se pistas, a fim de que houvesse um limitado trânsito dos carros. Porém, no que concerne os peões, foi uma preocupação que não existiu na programação dos trabalhos.
Portanto, houve que adaptar-se a uma espécie de atalhos escabrosos: pedregulhos, areia, buracos, desníveis, enfim, uma quase intransitabilidade e um perigo para pessoas com dificuldades de locomoção: assisti a um caso que poderia ter tido um desfecho grave.
Colocaram a barraca dos apetrechos em frente ao Hospital, inclusivamente ocupando o passeio, o que era desnecessário. Bastante mais tarde, abriram a passagem. Grande bondade do director das obras!...
Há mais de uma semana que terminaram de asfaltar a estrada e alindar a rotunda. Os passeios foram a última preocupação, quer os do lado direito, quer os da esquerda: obras em curso.
Os automóveis, entretanto, circulam alacremente, num piso macio e convidativo a rolar sem grandes preocupações, pois não existem passadeiras nem quaisquer outros sinais que aconselhem cuidado com estes insectos fastidiosos a que chamam peões.
Mas, aleluia! Neste fim-de-semana, traçaram, num branquinho imaculado, as passadeiras. Finalmente, após uma semana de mil cautelas, pude atravessar a rua sem comportar-me como o gatuno que tem medo de ser apanhado.
Não discuto se, neste género de trabalhos, existe um único modo de os efectuar. Não creio.
Começar num ponto, deslocar-se para outro e outro sem os concluir; ocuparem-se da parte oposta; escavacar os passeios de um lado e do outro: toda esta sarabanda fugiu à compreensão de quem desejava compreender.
E como não creio, só me pergunto qual as competências de vereadores, assessores, técnicos que exercem uma actividade - útil para os munícipes - dentro da Câmara Municipal e onde estiveram durante estes meses.
Só me pergunto por qual razão, de vez em quando, não saem para a rua e observam, controlam, procuram dar remédio ao que não está correcto na cidade a que se votaram, sem que devamos avançar protestos… frequentemente ignorados. Falo com conhecimento de causa.
****
“Mais acção, mais Famalicão”; “Por Famalicão”: estes são os slogans espalhados pela cidade.
Quando os vejo, maliciosamente, vem-me à ideia a cidade de Braga. E se algum candidato, para ser original, decide: “Mais viagra, mais Braga” (não será rima consoante, perfeita, mas a toante também é aceitável)!?
Não é promessa oca e pode levar a resultados; foge ao fraseado corriqueiro - que tudo quer dizer e nada diz - e diverte.
Mas voltemos às coisas sérias. "Mais acção": que significa? Obras e acções que dêem nas vistas ou constituam espectáculo? Obras que o Governo faz, mas que se apresentam como trunfos do Município? Projectos grandiosos?
O “mais acção” vê-lo-ia também, e sobretudo, nas pequenas coisas. São estas que reforçam e concorrem para um melhor e mais atraente modus vivendi dos munícipes, embora não tenham consistência de bandeiras triunfantes para campanhas eleitorais.
As pessoas, todavia, apercebem-se do que funciona e sabem distinguir quem se empenha de quem se vangloria.
Quanto aos senhores do “Por Famalicão”, criem desde já a ideia de não sonhar com as cadeiras confortáveis dos gabinetes e pensem, com determinação e honestidade, em conhecer, percorrer, embeber-se nos problemas - grandes, pequenos ou pequeníssimos - desta cidade. É a isto que chamaria “por Famalicão” ou por qualquer outro município do nosso País.
Por último, quer ganhe o governo municipal vigente, quer a oposição, poupem-nos o espectáculo de vermos pessoas incompetentes, mas políticos ambiciosos que se devem premiar, nos vários pelouros.
Onde a competência escasseie, escolham pessoas com entusiasmo e boa vontade de bem servir: as ideias nascerão; a competência surgirá e crescerá de pari passu.
As normas exigem que se disponha uma passagem que salvaguarde a incolumidade das pessoas. São bem raras as empresas construtoras que respeitem essas normas; são absolutamente inexistentes os controlos da Câmara Municipal sobre este estado de anarquia.
Insisto na dúvida: sucede exclusivamente nesta cidade ou é um tique nacional?
Ma passemos a um outro aspecto não menos digno de nota.
Durante os meses de verão, iniciaram-se obras na rotunda e rua onde se situa o Hospital da cidade: alteração da pavimentação da rua e dos respectivos passeios.
Nos primeiros tempos, foram intervenções caóticas na demolição do que deveria ser melhorado, isto é, tudo. Transitar naquelas áreas começou a ser uma empresa árdua.
Criaram-se pistas, a fim de que houvesse um limitado trânsito dos carros. Porém, no que concerne os peões, foi uma preocupação que não existiu na programação dos trabalhos.
Portanto, houve que adaptar-se a uma espécie de atalhos escabrosos: pedregulhos, areia, buracos, desníveis, enfim, uma quase intransitabilidade e um perigo para pessoas com dificuldades de locomoção: assisti a um caso que poderia ter tido um desfecho grave.
Colocaram a barraca dos apetrechos em frente ao Hospital, inclusivamente ocupando o passeio, o que era desnecessário. Bastante mais tarde, abriram a passagem. Grande bondade do director das obras!...
Há mais de uma semana que terminaram de asfaltar a estrada e alindar a rotunda. Os passeios foram a última preocupação, quer os do lado direito, quer os da esquerda: obras em curso.
Os automóveis, entretanto, circulam alacremente, num piso macio e convidativo a rolar sem grandes preocupações, pois não existem passadeiras nem quaisquer outros sinais que aconselhem cuidado com estes insectos fastidiosos a que chamam peões.
Mas, aleluia! Neste fim-de-semana, traçaram, num branquinho imaculado, as passadeiras. Finalmente, após uma semana de mil cautelas, pude atravessar a rua sem comportar-me como o gatuno que tem medo de ser apanhado.
Não discuto se, neste género de trabalhos, existe um único modo de os efectuar. Não creio.
Começar num ponto, deslocar-se para outro e outro sem os concluir; ocuparem-se da parte oposta; escavacar os passeios de um lado e do outro: toda esta sarabanda fugiu à compreensão de quem desejava compreender.
E como não creio, só me pergunto qual as competências de vereadores, assessores, técnicos que exercem uma actividade - útil para os munícipes - dentro da Câmara Municipal e onde estiveram durante estes meses.
Só me pergunto por qual razão, de vez em quando, não saem para a rua e observam, controlam, procuram dar remédio ao que não está correcto na cidade a que se votaram, sem que devamos avançar protestos… frequentemente ignorados. Falo com conhecimento de causa.
****
“Mais acção, mais Famalicão”; “Por Famalicão”: estes são os slogans espalhados pela cidade.
Quando os vejo, maliciosamente, vem-me à ideia a cidade de Braga. E se algum candidato, para ser original, decide: “Mais viagra, mais Braga” (não será rima consoante, perfeita, mas a toante também é aceitável)!?
Não é promessa oca e pode levar a resultados; foge ao fraseado corriqueiro - que tudo quer dizer e nada diz - e diverte.
Mas voltemos às coisas sérias. "Mais acção": que significa? Obras e acções que dêem nas vistas ou constituam espectáculo? Obras que o Governo faz, mas que se apresentam como trunfos do Município? Projectos grandiosos?
O “mais acção” vê-lo-ia também, e sobretudo, nas pequenas coisas. São estas que reforçam e concorrem para um melhor e mais atraente modus vivendi dos munícipes, embora não tenham consistência de bandeiras triunfantes para campanhas eleitorais.
As pessoas, todavia, apercebem-se do que funciona e sabem distinguir quem se empenha de quem se vangloria.
Quanto aos senhores do “Por Famalicão”, criem desde já a ideia de não sonhar com as cadeiras confortáveis dos gabinetes e pensem, com determinação e honestidade, em conhecer, percorrer, embeber-se nos problemas - grandes, pequenos ou pequeníssimos - desta cidade. É a isto que chamaria “por Famalicão” ou por qualquer outro município do nosso País.
Por último, quer ganhe o governo municipal vigente, quer a oposição, poupem-nos o espectáculo de vermos pessoas incompetentes, mas políticos ambiciosos que se devem premiar, nos vários pelouros.
Onde a competência escasseie, escolham pessoas com entusiasmo e boa vontade de bem servir: as ideias nascerão; a competência surgirá e crescerá de pari passu.
Alda M. Maia
2 Comments:
Ora sim senhora! Que texto cheio de humor (um tanto cáustico de onde em onde) e perfeitamente oportuno. Gostei!
Não é um problema de Famalicão, julgo eu que vivo na Maia e também me vejo às voltas na rua para escolher o melhor caminho. Pelo menos o que oferece menor risco.
E também aqui os senhores autarcas não se devem aperceber lá muito destes problemas dos pobres peões. É que estes,os autarcas, fazem-se transportar em bons automóveis, quais majestades como muito bem diz, que estacionam num parque privativo de onde ascendem aos seus gabinetes também em majestáticos elevadores...
Beijos.
Magnífico! O seu comentário foca bem a situação e completa o que me faltou escrever acerca dos senhores autarcas e relativas benesses.
Obrigada pelas suas apreciações lisonjeiras e simpáticas.
Um beijinho
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