segunda-feira, abril 03, 2017

PRECEITOS RELIGIOSOS OU TRADIÇÕES?

A história é invulgar. Circulou nas páginas dos jornais e foi narrado na TV com todos os pormenores.
Passa-se na cidade de Bolonha e descreve o que aconteceu a uma jovem estudante de 14 anos, de religião muçulmana, oriunda do Bangladeche, residente em Itália há já alguns anos.

Excelente aluna, a jovem integrou-se perfeitamente na civilização ocidental. Desejava comportar-se como todas as suas coetâneas e colegas de estudo. Os pais, todavia, obedientes ao que entendiam como um imprescindível preceito religioso, impunham-lhe o uso constante do véu (Hijabe) que lhe cobria os cabelos e pescoço.

Usava-o em casa, forçosamente. Apenas saía para a escola e quando já se encontrava longe da vista dos pais, imediatamente tirava o véu e metia-o na bolsa.
A mãe foi informada sobre este “comportamento herético” da filha e aplicou-lhe o castigo que entendeu como medida mais drástica: rapou-lhe o cabelo.
Sem cabelos, forçosamente devia utilizar o fatídico véu.

No instituto que frequenta, quando viu a professora, começou a chorar e desabafou: “Ajudai-me! Não me reconheço detrás daquela echarpe. Não quero estar mais com a minha família. Pressionam-me continuamente e dizem que não sou uma boa filha. Mandai-me para outra família”.

Nada lhe era permitido: não confraternizar com amigas e conhecidos, telemóvel proibido, não falar com rapazes, enfim, tantas outras inibições que a sua vida era, praticamente, uma prisão. A frequência escolar, no entanto,  é o seu motivo de vida e com bons resultados. 
As professoras com quem falou vêem-na assustada, mas firme nas suas atitudes.
Entretanto, a directora do instituto, informada sobre a angústia da jovem, informou as autoridades – os carabineiros. Estes examinarão minuciosamente a questão. De igual modo, ocupar-se-ão a procuradoria dos menores e os serviços sociais. 
Como última notícia, a jovem e duas irmãs foram retiradas da família e transferidas para um instituto de segurança. 

A comunidade islâmica de Bolonha desvia-se deste comportamento dos pais da jovem. O coordenador desta comunidade, Yassim Lafram, explica:
Não há nada de religioso no gesto da mãe que rapou a cabeça à filha. Para a tradição islâmica, qualquer forma de imposição invalida o acto. Todas as prescrições do Islão, desde o jejum do Ramadão à peregrinação a Meca, fazem parte de uma escolha livre da pessoa: ninguém pode impô-las, religiosamente falando.
Neste caso, então, estamos fora do religioso: é um facto que deve ser enquadrado num código cultural particular e errado”.
E acrescentou:
”É necessário ajudar os familiares, mesmo a própria mãe a compreender o que a levou àquele gesto. O Islão prescreve que se deve preservar a dignidade das pessoas e não de humilhá-las.
Como muçulmano, tenho o dever de educar os meus filhos a um bom comportamento; tenho o dever de orientá-los, mas não tenho o dever de os obrigar. Quando atingem a puberdade, podem decidir de já não continuar nas tradições da família”.

Falou o bem senso e penso que nada mais se pode acrescentar. Bem, alguma coisa ainda se pode escrever. Aquela mãe não será fanática por determinação própria. Apenas continua a pôr em prática certos fundamentalismos religiosos e tradicionais que lhe foram inculcados desde a infância, alheando-se da integração no novo ambiente onde costumes e leis são diversos.