É DE MAIS!
Ouvem-se as notícias,
lêem-se os jornais, procuramos compreender, sem acrimónias nem complacências, o
que se passa neste país, mas o esforço demonstra-se baldado.
Ponhamos de lado,
então, as acrimónias ou complacências e tentemos deixar em liberdade a
irritação irrefreável que nos assalta diariamente, condensando-a num único
conceito: dentro da nossa democracia, nunca se viu um governo tão desastroso e
de tão ínfima qualidade como o que, actualmente, administra Portugal. Precisamente
num período de crise gravíssima que o estrangula e onde seria imprescindível um
staff de pessoas com as mais altas competências
e qualificações que o governasse com dignidade e segurança!
Certamente que há
excepções e alguns ministros dignos de respeito, mas são poucos.
Avulta, por
indecência, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, um senhor que declarava,
antes da tomada de posse, “ter deixado
funções em 30 organismos, entre os quais três grupos bancários, sociedades,
fundações, comissões o escritório de advocacia PLMJ. Que tinha integrado, em
simultâneo, órgãos sociais não-executivos da CGD, do BCP e do BPI que acumulava
com a presidência do conselho superior da SLN e a vice-presidência do conselho
consultivo do BPP, além de ter presidido à FLAD entre 1988 e 2010” - São José Almeida, Público – 12/10/2013
Este normalíssimo ser
humano como encontrava tempo para tantos encargos? Qual excepcionalidade de
competências o tornava tão procurado ou tão introduzido em lugares de
relevância económica e financeira?
Excelso para todos
estes cargos, pelos vistos; execrável como chefe da nossa diplomacia.
O improvisado
diplomata Sr. Machete, com a sua inconcebível entrevista à Rádio Nacional de
Angola, muito bem aproveitada pelo Governo angolano, provou-nos o que significa
promover para cargos importantes, sobretudo governativos, as sólitas
personagens sempre prontas para todo o serviço.
O caso foi largamente analisado, comentado,
criticado asperamente, mas sem consequências.
É
de mais, portanto, vermos
Rui Machete, imperturbável e sem um mínimo de vergonha, continuar a conduzir a
nossa diplomacia, quando respiraríamos de alívio se tivesse apresentado a sua
demissão ou o Primeiro-Ministro o tivesse levado a esse passo. As justificações destes dois senhores, a tal respeito, soam como ofensas à idoneidade do
Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Repito, é de mais termos de suportar todas
estas incongruências e arrogâncias.
Orçamento do Estado
2014 – “Empobrece o presente; Hipoteca o futuro” (Grupo Economia e
Sociedade).
Li com atenção o que foi publicado sobre a
ceifa nos diversos sectores.
Indignei-me quando
cheguei ao sector Educação e verifiquei os critérios de uso da foice: “Menos
500 milhões no básico e secundário. Inferior de cerca 8% à fatia de 2013”.
Será também reduzida
a verba destinada à educação pré-escolar. Em contrapartida, eleva-se de 2
milhões as transferências para o Ensino Particular e Cooperativo – de 238
milhões -2013 a 240 milhões -2014.
Financiar o Ensino Particular
onde não exista oferta pública, é justíssimo e aconselhável. Porém, em
quaisquer outros casos, quando se fazem cortes em todas as direcções, sobretudo
na função pública, esse financiamento é inadmissível e lesivo da qualidade que
o Estado, impreterivelmente, deve garantir ao Ensino Público.
Defendem o princípio,
e lêem-se muitos artigos defensores dessa causa, que os pais têm o direito de
escolher o tipo de escola, privada ou pública, que os filhos devem frequentar.
Logo, o Estado deve respeitar esse direito, financiando-o.
Francamente, este
país perdeu a noção ou nunca procurou saber o que significa, num Estado de
direito democrático, a existência e predominância obrigatórias de uma excelente
Escola Pública para todos os seus cidadãos.
É a Escola Pública, e somente esta, que o Estado é obrigado a proteger, garantir
e financiar.
Se os pais preferem
uma Escola Privada onde já existe a alternativa da Escola Pública, quem lhes
subtrai essa faculdade? Que paguem um serviço privado e não pretendam direitos ad hoc para as suas preferências.
Também aqui, é de mais o descaramento deste Governo
que não esconde a protecção de interesses que nada têm que ver com a sua função
de administrador e zelador da coisa pública. É caso para insistir na pergunta:
o Governo está ao serviço de quem e de quais interesses?
As privatizações a
esmo, sobretudo do que dá lucros ao Estado, como se justificam? Mas isto dá
assunto para outra conversa.
O Ensino Superior e
Ciência também serão afectados pelos cortes orçamentais de 4,1%.
É de mais a suportação desta
arbitrariedade e indiferença, perante um dos motores principais que introduzem o
progresso num país, isto é, a Educação!
Até quando?
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