GOVERNANTES DA COISA
PÚBLICA
OU PROTECTORES DE
INTERESSES SOMBRA?
A Senhora Merkel propõe modificações nos
tratados da UE, a fim de meter na ordem os países financeiramente pouco
virtuosos, estabelecendo regras comuns mais rigorosas nos orçamentos dos
Estados-membros da zona euro.
Vejamos, então, o que
sucede na virtuosíssima Alemanha e que um artigo de Matteo Alviti (La Stampa 17/10/2013) esclarece de um modo muito
claro. Não trata das exigências de austeridade nas contas públicas, mas de influências
que as condicionam.
“Berlim, é a ocasião dos
lobbistas”
“Certamente que há a união de CDU e
CSU com Angela Merkel à cabeça; os sociais-democratas (SPD) em busca de um
resgate e os Verdes que se afastaram ontem, mas ainda mantêm aberta uma frincha
da porta das traseiras. Todavia, os protagonistas das negociações para a
formação do novo Governo - hoje na Alemanha, amanhã em qualquer outra parte –
não estão todos aqui citados. E nem todos se apresentam à luz do sol.
Para os lobbies, as semanas sucessivas às
eleições constituem um período de ouro. Precisamente quando homens e programas
estão em movimento e é necessário decidir em qual direcção se deve encaminhar o
país.
Sem passar pela
legitimação popular, escolhidos e muito bem pagos por governos interessados,
empresas, associações de categoria e ONG mais ou menos independentes, estes
“homens e mulheres sombra” pesam na vida de todos mais de quanto seja
comummente notório.
Com os seus conselhos
fazem escrever leis, desviar capitais de um ponto para o outro das medidas do
orçamento público. E levam milhões de investimentos privados para todas as
partes do globo.
Há dias, o quotidiano
“Die Welt”, num longo artigo, narrou o fenómeno e indicou os nomes de alguns “lobbistas”.
Entre eles, o do ex-presidente da câmara de Hamburgo, Ole von Beust, hoje ocupado
a promover a Turquia entre os investidores alemães, directamente por conta do
primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan. Como colegas na mesma tarefa, Rezzo Schlauch,
ex-subsecretário do ministério da Economia, e Wolf-Ruthart Born, ex-secretário
do ministério dos Negócios Estrangeiros. “Nenhum dos três fala turco – escreve “Die
Welt” – mas os seus nomes abrem portas na política berlinense”.
Recentemente, o ministro Eckart von Klaeden anunciou que deixaria a política
pela Daimler, os da Mercedes. Não faltam, por fim, os nomes ilustres: o
ex-chanceler SPD, Gerhard Schröder, de há tempos empenhado na Gazprom russa.
O ex-adversário da
Merkel na CDU, Roland Koch, passou do governo de Essen para a multinacional da
construção Bilfinger.
Entre os “lobbistas”
também há os rostos de economistas conhecidos, como o de Matthias Wissmann,
presidente da associação dos produtores de automóveis; Küdiger Grube,
presidente dos caminhos-de-ferro alemães; Michael Sommer, chefe da federação
dos sindicatos.
Porém, os
desconhecidos, os que procuram enganchar os políticos em saraus-evento, ou em
jantares com aqueles que contam, são tantos! No total, cerca de cinco mil,
segundo o cálculo referido pelo quotidiano conservador.
Embora um verdadeiro
registo dos lobbies não exista em
Berlim, o Bundestag, o parlamento federal, anotou oficialmente 2142
associações, entre agências de relações públicas, thinktank, agências de lobbying.
Os lobbies não são um problema, quando agem
à luz do dia e trazem interesses, ideias e competências específicas às
políticas, explica Michael Hartmann (partido social-democrata) ao jornal “Die
Welt”. O problema existe quando as coisas não são transparentes. Ora em Berlim,
nos últimos anos, não se vê tudo com clareza.
O governo Merkel, por
exemplo, com a chanceler em primeira pessoa, empenhou-se afincadamente na
Europa, a fim de diluir as novas normas sobre as emissões de CO2 da indústria
automobilística, com todas as vantagens dos competidores nacionais.
Os 690 mil euros que
três membros influentes da dinastia Quandt, proprietária da BMW, doaram à CDU,
a duas semanas das eleições, não têm que ver, directamente, com lobbies. Todavia, alguma coisa indicam
sobre as relações entre a política e a indústria, a finança e grupos de poder.
Hoje, “os lobbies são mais influentes do que antes
– afirma Edda Müller da ONG Transparency International – porque a política não
faz os seus deveres de casa e não regula suficientemente a economia”.
Serviriam lei e
regras mais restritas que tornem transparentes as actividades dos lobbies. Devê-las-á escrever o novo
governo; oxalá evitando ajudas.” - Matteo
Alviti
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Se em Portugal
encontrarmos muitos sósias das personagens citadas neste artigo, é pura casualidade.
Se situações idênticas às alemãs existem no nosso país, que absurdo! Como se
ousa pensar tal coisa? São muito piores.
Como gostaria que
qualquer publicação portuguesa, de larga projecção, procurasse imitar “Die
Welt”, mas indo muito além, denunciando os tais poderes sombra que condicionam
a nossa política e os politiqueiros que dela se ocupam… e que nós elegemos!
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