“SÓ SEI QUE NADA SEI”
À celebérrima frase socrática, “só sei que nada sei”, ajuntemos o que disse o famoso poeta inglês, Percy B. Shelley: “Quanto mais estudamos, mais descobrimos a nossa ignorância”.
Tropeçamos nestas verdades a cada momento. São fáceis de reconhecer, se tivermos a inteligência necessária e aquela percentagem indispensável de modéstia que deveríamos cultivar diariamente.
Vem isto a propósito da minha falta de paciência perante os que pretendem impor as próprias razões, assim como os que não aceitam contestações a obras e iniciativas de que são responsáveis, sobretudo quando estas são discutíveis e desprovidas de bases sólidas que as sustentem.
E quantos casos destes se nos deparam!
Neste momento estou a recordar a “Declaração de Amor à Língua Portuguesa” da escritora Teolinda Gersão. Foi publicada no jornal Público, no dia 02 de Julho 2012, (salvo erro), mas já a tinha lido um mês antes no sítio que visito regularmente: //ilcao.cedilha.net.
É um texto interessante, oportuno, objectivo e divertidíssimo. Aconselho a leitura a quem ainda o não conhece, pois é fácil encontrá-lo na Internet. Por minha conta, já passei cópias a várias pessoas amigas, e todas aplaudiram.
Logo a seguir, no dia seis de Julho, o mesmo jornal publicou uma réplica de Maria Helena Mira Mateus: “A Propósito de um Texto de Teolinda Gersão”.
Quanto azedume, quanta agressividade… e quanta falta de estilo e elegância!
A Sra. Professora jubilada da Faculdade de Letras de Lisboa, M. Helena M. Mateus, não gostou, achando ofensivo o que Teolinda Gersão escrevera, alegando que era de péssimo gosto: “o artigo tem tanto de errado como de ridículo”; que revelava amplo desconhecimento do que é o Programa de Português do Ensino Básico.
Este programa pode conter planos muito bem articulados, mas no que concerne a prática do ensino gramatical, só têm apresentado disparates e adoptado nomenclaturas – as famosas TLEBS - que semeiam confusões em quem ensina e em quem deve aprender. Todavia, a Dra. Mira Mateus evitou argumentos susceptíveis de contrastar estas anomalias. Apenas aludiu à possibilidade de erros nos “manuais de que se servem os professores”: erros ou sugestões de certos linguistas?
Por que razão a Dra. M. Helena Mateus não se referiu aos exemplos que Teolinda Gersão enumerou abundantemente? Por que não quis explicar o motivo por que, nas gramáticas hodiernas, existe o disparate do sujeito nulo onde o não é, e a que aludiu Teolinda Gersão?
Tive ocasião de verificar esse disparate no teste de uma aluna do 7.º ano, Bárbara, a quem ajudo a esclarecer as suas dúvidas.
“Os pais da Joana foram para as termas. Permaneceram lá duas semanas”. O sujeito de “Permaneceram lá duas semanas” é nulo.
Nulo?!! Apontei-lhe o significado da palavra nulo; expliquei-lhe o que significa sujeito implícito, subentendido, indefinido e quando o sujeito é verdadeiramente nulo.
Divertiu-me a resposta muito rápida da Bárbara: “Pois claro que isto não tem jeito nenhum!”.
A ilustre Professora jubilada da Faculdade de Letras de Lisboa ocupou duas colunas do jornal apenas para repetir-se, numa defesa prolixa, empolada e, digamos, atabalhoada do ensino do Português actual. Porém, nada esclareceu; atacou somente.
É co-autora de uma gramática (“Gramática da Língua Portuguesa”; Caminho, Colecção Universitária, série Linguística), desenvolvendo os Capítulos n.º 1, 3, 25, 26.1, 26.2: O tempo e o espaço da língua portuguesa; Dialectos e variedades do português; Fonologia; A sílaba; O acento.
Considerando que todas estas matérias explicam como nasceu e evoluiu, fonológica e lexicalmente, o português e nas quais, obviamente, a Dra. Helena Mateus é profunda conhecedora, encontra-se imensa dificuldade em justificá-la como defensora de um ensino abstruso da nossa língua e, paralelamente, apologista de um desastrado e insultuoso Acordo Ortográfico. Não me merece, portanto, a mínima credibilidade.
No dia 13/07/2012, conheceu-se a resposta de Teolinda Gersão. Sempre no jornal Público, respondeu-lhe apropriadamente, apenas numa coluna: “Carta Aberta a Maria Helena”.
Efectivamente, não necessitou de escrever muito, pois foi clara, sucinta, directa. Sem eufemismos, denunciou-a como uma dos responsáveis do estado a que chegou o ensino de português e pela “passagem do ensino do português no secundário a ensino de linguística”… quando, frequentemente, desconhecem as mais elementares regras da gramática!
“Vivemos há décadas no enorme equívoco de que «os linguistas é que sabem, por isso o poder é deles». (O que te deve parecer tão óbvio que nem dás conta da imensa arrogância do teu artigo). Mas é altura de o país – se assim o quiser - dizer basta. A língua não é propriedade dos linguistas. O ensino da língua também não.”
8 Comments:
Publicámos: http://observatorio-lp.sapo.pt/pt/noticias/-so-sei-que-nada-sei
Francisco Nuno Ramos /OLP-Observatório da Língua Portuguesa
Publicámos: http://observatorio-lp.sapo.pt/pt/noticias/-so-sei-que-nada-sei
Francisco Nuno Ramos /OLP-Observatório da Língua Portuguesa
Ora aqui está um texto digno de registo...
Houvesse mais consciências correctas e o nosso Idioma não seria nivelado por baixo...
Senhor Francisco Nunes Ramos
Só me resta agradecer a importância que deu este meu texto.
Muitíssimo obrigada
Alda M. Maia
Senhor João Carlos Reis
Quando, pela enésima vez, vim "conversar com o computador", estava longe de imaginar este seu comentário.
Muito e muito obrigada
Alda M. Maia
Prezada Alda Maia,
não tem de quê.
No entanto, se me permite, gostaria de a informar que fiz uma breve análise ao acordo ortográfico, a qual publiquei no blogue do sr. Lauro Moreira (http://quincasblog.wordpress.com/2012/05/22/a-importancia-2/)... e que até hoje ainda estou à espera duma resposta dele...
Além disso, também a criadora do blogue "A Biblioteca de Jacinto" (http://abibliotecadejacinto.blogspot.pt/), fez a gentileza de publicar, praticamente na íntegra, a análise que fiz no dia 7 de Março do corrente ano. Além disso, a D. Maria Clara Assunção, também publicou, no dia 26 do mesmo mês, a sua resposta a um deputado, a qual também é referente ao acordo ortográfico.
Cordialmente,
João Carlos Reis.
Senhor Silva Reis
Só hoje li este segundo comentário.
Encontrei o seu texto na “Biblioteca do Jacinto”. Imprimi-o, a fim de o ler melhor.
Também li o excelente texto da Senhora Maria Clara Assunção.
A sua análise sobre a casteleirografia é completíssima. Não devia ter sido muito apreciada pelo embaixador Lauro Moreira, visto que é um defensor desta casteleirada.
Quando o Senhor alude à palavra pára-quedas, eu recordo o pára-raios. Passou a pararraios, mas as duas primeiras sílabas, fatalmente, entrarão em choque. Verá que resultará um vocábulo que será a delícia dos humoristas: prarraios… e verá que se tornará numa palavra polissémica.
Os melhores cumprimentos e obrigada pela sua presença
Alda Maia
Prezada Alda Maia,
esteja à vontade... eu também não posso cá vir todos os dias...
Esqueci-me, no entanto, de lhe dizer que a breve análise que fiz ao acordo ortográfico publicada no blogue do sr. Lauro Moreira é a completa e não a que está no blogue "A Biblioteca de Jacinto".
Fico muito sensibilizado pelas suas palavras, mas decerto que uma análise mais aprofundada ao acordo produzirá uma explanação com, no mínimo, o quádruplo dos exemplos de nivelamento por baixo do Idioma Português do que o meu breve ensaio...
Também gostaria de lhe dizer que esta minha breve análise também foi enviada ao Observatório da Língua Portuguesa... mas que até agora ainda não foi publicado...
Não tem de quê e eu é que muito lhe fico agradecido pelo espaço que me proporcionou,
João Carlos Reis.
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