E SE FALÁSSEMOS DE CORRUPÇÃO?
Corrupção e “questão moral”. A podridão na vida pública e o antídoto.
A expressão “ questão moral” ganhou vulto e popularidade numa entrevista do fundador do jornal La Repubblica, Eugénio Scalfari, ao secretário do “Partido Comunista Italiano”, Enrico Berlinguer, em Julho de 1981.
“Os Partidos já não fazem política. Hoje, os partidos são, sobretudo, máquinas do poder e de clientela: escasso, ou conhecimento mistificado, da vida e dos problemas da sociedade, das gentes; programas, poucos e vagos; ideias, ideais, sentimentos e paixões civis, zero.
Gerem os mais diversos interesses, os mais contraditórios, por vezes equívocos, mas sem alguma relação com as exigências e as necessidades humanas emergentes; ou então, distorcendo-os, sem procurar o bem comum.”
E hoje, 2012, será tudo muito diferente de 1981? Mas que pergunta!...
Esta entrevista ficou nos anais dos documentos importantes que explicam uma época. Imprimi-a e conservei-a, porque, independentemente da sua colocação política, é o testemunho de um homem sincero e de elevada estatura moral.
Nos primeiros anos de 1990, houve a famosa operação judicial “Mãos limpas” que pôs a descoberto uma corrupção promovida a sistema normal, entre o poder económico e as instituições públicas. Ficou conhecida na linguagem jornalística como “tangentopoli” - cuja tradução poderá ser “subornópoles”. Deu origem a um verdadeiro terramoto político e à dissolução do maior partido italiano, a “Democracia Cristã”.
Berlusconi aproveitou o vazio e instalou-se na política. Tinha que defender os seus interesses… e como defendeu!
Passadas duas décadas, o fenómeno corrupção explodiu de novo. Nestas últimas semanas, é raro o dia em que não surjam novos casos de administradores públicos investigados, se não incriminados.
A Região que mais se tem evidenciado é a Lombardia. O maior número de corruptos aninha-se no que foi a coligação de direita do Governo precedente: PDL e Liga Norte. O centro-esquerda, porém, também dá o seu contributo para esta praga.
É triste recordar que Milão foi etiquetada como capital moral da Itália. Ao que chegou!
Na lista dos países mais corruptos da União Europeia – classificação de “Transparency International” de 2011 - Portugal é o 11.º com 6,1 de pontuação, a qual vai de 0 a 10, onde 10 é o valor máximo concedido aos países impolutos. A Itália ocupa o 4.º lugar negativo, com 3,9.
Relativamente a Portugal, há quem minimize a importância desta nossa posição no índice europeu, considerando a nota positiva que nos cabe na avaliação de 183 países, em todos os Continentes: o 33.º lugar.
A mim, porém, não agrada absolutamente nada. Virmos depois da Grécia, Itália e países da Europa oriental; ficarmos atrás da Espanha, Chipre, Estónia e por aí adiante, não me causa nenhuma alegria. Rejubilaria se visse Portugal próximo do Luxemburgo, ou seja, na vigésima posição.
Mas a erva daninha também medra no nosso território e os danos ao correcto andamento da nossa administração pública, assim como aos investimentos numa economia sã e competitiva, são fáceis de prever.
Ninguém procura arrancá-la com determinação e a “questão moral” serve apenas para uso e consumo da retórica. Como bem sabemos, dá oportunidade aos moralistas hipócritas que, frequentemente, são os piores prevaricadores, mas sempre prontos a autoproclamarem-se leais servidores do Estado.
Sendo então servidores conscienciosos do Estado, por que não lançam uma campanha séria e pertinaz contra a corrupção, servindo-se de todos os meios legais apropriados? Por que não se exige maior transparência em todas as administrações, sobretudo locais, onde tantas anomalias (chamemo-las anomalias!...) se verificam?
Por que não combatem, sistematicamente, a evasão fiscal, quando é claríssimo que, onde todos pagam, todos pagam menos contribuições?
Quem evade o fisco, sobretudo as grandes evasões, caminha de mãos dadas com os corruptos.
É impressionante o dano que a corrupção causa à economia da União Europeia! Avaliam-no em cerca de 120 mil milhões de euros por ano.
E no nosso País, qual será a média?
Olho com profunda desconfiança e antipatia o descarado conúbio da política com os poderes económicos. Vejo com desdém quem transita da política para altos cargos em empresas privadas ou públicas e vice-versa. È gente que não merece respeito.
Embora nada tenha que ver com o fenómeno corrupção, cito o caso de o economista António Borges acumular o cargo público de supervisor das privatizações e o lugar de dirigente do Pingo Doce.
O Governo asseriu que não é incompatível. Ninguém põe em dúvida a seriedade de António Borges, mas esta mistura do público com o privado só demonstra escassez de ética. Este Senhor não sabe o que é o culto da decência, já que os governos, nisso, demonstram absoluta insensibilidade?
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