segunda-feira, agosto 08, 2011

O ESPECIALISTA

Especialista: indivíduo que possui habilidades ou conhecimentos especiais ou excepcionais em determinada prática, actividade, ramo do saber, ocupação, profissão, etc. – Dicionário Houaiss.
Como o vocábulo deriva de especial, podemos alargar o campo semântico e colocá-lo em variegados contextos.

O jornal Público de quarta-feira passada informou que o Governo nomeara 51 especialistas para os seus gabinetes, em 42 dias; faltava ainda comunicar as nomeações para os ministérios da Educação, Negócios Estrangeiros e Justiça.
Quantos serão estes seres excepcionais que por aplicação, estudo, experiência e sabedoria serão os guias, os conselheiros, enfim, os especialistas dos diversos gabinetes ministeriais?

Foram buscar estes peritos dentro da Administração Central, isto é, requisitaram os funcionários especializadas que melhor correspondessem às exigências consultivas dos neoministros ou as nomeações galardoaram "especialistas" externos de “confiança política”?

Penso que esta última alternativa seja a verdadeira. E sendo assim, as perplexidades são comuns à maior parte das pessoas que leram a notícia. Como é possível que dentro da Administração Central não haja funcionários competentes, especializados, capacíssimos de servir as actividades ministeriais?

Eu sei que a pergunta é apenas provocatória, pois bem sabemos o que significa o fatídico “spoils system” e o uso sistemático que dele faz cada governo, preterindo o “merit system”. Trocado em miúdos: obrigatório pensar nas clientelas, nos filiados, simpatizantes e amigos para cargos institucionais.
Agora se todos eles são verdadeiramente especialistas, no sentido acima referido e úteis, portanto, ao bom funcionamento dos ministérios ou em quaisquer outras instituições, isso é de secundária importância.

Parece que as múltiplas nomeações já superam as quatro centenas. Nas barbas da austeridade, mais outro género de especialistas; estes, de políticas partidárias que atribuem especialidades a qualquer licenciado ou diplomado que faz parte do clube.

Também me fez sorrir, após tantas proclamações de parcimónia e críticas a partidarismos, as nomeações de novos dirigentes da Caixa Geral de Depósitos. Eram mesmo necessárias? E se o eram, dentro daquele organismo não haveria funcionários competentes que pudessem ascender a cargos de maior responsabilidade?

O Conselho de Administração da CGD é mais numeroso do que o precedente, mas os salários são inferiores de 10%. E se o número continuasse igual e os salários diminuíssem 10%? Não seria este o verdadeiro sinal de maior seriedade?

Até aqui aludi aos específicos especialistas de casa nossa, mas há diversas categorias de especialistas em muitos campos.
Por exemplo, os especialistas em virar casacas. Quantos e quão refinados!
Penso também naquelas personagens de importância internacional relevante e que são especialistas em abrir boca e falar nos momentos menos oportunos ou falar de mais. Especialistas em produzir caos.

Hoje há uma guerra invisível, insidiosa, que se combate com as armas da finança” (Adriano Prosperi).
Pois bem, nesta guerra invisível e insidiosa, quantos desses especialistas, fazendo parte de governos europeus ou da Comunidade Europeia, se exprimem levianamente, quando deveriam estar calados ou pesar cada palavra, dizendo o mínimo indispensável, pois não ignoram que basta uma declaração incauta para semear caos e pânico nos mercados financeiros!

Por último, não quero esquecer o especialista das bacoradas, Sílvio Berlusconi. O termo bacorada não é elegante, eu sei. Todavia é o único adequado à personagem.
Não creio que a crise se agravará. A crise? Uma invenção dos jornais.
Não devemos assustar-nos pelo facto que o "spread" permaneça nos níveis actuais…
As bolsas de valores são relógios avariados, já o dizia o meu pai: dão a hora exacta somente duas vezes por dia, mas pelo resto não é a verdadeira...
A fiabilidade internacional de que goza a Itália deriva do facto de ter como chefe do governo um "tycoon" como eu….

E as bacoradas desta inefável personagem continuaram durante um discurso que assustou o BCE e os dois maiorais da UE, Merkel e Sarkozy.
Resultado? "Comissariamento" do Governo italiano através de uma carta com exigências bem explícitas de Jean-Claude Trichet.

Que Deus proteja a Itália, nesta tempestade financeira, com um governo dirigido por este indivíduo e compadres pouco melhores do que ele.
E é que não se vai embora!...