"FINANÇA CRIATIVA, FINANÇA CANALHA”
Não sei onde ouvi o anátema “finança criativa, finança canalha” contra mais este género de finança.
Embora não possa indicar a fonte, uso tal anátema, abusivamente, como título deste texto, pois vai ao encontro de tantas perplexidades a que não encontro respostas claras e convincentes.
Explicam esta locução (creative finance) como um esforço do intelecto humano para “encontrar soluções, inventando providências ou iniciativas fiscais e monetárias, a fim de resolver graves problemas financeiros”.
Paralelamente, também se pode interpretar como espertezas de dirigentes políticos que têm de enfrentar a crise que nos atenaza e cujo intelecto é pouco criativo, de vistas curtas ou sentem-se desnorteados.
E desgraçadamente, é a realidade actual que abrange toda a classe política do Ocidente, aqui e além Atlântico!
Haveria ainda outra explicação: oportunidade de adoptar medidas politicamente incorrectas, anteriormente inoportunas e deploráveis; concretizar teorias neoliberais desumanas, pois tudo é sacrificado à soberania do mercado financeiro, obliterando a quase totalidade das conquistas sociais do século passado.
Esta infindável crise, portanto, é o instrumento que afunda tudo e tudo justifica.
É curioso que, nestas finanças criativas, as medidas que mais enfeitiçam os governos concentram-se nos sacrifícios que devem ser impostos ao grosso da população, isto é, as classes médias e baixas. Sobretudo, as pessoas de rendimento fixo e as que pagam, pontual e civilizadamente, os respectivos impostos. Em todas as latitudes, sempre e só estas as vítimas sacrificais!
Abater privilégios excessivos e injustificados ou mordomias sistémicas; perseguir ganhos ilícitos; taxar devidamente riquezas ostensivas: estas e outras medidas similares são dificílimas de penetrar nos cérebros que devem decidir. Verifica-se, nestes casos, um total bloqueamento de ideias.
Gostaria, por exemplo, de ver o anúncio de um programa severo de caça à evasão fiscal, muito difusa em todo o território; de ver uma busca sistemática dos frequentadores - mesmo quando o são através de um clique - dos paraísos fiscais; saber de tentativas, sérias e persistentes, de recuperação dos ingentes capitais ali escondidos e sonegados aos impostos e à economia do país.
Mas os órgãos de Governo, sobre estes temas, ou não os consideram ou mantêm-se perenes balbuciantes sem coragem de os enfrentar. Qual a razão?
Por último, gostaria de ver uma maior acuidade e rigor na observância do que se passa na Madeira; saber de intervenções das autoridades competentes, incisivas e drásticas, sobre um despesismo anómalo e, acima de tudo, quem tem beneficiado dos milhões irrorados naquela região autónoma: o povo madeirense em geral ou as clientelas, compadres e apadrinhados? A pergunta é lícita; a resposta deveria ser obrigatória.
Finança criativa, finança canalha. Sinceramente, a verdadeira finança canalha vejo-a nas ultimamente famosas “vendas a descoberto” (short selling).
Nunca pude compreender onde estaria a forma correcta e decente de mover-se nos mercados financeiros, usando títulos emprestados, vendendo-os ao desbarato, semeando confusão e apreensões, recomprá-los quando atingiram o fundo, restituí-los e metendo ao bolso os ganhos.
Tudo isto anima e dá movimento ao mercado? Nestas vendas a descoberto há a certeza que tudo procede de modo transparente, que são imunes dos tais rumores que dão um empurrão à queda dos títulos?
Tenham juízo e arranjem outras formas leais e construtivas de mercadejar nas Bolsas de Valores. Pelo menos que nós, profanos, possamos compreender a bondade dos métodos.
2 Comments:
Viva, Alda
O que eu digo, muito simplesmente, é que este mundo da finança é um mundo de canalhas, de gananciosos e agiotas.
As duas últimas semanas foram devastadoras para as pequenas economias que tiveram natural receio de perder o seu pecúlio.
Os rumores eram tão aterradores que, com toda a certeza, venderam ao desbarato, para ver se ainda recuperavam algum capital.
Logo a seguir, é ver as Bolsas a subirem, logo a seguir a equilibrarem-se, para manter o suspense durante mais algum tempo.
E assim se vai sugando o dinheirito dos pequenos e inexperientes aforradores que vão na conversa dos "angariadores/consultores de conta" dos bancos.
É este o Mundo em que vivemos. Já há quem comece a admitir que, afinal, Karl Marx é que tinha razão!
Um abraço
António
Boa tarde, António
Sabe o que mais me escandaliza? Pretenderem apresentar toda esta salgalhada como coisa quase normal dos mercados financeiros; que tudo é justificável; que há uma grande mutação na economia mundial, etc., etc., etc.
A política que se adeque, que não faça ondas... e é que não faz mesmo!
Onde estão os grandes líderes políticos? O panorama é desolador, não acha?
Gostei de ler o seu comentário e que agradeço.
Um abraço e um beijinho à Zaida.
Alda
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