MAS O CARDEAL PATRIARCA ERROU VERDADEIRAMENTE?
Cautela com os amores. Pensem duas vezes antes de casarem com um muçulmano. Pensem muito seriamente. É meterem-se num monte de sarilhos que nem Alá sabe onde é que acabam.
Estes conselhos foram expressos pelo Cardeal Patriarca, D. José Policarpo -"proferidas num clima informal de tertúlia”, segundo o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa.
Mas serão assim tão censuráveis e inoportunos, o que não creio?
Cautela com os amores. Pensem duas vezes antes de casarem com um muçulmano. Pensem muito seriamente. É meterem-se num monte de sarilhos que nem Alá sabe onde é que acabam.
Estes conselhos foram expressos pelo Cardeal Patriarca, D. José Policarpo -"proferidas num clima informal de tertúlia”, segundo o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa.
Mas serão assim tão censuráveis e inoportunos, o que não creio?
E por que motivo não considerar que o Cardeal Patriarca de Lisboa pode ter razão?
Embora tivesse ultrapassado os confins do político ou diplomaticamente correcto, acaso foi movido por integralismos, preconceitos, discriminações da pior espécie? Ou, muito simplesmente, partiu de uma análise e da constatação do que tantas situações revelam?
Já sei que estou a remar contra a maré. Todavia, e apesar da minha aversão a discriminações, recuso integrar-me na onda das opiniões correntes sem, primeiro, usar o meu raciocínio. Sempre me neguei a aceitar, passivamente, aquilo a que chamam – inflacionando-o – o “politicamente correcto”.
Li o testemunho de vários casos de matrimónios com muçulmanos, narrados no jornal Público. Chamou-me a atenção uma nota quase comum: a conversão das senhoras ao islamismo e a semelhança das afirmações que proferiram: foi uma opção minha; ninguém me impôs a religião; ele não me pediu, eu é que quis.
Imediatamente recordei o que tantas vezes lera nos jornais italianos ou ouvira em várias reportagens televisivas: exactamente o mesmo que agora lia no Público!
Eram frequentes as adesões ao islamismo, mas sempre declarando que era por vontade própria.
Algumas passavam a usar o véu; outras, o nicab ou o burqa, (vestuários que lhes escondiam o corpo). Sempre por livre decisão: o marido nada lhes pedira ou impusera.
Observo que se trata de mulheres italianas que continuaram a viver no próprio país.
Não estou a pôr em dúvida a liberdade destas alterações do modus vivendi nem a sinceridade de tais conversões. Todos têm o inalienável direito de efectuar e concretizar escolhas.
Seja-me lícito, todavia, manifestar perplexidade por tantas coincidências nos casamentos de cristãs com muçulmanos.
D. José Policarpo aludiu a casos dramáticos. Os jornais sublinharam que os não especificou. Não era necessário. São mais frequentes do que seria desejável, sobretudo quando há divórcios, existem filhos e se deve decidir a quem os confiar.
Conciliar as leis civis ocidentais com as tradições e leis islâmicas, é problema de difícil solução. Assim, nascem dramas e angústias.
A comunidade muçulmana, na Itália, ultrapassa um milhão e duzentas mil pessoas.
Em algumas dissoluções de casamentos mistos, verificaram-se diversos casos de filhos subtraídos, traiçoeiramente, à custódia da mãe, a qual lhe fora concedida pelo tribunal. O marido levava-os para o seu país de origem, pois deveriam ser educados como bons muçulmanos.
Só com uma persistente intervenção do corpo diplomático, essas mães conseguiam reaver e rever os filhos: por vezes, após alguns anos.
Eventos deste género podem ocorrer dentro de uniões com estrangeiros de cultura e religião afins. Porém, são esporádicos.
Nos matrimónios mistos com muçulmanos, são previsíveis: factos reais conduzem a essa previsibilidade.
A condição de mulher muçulmana não é rósea – sob o ponto de vista europeu, obviamente.
“A obediência da mulher é um princípio fundamental do islamismo. Deve-se obediência a Deus, ao Profeta e às autoridades” – uma destas autoridades é o marido, naturalmente!
(…) Quanto àquelas de quem temeis actos de desobediência, admoestai-as, depois deixai-as sós no próprio leito, depois batei-lhes; mas se não vos obedecerão, então não procureis pretextos para as maltratar; porque Deus e grande e sublime (Cor. 4, 34).
Podes esposar uma mulher por quatro motivos: pela sua riqueza, pela sua família, pela sua beleza, pela sua devoção. Mas procura a que possui devoção" ( traduzido de uma versão italiana).
Não creio que a comunidade islâmica portuguesa, assim como os muçulmanos moderados, interpretem à letra todos os Hadiths do Profeta, válidos nos séculos em que brotaram e se expandiram.
As sociedades progrediram, as situações existenciais são bem diversas e a flexibilidade de interpretação está ao alcance das pessoas inteligentes e de boa vontade – o que sucede, aliás, em todas as religiões.
Infelizmente, porém, há as grandes massas de ignorantes e há os santões sequiosos de poder, além dos fundamentalistas, que manipulam essa ignorância. Torna-se fácil, portanto, torná-las escravas de concepções religiosas cegas, acríticas, autoritárias e intolerantes.
O Cardeal Patriarca quis alertar para os efeitos dessas concepções.
Embora tivesse ultrapassado os confins do político ou diplomaticamente correcto, acaso foi movido por integralismos, preconceitos, discriminações da pior espécie? Ou, muito simplesmente, partiu de uma análise e da constatação do que tantas situações revelam?
Já sei que estou a remar contra a maré. Todavia, e apesar da minha aversão a discriminações, recuso integrar-me na onda das opiniões correntes sem, primeiro, usar o meu raciocínio. Sempre me neguei a aceitar, passivamente, aquilo a que chamam – inflacionando-o – o “politicamente correcto”.
Li o testemunho de vários casos de matrimónios com muçulmanos, narrados no jornal Público. Chamou-me a atenção uma nota quase comum: a conversão das senhoras ao islamismo e a semelhança das afirmações que proferiram: foi uma opção minha; ninguém me impôs a religião; ele não me pediu, eu é que quis.
Imediatamente recordei o que tantas vezes lera nos jornais italianos ou ouvira em várias reportagens televisivas: exactamente o mesmo que agora lia no Público!
Eram frequentes as adesões ao islamismo, mas sempre declarando que era por vontade própria.
Algumas passavam a usar o véu; outras, o nicab ou o burqa, (vestuários que lhes escondiam o corpo). Sempre por livre decisão: o marido nada lhes pedira ou impusera.
Observo que se trata de mulheres italianas que continuaram a viver no próprio país.
Não estou a pôr em dúvida a liberdade destas alterações do modus vivendi nem a sinceridade de tais conversões. Todos têm o inalienável direito de efectuar e concretizar escolhas.
Seja-me lícito, todavia, manifestar perplexidade por tantas coincidências nos casamentos de cristãs com muçulmanos.
D. José Policarpo aludiu a casos dramáticos. Os jornais sublinharam que os não especificou. Não era necessário. São mais frequentes do que seria desejável, sobretudo quando há divórcios, existem filhos e se deve decidir a quem os confiar.
Conciliar as leis civis ocidentais com as tradições e leis islâmicas, é problema de difícil solução. Assim, nascem dramas e angústias.
A comunidade muçulmana, na Itália, ultrapassa um milhão e duzentas mil pessoas.
Em algumas dissoluções de casamentos mistos, verificaram-se diversos casos de filhos subtraídos, traiçoeiramente, à custódia da mãe, a qual lhe fora concedida pelo tribunal. O marido levava-os para o seu país de origem, pois deveriam ser educados como bons muçulmanos.
Só com uma persistente intervenção do corpo diplomático, essas mães conseguiam reaver e rever os filhos: por vezes, após alguns anos.
Eventos deste género podem ocorrer dentro de uniões com estrangeiros de cultura e religião afins. Porém, são esporádicos.
Nos matrimónios mistos com muçulmanos, são previsíveis: factos reais conduzem a essa previsibilidade.
A condição de mulher muçulmana não é rósea – sob o ponto de vista europeu, obviamente.
“A obediência da mulher é um princípio fundamental do islamismo. Deve-se obediência a Deus, ao Profeta e às autoridades” – uma destas autoridades é o marido, naturalmente!
(…) Quanto àquelas de quem temeis actos de desobediência, admoestai-as, depois deixai-as sós no próprio leito, depois batei-lhes; mas se não vos obedecerão, então não procureis pretextos para as maltratar; porque Deus e grande e sublime (Cor. 4, 34).
Podes esposar uma mulher por quatro motivos: pela sua riqueza, pela sua família, pela sua beleza, pela sua devoção. Mas procura a que possui devoção" ( traduzido de uma versão italiana).
Não creio que a comunidade islâmica portuguesa, assim como os muçulmanos moderados, interpretem à letra todos os Hadiths do Profeta, válidos nos séculos em que brotaram e se expandiram.
As sociedades progrediram, as situações existenciais são bem diversas e a flexibilidade de interpretação está ao alcance das pessoas inteligentes e de boa vontade – o que sucede, aliás, em todas as religiões.
Infelizmente, porém, há as grandes massas de ignorantes e há os santões sequiosos de poder, além dos fundamentalistas, que manipulam essa ignorância. Torna-se fácil, portanto, torná-las escravas de concepções religiosas cegas, acríticas, autoritárias e intolerantes.
O Cardeal Patriarca quis alertar para os efeitos dessas concepções.
Como se exprimiu numa "linguagem coloquial", não recorreu à diplomacia, a grande escola das frases veludosas em questões delicadas. Perdoemos-lhe essa distracção.
Alda M. Maia
2 Comments:
Talvez tivesse a obrigação (é o cardeal Patriarca) de ser um pouco mais cauteloso na forma de abordar um assunto tão delicado e tão explosivo como este.
Contudo, tal como a Alda, me pergunto se não terá ele razão. Eu creio que sim. Foi um pouco infeliz, talvez, mas creio que não errou.
Um beijo.
Se quiser passe pelo meu cantinho. Terá uma surpresa. Espero que goste
Sempre que abro o computador e inicio as leituras habituais, o seu “cantinho”, que agora é de ouro, faz parte daquela lista que é lida obrigatoriamente – e com muito gosto.
Sabe o que achei divertido, neste caso? As reacções muito escandalizadas. Serei injusta, mas dividi-as em três partes: uma parte classifiquei-a como um “politicamente correcto” que tresanda a hipocrisia; outra, superficialidade e “conversa da treta”; a terceira, sincera e exprimindo uma opinião digna como qualquer outra.
Um beijinho
PS: os agradecimentos, e sabe ao que me refiro, devo expressá-los no seu blogue
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