O PRESIDENTE BRONZEADO
Quero pensar que estou a descrever um país provisoriamente imaginário. Chamemos-lhe “Tivilândia”, visto que a sua cultura cívica e política - pelo menos em metade dos habitantes – passou a ser absorvida, quase exclusivamente, através dos vários canais televisivos.
Embora haja opiniões contrárias, é mercê deste estado de coisas que nasceram personagens políticas inimagináveis em qualquer outro país do continente a que pertence, a Europa.
Mas aconteceu. Só a partir daí, então, e somente sob o ponto de vista político, quero chamar-lhe Tivilândia.
Repito: provisoriamente, pois espero que, no futuro, tudo mude e tudo se transforme com um autêntico e normal líder político: normal em dignidade, limpidez e competência.
Existem em abundância, felizmente: apenas lhes têm faltado os potentes meios de comunicação que o Berlusconi da Tivilândia possui.
Mas vamos ao caso do “presidente bronzeado”.
Em Moscovo, numa conferência de imprensa e na companhia do Chefe de Estado russo, a uma pergunta sobre o papel da Itália como ponte amiga para aproximar a América e a Rússia, o inefável Berlusconi respondeu: (…) Obama possui tudo para poder estar de acordo com ele (Medvedev): é jovem, é belo… - alarga os braços, sorri divertido – é também bronzeado.
Não resta dúvida que escolheu bem o palco para exibir a sua veia de artista cómico!...
Todavia, oh frase fatal! Este homenzinho, mais uma vez, levado pela ideia que representa apenas a sua augusta pessoa, esquecendo a dignidade do país que o elegeu, julgando-se muito espirituoso, foi autor da pior indelicadeza e grosseria que um verdadeiro político, mesmo medíocre, jamais cometeria.
As consequências explodiram de imediato. Ainda não tinha decorrido uma hora e já a gracinha de péssimo gosto corria em quase todas as agências noticiosas internacionais e nos principais sites Web.
O New York Times, no blogue político www.thecaucus.blogs.nytimes.com., abriu uma discussão sobre este caso.
Receberam milhares de mensagens, grande parte (64 páginas, se não erro) provenientes da Itália, apresentando desculpas.
Achei graça a um senhor que pedia que mandassem o Obama para Itália e levassem o Berlusconi, suplicando: Please! Please!
A oposição insurgiu, verdadeiramente indignada, e exigiu-lhe que apresentasse desculpas imediatas aos Estados Unidos.
Berlusconi, normalmente, quando se vê nestes apuros, usa duas tácticas: ou nega descaradamente, mesmo perante documentos incontestáveis, ou ataca, afirmando que é intencionalmente mal interpretado. Desta vez, optou pela última.
Quero pensar que estou a descrever um país provisoriamente imaginário. Chamemos-lhe “Tivilândia”, visto que a sua cultura cívica e política - pelo menos em metade dos habitantes – passou a ser absorvida, quase exclusivamente, através dos vários canais televisivos.
Embora haja opiniões contrárias, é mercê deste estado de coisas que nasceram personagens políticas inimagináveis em qualquer outro país do continente a que pertence, a Europa.
Mas aconteceu. Só a partir daí, então, e somente sob o ponto de vista político, quero chamar-lhe Tivilândia.
Repito: provisoriamente, pois espero que, no futuro, tudo mude e tudo se transforme com um autêntico e normal líder político: normal em dignidade, limpidez e competência.
Existem em abundância, felizmente: apenas lhes têm faltado os potentes meios de comunicação que o Berlusconi da Tivilândia possui.
Mas vamos ao caso do “presidente bronzeado”.
Em Moscovo, numa conferência de imprensa e na companhia do Chefe de Estado russo, a uma pergunta sobre o papel da Itália como ponte amiga para aproximar a América e a Rússia, o inefável Berlusconi respondeu: (…) Obama possui tudo para poder estar de acordo com ele (Medvedev): é jovem, é belo… - alarga os braços, sorri divertido – é também bronzeado.
Não resta dúvida que escolheu bem o palco para exibir a sua veia de artista cómico!...
Todavia, oh frase fatal! Este homenzinho, mais uma vez, levado pela ideia que representa apenas a sua augusta pessoa, esquecendo a dignidade do país que o elegeu, julgando-se muito espirituoso, foi autor da pior indelicadeza e grosseria que um verdadeiro político, mesmo medíocre, jamais cometeria.
As consequências explodiram de imediato. Ainda não tinha decorrido uma hora e já a gracinha de péssimo gosto corria em quase todas as agências noticiosas internacionais e nos principais sites Web.
O New York Times, no blogue político www.thecaucus.blogs.nytimes.com., abriu uma discussão sobre este caso.
Receberam milhares de mensagens, grande parte (64 páginas, se não erro) provenientes da Itália, apresentando desculpas.
Achei graça a um senhor que pedia que mandassem o Obama para Itália e levassem o Berlusconi, suplicando: Please! Please!
A oposição insurgiu, verdadeiramente indignada, e exigiu-lhe que apresentasse desculpas imediatas aos Estados Unidos.
Berlusconi, normalmente, quando se vê nestes apuros, usa duas tácticas: ou nega descaradamente, mesmo perante documentos incontestáveis, ou ataca, afirmando que é intencionalmente mal interpretado. Desta vez, optou pela última.
Transcrevo a forma arrogante e insultuosa como reagiu.
Aludindo a bronzeado, quis ser gentil, dar-lhe um elogio. Se quem me critica é desprovido do sentido de humor, isso já não é da minha conta. Que vão…
Cada um que imagine para onde é que ele os mandou, publicamente. Não vou repetir aqui o turpilóquio, porque já temos palavrões que cheguem, na nossa língua.
Com o termo bronzeado pretendi, em absoluto, exprimir uma “carineria” (uma gentileza), um grande elogio. Se os imbecis descem a terreiro, estamos bem arranjados! Que Deus nos salve dos imbecis.
Pensávamos que houvesse muitos imbecis em circulação; o que não imaginávamos é que fossem assim tão imbecis de auto-identificar-se e autoproclamar-se publicamente.
Imbecis são todos os que se atreveram criticá-lo: oposição, jornalistas e pessoas responsáveis.
Mas ainda não satisfeito, acentuou: Pretendem a licenciatura de “coglione” – esta era directa, segundo dizem, a Walter Veltroni que o condenou sem atenuantes.
É muito afeiçoado ao vernáculo “coglione”. Tem-no usado em diversas ocasiões.
Assim, visto o bom conhecimento de causa, visto que se referiu a uma licenciatura nesse sector, será que, ele mesmo, já atingiu o grau de doutoramento em tal matéria?
****
E depois da parte condenável, sobreveio a parte cómica: a ânsia pela chegada ou não chegada do telefonema de Barack Obama, dado que tantos outros Estados o recebera e ele não, embora disfarçada com a altanaria do parolo convencido.
Por fim, lá chegou: telefonema cordialíssimo, longo, amigo: assim reza o comunicado oficial.
Aludindo a bronzeado, quis ser gentil, dar-lhe um elogio. Se quem me critica é desprovido do sentido de humor, isso já não é da minha conta. Que vão…
Cada um que imagine para onde é que ele os mandou, publicamente. Não vou repetir aqui o turpilóquio, porque já temos palavrões que cheguem, na nossa língua.
Com o termo bronzeado pretendi, em absoluto, exprimir uma “carineria” (uma gentileza), um grande elogio. Se os imbecis descem a terreiro, estamos bem arranjados! Que Deus nos salve dos imbecis.
Pensávamos que houvesse muitos imbecis em circulação; o que não imaginávamos é que fossem assim tão imbecis de auto-identificar-se e autoproclamar-se publicamente.
Imbecis são todos os que se atreveram criticá-lo: oposição, jornalistas e pessoas responsáveis.
Mas ainda não satisfeito, acentuou: Pretendem a licenciatura de “coglione” – esta era directa, segundo dizem, a Walter Veltroni que o condenou sem atenuantes.
É muito afeiçoado ao vernáculo “coglione”. Tem-no usado em diversas ocasiões.
Assim, visto o bom conhecimento de causa, visto que se referiu a uma licenciatura nesse sector, será que, ele mesmo, já atingiu o grau de doutoramento em tal matéria?
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E depois da parte condenável, sobreveio a parte cómica: a ânsia pela chegada ou não chegada do telefonema de Barack Obama, dado que tantos outros Estados o recebera e ele não, embora disfarçada com a altanaria do parolo convencido.
Por fim, lá chegou: telefonema cordialíssimo, longo, amigo: assim reza o comunicado oficial.
Com uma certa perfidiazinha, os jornais sérios não se esqueceram de informar que Obama, além de já ter telefonado à França, Alemanha, Reino Unido e outros países, só depois da Espanha, Egipto, Polónia, República Checa, etc., cumpriu o ritual diplomático com a Itália.
A bofetada foi de luva branca! Paralelamente, quanta canseira para o embaixador italiano, em Washington!
Última curiosidade. O jornal L’Unità lançou a campanha do envio de um bilhete-postal – através deste quotidiano - à sede do Governo, com a seguinte mensagem: Io sono imbecille (Eu sou imbecil).
Alla c.a. del Presidente del Consiglio dei ministri; Palazzo Chigi; Largo Chigi; 00100 Roma.
Fico-me com a grande curiosidade de saber quantos milhares lá chegarão - espero mesmo que sejam milhares!
Alda M. Maia
A bofetada foi de luva branca! Paralelamente, quanta canseira para o embaixador italiano, em Washington!
Última curiosidade. O jornal L’Unità lançou a campanha do envio de um bilhete-postal – através deste quotidiano - à sede do Governo, com a seguinte mensagem: Io sono imbecille (Eu sou imbecil).
Alla c.a. del Presidente del Consiglio dei ministri; Palazzo Chigi; Largo Chigi; 00100 Roma.
Fico-me com a grande curiosidade de saber quantos milhares lá chegarão - espero mesmo que sejam milhares!
Alda M. Maia
2 Comments:
Realmente ele bem merece todos os milhares de postais que lá possam chegar. A Itália é que não merece tal imbecil a governá-la. Li atentamente o seu post e, curiosamente, quanto mais a criatura se justificava mais se enterrava. Como se costuma dizer, era pior a emenda do que o soneto.
Falando de Itália. Estive 5 dias em Veneza que era uma das cidades italianas que ainda não conhecia. Fiquei absolutamente apaixonada. Pela cidade que é única e pelas pessoas.
Um beijo
Assemelha-se à boçalidade que impera na Madeira, mas com uma diferença: o régulo madeirense é apenas conhecido no âmbito português; as grosserias de um que pretende ser régulo de um grande país espalham-se pelo mundo - e aqui está a desgraça!
Desculpe o atraso da minha resposta, mas só hoje reparei que tive uma visita. Muito obrigada.
Quando tornar a Itália.. please, please, visite Turim.
Um beijinho
Alda
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