UMA HISTÓRIA TRISTE, COMOVENTE
E a narradora é uma médica de um hospital de Treviso, secção de neonatologia, num congresso sobre “Ética e Medicina”, em Pádua.
“Exponho o caso recente de um recém-nascido com uma deformação gravíssima.
Apenas com cinco dias de vida, foi operado, mas sem perspectivas de recuperação. A este ponto, todos nós da equipa médica olhámos uns para os outros e concordámos: não nos é possível fazer mais nada. É inútil prosseguir as terapias.
Chamámos os pais do bebé. Explicámos a situação; não fazia sentido o que estávamos a fazer. Os pais compreenderam.
Perguntámos-lhes se, antes de dizer-lhe adeus, a mãe queria aconchegar, nos seus braços, o menino que estava ligado a uma máquina.
Num primeiro instante, recusou, pois não se sentia com coragem. Mas no momento crucial, mudou de ideias. Sentou-se numa poltrona, abraçando o filhinho.
Nós, devagar, docemente, bloqueámos a subministração dos medicamentos e o menino morreu ao colo da mão, na tranquilidade do local”.
No caso específico, o recém-nascido, além da grave deformação, pesava menos de 1 kg. Segundo os médicos, não sobreviveria mais que poucas horas.
Esta mesma decisão, em iguais circunstâncias, tinha sido tomada em outros cinco ou seis casos desesperados, evitando uma obstinação terapêutica apenas técnica, mas longe de gerar esperanças. Logo, inútil e desumana.
Mais tarde, a mesma médica, numa conferência de imprensa, esclareceu melhor o seu pensamento.
“O conceito de tratamento de uma criança moribunda significa preocupar-se de cada momento que lhe resta de vida e consentir-lhe de morrer nos braços dos pais, uma vez que, tal facto, inevitavelmente, consumar-se-ia numa cama, isolado e ligado a tubos e cabos. È, sem dúvida, a melhor escolha para todos”.
O Procurador da República de Treviso abriu um inquérito
Faz o seu dever.
Só espero que, no decurso e conclusão desse inquérito, predomine o bom senso.
Mas afugentemos o véu de tristeza. Quando se trata de tragédias que, sobretudo, envolvem crianças, advém uma angústia quase insuportável!
Recorramos, então, a um aligeiramento e dêmos outro rumo à conversa.
****
EURODEPUTADOS BREJEIROS
A acusação foi lançada pela eurodeputada alemã, Silvana Koch-Mehrin, 38 anos, liberal, segundo narra um artigo do "Corriere della Sera".
Sem eufemismos, a senhora, numa entreviste ao semanário "Bunte", denunciou o que acontece entre Estrasburgo e Bruxelas: “um pulular de prostitutas” à volta dos senhores eurodeputados.
“Os deputados vão a Estrasburgo, para os quatro dias de trabalhos da sessão mensal, como se fosse para um acampamento de verão. Pensam eles: aqui ninguém me conhece, posso fazer o que muito bem me apetecer.
A casa, a família e os amigos estão longe, não somente para os deputados como para os que com eles estão relacionados, os lobistas e os jornalistas.
Depois das sessões, come-se e, em seguida, vai-se para o hotel. Ou então, festeja-se nos bares”.
“As ruas que conduzem ao Parlamento estão pejadas de profissionais do amor - continua a senhora.
“Os deputados descuram os trabalhos para buscar a companhia das prostitutas”.
Reacção indignadíssima de um colega, Joseph Daul, presidente do grupo Popular, contra "afirmações inaceitáveis que só difamam e conspurcam a dignidade dos deputados".
Deu a conhecer o apoio unânime dos colegas à rejeição da calúnia, numa reunião efectuada à porta fechada – "colegas masculinos, presume-se"!
Seria enviada uma carta de protesto ao presidente do Parlamento Europeu, Hans-Gert Pöttering.
Todavia, parece que as asserções de Silvana Koch-Meherin não são tão gratuitas ou falsas como os doridos as querem apresentar!
O mesmo presidente, há algumas semanas, recebera uma outra carta de 37 deputados, todos escandinavos: pessoas sérias, ora bem!...
Solicitam que ”o Parlamento Europeu se sirva apenas de hotéis que garantam não estar envolvidos no comércio do sexo e cujo pessoal tenha instruções escritas sobre este argumento”.
Quando enviaram esta carta, sabiam bem do que falavam!...
Surgem perplexidades, legítimas ou não: querem lá ver que os brejeirotes (e só estes, obviamente) são capacíssimos de obter dos contribuintes mais esta benesse, isto é, um extra, não especificado, para aliviar a dureza do “exílio” e do trabalho!?
Se assim é, e custa pouco a acreditar, fechemos com uma moral da história, em duas palavras: duplamente porcalhões.
Ah! Apenas uma sugestão a Hans-Gert Pöttering.
Apurados os factos, dê-se andamento à criação de uma “polícia dos bons costumes”: rígida, abelhuda, exclusivamente financiada com detracções, ad hoc, aos emolumentos dos eurodeputados.
Inicialmente, pagaria o justo pelo pecador. Em breve tempo, porém, os virtuosos tornar-se-iam de tal maneira vigilantes e severos que a dita polícia deixaria de ter razão de existir.
Alda M. Maia
E a narradora é uma médica de um hospital de Treviso, secção de neonatologia, num congresso sobre “Ética e Medicina”, em Pádua.
“Exponho o caso recente de um recém-nascido com uma deformação gravíssima.
Apenas com cinco dias de vida, foi operado, mas sem perspectivas de recuperação. A este ponto, todos nós da equipa médica olhámos uns para os outros e concordámos: não nos é possível fazer mais nada. É inútil prosseguir as terapias.
Chamámos os pais do bebé. Explicámos a situação; não fazia sentido o que estávamos a fazer. Os pais compreenderam.
Perguntámos-lhes se, antes de dizer-lhe adeus, a mãe queria aconchegar, nos seus braços, o menino que estava ligado a uma máquina.
Num primeiro instante, recusou, pois não se sentia com coragem. Mas no momento crucial, mudou de ideias. Sentou-se numa poltrona, abraçando o filhinho.
Nós, devagar, docemente, bloqueámos a subministração dos medicamentos e o menino morreu ao colo da mão, na tranquilidade do local”.
No caso específico, o recém-nascido, além da grave deformação, pesava menos de 1 kg. Segundo os médicos, não sobreviveria mais que poucas horas.
Esta mesma decisão, em iguais circunstâncias, tinha sido tomada em outros cinco ou seis casos desesperados, evitando uma obstinação terapêutica apenas técnica, mas longe de gerar esperanças. Logo, inútil e desumana.
Mais tarde, a mesma médica, numa conferência de imprensa, esclareceu melhor o seu pensamento.
“O conceito de tratamento de uma criança moribunda significa preocupar-se de cada momento que lhe resta de vida e consentir-lhe de morrer nos braços dos pais, uma vez que, tal facto, inevitavelmente, consumar-se-ia numa cama, isolado e ligado a tubos e cabos. È, sem dúvida, a melhor escolha para todos”.
O Procurador da República de Treviso abriu um inquérito
Faz o seu dever.
Só espero que, no decurso e conclusão desse inquérito, predomine o bom senso.
Mas afugentemos o véu de tristeza. Quando se trata de tragédias que, sobretudo, envolvem crianças, advém uma angústia quase insuportável!
Recorramos, então, a um aligeiramento e dêmos outro rumo à conversa.
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EURODEPUTADOS BREJEIROS
A acusação foi lançada pela eurodeputada alemã, Silvana Koch-Mehrin, 38 anos, liberal, segundo narra um artigo do "Corriere della Sera".
Sem eufemismos, a senhora, numa entreviste ao semanário "Bunte", denunciou o que acontece entre Estrasburgo e Bruxelas: “um pulular de prostitutas” à volta dos senhores eurodeputados.
“Os deputados vão a Estrasburgo, para os quatro dias de trabalhos da sessão mensal, como se fosse para um acampamento de verão. Pensam eles: aqui ninguém me conhece, posso fazer o que muito bem me apetecer.
A casa, a família e os amigos estão longe, não somente para os deputados como para os que com eles estão relacionados, os lobistas e os jornalistas.
Depois das sessões, come-se e, em seguida, vai-se para o hotel. Ou então, festeja-se nos bares”.
“As ruas que conduzem ao Parlamento estão pejadas de profissionais do amor - continua a senhora.
“Os deputados descuram os trabalhos para buscar a companhia das prostitutas”.
Reacção indignadíssima de um colega, Joseph Daul, presidente do grupo Popular, contra "afirmações inaceitáveis que só difamam e conspurcam a dignidade dos deputados".
Deu a conhecer o apoio unânime dos colegas à rejeição da calúnia, numa reunião efectuada à porta fechada – "colegas masculinos, presume-se"!
Seria enviada uma carta de protesto ao presidente do Parlamento Europeu, Hans-Gert Pöttering.
Todavia, parece que as asserções de Silvana Koch-Meherin não são tão gratuitas ou falsas como os doridos as querem apresentar!
O mesmo presidente, há algumas semanas, recebera uma outra carta de 37 deputados, todos escandinavos: pessoas sérias, ora bem!...
Solicitam que ”o Parlamento Europeu se sirva apenas de hotéis que garantam não estar envolvidos no comércio do sexo e cujo pessoal tenha instruções escritas sobre este argumento”.
Quando enviaram esta carta, sabiam bem do que falavam!...
Surgem perplexidades, legítimas ou não: querem lá ver que os brejeirotes (e só estes, obviamente) são capacíssimos de obter dos contribuintes mais esta benesse, isto é, um extra, não especificado, para aliviar a dureza do “exílio” e do trabalho!?
Se assim é, e custa pouco a acreditar, fechemos com uma moral da história, em duas palavras: duplamente porcalhões.
Ah! Apenas uma sugestão a Hans-Gert Pöttering.
Apurados os factos, dê-se andamento à criação de uma “polícia dos bons costumes”: rígida, abelhuda, exclusivamente financiada com detracções, ad hoc, aos emolumentos dos eurodeputados.
Inicialmente, pagaria o justo pelo pecador. Em breve tempo, porém, os virtuosos tornar-se-iam de tal maneira vigilantes e severos que a dita polícia deixaria de ter razão de existir.
Alda M. Maia
4 Comments:
E relação à primeira parte do post, fiquei, como é óbvio muitíssimo comovida. mas penso, sem qualquer margem para dúvida que é a atitude mais humana.
Em relação à segunda parte, estou certa que é absoluta verdade (haverá excepções, claro) a existência de entretenimento de cariz digamos que, maroto, para eurodeputados e restante staf. É prática comum hotéis de luxo, proporcionarem serviços de acompanhamento também de luxo. E o Zé povinho... paga!
Quanto à primeira parte que nos comoveu, Acabei de ler, agora mesmo, a descrição dos pais desse menino - entrevistados - do que foram esses tristíssimos momentos, os cuidados, delicadezas e atenções de todos os que trabalhavam nessa secçâo de Neonatologia. "Foi dramático, mas, se fosse necessário, repetiríamos o que fizemos" - assim disseram aqueles pais. E, de novo, fiquei comovida.
Toda a equipa médica tem sido inundada de mensagens de solidariedade, o que muito me agradou.
Quanto à segunda parte, se quer que lhe diga, achei divertidíssimos os protestos dos "donzelos" ofendidos! Serão ingénuos ou fingem-se patetas?
Sempre agradável a sua visita.
Um abraço
Ola AldaM.Maia
Em relaçao à 1 parte , quando dei por mim ja era dificil ler , pois as lagrimas ja nao mo permitiam !
É algo q nao se controla , apenas se sente !!!
Em Relaçao à segunda parte ...
Nem Merece comentarios , sao pessoas cmo tantas outras , tenho a certeza q existem por lá os Maiores porcalhoes da mesma forma q tenho a certeza q existem pessoas muito sérias e Dignas de Respeito !!!
Gostei muito , Anibal Borges .
Boa tarde, Sr. Aníbal Borges.
Muito obrigada pela sua visita e por ter gostado do que leu.
Acredite que estava a escrever, simultaneamente imaginava a cena (refiro-me à primeira parte), e várias vezes tive de parar, porque me emocionava.
No que concerne a brejeirice de alguns eurodeputados – e sublinho a palavra alguns – levei o caso mais para a gargalhada que para um moralismo fácil. E, insisto, o que mais me divertia era a indignação dos que se sentiam caluniados. Se estivessem caladinhos e encolhessem os ombros, talvez fosse a reacção mais aconselhável, não lhe parece?
Os melhores cumprimentos
Alda
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