domingo, maio 11, 2008

O CALVÁRIO DE ALDO MORO


Aldo Moro: professor universitário, figura eminente da política italiana
1916 - 1978
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Em 04 de Maio, 2007, o Parlamento Italiano aprovou a Lei n.º 56, instituindo o “Dia da Memória”

Artigo 1; Alínea 1: A República reconhece o nove de Maio, aniversário do assassínio de Aldo Moro, como “Dia da Memória”, a fim de recordar as vítimas do terrorismo, interno e internacional, e dos massacres de tal matriz.

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Recordo nitidamente aquele tremendo drama que se arrastou de 16 de Março 1978 a 9 de Maio do mesmo ano.

Tudo foi trágico: o rapto de Moro pelas Brigadas Vermelhas, o massacre dos cinco homens que o escoltavam e a sucessão interminável de eventos daí derivados e que se prolongaram por 55 dias; a manhã do dia 9 de Maio em que encontraram o corpo de Aldo Moro, na mala da Renault4, na Rua Caetani: precisamente entre Piazza del Gesù, sede do partido “Democracia Cristã”, e Rua delle Botteghe Oscure, sede do "Partido Comunista Italiano".

Esta distância intermédia entre a sede dos dois maiores partidos italianos é muito eloquente e simbólica: o “fronte revolucionário” (um bando de assassinos delirantes) não aceita acordos entre a DC e o PCI”.

Eram as Brigadas Vermelhas ou alguém que as utilizou para fazer naufragar o famoso “compromisso histórico” - perspectiva política de uma colaboração e entendimento entre as forças de inspiração comunista e socialista e as forças de inspiração cristã e que estava para tornar-se realidade?
Os mistérios que pairam sobre o sequestro e assassínio de Aldo Moro nunca se esclareceram totalmente. Ainda persistem muitos pontos interrogativos.

O “Compromesso Storico” poderia ter sido uma excelente ocasião de efectuar aquelas reformas que seriam um bom e robusto esteio para a consolidação da democracia e pô-la ao reparo de tentações totalitárias, que existiram. Não se esqueça aquilo a que chamaram a “estratégia da tensão”: expressão muito usada para classificar uma longa série de atentados terroristas que se verificaram na Itália, entre 1960 e 1970, com dezenas de mortos – atentados muito misteriosos e cujos executores dos actos mais graves nunca foram identificados.

Referindo-me ainda ao sequestro de Moro, não menos dramático foi o telefonema de um brigatista, Valério Morucci, feito a um amigo e ex-aluno do estadista, Prof. Franco Tritto, indicando onde encontrar o cadáver de Moro e dando instruções, a pedido do condenado, como avisar a família.

Rádio e televisão transmitiram-no repetidamente, mas já à segunda vez, eu tapava os ouvidos; não conseguia ouvi-lo. Era demasiado cínico e, paralelamente, o choro, a emoção do filho do Prof. Tritto - a primeira pessoa que atendeu o telefonema – tornava-o dilacerante.

Actualmente, e praticamente, todos os autores deste crime estão em liberdade ou semiliberdade.
Nada a opor, se não os víssemos conceder entrevistas, proferir conferências, dar opiniões como se tivessem sido uns “combatentes” (assim se intitulavam) e não uns criminosos: assassinaram e feriram várias pessoas, de todas as categorias sociais; assaltaram bancos para se financiarem; ameaçaram, impuseram o medo.
Entretanto, as famílias das vítimas presenciam tudo isto e podemos bem imaginar com quanta amargura!

Neste nove de Maio, comemorou-se o Dia da Memória, mas, acima de tudo, recordou-se Aldo Moro, e justamente.

Fiquei muito impressionada com o discurso do Presidente da República, Giorgio Napolitano.
Por três vezes se comoveu e fez um certo esforço para suster as lágrimas.
Mas foi o teor do que disse, e que pude ler na íntegra, que me agradou plenamente.
Acerca do comportamento actual dos ex-brigatistas, não usou perífrases e foi muito directo e claro no que exprimiu.

(…) “Fiquei chocado e indignado, quando, há dias, li a entrevista de um ex-brigatista - o mesmo que há um ano narrou, com horrenda frieza, como tinha assassinado Carlo Casalegno (jornalista de "La Stampa") – e que, agora, afirma sentir pesar pelos familiares das vítimas das Brigadas Vermelhas, acrescentando: «Quando se cometem acções de um certo tipo, sucede que se provocará desgostos a alguém».
Não, jamais deveriam existir tribunas para certos energúmenos.

Quem regularizou as suas contas com a justiça, tem o direito de reinserir-se na sociedade, mas com discrição e medida: nunca deve esquecer as próprias responsabilidades morais, embora já não sejam de carácter penal.
Do mesmo modo, não deveriam esquecer as suas responsabilidades morais todos os que contribuíram para a criação de teorias aberrantes e campanhas de ódio e violência, origem das piores acções terroristas; os que tenham oferecido ao terrorismo motivações atenuantes, coberturas e indulgências fatais
”.

Como nota final e a propósito das perplexidades sobre o caso Moro, a partir de hoje, “o Senado da República decidiu pôr à disposição os actos da Comissão de Inquérito, consultável on-line: “as cartas de Aldo Moro, os relatórios provenientes dos comandos da polícia de toda a Itália”… e tantos, tantos outros documentos; serão milhares de páginas. (
www.senato.it)
Alda M. Maia

1 Comments:

At 4:01 da tarde, Blogger a d´almeida nunes said...

Recordar esse terríveis momentos é voltar aos tempos dessas brigadas vermelhas (eu que gosto tanto da cor vermelha por outros motivos)que tanta perturbação causaram no seio do povo Italiano e no Mundo em geral.
Como sempre os radicais ficam-se nas intenções propagandísticas dos seus actos. Uns quantos tiram partido da confusão gerada e tudo volta à primeira forma, o que significa, reforço do poder dos ricos e "espertos".
O Povo que se amanhe!?...
Um abraço de amizade
António

 

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