O ACORDO ORTOGRÁFICO SAIU DO LETARGO
Só me pergunto por que não deixaram na gaveta, a dormir in aeternum, o novo acordo ortográfico entre os países de língua oficial portuguesa!
Que benefício traz à nossa língua este contínuo remexer na ortografia? Porventura o acordo luso-brasileiro de 1945 já não merece crédito, talvez porque o acham obsoleto, incompleto, complicado? E quem o diz? Filólogos, Linguistas que se divertem a alterar, periodicamente, a estrutura da língua que falamos e escrevemos (o que não creio)?
É assim tão difícil a escrita do nosso idioma? Como se o francês, italiano ou espanhol fossem mais acessíveis!...
Há uma circunstância que se me antepõe a todas e quaisquer outras considerações.
O estudo acurado e a tenacidade como os técnicos do acordo de 1945 – o grande filólogo e lexicólogo Francisco Rebelo Gonçalves e o filólogo brasileiro, Prof. Sá Nunes - estabeleceram uma certa unidade da língua falada nos dois países, foi um trabalho tão efémero ou superficial que, passados 45 anos, de novo se teve de alterar 1,8% da ortografia do português europeu?
O que estes dois grandes estudiosos fizeram não mereceria uma maior atenção e respeito? A conferência de 1945 foi insignificante, imperfeita? Não, não foi.
É interessante reler o prefácio de Ribeiro Couto (da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa), em 1947, do “Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa” de Rebelo Gonçalves.
Só me pergunto por que não deixaram na gaveta, a dormir in aeternum, o novo acordo ortográfico entre os países de língua oficial portuguesa!
Que benefício traz à nossa língua este contínuo remexer na ortografia? Porventura o acordo luso-brasileiro de 1945 já não merece crédito, talvez porque o acham obsoleto, incompleto, complicado? E quem o diz? Filólogos, Linguistas que se divertem a alterar, periodicamente, a estrutura da língua que falamos e escrevemos (o que não creio)?
É assim tão difícil a escrita do nosso idioma? Como se o francês, italiano ou espanhol fossem mais acessíveis!...
Há uma circunstância que se me antepõe a todas e quaisquer outras considerações.
O estudo acurado e a tenacidade como os técnicos do acordo de 1945 – o grande filólogo e lexicólogo Francisco Rebelo Gonçalves e o filólogo brasileiro, Prof. Sá Nunes - estabeleceram uma certa unidade da língua falada nos dois países, foi um trabalho tão efémero ou superficial que, passados 45 anos, de novo se teve de alterar 1,8% da ortografia do português europeu?
O que estes dois grandes estudiosos fizeram não mereceria uma maior atenção e respeito? A conferência de 1945 foi insignificante, imperfeita? Não, não foi.
É interessante reler o prefácio de Ribeiro Couto (da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa), em 1947, do “Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa” de Rebelo Gonçalves.
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Lê-se na página XI: “Se a língua portuguesa tiver que evoluir no Brasil para variações sintácticas e prosódicas cada vez mais sensíveis, como é possível que suceda ao longo dos anos, o Acordo de 1945 não será de obstáculo a essa evolução”.
É justo que assim seja; mas deve o português de Portugal correr atrás das evoluções brasileiras? Falamos uma língua ou passou a dialecto sem raízes?
Obviamente que as variações são muitas, sobretudo prosódicas. Crescem, então, as perplexidades: por que motivo não devemos manter a nossa ortografia mais próxima da etimologia e menos da “corrente fonética”, ao contrário do que agora pretendem? É premente essa necessidade?
Uns aduzem que é para facilitar a aprendizagem do português. Dou uma sugestão: reduzam-no à linguagem das mensagens dos telemóveis, eliminando regras; a modernidade e facilitismo ficam assegurados.
Outros justificam que não “faz sentido que em instâncias internacionais apareça uma variante da língua que se diga brasileira, quando a língua é a mesma”. Não vejo onde esteja a dificuldade.
Os categóricos afirmam que só manifesta ignorância ou ligeireza quem não aceita esta nova alteração ortográfica.
Os defensores e propulsionadores são os únicos iluminados! Não obstante, apraz-me fazer parte da percentagem dos “ignorantes/superficiais”!
Uma língua viva evolui dentro das leis naturais, não de acordos pro tempore.
Este acordo centra apenas a questão ortográfica, como é óbvio. Porém, a sintaxe brasileira, o modo brasileiro de se exprimir, aproxima-se da sintaxe portuguesa? Não me parece. Em tal caso, da parte nossa, é sobretudo a eliminação de consoantes – consoantes, na sua maioria, com funções ortoépicas – que faz a diferença, contribuindo para a unificação? Não, não faz, e as diferenças sempre existirão.
Não é anormal que haja variações semânticas entre o português de Portugal e o português falado nos demais territórios de língua oficial portuguesa.
A linguagem desses países fatalmente que sofre a influência do meio, costumes e muitos outros factores próprios da situação geográfica em que se encontram; é inevitável. Todavia, por mais voltas que lhe dêem, a base, a cepa donde emana, será sempre o português que os Portugueses deixaram.
Se ao nosso vocabulário chegam novas palavras daí provenientes, bem venham, já que é uma riqueza, como sempre foi, para o léxico português. E aí, sim, a modernização impõe-se.
Não julgo estranho, portanto, que haja as tais variações sintácticas, prosódicas ou semânticas.
O que me parece anómalo e pouco decoroso é a nossa síndrome dos «apenas» “10 milhões de falantes europeus contra 200 milhões na América e em África” (Francisco J. Viegas - dupla identidade?) e, de consequência, o nosso idioma ter de balançar, periodicamente, ao sabor das oscilações do português dessas áreas.
Mais ainda, o receio de ficarmos sufocados ou “orgulhosamente sós”. E daí?!
De novo, pergunto: onde nasceu a língua portuguesa? Não seria mais positivo, e óbvio, que este português da velha Europa representasse um ponto firme de referência?
Como não soubemos ou não quisemos potenciar o ensino do português fora do nosso território, o que foi imperdoável - nisto tem razão Francisco José Viegas - não vejo razão para abdicarmos daquela dignidade – sim, dignidade, digamo-lo sem receios de retórica balofa - que é peculiar de quem sempre curou o prazer de se exprimir e ler o português de Portugal: o português que não quer afastar-se, acossado, das principais raízes donde proveio. E não me perturbará saber se, para defender esse status quo, seremos apenas 10 milhões!
Lê-se na página XI: “Se a língua portuguesa tiver que evoluir no Brasil para variações sintácticas e prosódicas cada vez mais sensíveis, como é possível que suceda ao longo dos anos, o Acordo de 1945 não será de obstáculo a essa evolução”.
É justo que assim seja; mas deve o português de Portugal correr atrás das evoluções brasileiras? Falamos uma língua ou passou a dialecto sem raízes?
Obviamente que as variações são muitas, sobretudo prosódicas. Crescem, então, as perplexidades: por que motivo não devemos manter a nossa ortografia mais próxima da etimologia e menos da “corrente fonética”, ao contrário do que agora pretendem? É premente essa necessidade?
Uns aduzem que é para facilitar a aprendizagem do português. Dou uma sugestão: reduzam-no à linguagem das mensagens dos telemóveis, eliminando regras; a modernidade e facilitismo ficam assegurados.
Outros justificam que não “faz sentido que em instâncias internacionais apareça uma variante da língua que se diga brasileira, quando a língua é a mesma”. Não vejo onde esteja a dificuldade.
Os categóricos afirmam que só manifesta ignorância ou ligeireza quem não aceita esta nova alteração ortográfica.
Os defensores e propulsionadores são os únicos iluminados! Não obstante, apraz-me fazer parte da percentagem dos “ignorantes/superficiais”!
Uma língua viva evolui dentro das leis naturais, não de acordos pro tempore.
Este acordo centra apenas a questão ortográfica, como é óbvio. Porém, a sintaxe brasileira, o modo brasileiro de se exprimir, aproxima-se da sintaxe portuguesa? Não me parece. Em tal caso, da parte nossa, é sobretudo a eliminação de consoantes – consoantes, na sua maioria, com funções ortoépicas – que faz a diferença, contribuindo para a unificação? Não, não faz, e as diferenças sempre existirão.
Não é anormal que haja variações semânticas entre o português de Portugal e o português falado nos demais territórios de língua oficial portuguesa.
A linguagem desses países fatalmente que sofre a influência do meio, costumes e muitos outros factores próprios da situação geográfica em que se encontram; é inevitável. Todavia, por mais voltas que lhe dêem, a base, a cepa donde emana, será sempre o português que os Portugueses deixaram.
Se ao nosso vocabulário chegam novas palavras daí provenientes, bem venham, já que é uma riqueza, como sempre foi, para o léxico português. E aí, sim, a modernização impõe-se.
Não julgo estranho, portanto, que haja as tais variações sintácticas, prosódicas ou semânticas.
O que me parece anómalo e pouco decoroso é a nossa síndrome dos «apenas» “10 milhões de falantes europeus contra 200 milhões na América e em África” (Francisco J. Viegas - dupla identidade?) e, de consequência, o nosso idioma ter de balançar, periodicamente, ao sabor das oscilações do português dessas áreas.
Mais ainda, o receio de ficarmos sufocados ou “orgulhosamente sós”. E daí?!
De novo, pergunto: onde nasceu a língua portuguesa? Não seria mais positivo, e óbvio, que este português da velha Europa representasse um ponto firme de referência?
Como não soubemos ou não quisemos potenciar o ensino do português fora do nosso território, o que foi imperdoável - nisto tem razão Francisco José Viegas - não vejo razão para abdicarmos daquela dignidade – sim, dignidade, digamo-lo sem receios de retórica balofa - que é peculiar de quem sempre curou o prazer de se exprimir e ler o português de Portugal: o português que não quer afastar-se, acossado, das principais raízes donde proveio. E não me perturbará saber se, para defender esse status quo, seremos apenas 10 milhões!
Alda M. Maia
2 Comments:
Mui estimada e lutadora inflexível por causas nobres, que bem as entendo como vindo de uma pessoa bem formada e consciente da necessidade imperiosa de nos defendermos contra aquilo a que andamos a chamar "globalização". Ou seja, segundo alguns iluminados com poder, há que ceder à força das estatísticas e das necessidades temporais de comunicação na área económica.
Não! Uma Língua, viva como a nossa, de origens remotas, construída ao longo de milénios, não pode abastardar-se só porque no jogo dos números, nós em Portugal, somos 10.000.000 e os restantes falantes do Português, magistralmente usada por Luís de Camões e por milhares de outros que se lhe seguiram, ainda que relegados à sombra do anonimato, são 20 vezes mais, não pode andar constantemente em bolandas. Estou de acordo que a fonética não pode ser a razão principal para alteração dos princípios estruturantes do português.
Tanta pressa para quê?!...
Há que dar tempo ao Tempo.
Um abraço, querida amiga
Bom Natal
António
Ciao, António!
Um meu sobrinho de Braga -um dos meus 12 leitores - chamou-me a atenção para o seu comentário.
Fico satisfeita de o ler e contente por ver que está de acordo comigo. Acredite que me irritam os argumentos que usam para mexericar neste nosso "português de Portugal".
Um abraço amigo para toda a Família.
Bom Natal, mas espero expressar estes votos no seu blogue.
Um beijinho aos netinhos
Alda
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