domingo, maio 18, 2008

"O POGROM MODERNO"
PAÍS DE EMIGRANTES, HOJE XENÓFOBO
.
Acampamento de ciganos incendiado em Nápoles (Corriere della Sera)
*
Maria Teresa Fernández de la Veja, vice-presidente do Governo espanhol, em linguagem muito clara, foi direita ao assunto: El Gobierno rechaza la violência, el racismo y la xenofobia, por tanto, no puede compartir lo que está sucediendo en Italia.

E quem é que poderia compartilhar ou aplaudir a onda perigosa de intolerância que se desencadeou contra os estrangeiros indocumentados, irregulares, e a violência genuinamente racista contra os acampamentos ciganos?!

Perseguir e punir, sem tréguas, o considerável número de imigrantes clandestinos que, efectivamente, chegam ao país com intenções exclusivamente criminosas é sacrossanto e impreterível.
A mesma severidade se deve esperar acerca da criminalidade que grassa em certos acampamentos ciganos, não incriminando, obviamente, tudo e todos os que pertencem a essa etnia, pois não seria justo. São seres humanos que devem merecer uma justiça e consideração iguais às que esperamos para os demais cidadãos.

Bem diferente, direi mesmo repugnante, é a tendência xenófoba, generalizada, como avaliam qualquer imigrante, não distinguindo quem chegou a Itália em busca de um emprego honesto e que, frequentemente, encontra dificuldade a regularizar a própria situação.
Curiosa, então, é a atitude de certos pequenos e médios empresários, sobretudo em algumas regiões do norte: usam a mão-de-obra dos imigrantes irregulares, pagando-os miseravelmente e sem um mínimo de segurança no trabalho; porém, quando se trata de protestar contra a imigração clandestina, ocupam as primeiras filas e são os que berram mais forte!
Decididamente cómico, se não fosse um procedimento execrável.

O leitmotiv das forças de direita, na última campanha eleitoral que ganharam, foi um martelamento contínuo sobre o tema segurança: a Itália corre um grave perigo; os imigrantes sem documentos devem ser expulsos; os acampamentos de ciganos devem ser desfeitos e obrigar os seus ocupantes a abandonar o país (esquecendo-se que existem muitos ciganos com nacionalidade italiana); o povo vive atemorizado com a criminalidade sem freios, provocada por estas excrescências malignas de origem não italiana.

Tanto gritaram “ao lobo”, que despertaram os piores instintos de grande parte da população.

Nestes últimos dias, os jornais têm dedicado amplo espaço aos acontecimentos e ao problema da imigração (que não é somente italiano, mas de toda a Europa).

Dos vários artigos que pude ler, um dos mais interessantes foi “O Pogrom Moderno”, de Adriano Prosperi, no jornal La Repubblica (sexta-feira, 16 de Maio).

(…) Mas o problema mais grave, em absoluto, é um outro: como e porquê os italianos se tornaram racistas? Como e quando as autoridades de governo tomarão iniciativas sérias para a integração civil e para a tutela jurídica de todos os habitantes do país?
Por agora, assiste-se somente a uma prova de quem grita mais alto, de quem encontra as palavras mais ameaçadoras contra os desventurados, contra os danados da terra.
Assistimos a uma rajada de medidas da polícia, reais ou delineadas; a uma competição na qual se empenham administradores locais e poderes centrais de todas as cores e que seria ridícula, se não fosse trágica pelos efeitos de insegurança e de violência que provoca.
Já chegámos às rondas. Resta-nos esperar a chegada dos esquadrões da morte e de polícias «do it yourself».
.
É de esperar que os ânimos se acalmem; que o bom senso e um sentido de humanidade e tolerância comecem a iluminar os entusiastas da "ordem, acima de tudo" - e bem sabemos a que cor política atribuir esse entusiasmo.
Alda M. Maia

1 Comments:

At 11:23 da tarde, Blogger Donagata said...

Em Itália, agora na África do Sul...Cenas apenas comparáveis com as que nos habituámos a ver em pleno apartheid...É assustador este crescendo de xenofobia.

 

Enviar um comentário

<< Home