domingo, maio 04, 2008

TAMBÉM EM TURIM SE QUEIMAM ESTAS BANDEIRAS
Turim, praça San Carlo
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Quinta-feira, dia 8 de Maio, será inaugurada, pelo Presidente da República, a importante Feira do Livro da cidade de Turim – Salão do Livro de Turim.

Já num post anterior escrevi acerca da importância deste evento cultural e do caso dos escritores israelianos serem, este ano, hóspedes de honra.
Também me referi á reacção da esquerda radical italiana e de organizações árabes que imediatamente colheram a oportunidade para apresentar um peremptório diktat aos organizadores: Israel, como hóspede de honra e no sexagésimo aniversário da sua existência, deverá ser banido, com esse título, de tal manifestação; se assim não for, pôr-se-á em marcha um boicote total.

Como sempre, estes indivíduos brilham por falta de discernimento, tolerância e capacidade de diálogo.

E como sempre, foge à minha compreensão estas atitudes truculentas, perante eventos como uma “Feira do Livro”, onde se pode falar de tudo com civismo e a ninguém é vedado propor temas de uma certa gravidade.
Os boicotes, portanto, são totalmente descabidos.
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Aproximando-se a data de abertura da Feira, explodiram manifestações violentas durante a comemoração do 1.º de Maio. Na Praça S. Carlos (sala de visitas de Turim), juntamente com vivas aos palestinianos e invectivas a Israel, queimaram-se duas bandeiras deste País e uma dos Estados Unidos.

Um gesto estúpido, muito próprio de quem não conhece outros argumentos que não seja a violência e uma ofensa gratuita já sem qualquer originalidade.
Está a ser investigado pela polícia.
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Se actos similares, noutras latitudes, são encorajados como factos legítimos, nos países ocidentais há outras sensibilidades; acima de tudo, o respeito pelos símbolos de todos os povos.

As autoridades predispuseram medidas de grande segurança, a fim de que a inauguração não fique assinalada por actos graves dos desordeiros e da intolerância de opositores programados.
Circunstância aberrante e muito triste!

Gianni Vattimo, o bem conhecido intelectual e professor de filosofia na Universidade de Turim, muito radical no seu esquerdismo, é o principal acusador do Estado Hebraico.
Sobre este tema, quando o ouço exprimir juízos drásticos, facciosos e sem jamais conceber a ideia que a razão nunca pode estar só de um lado, a minha perplexidade é amplíssima e pergunto-me:
É isto um filósofo, o amigo de escavar nas ideias e pensamentos?!
Será que a apreciável inteligência deste homem funciona em sentido único? Melhor: quando sai das matérias que o tornam conhecido e entra na política, não se apercebe que, por vezes, no seu radicalismo absoluto, peca por total falta de objectividade? Não, não se apercebe.

Na faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Turim, segunda e terça-feira próximas, haverá uma conferência onde já se indicaram argumentos exclusivamente anti-israelitas. Obviamente, Gianni Vattimo será um dos intervenientes, assim como Tariq Ramadan, “um dos mais importantes ideólogos do islamismo fundamentalista”. Aliás, estes dois intelectuais são os principais promotores do boicote à manifestação literária.
Mas surge-me uma pergunta e que pode não ser correcta: a que título é que Ramadan se vem intrometer nas iniciativas de um país soberano onde não vive?
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Realizando-se esta conferência, vejo-a como uma ocasião perdida para envolver palestinianos e israelitas numa discussão sem ódios e esclarecedora de tantas incompreensões recíprocas!
Mas como é bem sabido, o radicalismo ou fundamentalismo político sempre embruteceram e abafaram o bom senso.

No dia 04/02/2008, Vattimo escreveu um artigo, no jornal "La Stampa" de Turim, com o título: “Por que boicoto Israel”.
Drástico e repetitivo sobre os argumentos de quem só conhece uma razão.

Com a mesma data, no mesmo jornal e sobre o mesmo assunto, foi publicado um artigo do escritor Avraham B. Yehoshua. “Um acto contra a paz”.
Nota-se a diferença: escreveu-o com o coração, compreensão e respeito pela razão de todos.

(…)
“Na condição de escritor israelita, apoiante da esquerda e de há anos propugnador da paz, seja-me permitido intrometer-me neste debate, a fim de sustentar que o boicote não somente é injusto como prejudicial para o processo de paz, no qual todos depositamos esperanças”

No último parágrafo:
“Este ano, no sexagésimo aniversário da sua fundação, será Israel o hóspede de honra do Salão do Livro de Turim. Os meus votos é que, no próximo ano, o seja a Palestina, na ocorrência do primeiro aniversário do seu nascimento. Nós, escritores e poetas israelianos, participaremos a este evento com alegria e convicção”.
Gostaria de ver este equilíbrio em Gianni Vattimo.
Alda M. Maia