sexta-feira, outubro 13, 2006

TEMA DO DIA: CORRUPÇÃO

É um lugar-comum dizer-se que a prostituição é a mais velha profissão do mundo. A corrupção está no mesmo grau de vetustez e na mesma linha interpretativa: ao fim e ao cabo, não passa de uma prostituição da ética, da decência – e é tão grave ser corrupto como o corruptor.

A persistência de João Cravinho na apresentação de um conjunto de leis que ponha travão à desenvoltura como se rouba – demos o nome aos bois – como se executam falcatruas; como se delapida o erário e os fundos europeus; como se estraga o território nacional e se cometem injustiças e atropelos com fins de utilidade pessoal… o elenco seria do tamanho da légua da Póvoa!... Pois bem, essa persistência é digna de todo, mas todo o apoio.

Reputo-a uma iniciativa própria de um homem político sério, íntegro. Assim, o desinteresse que se notou nos dois maiores partidos em compartilhá-la, dar-lhe toda a relevância a que tem direito, deixa-nos desconcertados! Por que razão essa tibieza ou mesmo indiferença? Porque crêem a corrupção inextirpável? Sê-lo-á, mas, entretanto, aprovem leis bem claras e severas – onde se veja a certeza do castigo - de modo a desencorajar tal praga. Ou receiam abrir esse enorme contentor do lixo moral da coisa pública?

Bem, ponhamos indignações de lado e demos lugar ao riso com uma poesia de Trilussa:
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“Er compagno scompagno”

Un Gatto, che faceva er socialista / solo a lo scopo d’arivà in un posto, / se stava lavoranno un pollo arosto / ne la cucina d’un capitalista.

Quanno da un finestrino su per aria / s’affacciò un antro Gatto:- Amico mio, / pensa – je disse – che ce s’o pur’io / ch’appartengo a la classe proletaria!

Io che conosco bene l’idee tue / so’ certo che quer pollo che te magni, / se vengo giù, sarà diviso in due: / mezzo a te, mezzo a me... Semo compagni!

-sto No, no:- rispose er Gatto senza core / io nun divido gnente co’ nessuno: / fo er socialista quanno a diggiuno, / ma quanno magno s’o conservatore!
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O Camarada “descamarado”

Um Gato que se fazia passar por socialista
Só para chegar aonde queria,
Estava a contas com um frango assado
Na cozinha de um capitalista.

Quando de um postigo lá do alto
Apareceu um outro Gato:- Bom amigo,
Pensa – lhe disse – aqui estou eu também
que pertenço à classe proletária!

Como conheço bem as tuas ideias,
Estou certo que aquele frango que tu comes,
Se eu desço, será dividido em dois:
Metade para ti, metade para mim… Somos camaradas!

-Não, não:- respondeu o Gato sem coração,
Eu não divido nada com ninguém:
Sou socialista quando estou em jejum,
Mas quando manduco sou conservador!
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Alda M. Maia