sábado, outubro 21, 2006

DROGA E IGNORÂNCIA

A notícia chegou cá, provinda da Itália. Na última página do Público, dia 11 deste mês, aparece um título a toda a largura da página: "Proibido programa de TV segundo o qual um em cada três deputados italianos consome droga”.

A Autoridade que protege a privacidade das pessoas fez muito bem em o proibir: não pela denúncia do facto, mas pelo modo como obtiveram as provas.

Um jornalista e uma encarregada da maquilhagem improvisaram entrevistas, a cinquenta deputados, acerca do Orçamento do Estado. A meio da entrevista, a maquilhadora “apercebia-se” que o “onorevole deputato” tinha a testa brilhante e limpava-a com um lenço especial (drug wipe). Pelo suor, detectava-se quem fizera uso de drogas nas últimas trinta e seis horas. Efectuaram as análises e, em 32% dos deputados, deu positivo: em 12 pessoas, acusou cannabis; em oito, cocaína.
Embora ressalvando o nome dos deputados que caíram na armadilha, o método foi incorrecto.

A maior parte dos italianos indignou-se com esta proibição da Autoridade: “O povo deveria conhecer o nome desses parlamentares”: o queixume mais corrente.
Esta é uma indignação que me parece bastante hipócrita. Nunca vi o mesmo zelo em relação aos membros do Parlamento que elegeram, que são “onorevoli” (tratamento reservado aos parlamentares, sobretudo da Câmara Baixa), mas com sérios problemas judiciários: o número é relativamente elevado.

Eis um caso elucidativo e, quanto a mim, absolutamente indecente: Cesare Previti - advogado, conselheiro e amigo de Berlusconi, já ministro da defesa, deputado – foi condenado a seis anos de prisão e interdição perpétua de cargos públicos - sentença definitiva, há cerca de cinco meses, depois de ter percorrido todos os graus de juízo. Com o recente indulto, a pena foi reduzida a metade. Como benefício de uma das várias leis ad personam do governo Berlusconi, descontá-la-á em casa.
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"Cesare Previti, condenado definitivamente há uns meses, é ainda deputado, recebe mensalmente os respectivos emolumentos que nós, cidadãos, lhe pagamos" (Corrado Augias - "La Repubblica", 14 de Outubro 2006).
Nestes últimos dias, está em curso o processo de “decadência do mandato”! Opinam, todavia, que não é certa a inegibilidade.
Se este indivíduo albergasse um mínimo de decência, ter-se-ia demitido já há muito tempo. Melhor ainda, nunca consentiria em fazer parte da lista eleitoral de “Força Itália” enquanto o processo, onde era imputado por corrupção, não obtivesse a sentença final. É lícito pensar que o parlamento, para certas pessoas dadas à política, funciona como uma espécie de valhacouto.
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A IGNORÂNCIA DE ALGUNS PARLAMENTARES

O programa “As Hienas” não pôde fazer uso do material registado, a propósito dos parlamentares que fazem uso de drogas; não lhes foi vetado, todavia, apresentar uma reportagem – aliás, correcta - com entrevistas onde se verifica a ignorância de vários “onorevoli”.
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Este é um dos frutos da última reforma da lei eleitoral italiana: quando escolheram os candidatos, os partidos, todos os partidos, não desperdiçaram tempo em selecções conscienciosas, de qualidade.
Não é que nós, aqui na Casa Lusitana, possamos deitar foguetes: seja quanto às escolhas efectuadas pelos partidos; seja pelas votações dos eleitores. Mas continuemos.

Ao ler as “pérolas do conhecimento” que os entrevistados iam exibindo, não sabemos se rir se indignarmo-nos perante aqueles “representantes do povo” tão ignorantes.

Perguntas sobre Nelson Mandela. Resposta: “É um presidente sul-americano… do Brasil… Ah sim, é da África do Sul … foi um “capsus.” (Quem assim respondeu é um médico!)
Sobre a profissão de Mandela, houve quem asserisse que é um economista. Outros não sabiam a razão por que Mandela recebeu o prémio Nobel. Uma senhora deputada mastigou em seco: “Há diversas opiniões sobre Mandela"… Bateu em retirada, dizendo que tinha de ir votar.

As perguntas sobre a tragédia do Darfur provocaram respostas hilariantes! Alguns não sabiam onde se localiza o Darfur; outros que o Darfur tinha que ver com a questão do Líbano!
Um respondeu que era “Uma moda não italiana, nós somos o povo do estilo, do bem comer. Darfur são coisas feitas à pressa”. Oh valha-nos Deus!

Guantánamo? “Bem, é uma prisão”. Situada onde? “No Afanistão (sic)… No Iraque". Perante a surpresa do entrevistador, corrigiu: Ah! sim, é no Afanistão”.
E como estas, muitas outras demonstrações de "onorevole" ignorância.

Estes assalariados da política alguma vez leram os jornais? Ou prestaram atenção aos noticiários? Ou, pelo menos, conversaram com alguém que os pusesse ao corrente do que se passa por este nosso mundo?!
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Não se poderia, na TV portuguesa, criar um género de programa tipo “As Hienas”? Apresentar umas reportagens parecidas, onde pudéssemos, nós também, avaliar o grau de cultura dos nossos representantes na Assembleia da República?
Pelas calinadas de português que se vai ouvindo!...
Alda M. Maia

1 Comments:

At 12:31 da manhã, Blogger Alda M. Maia said...

Não acha que seria caso para tentar?
Um beijinho
Alda

 

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