DIÁLOGO QUASE IMPOSSÍVEL
Tudo serve para inflamar os zelos religiosos do Islão. Por qualquer pretexto, começa o incêndio numa ponta do Globo e alastra imediatamente.
Se fossem apenas as autoridades religiosas, ou quem por elas, a insurgir contra o que é considerado ofensivo da própria fé, tudo se limitaria a protestos ordeiros, diplomáticos, chamadas de embaixadores. Presentemente, isso já se não toma em consideração.
As manifestações, de mistura com uma violência bárbara, vêm para a rua. Iniciam-se os assaltos e destruição de igrejas, assassínios – na Somália, no passado domingo, o assassínio de uma freira italiana e que se julga ser obra de fanáticos.
E tudo em nome de quê? Da pureza da própria religião. Em cada canto do mundo islâmico vemos, à porfia, quem demonstra o maior e mais rumoroso protesto. Manifestações espontâneas? Que ilusão!
Às vezes dou por mim a perguntar: se por tudo e por nada saltam para a rua a gritar, com armas e braços erguidos, quando é que trabalham?
No site do Vaticano - em italiano, inglês e alemão - pode-se ler todo o discurso de Bento XVI, do passado dia 12, na Universidade de Regensburg.
São oito páginas (impressas) e é na segunda página que o discurso se refere a argumentos delicadíssimos, no que concerne a relação com o Islão.
“Mostra-me, pois, o que Maomé trouxe de novo e aí encontrarás somente coisas más e desumanas, como a sua directiva de expandir, com a espada, a fé que ele pregava".
Deveria esta citação das palavras do diálogo de Manuel II Paleólogo (fins do séc. XIV) e o teólogo muçulmano persa ter sido incluída no discurso de Papa Ratzinger?
Quando li as várias notícias sobre as reacções muçulmanas e, depois, todo o discurso do Papa, fiquei perplexa: por que razão Sua Santidade citou uma frase que se anunciava explosiva? Por qual razão quis condenar a violência, como meio para a difusão da fé, citando aquela frase do imperador bizantino?! Por que a citou, precisamente nestes tempos de virulência terrorista, estribada em motivos religiosos, e dos kamikaze que se imolam em nome do martírio e ceifando, portanto, vidas inocentes, alheias a tais fanatismos?
Foi oportuno? Não, não foi, embora tivesse atenuado a citação com as expressões: “(…) ele, (Manuel II Paleólogo) com modo surpreendentemente brusco que nos espanta …”; “O imperador, depois de se ter pronunciado num modo tão pesado …”
Em vez daquela citação, dentro do tema que desenvolveu, foi pena que não se tivesse ficado por uma outra, no final do discurso: “Não agir segundo a razão, não agir com o logos é contrário à natureza de Deus”, disse Manuel II, partindo da sua imagem cristã de Deus, ao interlocutor persa”.
Deve pedir desculpa aos muçulmanos? Não, não deve.
O que se lhe pede é que nunca se canse de dialogar e anteponha a missão de Sumo Pontífice ao teólogo, ao catedrático.
Bento XVI explicou que lamentava ter “ofendido a sensibilidade dos crentes muçulmanos e que a citação de um texto medieval não exprimia o seu pensamento”.
No título do jornal El País: “El Papa pide perdón de nuevo por sus críticas al Islam y espera que se calmen los ánimos”
Título errado: o Papa não pediu perdão nem pediu desculpas. Lamentou e explicou que não teve intenções de ofender – explicação que é um caso excepcional.
Ao contrário de João Paulo II, este Papa, firme na sua inveterada formação teológica, já deu a entender que passou o tempo de invocar perdões.
Não concordo com o recurso a um excerto de um texto medieval que iria chocar (e chocou) sensibilidades religiosas.
Tudo serve para inflamar os zelos religiosos do Islão. Por qualquer pretexto, começa o incêndio numa ponta do Globo e alastra imediatamente.
Se fossem apenas as autoridades religiosas, ou quem por elas, a insurgir contra o que é considerado ofensivo da própria fé, tudo se limitaria a protestos ordeiros, diplomáticos, chamadas de embaixadores. Presentemente, isso já se não toma em consideração.
As manifestações, de mistura com uma violência bárbara, vêm para a rua. Iniciam-se os assaltos e destruição de igrejas, assassínios – na Somália, no passado domingo, o assassínio de uma freira italiana e que se julga ser obra de fanáticos.
E tudo em nome de quê? Da pureza da própria religião. Em cada canto do mundo islâmico vemos, à porfia, quem demonstra o maior e mais rumoroso protesto. Manifestações espontâneas? Que ilusão!
Às vezes dou por mim a perguntar: se por tudo e por nada saltam para a rua a gritar, com armas e braços erguidos, quando é que trabalham?
No site do Vaticano - em italiano, inglês e alemão - pode-se ler todo o discurso de Bento XVI, do passado dia 12, na Universidade de Regensburg.
São oito páginas (impressas) e é na segunda página que o discurso se refere a argumentos delicadíssimos, no que concerne a relação com o Islão.
“Mostra-me, pois, o que Maomé trouxe de novo e aí encontrarás somente coisas más e desumanas, como a sua directiva de expandir, com a espada, a fé que ele pregava".
Deveria esta citação das palavras do diálogo de Manuel II Paleólogo (fins do séc. XIV) e o teólogo muçulmano persa ter sido incluída no discurso de Papa Ratzinger?
Quando li as várias notícias sobre as reacções muçulmanas e, depois, todo o discurso do Papa, fiquei perplexa: por que razão Sua Santidade citou uma frase que se anunciava explosiva? Por qual razão quis condenar a violência, como meio para a difusão da fé, citando aquela frase do imperador bizantino?! Por que a citou, precisamente nestes tempos de virulência terrorista, estribada em motivos religiosos, e dos kamikaze que se imolam em nome do martírio e ceifando, portanto, vidas inocentes, alheias a tais fanatismos?
Foi oportuno? Não, não foi, embora tivesse atenuado a citação com as expressões: “(…) ele, (Manuel II Paleólogo) com modo surpreendentemente brusco que nos espanta …”; “O imperador, depois de se ter pronunciado num modo tão pesado …”
Em vez daquela citação, dentro do tema que desenvolveu, foi pena que não se tivesse ficado por uma outra, no final do discurso: “Não agir segundo a razão, não agir com o logos é contrário à natureza de Deus”, disse Manuel II, partindo da sua imagem cristã de Deus, ao interlocutor persa”.
Deve pedir desculpa aos muçulmanos? Não, não deve.
O que se lhe pede é que nunca se canse de dialogar e anteponha a missão de Sumo Pontífice ao teólogo, ao catedrático.
Bento XVI explicou que lamentava ter “ofendido a sensibilidade dos crentes muçulmanos e que a citação de um texto medieval não exprimia o seu pensamento”.
No título do jornal El País: “El Papa pide perdón de nuevo por sus críticas al Islam y espera que se calmen los ánimos”
Título errado: o Papa não pediu perdão nem pediu desculpas. Lamentou e explicou que não teve intenções de ofender – explicação que é um caso excepcional.
Ao contrário de João Paulo II, este Papa, firme na sua inveterada formação teológica, já deu a entender que passou o tempo de invocar perdões.
Não concordo com o recurso a um excerto de um texto medieval que iria chocar (e chocou) sensibilidades religiosas.
Paralelamente, não suporto a arrogância e pretensões daqueles crentes islâmicos que se distinguem pela intransigência. Se têm uma sensibilidade tão apurada nos seus sentimentos religiosos, que usem essa mesma sensibilidade no respeito e tolerância para com o cristianismo ou quaisquer outras religiões. Que aprendam, sobretudo, a dialogar – que é, afinal, o exemplo que se colhe do diálogo de Manuel II Paleólogo e o teólogo persa - que se predisponham a conhecer e conviver pacificamente com o mundo ocidental sem receio de serem contaminados - refiro-me sempre aos puros e duros do Islão, pois sei que existem milhões de muçulmanos moderados e bem distanciados do fanatismo.
E por último, que revejam o tratamento discriminatório que reservam aos cristãos que vivem em terras islâmicas. Os exemplos, de intolerâncias violentas, são abundantes. Não é preciso ir muito longe: basta conhecer as discriminações que vigoram na Turquia.
E por último, que revejam o tratamento discriminatório que reservam aos cristãos que vivem em terras islâmicas. Os exemplos, de intolerâncias violentas, são abundantes. Não é preciso ir muito longe: basta conhecer as discriminações que vigoram na Turquia.
Não consta que o Papa lhes tenha exigido desculpas.
Alda M. Maia
2 Comments:
Os intocáveis islamitas!
É para isto que as Religiões existem? Para que o ser humano seja manipulado até ao supremo sacrifício da sua própria vida?
Então a vida não é para ser vivida?
VIVOS! Não mortos! A vida é para ser "vivida" no "Paraíso"?!...
Tenham juízo!
Boa e santa noite, na Terra!
Uma abraço
António
O mais desconfortante é que são estes cultores da morte a abafar a voz dos correligionários moderados e de bom senso. Aliás, estes últimos assistem pavidamente às aberracções dos terrorísticas e fundamentalistas. É pena, pois deveriam ser os primeiros a neutralizá-los, não acha?
Um abraço
Alda
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