GULAG, CAMPOS DE EXTERMÍNIO, PRIMO LEVI
Pensamentos Vagabundos
É inevitável que os pensamentos vagabundeiem à volta de todas as nossas percepções, conhecimentos, experiências. Coordenemos estes vadios.
segunda-feira, fevereiro 28, 2005
Tenho lido várias reportagens e artigos sobre os campos de concentração do regime soviético, os tristemente famosos gulag.
Modernamente, com o grande surto de revisionistas históricos desse período, o nazismo é equiparado ao comunismo staliniano.
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Quanto a crueldade, sofrimentos e número de vítimas, equivalem-se; disso não subsiste a mínima dúvida. Todavia, se queremos dar um rigoroso significado ao prefixo da palavra desumanidade, então devemos considerar o nazismo com outros parâmetros.
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Conhecemos por que foram criados os gulag: escravatura como mão-de-obra grátis para os projectos económicos; aniquilamento de todos aqueles que perturbavam o andamento da marcha dos potentes da famigerada ditadura do proletariado. Desconfiava-se de tudo e de todos e ninguém estava seguro da própria incolumidade: pessoas e comunidades.
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Os campos de extermínio hitlerianos foram estudados para a desumanização e, consequentemente, o extermínio de pessoas que não deviam ter direito à vida, porque faziam parte de uma raça inferior: sub-humanos que deviam ser eliminados.
É nisto que reside todo o horror, hediondez e unicidade do nazismo.
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PRIMO LEVI
Tive o prazer de o conhecer pessoalmente. Foi uma apresentação casual e confesso que senti uma grande emoção ao apertar a mão do escritor e de uma vítima que se salvou do campo de extermínio.
Quando se suicidou, eu ainda vivia em Turim. Custou-me a aceitar aquele suicídio. Talvez pela grande simpatia que me inspirava, pelo escritor que admirava, por uma figura ilustre que desaparecia.
Pessoas amigas, que o conheciam bem, negavam o suicídio; acreditavam mais num acidente. Oxalá que assim tivesse sido. Doía-me saber que ele não resistiu à angústia que nunca mais o abandonara desde que foi deportado.
AldaMMaia
domingo, fevereiro 27, 2005
HOMENS DE LETRAS E A POLÍTICA
Em vez de usar a palavra intelectual, preferi escrever "homens de letras". O meu pensamento vadia por aqueles escritores que também gostam de se expandir sobre temas políticos - ou até mesmo por aqueles que se empenham em política.
Tenho notado, em vários autores prestigiosos, intelectuais de grande potencialidade criativa, desafinadelas estridentes quando entram no campo político.
No nosso País já notei dois: José Saramago nos seus conceitos de veterocomunista, repetindo-os sempre dentro do velho esquema; Vasco Graça Moura com o seu conservadorismo faccioso e de ideias limitadas. E digo limitadas, porque se pode ser conservador com uma visão ampla do mundo que nos rodeia.
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Não gostei nada do artigo que li no Público, quarta-feira, dia 23, de Vasco Graça Moura: "A Situação do PSD".
Como é possível que um senhor, com aquela espessura intelectual, pode demonstrar-se tão mesquinho?!
No mesmo jornal de ontem, na rubrica Cartas ao director, foi publicada uma carta de uma senhora - Regina Faria /S.Pedro do Estoril - manifestando o seu desagrado sobre esse mesmo assunto. Esta senhora disse tudo o que deveria ser dito e escreveu-o de uma maneira brilhante. Ainda bem que a publicaram.
AldaMMMaia
sábado, fevereiro 26, 2005
MAIS UMA "GAFFE" DO SR. BERLUSCONI
O Sr. Primeiro-Ministro, como toda a gente sabe, domina uma grande parte dos meios de comunicção italianos.
Certamente há jornais - não muitos - que escrevem abertamente das anomalias daquele governo e não lhe procuram atenuantes.
Um destes jornais é L'Unità, jornal fundado por António Gramsci; jornal do ex-partido comunista; hoje, jornal do partido social-democrata (DS)
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Num programa da RAI, Tribuna Política, Berlusconi foi o político entrevistado.
Claro que não perdeu a ocasião para lançar anátemas contra L'Unità. Acusou este jornal de o insultar sistematicamente e repetiu alguns dos insultos de uma grande lista que ele, Berlusconi, tinha distribuído numa assembleia de Forza Italia, o seu partido - esta "assembleia" foi organizada para a mesma data do congresso dos Democráticos de Esquerda (DS). Muito elegante, este sr. Berlusconi, no seu savoir faire político! Mas continuemos.
Imaginem que até lhe chamaram "monstro baboso"!!
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No dia seguinte, António Padellaro, director adjunto de L'Unità, escreveu um artigo onde apresentou a lista completa dos insultos que tanto ofenderam o Sr. Berlusconi.
Somente que... no fundo do artigo, António Padellaro escreve: "Esperamos que Berlusconi apresente, se disso é capaz, profundas desculpas a Romano Prodi, ao jornal L'Unità e à verdade"
O destinatário de todos aqueles insultos não era Berlusconi, mas Prodi, o presidente da oposição.
Quem escrevera todos aqueles mimos, contra Romano Prodi, fora um senador de "Força Itália", Paolo Guzzanti, colaborador fixo do jornal da família de Berlusconi - "IL Giornale".
Um Jornalista de L'Unitá limitara-se a referir os epítetos injuriosos. Qualquer assessor de Berlusconi não leu com atenção e eis o Sr. Berlusconi a virar tudo ao contrário e cometer uma das piores gaffes da sua vida polìtica. É mesmo o caso de repetir como vulgarmente se diz na Itália: mas que figura!! "Che figuraccia"!
AldaMMaia
segunda-feira, fevereiro 21, 2005
DECÁLOGO DO CARDEAL
Decálogo ditado aos administradores da Lombardia:
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1) Preferir a justiça acima de qualquer outra coisa
2) Respeitar sempre a lei
3) Não pôr em contraste a lei com a justiça
4) Escolher os melhores e não aqueles a que se chama amigos
5) Antepor o Bem Comum ao bem individual
6) Valorizar os recursos humanos da comunidade e não os nossos pessoais
7) Nunca aceitar de ninguém dinheiro, favores, adulações, prendas.
8) Não utilizar os bens de todos em proveito pessoal
9) Não multiplicar-se em compensações para além do que é devido
10) Se quereis conceder preferências, concedei-as aos débeis, aos pobres, àqueles sem voz e que ninguém quer.
Dionigi Tettamanzi, Cardeal de Milão
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Como depois das lesgilativas virão as autárquicas, não seria nada fora das normas se este decálogo, na íntegra, fosse inserido nos estatutos de cada partido. E procurar respeitá-lo.
Quem sabe se a administração da coisa pública não começaria a ser mais correcta e transparente!
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As esquerdas ganharam? Pois comecem, finalmente, a dizer qualquer coisa de esquerda - e isto sem necessidade de incomodar Nanni Moretti.
Dizer qualquer coisa de esquerda não significa recolher os chavões extremistas do BE ou PCP. Significa enfrentar os problemas do País corajosa e conscientemente: reparando injustiças e eliminando abusos; exigir os sacrifícios necessários sem pensar nas próximas eleições. Em conclusão, governar com sentido de estado e responsabilidade.
E percam a mania de quererem ser primedonne! Quando os políticos trabalham com a competência exigida e com seriedade; quando são coerentes com os seus princípios e agem com simplicidade, confiem no juízo de quem os deve votar.
AMMaia
sábado, fevereiro 19, 2005
Conversando com...
Com ninguém. Ou poderia ser com o computador; com o infinito...e cá estou eu com a tendência para os exageros! Ora bem, comecemos:
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Buon giorno! - a quest'ora del giorno, sarebbe meglio dire: buona sera!.
È dal 14 febbraio che non venivo qui per dare sfogo ai miei pensieri vagabondi! Era tal il trambusto delle elezioni che, sinceramente, non mi veniva voglia di fare i miei commenti su nulla.
Il pandemonio dei discorsi, dibattiti, voci rauche, insinuazioni maligne, millanterie, demagogie, parole vuote...insomma, su tutto questo, è calato il silenzio. Siamo in pausa di riflessione.
Da parte mia, non ho niente da riflettere. So benissimo in chi votare.
Tuttavia, siccome sento una voglia matta di criticare Dias Loureiro, questo devo farlo in portoghese.
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Que se usem todos os argumentos persuasivos a fim de encaminhar votos para o próprio partido, é óbvio. Que se usem certas afirmações indignas de um respeitador das regras democráticas, aí é mesquinhez, incivilidade
Todos estes preliminares vem a propósito das frases proferidas por Dias Loureiro, na quinta-feira passada, em Lisboa: "...desta vez o País não aguenta mais o tipo de governo socialista. Portugal não está em condições económicas para aguentar mais asneiras do PS".
Não gosto deste modo grosseiro de fazer propaganda política. Cada partido tem a sua dignidade e não me parece de bom gosto falar com desprezo de quem quer que seja. Além disso, é preciso ter uma bela cara de bronze para se usar a expressão "aguentar mais asneiras". Mas de quem fala? Isto é, falava dum partido e pensava noutro? Aí já estou de acordo.
AMMaia
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
Oportunismo ou quê?
A interrupção da campanha eleitoral do PSD e do CDS anunciada com tanta solenidade ... será mesmo sincera, isto é, uma decisão sentida?
Aproximo-me mais da opinião do Prof. Vital Moreira que li, há minutos, no blog causa-nossa: oportunismo. Estarei errada?
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Portugueses!
Quando ouvi Paulo Portas - já não recordo se ontem se hoje - iniciar a sua mensagem com a invocação "Portugueses!", tive uma imediata sensação de repulsa.
O ar sempre pomposo com que lança os seus discursos, e tendo em conta as ideias que professa, levou-me logo o pensamento a vagabundear pela era salazarista e na qual a minha geração nasceu e cresceu.
Que sensação desagradável!
AldaMMaia
domingo, fevereiro 13, 2005
A QUINTA COLUNA DE SANTANA LOPES
Embora não me agradasse a linha dos telejornais da RTP1 nesta campanha eleitoral - e já me expressei sobre isso - mantive sempre qualquer dúvida sobre a minha objectividade; tenho sempre receio de ser injusta. Todavia, parece-me que hoje, no noticiário das treze, ultrapassou-se todos os limites da decência.
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Uma quinta coluna a trabalhar dentro de um campo que deve ser neutral, isso tem muito que ver com a seriedade do serviço público.
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O FACTO: noticiaram todos as actividades dos candidatos, começando com Santana Lopes.
No remate desta parte dedicada às eleições, quiseram transmitir uma reportagem sobre as curiosidades da campanha. Vejam só a casualidade: o entusiasmo das peixeiras da Figueira da Foz pelo Sr. Santana Lopes!
Grande ênfase a sublinhar o afecto pelo "único"; de novo este "único" em imagens românticas; ausência da brevidade própria de uma reportagem que deve ser incluída num telejornal; nenhum pudor da parte dos responsáveis!
A isto sei dar um nome: pura berlusconização
Só lamento que não compreendam, que tais manipulações, acabam sempre por se tornar nauseantes.
AldaMMaia
ISRAEL, APELO DOS INTELECTUAIS
Nas vésperas do encontro de Sharm el Sheik, intelectuais israelianos lançaram um apelo, a pagamento, nos principais jornais de Israel. Assinaram-no dez dos mais conhecidos escritores daquele país: Amos Oz, A. Yehoshua, David Grossman, Ronit Matalon, Aguy Mishol, Yehoshua Knaz, Eli Amir, Sami Michael, Yahudit Katzir, Meir Shalev.
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Li esta informação no jornal La Repubblica, do dia cinco deste mês, enviada pelo correspondente Alberto Stabile.
Nessa correspondência , transcreve grande parte do documento - documento este que me parece muito nobre nas suas intenções.
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O que mais me impressionou foi este excerto: "Nós propomos ao governo de Israel de abrir as negociações com uma mensagem dirigida ao povo Palestinense que exprima o reconhecimento dos seus sofrimentos e admita que Israel tem uma parte de responsabilidade em tais sofrimentos."
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No passado dia oito, o mesmo jornal publicou um artigo de David Grossman.
Traduzo os dois primeiros parágrafos:
"Que aconteceria se o primeiro-ministro israeliano abrisse o seu discurso, no vértice de Sharm el Sheik, com um reconhecimento da parcial responsabilidade dos seus compatriotas pelo sofrimento dos palestinenses? Que efeito teriam as suas palavras, simples e directas, na opinião pública da Palestina? E que mudanças haveria na posição do estado hebraico numa futura negociação? Que ganharia Israel ou o que é que perderia?
E como reagiriam os israelianos se Abu Mazen iniciasse a sua intervenção, nesse mesmo vértice, expressando participação pelos padecimentos do Povo de Israel durante os longos anos do conflito e admitisse, com simplicidade e sinceridade, que os palestinenses têm nisso uma parte de responsabilidade? É possível imaginar uma eventualidade deste género, no clima de desconfiança e hostilidade que se respira entre os dois povos?"
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Nota: usei o vocábulo israeliano, em vez do habitual israelita, porque o acho mais adequado.
Há israelianos que não são israelitas; os nossos dicionários assinalam a diferença.
Prefiro também o gentílico palestinense (dicionário Houaiss)
AldaMMaia
sexta-feira, fevereiro 11, 2005
DESMENTIDOS
A Procuradoria- Geral da República e a PJ desmentiram que houvesse suspeitas de ilícito criminal por parte de José Sócrates e do PS.
Reservando esse comunicado para o fim da tarde, não deveriam ter sido mais tempestivos, dado o clima delicado da campanha eleitoral?
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Se o desmentido foi enunciado antes do noticiário das 20 horas da RTP1, este deu a informação, a que pró insistir em solicitar opiniões, contra-opiniões, comentários? A que pró chafurdar ainda na matéria?
Num jornal escandalístico, isso é inevitável; num noticiário da RTP, gostaria de ver mais sobriedade e menos espectáculo.
AMMaia
TIRO AOS POMBOS
E na campanha eleitoral, continua o tiro aos pombos. Iniciou num jantar em Famalicão. Algumas das senhoras presentes - ora bem, senhoras não me parece; digamos: algumas mulherzinhas - com estranhas alusões ao machismo do festejado Santana Lopes e este colheu a deixa; agora, surgem documentos, num semanário, da Polícia Judiciária que envolvem José Sócrates em actos de corrupção. É entrar, "meu xenhóres", aqui vale tudo!
Não querem lá ver aquele diacho de Sócrates! Se calhar era um agente da Cia a "desempantanar" Guterres!
-"A mim disseram que era lobisomem!"
-"Era; agora é o pombo do torneio de tiros."
(A este ponto, cada um pode encorajar-se a dizer as coisas mais disparatadas).
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Uma pergunta: como foi possível que, em plena campanha eleitoral, um documento da PJ, com aquele conteúdo, fosse logo parar às mãos do Independente? Se ainda estão em investigações - segundo as notícias da TSF - como se justifica este facto? Sobretudo, como é que a PJ o pode justificar?
É tudo muito estranho!
Não, não é estranho. Quis-se imitar o que de pior tem a América e descambou-se no jogo sujo. É pena que incluam a PJ nesta sujeira.
AMMaia
terça-feira, fevereiro 08, 2005
A VIDA PRIVADA DOS POLÍTICOS
A polémica, desencadeada pela opinião de António Barreto sobre a transparência da vida dos políticos, levou-o a escrever um longo artigo de esclarecimento sobre a sua posição.
Aclara que, de modo nenhum, aprova a devassa da vida íntima do político.Todavia, há temas que são delicados: «a sexualidade, a vida familiar, a fortuna, o aborto e a religião»; precisamente porque «a estes temas estão associados preconceitos de toda a ordem».
E eu pergunto: em vez de se combater os preconceitos, dá-se-lhes foro de legitimidade?
«Por outro lado - continua A. Barreto - há questões (família, aborto, uniões de facto, adopção, etc.) que podem dar lugar a legislações e a políticas públicas».
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No artigo, noto uma grande contradição: primeiro, reprova os atentados à privacidade; paralelamente, sustenta que o eleitor deva conhecer a vida privada de quem lhe pede o voto (além do programa político). E enumera o que seria oportuno conhecer: «crença religiosa, igreja ou culto, vida familiar, orientação sexual, cadastro, vida anterior, pertença a certo tipo de associações (Maçonaria, Opus Dei), etc.» - nesta lista não falta mesmo nada!
Evidentemente, tudo isto «desde que não se tente obter informações por meios ilícitos, não se atente contra a vida íntima...» Mas em que ficamos?
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De tanto desejar esclarecer, parece-me que o Dr. António Barreto meteu os pés pelas mãos e fez uma bela salgalhada.
Fiquei com a ideia que o seu pensamento, tout court, é mesmo aquele que expressou a Ana Sá Lopes
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Em vez de se pretender saber vidas e vidinhas de um político, por que não se educa o eleitor a avaliar o político pela sua dignidade, coerência no caminho político que percorre, seriedade, competência? Todas estas qualidades são facilmente perceptíveis, desde que se tenha bem consciência do que se está a fazer com o voto na mão e se siga com mais atenção a vida política do País. E neste caso, as informações de alcova ou quejandas, considero-as absolutamente doentias. Neste e em qualquer caso.
Também seria uma grande conquista, sob o ponto de vista cívico, se o eleitor soubesse distinguir os políticos correctos daqueles que fazem jogo sujo ou oportunista. Mas parece-me que isto é já pedir de mais, infelizmente.
Alda M. Maia
sábado, fevereiro 05, 2005
O JOÃOZINHO DAS PERDIZES MADEIRENSE
Quando tomei conhecimento da existência de Alberto João Jardim, descreveram-mo como uma pessoa interessante, muito popular, enfim, um personagem célebre da política madeirense.
Porém, de cada vez que via na TV as suas performances de perfeito histrião; de cada vez que notava as suas intervenções políticas, o que se me apresentou foi um político grosseiro, arrogante, mal-educado e merecedor de um zero, sem apelo, no seu comportamento como homem de estado.
E as minhas perplexidades cresciam.
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Eu nunca soube compreender a benevolência e reverências sempre concedidas ao Presidente da Região Autónoma da Madeira; o interesse persistente em transmitir as opiniões dele sobre tudo e todos: o Alberto J. Jardim disse, comentou, falou ... como se daquela boca saíssem pérolas de sabedoria; a indiferença pelos seus insultos às instituições e sem que da parte da Magistratura ninguém interviesse.
Também nunca soube entender o desinteresse pela maneira desenvolta como são administrados os substanciais fundos destinados àquela região, vistas as denúncias, na imprensa, relativas a esta finança alegre.
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Agradou-me muitíssimo o artigo de Miguel Sousa Tavares no Público de ontem.
Só não estou de acordo num ponto: que lhe é indiferente a independência da Madeira, caso Alberto Jardim continue com a eterna chantagem, ninguém lhe dê a mínima importância e o homem proclame essa independência com um referendo. Não faltaria quem corresse a oferecer protecção à Freguesia de Pinchões em que se tornou a Madeira. Disso ninguém duvide.
A Madeira faz parte do nosso País e penso que haverá, isto é, há modos para estabelecer o respeito pelas normas que regulam a vida nacional.
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Mas neste momento, o pensamento foi vagabundear pela obra de Júlio Dinis.
No episódio das eleições, o Joãozinho das Perdizes, perante o exemplo da figura comovedora do Tio Vicente, resgatou-se - «todo o Pinchões a votar pelo conselheiro» - e sem mercantilismos.
Em conclusão: o Joãozinho da Madeira nem sequer é digno do pitoresco personagem de «A Morgadinha dos Canaviais»
AMMaia
sexta-feira, fevereiro 04, 2005
ALAIN MINC E BERLUSCONI
Sempre que vejo este nome impresso - o de Berlusconi - a minha atenção redobra
Pelos vistos, o problema do nosso Governo é que não é Berlusconi - «é Berlusconi quem pode».
Ai pode, pode!
Pode e soube concentrar nas suas mãos um poder inconcebível num país verdadeiramente democrático.
Antes de entrar em política, as finanças e empresas do Sr. Berlusconi navegavam em péssimas águas; hoje, é um dos homens mais ricos do planeta.
Quanto ao poder, tem um Parlamento (Câmara de Deputados e Senado) inteiramente às suas ordens e dos seus advogados - estes são todos deputados ou senadores.
Sempre que seja necessário programar, apresentar e votar leis que tutelem os interesses de Berlusconi - financeiros ou judiciários - eis os centuriões berlusconianos a votarem compactos.
Os partidos da coligação governativa só entram em agitação quando estão em causa tachos e penachos. Fora disto, marcham disciplinadamente.
Além do Parlamento, há os meios de comunicação televisiva, assim como uma parte da imprensa, inteiramente dominados pelas hostes de «Sua Emitência» ( epíteto corrente). A subalternidade de certos jornalistas da RAI e a maneira como manipulam a informação é, decididamente, nauseante.
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Quando leio e analiso esta situação, a minha antipatia concentra-se, acima de tudo, nos aliados de Berlusconi.
O cidadão Berlusconi é pessoa simpática, cordial e dizem mesmo generosa. Como homem político, é totalmente amoral e impenetrável à decência.
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Na «Casa das Liberdades» - os partidos do governo - há de tudo: ex-democristãos, ex-socialistas, ex-comunistas, ex-fascistas, republicanos, leguistas, oportunistas. etc. Os ex-comunistas são patéticos: o chefe Berlusconi a atacar a oposição comunista e eles a aplaudirem com toda a unção. (Estou a lembrar-me do salazarismo: os contra eram todos comunistas).
No meio de todos estes ex, há muitas pessoas dignas de respeito e com um bom passado político. Por isso mesmo, prova-se uma maior indignação e repugnância quando os vemos votar as tais leis «ad personam» sem pestanejar; quando atacam grosseiramente a Magistratura, somente porque este é o leit motiv da política berlusconiana; a demolir a Constituição com leis que o Presidente Ciampi recusa assinar por anticonstitucionais, etc., etc. Mas onde é que aquela gente pôs o bom-senso e a dignidade?
AMMaia
ENTREVISTA DE TERESA DE SOUSA A ALAIN MINC
Agrada o óptimo conceito, expresso por Alain Minc, acerca do nosso «sistema político-institucional extremamente moderno».
Usou também palavras muito encorajadoras sobre a crise que atravessamos - só por isto já valia a pena ler toda a entrevista. Desejo que este pós-parto (como lhe chama) encontre excelentes médicos que saibam atacar o mal com tratamentos enérgicos e adequados.
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A alusão à Hispanidade levou-me o pensamento a vagabundear por assuntos afins.
Por onde é que andará a nossa Lusitanidade? Alguma vez a zelámos? Alguma vez projectámos e desenvolvemos acções sérias e continuadas sobre a defesa e propaganda da nossa língua? A resposta a quem souber mais do que eu sobre este asunto
AMM
terça-feira, fevereiro 01, 2005
BERLUSCONADAS
Há tempos, foi publicado um livro cujo título é «BERLUSCONATE». Os autores são dois jornalistas: Pietro Criscuoli e Alessandro Corbi - (ed. Nutrimenti, pag. 190, euros 8,50) - aos quais deve reconhecer-se o mérito (ou a perfídia) de deixar correr livremente o inegável talento histriónico do Primeiro Ministro - comentário de Simonetta Fiori.
Da primeira edição venderam 8 mil exemplares; numa segunda, imprimiram 10 mil; não sei se irão já na 3.ª ou 4.ª edições. Prometo-me adquirir um exemplar.
Que as peripécias da vida política do Sr. Berlusconi sejam anómalas e abundantes no campo anedótico, pois é Berlusconi «ao natural», isso está mais que documentado. Assim, penso que o maior trabalho dos dois jornalistas deveria ter sido a dificuldade de escolha.
Há dias, esteve presente numa cerimónia em honra de Bettino Craxi. Quando subiu ao palco para discursar, começou logo a atacar a oposição que, para ele, é a esquerda, os comunistas - a sua obsessão - como se a oposição não fosse um centro-esquerda.
Não sei se é verdadeira obsessão, se a esperteza do populista que ainda pensa que o aceso anti-comunismo rende e que a queda do muro de Berlim foi uma bagatela.
O mais cómico da situação é que alguns dos seus fieis colaboradores são ex-comunistas, e da velha escola!
Também se vangloria, continuamente, da sua amizade com Putin ... para depois afirmar que «os comunistas mudaram de nome, mas não de método; que só semearam morte, miséria e terror».
Aqui está uma pérola desse discurso: através de Craxi, teve como hóspede, no seu palacete, Gorbaciov.
Berlusconi (conta ele) esforça-se por explicar ao ilustre hóspede o que é o mercado livre e as regras do capitalismo, mas Gorbaciov não conseguia compreender!...
AMM
Eleições no Iraque (2) - Al Jazeera
A estação televisiva Al Jazeera tornou-se ponto de referência no Ocidente e popularíssima entre os muçulmanos. Todavia, sempre a considerei deletéria no mundo incontrolado das paixões islâmicas.
Basta citar o requinte de crueldade e insensibilidade que demonstra, quando transmite o ritual da prisão e a bárbara execução dos reféns.
Em vez de dar notícias equilibradas, procura, intencionalmente, fomentar ódios.
Ao fim e ao cabo, não passa do megafone dos terroristas.
Perante o resultado das eleições no Iraque, Al Jazeera não se isentou de estilar o habitual veneno.
Um jornalista do Corriere della Sera de origem egípcia, Magdi Allam, numa crónica publicada ontem, estabelece a comparação entre o comportamento da estação Al Arabiya - moderada - que noticiava: Os iraquianos ganharam o seu desafio contra as bombas dos terrorista, não se esquecendo de felicitar o ministro da administração interna pela vitória.
Al Jazzera, pelo contrário, não se cansava de apresentar entrevistas dos piores detractores destas eleições e pondo a máxima tendenciosidade na formulação das perguntas aos entrevistados.
Os terroristas agradecem o comportamento de Al Jazeera, obviamente
AMM