terça-feira, fevereiro 08, 2005

A VIDA PRIVADA DOS POLÍTICOS

A polémica, desencadeada pela opinião de António Barreto sobre a transparência da vida dos políticos, levou-o a escrever um longo artigo de esclarecimento sobre a sua posição.
Aclara que, de modo nenhum, aprova a devassa da vida íntima do político.Todavia, há temas que são delicados: «a sexualidade, a vida familiar, a fortuna, o aborto e a religião»; precisamente porque «a estes temas estão associados preconceitos de toda a ordem».
E eu pergunto: em vez de se combater os preconceitos, dá-se-lhes foro de legitimidade?
«Por outro lado - continua A. Barreto - há questões (família, aborto, uniões de facto, adopção, etc.) que podem dar lugar a legislações e a políticas públicas».
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No artigo, noto uma grande contradição: primeiro, reprova os atentados à privacidade; paralelamente, sustenta que o eleitor deva conhecer a vida privada de quem lhe pede o voto (além do programa político). E enumera o que seria oportuno conhecer: «crença religiosa, igreja ou culto, vida familiar, orientação sexual, cadastro, vida anterior, pertença a certo tipo de associações (Maçonaria, Opus Dei), etc.» - nesta lista não falta mesmo nada!
Evidentemente, tudo isto «desde que não se tente obter informações por meios ilícitos, não se atente contra a vida íntima...» Mas em que ficamos?
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De tanto desejar esclarecer, parece-me que o Dr. António Barreto meteu os pés pelas mãos e fez uma bela salgalhada.
Fiquei com a ideia que o seu pensamento, tout court, é mesmo aquele que expressou a Ana Sá Lopes
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Em vez de se pretender saber vidas e vidinhas de um político, por que não se educa o eleitor a avaliar o político pela sua dignidade, coerência no caminho político que percorre, seriedade, competência? Todas estas qualidades são facilmente perceptíveis, desde que se tenha bem consciência do que se está a fazer com o voto na mão e se siga com mais atenção a vida política do País. E neste caso, as informações de alcova ou quejandas, considero-as absolutamente doentias. Neste e em qualquer caso.
Também seria uma grande conquista, sob o ponto de vista cívico, se o eleitor soubesse distinguir os políticos correctos daqueles que fazem jogo sujo ou oportunista. Mas parece-me que isto é já pedir de mais, infelizmente.
Alda M. Maia